A Satisfação dos "clientes" internos
Por Mauro M. Laruccia
Existe solução
para o mau relacionamento entre departamentos dentro de uma empresa? Será
que a
tônica será
sempre: "Eu faço o melhor que posso; é você que não
reconhece o que faço por você".
Os programas de qualidade
total se aplicam com êxito em varias áreas e podem ter um
papel
fundamental na melhoria
desse relacionamento interno.
Departamentos mentem relações
comerciais com diversas áreas de uma mesma empresa, onde uma
área é o "cliente
interno" de outra e por vezes seu "fornecedor interno". A diferença
básica entre um
relacionamento interno e
um externo (com clientes de fora da empresa) é que no primeiro raramente
se tem opção
de buscar outro fornecedor. A lei de mercado, que é um principio
imutável, não vale
dentro da empresa. Externamente,
ainda que o consumidor não encontre um fornecedor que o
satisfaça, as opções
existem.
Na empresa não é
bem assim. Os departamentos são geralmente herméticos e,
ainda que cada um
trabalhe arduamente, é
difícil satisfazer todas as necessidades dos outros departamentos.
O enfoque
é no produto e não
no usuário. O departamento estabelece seus próprios padrões
de qualidade e
seus clientes internos ficam
a mercê desses padrões. Se não atenderem as expectativas,
nada
podem fazer a não
ser reclamar - ato executado à exaustão, mas para pessoas
que não estão
envolvidas na situação.
Reclamar sim, mas para os outros, a fim de evitar que já o mau serviço
fique
ainda devido à represália.
Cada empresa tem apenas um departamento de contabilidade; cada
gerente tem em geral uma
secretaria, e cada funcionário apenas um chefe imediato. Indispor-se
com
o único fornecedor
pode ser arriscado, embora o relacionamento seja intenso, ele é
frágil pois poucas
vezes admite uma comunicação
sincera.
Imagine que uma empresa esteja
necessitando substituir uma copiadora, o departamento de
compras, de forma isolada
e sem consultar o usuário da maquina, vai estabelecer os critérios
para
diferenciar um bom de um
mau produto, segundo eles, a boa maquina tem baixa manutenção,
alta
velocidade e é capaz
de tirar cópias frente e verso ao mesmo tempo. A principio os padrões
parecem
bem razoáveis, e
então irão buscar orçamentos para obter o melhor preço
e discutir o prazo de
entrega. Algum tempo depois,
qual não é a surpresa ao receber a maquina! O departamento
de
compras não recebe
nenhum elogio por um trabalho que considera bem executado, é como
se nada
tivesse acontecido. Se estiver
predisposto e com sorte, poderá perceber a linguagem corporal dos
usuários (será
que se surpreenderam com a novidade?). Os responsáveis assumem assim
que
ninguém conhece sua
contribuição e que todos estariam pensando que apenas cumpriram
sua
obrigação,
no entanto, como acontece com a maioria dos consumidores, a ausência
de reclamações
simboliza sua insatisfação
e não o contrario.
Os critérios do comprador,
que a principio pareciam lógicos, eram muito diferentes das expectativas
dos usuários, que
necessitavam de uma copiadora colorida, cuja velocidade não era
relevante (pois o
volume diário de
copias é baixo) e tampouco o fato de tirar copias frente e verso
dizia alguma coisa
para eles (o tipo de trabalho
necessita copias em apenas um dos lados do papel e não frente e
verso). Uma grande soma
em dinheiro foi aplicada em nome da melhoria da qualidade, mas isso não
ocorreu. Qualidade não
esta necessariamente associada a um bom produto, mas significa cliente
satisfeito. O dinheiro foi
mal empregado pois não satisfez as necessidades do consumidor. Os
clientes internos não
reclamaram para o comprador, porem se queixaram com os outros funcionários.
Uma vez que esta situação
ocorre em equivalência muitas e muitas vezes, isso causa um ambiente
de trabalho ruim, embora
aparentemente, ninguém reclame. E’ comum haver atrito e o mecanismo
como um todo tende a se
aquecer. A saída para isso é promover "alinhamento" ou "parcerias"
entre
fornecedor e clientes internos.
Esse conceito de sintonia é um processo de melhoria de comunicação
em que representantes das
áreas envolvidas expõem suas expectativas claramente, explicando
o que
tem funcionado em seu relacionamento
e o que necessito de aperfeiçoamento.
E’ necessária a intervenção
de um facilitador que devera garantir o enfoque profissional da reunião
e
evitar referencias à
personalidade. Essa reunião leva em torno de quatro a cinco horas
e cada
departamento devera enviar
o responsável e pelo menos dois funcionários. Em primeiro
momento,
uma das áreas será
o "cliente", assim, explicara quais são suas necessidades especificas,
porque
necessita do material ou
serviço de acordo com seus critérios, auxilia seu fornecedor
e estabelece
um plano de melhoria especifico,
contendo compromissos, pessoas responsáveis e prazos. Já
em
torno da reunião,
os papéis se invertem: a área que foi cliente passa a ser
o fornecedor e vice-versa,
caso algum pedido não
seja da área de controle do fornecedor, cabe a ele transferir o
pedido à área
competente para garantir
a "satisfação do cliente". A presença do responsável
de cada departamento
é importante a fim
de garantir o cumprimento das propostas. Os funcionários, que na
verdade
executarão as tarefas,
deverão garantir que não se esta assumindo o que não
é possível cumprir. Ao
final da reunião,
cada área devera ter um plano de ação concreto, que
ira satisfazer seu cliente
interno. A chave do sucesso
reside na concreta facilitação da reunião e sobretudo
no
acompanhamento da execução
dos planos.