A mente é o alvo a atingir
A batalha do posicionamento trava-se na mente dos consumidores.
É um campo saturado de inimigos e de contra-informação.
Siga as tácticas do estratego Jack Trout para que a sua mensagem
acerte na mouche
Por Jack Trout
Hoje, o último
cenário de guerra no marketing é a mente. O objectivo é
o de coloca na mente do consumidor uma identidade, clara e específica,
de um determinado produto ou serviço. Eis dois exemplos de empresas
que se posicionaram com sucesso na mente do consumidor: quando se fala
em Kodak a primeira coisa que vem à cabeça é fotografia.
De igual forma, o nome Xerox é imediatamente associado a fotocópias.
Sendo a mente o alvo a atingir, essa tarefa é dificultada pela
actual sobrecarga da informação. Há algumas estatísticas
que ilustram este problema:
Nos últimos 30 anos produziu-se mais informação do
que nos 5 mil anos anteriores;
Todos os dias são editados mais de 4 mil livros no mundo inteiro;
Em 1975 existiam 300 bases de dados on-line. Hoje o seu número ascende
a 7900, armazenando biliões de bits de informação;
Uma edição do New York Times tem mais informação
do que aquela que um inglês médio do século xvii depararia
em toda a sua vida.
A nossa mente não consegue acompanhar o ritmo e, por isso,
cria um mecanismo de auto-defesa contra esta torrente de informação.
Isto significa que o sucesso dos esforços de marketing está
dependente da compreensão de cinco afirmações acerca
dos elementos mentais no processo de posicionamento. A mente é:
Limitada — Tem uma limitação fisiológica de
não conseguir processar um montante infinito de estímulos;
Avessa à confusão — A memória é a forma
como retemos informação ao longo do tempo. A melhor maneira
de ser recordado é simplificar a mensagem;
Insegura — A mente tende a ser emocional, não racional;
Imutável — Uma vez que o mercado tenha decidido acerca de
um produto, é inútil tentar alterar a sua mente;
Passível de desnorte — Quantas mais variações
de um produto (trata-se aqui de extensões de linha) tiver, maior
a possibilidade da mente se dispersar.
As armas defensivas da mente
Os homens do marketing gostam de preparar argumentos favoráveis
aos seus produtos ou serviços, invocando razões, benefícios
e factos. Mas, no meio de tanta informação que a mente do
consumidor recebe, quanto mais detalhado esse argumento de marketing, menor
a probabilidade de ele ser notado. É demasiada informação
para os consumidores digerirem. Repeguemos no exemplo do New York Times:
ninguém lerá a edição de domingo de uma ponta
a outra. O leitor passa os olhos pelas páginas e lê o que
lhe salta à vista e desperta o seu interesse. Os consumidores fazem
exactamente o mesmo com a torrente de informação que diariamente
lhes chega. Escolhem o que lhes interessa e deitam fora o resto. A este
fenómeno os sociólogos chamam os três anéis
de defesa. São eles:
A exposição selectiva — Os consumidores escolhem expor-se
ou não à informação. Por exemplo, decidem não
ler uma determinada revista ou jornal;
A atenção selectiva — Expostos à informação,
os consumidores escolhem prestar-lhe atenção, ou não.
É o que acontece quando no intervalo de um filme mudam de canal
para não verem a publicidade;
Retenção selectiva — Trata-se da escolha de reter
e recordar determinada informação. Podem ver um anúncio
e ignorá-lo. Ou tomar nota mentalmente para comprar esse produto
publicitado, tomando assim a decisão consciente de reter a informação.
A função do marketer é fazer a mensagem transpôr
estas três barreiras de defesa e implantar-se na mente do consumidor.
Por outras palavras, posicionar o produto na mente do consumidor.
As tácticas para as derrubar
Atacar pelo lado emocional — Nada derruba as defesas da mente como
a emoção, porque as mentes são pouco racionais. Um
conjunto de estatísticas não terá o mesmo impacte
de uma imagem emocional. O anúncio com bebés da Michelin
é o exemplo perfeito de como usar a emoção para tocar
a mente dos consumidores. Os pneus são desinteressantes e esquecem-se
facilmente. Mas a segurança dos bebés é algo a que
todos os pais darão atenção e se recordarão.
Outra forma de usar as emoções é apelar à experiência
pessoal. Quem sofre de dores de cabeça prestará atenção
a um anúncio em que figure uma pessoa nas mesmas circunstâncias.
A simplicidade como aliada — A complexidade leva à confusão
e esta origina a rejeição. As pessoas desligam de uma mensagem
complexa. Por exemplo, a maioria dos americanos acreditava na necessidade
de fazer alguma mudança no sistema de saúde. Mas não
foi difícil à oposição convencer as pessoas
a rejeitarem o Helth Security Act. Se o presidente Bill Clinton não
tivesse feito um documento com 1342 páginas, talvez tivesse conseguido
fazer as mudanças.
O erro fatal da complexidade — Como a mente desconfia e rejeita
a confusão, os consumidores são mais receptivos a produtos
simples. Muitas empresas, no entanto, erram neste domínio. Por exemplo,
o AT&T Personal Comunicator é, simultaneamente, telefone celular,
fax, correio electrónico, organizador pessoal e computador pen-based.
Conceitos confusos, má estratégia — As pessoas não
só rejeitam produtos complicados, como também conceitos complexos.
Por exemplo, a Mennen introduziu um desodorizante de vitamina E. As vitaminas
são seguramente populares, tal como os desodorizantes. Mas aliar
os dois cria confusão — e rejeição. Por isso, o produto
falhou o alvo.
Os segredos de um tiro certeiro — Para o fim deixámos a melhor
forma de entrar na mente das pessoas, a supersimplificação.
Alguns dos programas mais poderosos baseiam-se numa só palavra.
A Volvo, por exemplo, resume-se a segurança. Quando tenta comunicar
a sua mensagem não diga a história inteira. Escolha um atributo
e leve-o à mente dos consumidores. Assim que tiver esse atributo
bem interiorizado na mente do consumidor terá conseguido posicionar
a sua empresa ou produto com sucesso.
Como vencer o assalto final
Não subestimar o poder da mente — Uma empresa que tenha posicionado
com sucesso o seu produto de uma forma, terá dificuldades em que
o consumidor pense nesse produto de outra forma. A Volkswagen, por exemplo,
não foi capaz de convencer os consumidores de que também
era capaz de produzir carros grandes, caros e rápidos. Tal como
a Coca-Cola não conseguiu convencer os consumidores a mudarem para
a nova cola. Eles preferiram a fórmula original.
Um posicionamento de sucesso não é garantia de êxito
no futuro. Muitas empresas estão a perder a posição
sólida de que beneficiavam. Este fenómeno ocorre devido a
uma de duas razões:
Quando as empresas batem em retirada — Hoje, muitas empresas estão
a afastar-se dos seus core-businesses, entrando em novas áreas de
negócio. Muitas vezes são mal sucedidas, caindo na ratoeira
da extensão de linha. Primeiro, porque o mercado desconfia da capacidade
de a empresa entrar em novas áreas, sem qualquer relação
com os seus produtos tradicionais e, por isso, as vendas desses novos produtos
são baixas. Em segundo, porque frequentemente os novos produtos
enfraquecem a imagem da empresa na mente dos consumidores. Neste caso,
eles deixam de aliar a empresa a um produto ou área de negócio
com sucesso. Por exemplo, a entrada da Xerox nos computadores pessoais
foi um desastre. Para os clientes, a Xerox era fotocopiadoras, não
computadores.
As empresas estão a aprender uma lição: a de
que a melhor forma de ancorar uma imagem na mente dos consumidores é
regressarem à simplicidade, à área de negócios
na qual construiram o seu nome. A Xerox abandonou os computadores e está
a reposicionar-se como The Document Company, regressando à ideia
que define a empresa na mente dos consumidores.
Quando o céu e a terra mudam de lugar — Se é o mercado,
e não a empresa, que muda, esta só tem uma via: mudar. É
o que acontece quando os desenvolvimentos tecnológicos tornam o
produto obsoleto ou quando as preferências dos consumidores se alteram.
Manter-se agarrado à simplicidade é importante se o produto
básico ainda é viável. Mas se o mercado muda, manter-se
ligado a um produto antigo é a via mais rápida para ser derrotado.
O desafio do reposicionamento é fazer com que os consumidores sigam
a empresa no seu novo posicionamento. As boas notícias são
que, após terem perdido a sua posição num mercado
em mudança, algumas empresas conseguiram reposicionar-se com sucesso.
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Jack Trout regressa ao seu tema predilecto, o posicionamento. Desta
vez, mostra como responder à mudança. O que fazer quando
os consumidores mudam a sua mente? O que acontece quando a tecnologia ou
os hábitos dos consumidores tornam o seu produto obsoleto? Como
reagir quando um concorrente rouba a sua posição? A resposta
a estas interrogações é simples: se o mercado muda,
a empresa também tem de mudar. Mais difícil é fazê-lo,
mas Trout ensina como e ilustra a explicação com casos de
empresas que conseguiram, com sucesso, reposicionar-se. Jack Trout escreve
sobre posicionamento — a ele se deve a cunhagem do termo — desde 1969.
Em parceria com Al Ries, co-assinou as obras Marketing de Guerra, Marketing
de Guerra 2 — A Acção, Horse Sense, Positioning e As 22 Consagradas
Leis do Marketing. O livro The New Positioning teve a colaboração
de Steve Rivkin,com quem trabalhou durante 15 anos, até que este
fundou a sua própria consultora.
Título: The New Positioning
- The Latest on the World's #1 Business Strategy
Autores: Jack Trout, com Steve Rivkin
Editora: McGraw-Hill, Inc.
Páginas: 173 |
Lotus
A Lotus foi pioneira e dominava o mercado das folhas de cálculo.
Até que apareceu a Microsoft com um novo sistema operativo, o Windows,
e uma folha de cálculo que se tornou famosa, a Excel. O Lotus 1-2-3
estava a perder e a solução foi mudar o campo de batalha,
expandindo-se para outros tipos de software como processadores de texto
e gráficos. Mas dois problemas perseguiam a empresa: estas categorias
eram já dominadas por outras empresas; e a própria Lotus
sofria de um problema de identidade — para os seus trabalhadores, Lotus
era o nome de uma empresa, mas para o mercado significava uma folha de
cálculo.
A empresa apostou, então, num conceito novo, o Groupware,
considerado pela Business Week como o produto do futuro. Entre o software
que a empresa desenvolvera estava o Notes, uma aplicação
que ligava vários computadores em rede. O Notes era um dos produtos
de groupware mais avançados do mercado, tendo levado 15 anos a ser
desenvolvido. Uma estratégia de reposicionamento passa por apelar
a algo que já esteja interiorizado. A Lotus estava ligada às
folhas de cálculo e, por isso, a mensagem de reposicionamento relacionou-se
com o que era já familiar: “Lotus Development Corp. Primeiro a folha
de cálculo. Agora o groupware.”
Alcançar o posicionamento actual foi um processo doloroso, que
implicou o abandono de 12 vice-presidentes. Mas a tenacidade de Manzi,
o responsável número um, em manter a sua visão intacta
foi recompensada. Sinal de que estava na direcção correcta
é o facto de a IBM ter desembolsado 3,5 mil milhões de dólares
para comprar a Lotus.
Repsol
Quando a petrolífera pública espanhola foi privatizada, a
empresa que daí resultou, a Repsol, tinha três marcas de gasolina.
A Repsol era o novo nome, Campsa era a marca familiar herdada pela privatização
e Petronor uma marca regional para o Norte do país. A empresa comercializava,
em condições de igualdade, todas estas três marcas,
até que o seu responsável, Oscar Fanjul, chamou Jack Trout.
Com base em estudos de mercado, o consultor reposicionou as três
marcas de acordo com conceitos simples. Para a Repsol pôs-se o acento
tónico na inovação e tecnologia: “o melhor para o
seu carro”. Trout aconselhou a que a empresa mantivesse um enfoque nos
automóveis através de acções como produtos
para os automobilistas à venda nas estações de serviço
e o patrocínio de uma equipa de racing. O marketing da Campsa, por
seu turno, enfatizava a herança de 60 anos de serviço ao
país, o que era reforçado com a publicação
de um guia do condutor, muito popular. A Petronor, que não tinha
um posicionamento prévio em que se apoiar, foi reposicionada como
uma gasolina de baixo preço à venda em estações
de serviço em self service.
O melhor esforço
de reposicionamento pode fracassar. Eis as razões mais comuns por
que o desenvolvimento e manutenção de uma estratégia
de posicionamento podem correr mal:
-
O factor óbvio — Muitos conceitos de posicionamento são
tão óbvios que são evitados pelos estrategos. O posicionamento
óbvio da Coca-Cola é The Real Thing. Ela inventou a categoria
e sempre fez todas as outras parecerem imitações. O seu mais
recente slogan, “Sempre Coca-Cola”,, não passa de um sonho, porque
em termos de vendas nos supermercados, metade das vezes é sempre
Pepsi. Infelizmente, nas mentes dos homens do marketing, o óbvio
é demasiado simples e, como funciona durante muito tempo, consideram-no
pouco excitantes. O problema é que eles não confiam tanto
no senso comum como nos seus complexos estudos. Não tema ser óbvio;
-
O factor futuro — Muitas empresas querem uma ideia que possa acomodar
um plano futuro, ainda não formulado. E, assim, esquecem o presente,
não se adaptando ao que o mercado quer hoje. Acredite, se não
criar um nicho na mente do consumidor, as suas opções futuras
estarão limitadas;
-
O factor ser engraçado — Não há nada pior que
ver uma empresa surgir com uma ideia de posicionamento que depois é
destorcida pelos criativos, com piadas. As ideias mais poderosas são
simples e directas: Volkswagen: ”Think small”; Avis: “We try harder”; Volvo:
“Conduza com segurança”;
-
O factor dos que querem ser heróis — Muitos colaboradores
pensam primeiro no que é bom para eles: será que vou ser
notado, dar-me-ão os créditos, se fracassar como serei encarado?
Um novo executivo pode até rejeitar uma boa ideia só porque
foi pensada pela gestão anterior. Este tipo de pessoas é
subjectivo. Os bons marketers são objectivos. Este tipo de atitudes
produz pensamentos do interior para o exterior, quando os posicionamentos
com sucesso baseiam-se no que se passa no exterior, no mercado;
-
O factor números — Quem vive pelos números morre pelos
números. O posicionamento é um pensamento de longo prazo.
Muitos negócios rentáveis levam tempo a gerar dinheiro. Lançar
infindáveis extensões de linha apenas para ter maiores números
apenas serve para abrir a porta à concorrência especializada.
Implemente correctamente o seu posicionamento e os números acabarão
por vir. Mas tem de ter paciência para esperar por eles;
-
O factor mexer em tudo — Muitos marketers, quando designados para
uma nova tarefa, gostam de começar por mexer nalguma coisa. Muitas
vezes criam conceitos irrealistas, quando não destroçam ideias
bem sucedidas. Mas o posicionamento tem de estar alinhado com as percepções
na mente das pessoas, não ir contra elas. Aquilo que na empresa
é percebido como um melhoramento causa confusão na mente
dos consumidores.