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Escolhas

Sabem... eu cansei, cansei de tomar decisões, cansei de me preocupar com seus riscos, com suas consequências, com as pessoas e coisas que posso destruir ou machucar com minhas escolhas, queria uma pessoa, tipo um assessor, para tomar as decisões, ou melhor, talvez nem tanto para fazer as escolhas, mas para lidar com suas consequências, contudo, pelo quadro, vejo que não há escapatória, seja lá qual sua origem, formação, classe social, crença, nacionalidade, cor, time de futebol, você sempre se deparará com escolhas, e quanto mais complicadas, menor o tempo para decidir-se.

As escolhas são verdadeiras caixas de surpresa. Claro que obviamente assim como em algumas caixas você pode chacoalhar para ter uma idéia do que há dentro, certas opções já trazem uma perspectiva sobre o que advirão delas.

Lembro-me da biografia da Rainha Victória, da Inglaterra, onde ela dizia que quanto mais relevante fosse a decisão, mais tempo demandaria sua manifestação.

Pelo que noto, essa diretriz poderia sofrer uma adaptação contemporânea e abrasileirada, da seguinte forma quanto melhor sua situação financeira, ou quanto mais azul o seu sangue, maior a chance que você tem de corrigir escolhas erradas, se bem que com sentimentos é mais difícil, mas nada que um anel de Diamante ou um Porsche não amenize.

Uma coisa me incomoda. São as escolhas que nos procuram, ou nós a elas?

Pode parecer uma incógnita vazia, mas observem que muitas das escolhas somos nós que plantamos e esperamos estas brotarem.

Acho que no fundo a vida não teria graça, ou emoção, sem as escolhas. Se tudo fosse fácil, se sempre soubéssemos qual o fio cortar, se entendêssemos todos os sentimentos humanos e suas reações, principalmente quando as mulheres estão com TPM... tudo seria monôtono!

Mas será que a graça da vida está nas escolhas? Não sei quanto a você, mas de certas escolhas eu fujo como quem escapa de um arrastão.

Talvez a graça da vida, ou ser feliz, não seja ser um adepto de tomar decisões, mas talvez perceber a qualidade e risco da escolha, dessa forma, tomar decisões estaria mais vinculado com a coragem de mudar, de arriscar e buscar algo novo.

Acho que nesse aspecto de coragem termino sendo um frouxo, e vou dizer o porquê. Jamais abrace o convite de indicar o bar ou restaurante que você sairá com seus amigos. Acredite, qualquer coisa que sair um mínimo do propósito, como a comida demorar, um garçom mal encarado aparecer, a cerveja sempre vir quente, um cachorro latindo do lado de fora do bar... bem, por essas e outras, a culpa sempre recairá sobre você, e seu julgamento será sem direito a defesa e usualmente ocorrerá quando estiver no banheiro.

Outra situação bem cotidiana, mas que torna-se estressante para mim, é fazer compras em shopping, principalmente roupas e sapatos. Como normalmente vou sozinho, pois minha mãe sustenta que uma pessoa de 27 anos já tem maturidade para selecionar suas roupas, sempre que compro algo, mesmo tendo provado uma centena de vezes, entendo como tendo feito uma escolha errada. Acho que a cor não combina, ou o tamanho não é o correto, mesmo vestindo perfeitamente e sendo uma camisa branca básica, ou o tipo de solado é daquelas fadados a visitar mensalmente o sapateiro..... não, eu não posso nem sonhar em ter um mínino de poder de decisão, acredito de forma absoluta que se as rédeas desse Planeta me fossem entregues por 24 horas, fatalmente eu conduziria nosso lar a um conflito mundial, que deixaria qualquer chefe-de-estado estupefato.

As decisões talvez não sejam os reais alvos dessa minha mais nova paranóia, acho que as consequências e os rumos sem volta que serão traçados é que o são. Tenho medo, e um dos meus medos é um dia terminar a vida sozinho, ou de alguma forma as pessoas acharem que meu tempo entre elas já acabou e que deveria deixar o espaço para as próximas gerações. Então penso, devo constituir uma família, ter filhos, arranjar um emprego que faça minha mãe (sempre sobra para ela nas minhas crônicas) parar de dizer que nada quero com a vida. Mas penso nas dificuldades que é casar hoje, ter filhos, dar uma boa educação, passar dos 100 quilos e ter problemas até para amarrar os cadarços... que escolha devo fazer?

Conhecem aquela história que diz que devemos copiar quem está dando-se bem em algum empreendimento? Então acho que a partir de hoje agirei assim vou assumir que sou mole para tomar decisões e principalmente seus assustadores riscos, copiarei as escolhas dos que estão chegando onde quero e viverei feliz, com a expectativa de não passar meus últimos dias sozinho, com uma enfermeira de 120 quilos e de bigode dizendo que toda vez que olha para mim pára e se pergunta porque optou por essa profissão... acho que na hora responderia "Por não sabe tomar decisões, assim como eu!"

Bem, fora copiar as decisões dos outros, preciso ser mais sensível com as escolhas de mulheres. Preciso entender que as mulheres são mais frágeis, não enxergam a mundo como nós, homens, e que conseguem emocionar-se com novelas... só tem um problema, nesse campo não dá para copiar, se desse, as pessoas só casariam uma vez, e pronto, devido a viverem com o receio que um futuro parceiro entender que se ela separou de um cara, irá separar-se de outro. Não, nas relações as escolhas são piores, mais dolorosas, tiram o fôlego e fazem o coração lembrar-lhe que consegue sufocá-lo com um mero reflexo de pensamento mais forte.... como disse no começo, cansei, a única coisa que me resta é convencê-la a ir comigo.. sim, convencer minha mãe a voltar a frequentar o shopping quando for atualizar minhas vestimentas, essa escolha definitivamente me fará bem!

Hélio Leal

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