Textos
E, finalmente, a conta! Se existe uma maneira de se criar um clima ruim em uma turma que está bebendo é, primeiro, falar dos efeitos no fígado (pelo menos para os que ainda o tem funcionando) e segundo, a dinheirama que se gasta com a bebida. Gastamos, de fato, uma quantia considerável, assim como as mulheres gastam com roupas, os glutões com comida e as crianças com doces e brinquedos. Mas não quero tornar esse texto chato desde o início. Estou aqui para falar da materialidade desse gasto: a conta! São tantos os nomes usados em sua referência que, às vezes, até sou tomado de surpresa com as últimas gírias. Particularmente, chamo de conta mesmo, e não sou de soltar piadas do tipo “se eu fosse pagar, quanto seria?”, ou coisas mais inteligentes do tipo “onde está a dolorosa?”. Alguns garçons, principalmente os multitarefas (dono-garçom) possuem algumas respostas tão prontas e venenosas que você ainda corre o risco de receber um apelido dos seus estimados companheiros de copo. Então, a conta! Quando ela chega, uma infinidade de reações ocorre. Alguns, principalmente após verem o valor, ficam sóbrios na mesma hora. Outros lembram ao grupo que só comeram uma batata e tomaram um copo de cerveja, mesmo beirando a embriaguez, outros dizem que “esqueceram a carteira em casa”, e alguns, o time que me encaixo, fecham um dos olhos, respiram fundo e tentam calcular com o olho sobrevivente entreaberto se o valor está correto e quanto será a parte de cada um. A primeira fase é pura formalidade, afinal é exigir demais de um ébrio lembrar de tudo o que foi colocado na mesa, por isso inventaram o instituto da “Grade ao Lado da Mesa”, que não é muito bem aceito em locais mais requintados, contudo é a melhor calculadora de final de noite. Na parte da divisão, bem, por experiência própria, é quase que uma das Tarefas de Hércules. Os números parecem estar borrados (às vezes se mexem), a conta começa a se desfazer com a mão molhada do copo de cerveja, a torcida, querendo saber sua parte, começa a botar pressão perguntando quanto é, e para não parecer bêbado, o bêbado engrossa a voz e diz “Calma, tô calculando”. A próxima fase do tão estimulante processo de pagar a conta é como cada um quitará sua parte. Antes tínhamos o dinheiro em espécie, o cheque e a “deixa na conta do bar”. Mas com a globalização e a destruição do planeta, aperfeiçoaram o cartão de crédito (aquele carbono deixava a mão suja e incriminava ainda mais o bêbado ao chegar em casa), criaram os cartões de débitos e alguns até “tíquete” refeição aceitam, mesmo fazendo pose que não pode ser utilizado para compra de bebida. Após escolher do modo de pagamento, começa a saga da “maquininha”. “A máquina chega até aqui?”, “Passa Visa?”, “E Mastercard?”,“Aceita Redechopps?”, e, acreditem, ainda têm alguns que soltam a Jurássica piada sem graça “E cartão de visita, aceita?”. Está para nascer o bar em que todas as máquinas cheguem até a mesa. Sempre é apenas uma, e muitas vezes, nenhuma! Aí é aquela romaria ao balcão, nessa o sistema está fora do ar, ou por algum problema técnico, obviamente nunca culpa nossa, diz que a instituição “Não autorizou”, como se eu precisasse de autorização para usar meu dinheiro, acho que são as esposas e namoradas que provocam isso. Depois de um processo longo e desgastante, negociamos a saideira, afinal ninguém é de ferro, e Deus lá sabe o motivo, a saideira é sempre a mais gostosa! Hélio Leal |
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