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Evolução e o Amor 


Se observarmos todas as conquistas humanas, seremos tomados de assombro. Como, em geral, crescemos cercados por esses feitos e descobertas, terminamos por não perceber a passagem sucessiva das coisas.

Ninguém sabe ao certo há quanto tempo o homem está nesse planeta, menos ainda quando começou a dominá-lo plenamente, mas todos sabemos como eram bem diferentes os recursos e a qualidade de vida que temos hoje em comparação com a dos nossos pais e avós.

Quando ouço a palavra evolução a primeira imagem que vem a cabeça é a cara barbuda do Charles Darwin e sua teoria de que viemos do macaco.

Concepções à parte, trazendo a evolução para o campo prático, é possível ver de forma pacífica que conseguimos alterar quase todos os conceitos e idéias relativas ao nosso meio, tanto visível quando invisível.

Mas o que seria propriamente a evolução? Entendo que evoluir é ser melhor que a geração anterior, claro que isso jamais será absoluto, pois junto com os avanços há elementos negativos atrelados.

Ou seja, somos melhores que as demais espécies porque temos a capacidade de pensar, raciocinar e tentar transformar o nosso mundo em algo mais confortável a cada geração.

Mais confortável a cada geração... o que causa realmente mais conforto? Sei que meus avós não tinham televisão colorida, que não havia a mesma facilidade para se percorrer longas distâncias, que era necessário colocar carvão no ferro de passar, que os poucos carros funcionavam na base da manivela, que as parteiras eram mais importantes que os médicos, que usar brilhantina não era brega e ter filhos não era tão caro.

Se hoje temos um estilo melhor do que este, sofremos evolução, somos o moderno elo perdido darwiniano. Mas após todas essas conquistas, após fundarmos grandes Estados, descobrir a força devastadora da energia que une os átomos, o microchip, o microscópio eletrônico, a fibra ótica, há, contudo, um aspecto no qual ainda não conseguimos evoluir; quanto a esse elemento estamos no mesmo estágio dos nossos mais remotos antepassados: o amor.

Entendo que se estou evoluindo, estou aprendendo com os erros das anteriores gerações quanto a como proceder no amor, como evitar ser um escravo dele, como saber lidar com os sinais que o ente querido dá e mover mundos para evitar a discórdia. Mas o que tenho visto é que as lições relativas ao amor não podem ser passadas com se passa uma receita de bolo, é algo que precisa ser sentido, é uma lição íntima e particular

Por mais que poetas e apaixonados tenham feito esforços homéricos no sentido de explicar o amor e suas desilusões, jamais se criou uma fórmula, como a da relatividade, para se compreender a reação química e biológica que um olhar apaixonado causa.

Eu acredito que por mais que novas conquistas possam servir de testemunho para a grandeza do conhecimento humano, nosso ponto fraco sempre será o coração. Sempre cederemos à paixão, ao medo de magoar e perder o próximo, de sentir-nos rejeitados, de pensarmos nas vezes que deixamos de dizer que amávamos a pessoa antes de perdê-la.

Tenho certeza que o primeiro homem que aprendeu que poderia mudar seu meio sabia disso, e tinha as mesmas dificuldades que nós, sua versão do século XXI.

O amor, que pode ser quanto a um parceiro, como quanto aos pais, filhos, amigos, é um sentimento complexo, que deve ser descoberto sozinho, com alguém amado. Tamanho seu grau de complexidade que nunca conseguimos entendê-lo plenamente, nunca conseguimos criar um manual que exaurisse seus mistérios.

O que nos faz dominar esse planeta e seus demais seres é nossa capacidade de raciocinar, e com esse raciocínio entender que possuímos um sentimento tão nobre e profundo que qualquer forma de desenvolvimento em nada representará frente à ele.

Termino esse texto com a seguinte pergunta: será que já nascemos evoluídos por sempre nos entregarmos ao amor, ou possuímos algum erro de projeto que jamais permitirá a evolução nesse campo? 

Hélio Leal

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© 2004 Hélio Leal
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