Educação:
500 Anos de Solidão Edson do Carmo
Inforsato
Passados 500 anos da ocupação européia
em nosso território, registramos marcas
profundas de desigualdade social em nossa
população, desigualdade essa inaugurada e
consolidada pelas práticas exploratórias vindas
da cultura branca. A precariedade da réplica da
nau portuguesa, vista agora na ridícula
comemoração do descobrimento, é o emblema dos
desacertos cometidos ao longo destes cinco
séculos. É consensual a interpretação
histórica que vê a fundação do Brasil como um
episódio de exploração de recursos naturais.
Daí em diante não foi diminuída a sanha
exploradora dos estrangeiros, ao contrário, foi
intensificada passando a abranger os recursos
humanos e simbólicos criados pelas comunidades
que aqui se desenvolveram.
Olhando em retrospectiva constatamos que
muito por aqui foi edificado, desde coisas
primitivas - não menos significativas - até
obras portentosas e de notável engenhosidade.
Tanto assim que, nos dias de hoje, ocupamos um
lugar nada desprezível na classificação
econômica dos países do mundo e isto, sem
dúvida, deve-se aos esforços e empenho de um
povo que a duras penas ergueu pontes, construiu
estradas, montou fábricas, criou literatura,
elaborou músicas, ícones vários, leis,
escolas, etc. O antropólogo Darci Ribeiro
escreveu e falou que tudo isto construído o foi
às custas das cinzas do povo, embora nossos
registros históricos sejam parcos em mostrar os
massacres ocorridos na construção deste país.
Ribeiro quis sempre dizer que do povo tudo sempre
foi tirado e extraído, assim como do solo da
pátria, e a ele nada foi dado, posto que no
principiar deste novo milênio grande parte da
população brasileira vive de maneira
miserável. Uma carência expressiva nela
verificada é aquela relacionada à educação.
Nossos índices de analfabetismo mostram uma
legião de 15 milhões de pessoas adultas que
sequer identificam as letras do nosso alfabeto.
Estudiosos competentes do
"analfabetismo" dizem que se ampliarmos
os conceitos de analfabeto, aí englobando
aqueles que lêem e escrevem com extrema
precariedade - os chamados "analfabetos
funcionais" - essa quantia referida chega
aos 50 milhões da população acima de 14 anos.
Com tantos bens que se produziu neste
período de 500 anos, paradoxalmente, ainda o
acesso à educação básica enfrenta
dificuldades em se universalizar. Os governantes
atuais vivem propalando que finalmente a escola
das primeiras séries alcança todo brasileiro em
idade escolar. O que eles omitem é a maneira
pela qual dezenas de milhares de crianças e
jovens freqüentam essas escolas; omitem também
a pobreza material da maioria dessas escolas. Uma
pesquisa recente feita em todo o Brasil, mostrou
que por volta de 70% das escolas não possui o
mínimo equipamento pedagógico para que se
desenvolvam as atividades normais de ensino -
aprendizagem. Muitos professores - não a minoria
- ganha menos de um salário mínimo para
trabalhar no ensino fundamental.
Dos que conseguem ultrapassar as etapas
do ensino fundamental são poucos os que atingem
a conclusão do ensino médio. Registros
atualizados mostram que daqueles que
freqüentaram e freqüentam a escola, a maioria
permaneceu durante 7 ou 8 anos nos bancos
escolares mas não conseguiu sequer concluir o
ensino fundamental. Portanto observa-se no ensino
médio um número de pessoas muito aquém do
montante de jovens em idade propícia para este
grau de ensino. Está havendo medidas tentando
recuperar as defasagens constatadas no ensino
médio, mas elas deixam muito a desejar porque
são tímidas de recursos e de mobilização que
o problema requer.
Se o funil é estreito no ensino médio
mais ainda o é no ensino superior. Um pouco mais
de dois milhões de estudantes freqüentam algum
curso superior e diga-se que a maioria dos cursos
sequer possui a qualidade necessária para se
constituir em algo destinado aos estudos mais
aprofundados. Além do mais a concentração de
cursos em áreas que outrora eram promissoras,
gerou um contingente de diplomados que se
esfalfam para conseguir uma vaga ocupacional na
qual possam praticar a profissão adquirida,
sendo que o restante - não poucos - sequer atuam
nela. Com isso o curso superior têm pouca valia
na melhoria de vida através da colocação no
mercado de trabalho.
Portanto o panorama educacional
brasileiro passados esses 500 anos notabiliza-se
pela carência do ensino fundamental e médio com
excessos de analfabetos - normais e funcionais -
e pela desigualdade de ofertas no ensino
superior.
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