Para Melo Neto (1995) é muito difícil a definição
de uma data que caracterize o
nascimento do marketing esportivo no Brasil.
Ele aponta o fim dos anos 70 e início dos 80
como início de uma grande transformação
no esporte brasileiro, onde empresas começam a
investir no esporte buscando retorno publicitário
e de vendas. Segundo Melo Neto (1995),
um dos primeiros esportes a receberem investimento
foi o vôlei, mas alguns empresários
também perceberam no basquete, atletismo
e futebol de salão uma grande oportunidade de
investimento. A Pirelli, já em 1980,
possuía uma equipe de vôlei masculino, que foi bicampeã
nos anos de 1982 e 1983. A Supergasbrás,
também pioneira, formou em 1982, no Rio, um
time feminino de vôlei que conquistou
3 títulos brasileiros. A copa do Brasil de 1984, também
considerada como marco em investimentos esportivos,
obteve negócios em torno de US$
700 mil. Nessa ocasião, o Banco Nacional
inovou no patrocínio, pois colocou sua marca nas
duas equipes que disputaram a final.
Em uma palestra sobre Marketing Esportivo, realizada na cidade de Curitiba,
Melo
Neto (1996) relatou que os motivos que levam
uma empresa a investir no esporte estão
relacionados ao espaço constante do
esporte na mídia em geral, e ao fato do sucesso obtido
no esporte ser transferido para o patrocinador,
gerando um retorno institucional e de vendas
para os seus investidores.
NATUREZA E CARACTERÍSTICAS DO MARKETING ESPORTIVO
O marketing esportivo, para Oliveira e Pozzi (1996), pode envolver eventos,
times,
contratos de endorsement (testemunhal de atletas),
ligas e compra de espaços de mídia em
eventos esportivos. Segundo Melo Neto (1995),
o marketing esportivo é um novo segmento
no mercado de comunicação e
trata-se de um tipo de marketing promocional que atua na
dimensão institucional de uma marca
ou empresa. Dentro dos conceitos promocionais
analisados no primeiro capítulo também
podemos caracterizar o marketing esportivo como
merchandising. Isto porque cada modalidade
esportiva permite uma “pesquisa de espaços,
considerando o local da competição,
os uniformes dos atletas, o posicionamento do
equipamento, o local destinado ao público
e os demais personagens coadjuvantes que
participam do evento esportivo” (Melo Neto,
1995, p.154).
Esta característica de merchandising, ou seja, de publicidade não
tão explícita, é um
dos grande pontos positivos do marketing esportivo
já que o produto não aparece para o
consumidor sob forma imperativa de venda.
O produto, neste caso, faz parte do cenário e
acaba “pegando uma carona” com o foco principal.
Melo Neto (1996) afirma que o marketing esportivo é um tipo de mídia
alternativa
utilizada para a maximização
da exposição de uma marca por isso alguns pontos devem ser
observados:
a) uma empresa que investe no marketing esportivo deverá, também,
ter uma ação de
propaganda para explicar quais são
os produtos que a marca vende (anexo 1);
b) o marketing esportivo, é um tipo de promoção institucional,
ou seja ele atribui valor
a uma marca mas não diz o que ela é.
Mariante (1994a) reforça as exemplificações de Melo
Neto, citando um caso que segundo ele representa
um dos maiores disperdícios de espaço
publicitário: a Kalunga. Segundo ele
saber que a Kalunga patrocinava o Corinthias é
relativamente fácil, mas saber o que
é a Kalunga, só quem passar em frente a uma das lojas
de material de escritório da empresa
saberá responder.
PORQUE AS EMPRESAS INVESTEM NO ESPORTE
Oliveira e Pozzi (1996) afirmam que o maior benefício que o patrocínio
esportivo
oferece é transferir a emoção
e a competitividade do evento para a marca do patrocinador.
São objetivos do marketing esportivo,
segundo Oliveira e Pozzi (1995), aumentar o
reconhecimento público, reforçar
a imagem corporativa, estabelecer identificação com
segmentos específicos do mercado, combater
ou antecipar-se a ações da concorrência,
envolver a empresa com a comunidade, conferir
credibilidade ao produto com a associação à
qualidade e a emoção do evento,
virar notícia graças a exposição espontânea
de outras
mídias, atingir a audiência em
momento altamente receptivo às mensagens, atingir alto recall e
garantir exposição do produto
durante o ano inteiro. Melo Neto (1995) afirma que as
empresas que investem no esporte possuem marcas
fortes ou potencialmente fortes e buscam
novas formas de comunicação,
utilizando-se do esporte como mídia alternativa para melhoria
de sua imagem. Ele também destaca que
o patrocínio esportivo gera publicidade garantindo a
visibilidade do patrocinador e mudando a imagem
da empresa ou produto.
Os resultados que podem ser obtidos com o marketing esportivo, também,
estão
diretamente ligados a compatibilidade entre
marca investidora e evento/atleta/time escolhidos,
ou seja, o investimento em marketing esportivo
deverá corresponder as seguintes
expectativas: ser dirigido ao segmento de
público de interesse da ou das empresas
patrocinadoras, produzir impacto visual e
emocional na sua audiência, atrair grande público
(se for este o objetivo da empresa), realizar-se
numa época oportuna e num local adequado,
atrair a atenção dos meios de
comunicação, revelar novos talentos e promover o encontro
do
público com seus artistas ou esportistas
preferidos, promover o desenvolvimento cultural e
esportivo e gerar ações multiplicadoras
no âmbito do turismo e do comércio da cidade ou
região.
Retorno em Imagem
Para Oliveira e Pozzi (1996), uma das características mais interessantes
do marketing
esportivo, é a grande probabilidade
de o patrocinador, sua marca ou seu produto tornarem-se
parte integrante da experiência, da
identificação e das emoções vividas pelo telespectador
durante, por exemplo, a transmissão
de um jogo.
Melo Neto (1995) completa que, ao associar a imagem do atleta, do clube
e do
esporte, à marca, forma-se um elemento
decisivo na estratégia de valorização, divulgação
e,
se necessário, rejuvenescimento da
marca/produto. O Banco do Brasil é um grande exemplo
de empresa que investe no esporte para rejuvenescer
a marca. O Banco patrocina desde
1991 a seleção de vôlei
para desfazer a imagem envelhecida que possuía, já que a
maioria
dos seus clientes estava na faixa de 50 a
65 anos (Blecher, 1994b). Os resultados já podem
ser comprovados numa pesquisa realizada em
94 onde se constatou que 44% dos jovens
entrevistados se mostravam interessados em
abrir uma conta no Banco do Brasil. Melo Neto
(1995) ainda afirma que o marketing esportivo
é um tipo de marketing promocional que atua
na dimensão institucional, objetivando
difundir a marca, melhorar sua imagem e fixá-la melhor
na mente do consumidor. Isto justifica o fato
de termos estudado no capítulo 2, deste
trabalho, as características psicológicas
de decisão de compra. De acordo com o que foi
demostrado, a atuação de empresas
no esporte reflete diretamente em alguns fatores
psicológicos, pessoais, sociais e culturais.
As influências culturais e sociais atuam no
estabelecimento de valores ao esporte como
saúde, jovialidade e participação social. Além
disso, os fatores pessoais e psicológicos,
que correspondem aos gostos, motivação,
associações e aprendizado de
cada indivíduo, também exercem influência já
que cada esporte
é capaz de atender as necessidades
e interesses de públicos diferentes. Para Melo Neto
(1995), a emoção do espetáculo
esportivo é transferida, inconscientemente estabelecendo a
associação da marca e do produto
com os ingredientes emocionais do esporte. Oliveira e
Pozzi (1996), complementam que as mensagens
passadas por patrocínios de eventos
esportivos chegam sutilmente aos consumidores,
através de associações, garantindo prestígio
e credibilidade às marcas que patrocinam.
Eles ainda completam que esse é o tipo de ação
que tem a capacidade de reforçar, ou
mesmo mudar as atitudes de um consumidor em relação
a uma marca.
As Vantagens do Esporte como Mídia Alternativa
No primeiro capítulo deste trabalho discorreu-se sobre as formas
convencionais de
mídia e sobre mídia alternativa.
Mídia, como já vimos, é caracterizada como um meio
por
onde se passa uma mensagem. Segundo Melo Neto
(1995), o marketing esportivo é
apontado como uma forma de mídia alternativa
já que é capaz de promover uma marca junto
ao seu público-alvo, causando retorno
em publicidade, imagem e vendas. Uma das vantagens
apontadas por Oliveira e Pozzi (1996), no
marketing esportivo como mídia, está no fato de
que a maior parte das mensagens, durante a
transmissão de um evento esportivo, chega a um
telespectador cativo, em um momento de relaxamento
e, portanto, mais receptivo a essas
mensagens, ao mesmo tempo que evita os intervalos
comerciais e a provável troca de canal
pelo telespectador. Oliveira e Pozzi (1996)
complementam que os telespectadores tendem a
baixar a guarda contra a propaganda fora dos
intervalos comerciais e a aceitar mais
prontamente uma mensagem. Isto é de
extrema relevância se considerarmos, por exemplo, a
exposição de uma marca que patrocina
um time de futebol durante a transmissão do jogo de
90 minutos pela televisão.
Quanto aos números investidos no esporte, podemos tomar como base
as informações
trazidas pelo caderno de esportes da Folha...
(1994b) que faz um relato sobre, a 1ª
Conferência Internacional de Marketing
Esportivo realizada em São Paulo. No encontro, foi
revelada a cifra de US$ 10 bilhões
em investimentos no esporte em todo o mundo. Segundo
os números do encontro, no Brasil,
durante os anos em que aconteceram grandes eventos
como Copa do Mundo ou jogos Olímpicos,
o volume de negócios em marketing esportivo
girou em torno de US$ 250 milhões.
A reportagem ainda revela o número de investimentos
anuais em marketing esportivo que beira os
US$ 500 milhões. Segundo Morais (1996), em
outra reportagem para a Folha de São
Paulo, o plano de Comunicação Social do sistema
Telebrás previa gastos para o ano de
96 de R$ 80 milhões em publicidade e R$ 20 milhões
em patrocínio de atletas. Tanto dinheiro
investido no esporte se justifica por ser esta uma
mídia de inúmeras vantagens.
Uma delas é o fato do esporte ser naturalmente alvo de
divulgação por outros tipos
de mídia (anexo 2, 3 e 4). Há muito tempo a televisão,
o jornal e
o rádio descobriram a importância
do esporte para a sua audiência. Muniz (1991) revela que
uma pesquisa encomendada pelos jornais americanos
constatou que uma maioria esmagadora
de leitores começa um jornal pelas
páginas de esporte. A revista Mercado Global afirma,
numa reportagem entitulada “Esporte e TV:
Uma Paixão Bem Recompensada” (Edição
especial no 98), que pode-se valorizar cada
evento esportivo transformando-o num
verdadeiro show, além disso, o esporte
pode ocupar de forma proveitosa horários menos
importantes das redes de TV. Para constatar
a receptividade dos telespectadores ao esporte
basta analisar o perfil de audiência
do programa Globo Esporte, da RBS TV Pelotas (sucursal
da Rede Globo de Televisão), representado
na tabela 1:
Sabendo dos resultados positivos que podem ser alcançados, as redes
de TVs não
medem investimento para a transmissão
de esportes. Mariante (1994b) revela, em uma
matéria sobre a 1ª Conferência
Internacional de Marketing Esportivo, que as TVs
norte-americanas pagaram US$4,5 bilhões
por quatro anos de transmissão das temporadas
de futebol americano. Segundo ele, o envolvimento
das TVs no esporte já chega ao ponto de
as próprias emissoras terem participação
nos lucros, tornando-se parte integrante do negócio.
O esporte é, portanto, uma boa forma de investimento, tanto para
as empresas como
para os veículos, o que lhe imprime
uma forte característica de onipresença. O patrocínio
de
uma empresa em um evento esportivo atinge,
tanto o público que está assistindo o evento no
local, quanto o público que está
acompanhando a cobertura do evento pelos meios de
comunicação. Essa potencialidade
do esporte chega a gerar verdadeiras disputas por espaço
dentro dos eventos. Um dos casos mais recentes
foi a atuação da Brahma durante a Copa de
94, que ficando de fora das cotas de patrocínio
das transmissões dos jogos, utilizou os
jogadores da seleção em suas
campanhas publicitárias, além de decorar os estádios
onde
ocorreram os jogos preliminares com faixas
e bandeiras da “número 1” (Antenore, 1994).
Sem gastar um tostão na compra de espaço
publicitário na TV, a cerveja Brahma goleou suas
rivais durante a transmissão do jogo.
A aferição do Datafolha revelou que, de quase duas
horas de programação futebolística,
no dia 20 de abril, flagrantes de merchandising que
remetem à campanha da Brahma somaram
34min 46s na Globo e de 43min 6s na
Bandeirantes. Eduardo Fischer, presidente
da agência de publicidade da Brahma, afirmou ter
desembolsado na operação cerca
de US$200 mil, muito menos do que teria gastado se
comprasse os espaços que ganhou em
forma de veiculação publicitária. Para Fontenelle
(1994) a Copa é cada vez mais utilizada
como veículo publicitário, a tal ponto que este fator
sustenta a própria realização
do evento.
A diversidade de esportes também proporciona que o investidor escolha
aquele que
trará maior afinidade com seu público-alvo.
Um dos casos mais conhecidos de afinidade entre
esporte, patrocinador e público-alvo,
é o caso do Banco Nacional e o piloto Ayrton Senna.
Segundo Blecher (1994a), o Nacional para explorar
a imagem de Senna em peças de
merchandising e comerciais, investiria US$1,2
milhão no ano da morte do piloto, o dobro do
desembolsado no início da carreira
de Ayrton Senna. O boné, com a assinatura de Senna,
tornou-se a peça de merchandising mais
popularizada do banco. Cerca de 1,5 milhão de
unidades foram distribuídas aos clientes.
Blecher relatou que apenas uma vez, em 1991, o
banco realizou uma pesquisa para calcular
o retorno dessa exposição. Foram computados os
minutos de TV e as fotos de mídia impressa
que mostravam Senna com a logomarca. O
Nacional teria de investir valor dez vezes
superior ao do contrato para obter o mesmo grau de
exposição em espaço publicitário.
O Retorno sobre Vendas
Darren Marshall, citado por Melo Neto (1995), vice-presidente da Sponsorship
Research International, afirma que o retorno
de uma marca ou produto envolvido em
patrocínio de eventos esportivos é
quatro vezes maior do que o de uma boa campanha
publicitária. Melo Neto (1995) afirma
que o retorno direto do marketing esportivo está na
divulgação e imagem da marca.
Indiretamente, o marketing esportivo atua como
impulsionador das vendas. Melo Neto representa
na figura 1 os três tipos de retorno do
patrocínio no esporte:
FIGURA 1 - Retorno do Marketing Esportivo. FONTE - Melo Neto, 1996, p.28.
Apesar disso, Melo Neto (1995) considera difícil mensurar o retorno
do investimento
no esporte. O cálculo sobre o retorno
publicitário pode ser medido através de cliping
eletrônico e de mídia impressa,
no que diz respeito às vendas, sabe-se que as empresas
realizam o cálculo de forma global,
sem preocupação de identificar isoladamente os fatores
impulsionadores. É importante ressaltar
que, no início deste capítulo, foi citado que o
marketing esportivo serve para consolidar
ou massificar uma marca forte. O marketing
esportivo é apenas uma das ferramentas
utilizadas na consolidação de uma marca e, por isso,
é difícil dimensionar o seu
retorno isolado sobre as vendas. Um exemplo ilustrativo, quanto a
expectativa de retorno em vendas, pode ser
o patrocínio das Olimpíadas de Atlanta (E.U.A.)
de 96. O orçamento do evento somou
cerca de US$2 bilhões, bancados pela iniciativa
privada que espera arrecadar cerca de US$16
bilhões (Mídia ..., 1996). Segundo Cuttone
(1994, p. 4), a publicidade sobre a Copa dos
E.U.A. de 1994, trouxe lucros superiores a
US$1 bilhão. Cuttone cita a declaração
do vice-presidente da Time Warner, Ralph Irizarry,
com experiência de 18 anos em grandes
eventos esportivos, que afirmou ter sido a Copa de
1994 nos E.U.A. “um sucesso astronômico”.
Segundo uma reportagem da Folha... (1994a)
sobre esse evento, os investimentos das empresas
que nele anunciaram oficialmente chegaram
a aproximadamente US$210 milhões. A
companhia aérea American Airlines, uma das
investidoras, afirmou que entre 1,5 milhão
a 2 milhões de pessoas utilizaram os serviços da
empresa vindas da Europa e América
do Sul. Já a rede McDonald’s, outra patrocinadora da
Copa de 1994, que tem representação
em 60 países, afirma que 50% de seus lucros vêm de
fora dos E.U.A. e que, para a empresa, a associação
da marca ao futebol foi fator decisivo
para isso.
O FUTURO DO MARKETING ESPORTIVO
Esta autora participou do Curso em Gerenciamento e Marketing Espotivo na
9a
Jornada Paranaense de Educação
Física, realizada de 05 à 09 de junho em Curitiba. O curso
foi ministrado pelo professor Francisco Paulo
de Melo Neto, autor do livro “Marketing
Esportivo”. Segundo Melo Neto, a tendência
das empresas será, cada vez mais, a busca de
participação em eventos esportivos
e não a vinculação direta a determinado atleta ou
clube,
por exemplo. Empresas como a Coca-cola, patrocinadora
oficial das Olimpíadas de Atlanta
96, já optaram pela participação
somente em eventos. O caráter social de cada evento,
também será mais valorizado
pela empresa investidora. Melo Neto citou Silvio H. W.
Tichauer, diretor-superintendente da FMC do
Brasil Indústria e Comércio, que afirma que de
nada adianta para os empresários suas
companhias prosperarem se o ambiente onde estão
não é favorável nem sadio.
Melo Neto (1996), quando questionado por esta autora se o investimento
no esporte
continuará sendo um grande negócio
para as empresas, responde que continuará sendo um
bom investimento para a imagem de uma empresa
já que ninguém será contra um investidor
no esporte, porque assim estará adotando
uma postura contra o próprio esporte. Mas ele
reafirma que a grande força do marketing
esportivo será o patrocínio de eventos, isso porque,
cada vez mais, as pessoas tem necessidade
de lazer e as empresas irão proporcioná-lo
através do esporte. O patrocínio
de clubes e o patrocínio individual de atletas, segundo Melo
Neto, ficará muito restrito.