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Era uma cidadezinha daquelas mais pacatas do interior de Pernambuco. Sabe aqueles lugarejos que quando se chega de carro, se for a mais de 20 kilômetros por hora, já dá a impressão de se estar saindo?

A padaria de Seu Licinho, umas quatro ou cinco bodegas, mais uns dois botequins e, como era de se esperar, a pequena igreja do Santo Antonio dos Arredores, obra do meticuloso Padre Constantino, confirmavam (para quem ainda tivesse alguma dúvida) a existência de gente naqueles confins.

O Padre Constantino, sempre atento a detalhes, observava tudo o que se passava com qualquer um no vilarejo. Povo humilde e sem muita coisa acontecendo em volta, ele, o Padre, tinha mesmo era que gostar de detalhes, pois se assim não fôsse certamente morreria de tédio já que tudo lá era a mesma coisa, todo dia o dia todo, desde que ele voltara do seminário do Crato para ser o pároco da sua cidade natal, num cumprimento de uma promessa feita pelo seu sábio pai.

Como em qualquer lugar do mundo, independente do tamanho, sempre há aquelas fofocas no ar, aquele zumzumzum, vocês sabem do que estou falando. Um dêsses falatórios às escondidas (que na verdade todo mundo sabe e faz de conta que não sabe) dava conta que a ilustríssima senhora mãe do tambem ilustríssimo Padre, não era lá tão "católica" assim!

Certa ocasião, a mais fogosa garota do lugar (tambem não eram mais do que meia duzia), donzela de seus dezoito anos, pela qual o Padre Constantino nutria uns, digamos assim, não tão "católicos" desejos, adentra na igreja meio trêmula e um tanto nervosa. Vendo-a, o nobre Pároco nem teve que deslocar-se para atendê-la, já que ela (para um misto de satisfação e constrangimento dêste), se encaminhava direto em sua direção, imediatamente deixando-o a par do que se tratava.

--- Peciso confessar-me, seu Padre!

--- Pois não. Seja bem vinda à casa do Senhor (já observando, detalhista que é, que aquela voz desentoada não era presságio de coisa das melhores).

Dirigiram-se então ao confessionário.

--- Estou muito confusa, Seu Padre

--- Detalhes, minha filha, detalhes!

--- Sabe como é… Eu…

--- Por favor, entre nos detalhes!

--- Uma pessoa daqui da vila anda me bolinando.

--- Bolinando como? Entre em detalhes! (A essas alturas já nervoso e ele próprio já começando a tremer)

--- Bolinando, sabe? Mas o pior é que eu…

--- Você… Entre em detalhes por favor!

--- O pior é que eu tô começando a gostar. O que que eu faço, seu Padre?

--- Ai meu Deus! Mas isso não pode ser! (Exclamou ele, a essas alturas já maluco de ciúmes).

--- Prá completar, seu Padre, acho que nunca vou poder ficar com ele.

--- Quem anda fazendo isso com voce? Detalhes por favor!

--- Acho que isso não posso dizer não, seu Padre.

--- Como não, minha filha? Esse é um detalhe importante para o seu perdão (falou ele, amante dos detalhes como ninguem mais).

--- Talvez o sr. não vá gostar de saber, seu Padre.

--- Minha filha, sem esse detalhe fica difícil lhe perdoar (disse isso já louco de raiva do infeliz amante, e já imaginando uma maneira de esganar o desgraçado).

--- Tá bem, seu Padre. Se é prá obter o perdão…

--- Claro, minha filha, claro! (Já estava suando por tudo quanto é lugar e a danada da garota demorando prá dizer o nome).

--- Já que o sr. insiste nesse detalhe…

--- Por favor diga logo ( já mudando de voz e tambem já esquecendo-se que era padre e que estava a cofessar uma paroquiana)

--- Quem anda me bolinando é o sr. seu pai.

--- O QUÊÊÊ? AQUÊLE FILHO DA PUTA! AQUÊLE FILHO DA PUUUTA!

--- Seu Padre, sendo assim, tem um DETALHE que eu não sabia!

--- Mais um? Qual? AQUÊLE FILHO DA PUUUTA…

--- Que o Sr, era filho da puta, todo mundo aqui na vila já sabia, mas que era neto tambem…

marcilio – atlanta - out/98