Introdução
Às vésperas do ano 2000, estamos encarando o início de uma nova revolução: a revolução comercial eletrônica. Já se passaram muitos anos desde a primeira revolução comercial, onde a moeda foi introduzida como uma forma substituta do escambo. Já não era necessário possuir um bem para trocá-lo por outro de mais valia, ou trocar a força de trabalho por um artigo material que, nem sempre, era desejado. A força de trabalho seria trocada agora por moedas e estas poderiam ser utilizadas para comprar quaisquer bens que se desejasse, desde que as moedas fossem equivalentes ao valor do bem pretendido. Surgiram as famosas feiras livres na região do Flandres, e Alsacia-Lorena, na Alemanha e Países Baixos. Deu-se origem aos burgueses, hábeis comerciantes que rapidamente acumularam muitas "moedas" e tornaram-se influentes nas repúblicas agora emergentes.
Com o crescimento da demanda, a forma tradicional de produção já não dava vazão às necessidades comerciais. A humanidade, então, dá mais um grande passo: a revolução industrial. A ciência aliada à necessidade de uma rápida produção de bens de consumo, de forma barata, criou máquinas que automatizaram várias tarefas antes efetuadas por humanos, de forma morosa. Nesta primeira fase da revolução industrial a qualidade do bem produzido era questionável e isto estendeu-se a até bem pouco tempo atrás. Com o avanço da tecnologia, novos materiais e processos foram criados, melhorados ou até mesmo extintos, e agora já era possível produzir-se bens de consumo de uma forma realmente massiva. E a qualidade ? Esta só passou a ter a devida importância quando os japoneses, baseados nas teorias do Dr. Deming - que os EUA inicialmente desprezaram - começaram a produzir bens que dificilmente davam problemas após sua venda, com um preço bastante inferior ao dos concorrentes ocidentais, e com prazos absolutamente precisos.
Basicamente, o enfoque era garantir a qualidade do produto desde o início de sua cadeia de produção, selecionando matérias primas de qualidade, fornecedores confiáveis e, durante todo o processo, identificando rapidamente os defeituosos e refazendo-os ou descartando-os, de forma que no final da produção o que se tinha era um produto praticamente perfeito. O Ocidente treme frente ao pequeno país asiático totalmente destruído após a II Grande Guerra, e que recebeu ajuda maciça americana no pós-guerra com o plano Marshall, que agora ameaça a hegemonia industrial e comercial ocidental. Logo os europeus e americanos lançaram mão de normas ISO, procurando um padrão de qualidade equivalente aos japoneses.
Não foram somente os processos industriais que sofreram profundas mudanças, os processos comerciais foram obrigados a acompanhar o avanço da tecnologia e a rapidez na alteração das necessidades de consumo. Os meios de comunicação avançaram. Os correios, o telégrafo e o telefone foram, e ainda o são, grandes agentes do comércio regional, nacional e internacional. As distâncias foram encurtadas de forma que não se precisava mais apertar a mão do outro para se fechar um negócio, bastava discar, pressionar uma tecla ou colar um selo. Paralelamente, os meios de transporte também evoluíram: barco a vapor, trem a vapor, motor à explosão, automóvel, navios e aviões. Podíamos agora enviar uma carta para um cliente confirmando o envio da mercadoria pelo navio "US Fast Turtle". Formas mais sofisticadas de meios de comunicação surgiram: faxes e computadores. Não precisávamos mais colocar a carta confirmando o despacho da mercadoria pelo "US Fast Turtle", bastava enviar um fax e instantaneamente o cliente já estaria ciente. Da mesma forma, as comunicações entre empresas e/ou governos foram agilizadas. Mas surgiu um novo aparelho que revolucionou a indústria e o comércio: o computador pessoal. Rápido, preciso e com alta disponibilidade entre a população. A próxima etapa foi fazer com que os computadores "falassem" uns com os outros: uma pequena rede. E por que não uma rede mundial ? Era só aproveitar a infraestrutura de telefonia já existente, com a tecnologia desenvolvida nas universidades americanas. Eureka! Estava criada a fórmula mágica que iria revolucionar a forma de fazer comércio: Internet.
Como veremos, comércio eletrônico não se restringe somente à internet, e muitas das tecnologias envolvidas ainda não foram totalmente concebidas, o que dá uma ampla margem à imaginação. Mas a evolução se dá por dois modos: usando-se a imaginação ou por simples tropeço. O assunto não se esgota apenas com este texto e muito há o que se discutir, implementar e testar até que estejamos no nível de completo aproveitamento desta fantástica tecnologia que a cada dia entra mais em nossas casas. Querendo ou não.
O que é comércio eletrônico?
Os negócios modernos caracterizam-se pela crescente capacidade de fornecimento, competição global, e até mesmo o aumento da expectativa dos consumidores. Em resposta, os negócios pelo mundo sendo obrigados a mudar suas organizações e suas operações. Há uma tendência nas organizações de diminuir as barreiras entre seus fornecedores e clientes. Seus processos estão sendo reestudados para poderem quebrar velhos paradigmas. Temos visto agora muitos exemplos de processos que compreendem a companhia inteira e mesmo processos que são operados conjuntamente entre a companhia e seus clientes e fornecedores.
Comércio eletrônico é a forma de permitir e suportar tais mudanças em uma escala global. Ele permite que as companhias sejam mais eficientes e flexíveis em suas operações internas, para trabalhar mais próximo de seus fornecedores, e ser mais ágil às necessidades e expectativas de seus clientes. Ele permite selecionar os melhores fornecedores sem se preocupar com suas localizações geográficas e vender em um mercado global.
Um caso especial de comércio eletrônico é a venda eletrônica, no qual um fornecedor vende bens ou serviços para um cliente em troca de um pagamento. Um caso especial de venda eletrônica é o varejo eletrônico, onde o consumidor é um consumidor comum e não uma companhia. Entretanto, enquanto estes casos são de considerável importância econômica, eles são apenas exemplos de um caso mais geral de um forma de operação de negócio ou transação conduzida via meio eletrônico. Outros exemplos também válidos seriam transações internas dentro de uma empresa ou fornecimento de informações à uma organização externa sem custo.
Comércio eletrônico é tecnologia para mudanças. Companhias que escolheram considerá-la como um "pequeno agregado" aos seus meios de fazer negócios ganharão benefícios limitados. Os maiores benefícios ocorrerão às companhias que estão desejando mudar suas organizações e processos de negócios para explorar completamente as oportunidades oferecidas pelo comércio eletrônico.
Categorias de comércio eletrônico
Impacto
Os atores e seus papéis
Muitas das questões identificadas em aberto devem ser resolvidas em uma esfera global. Portanto, os atores com responsabilidade para resolver tais questões e promover o comércio eletrônico devem incluir membros de várias nações. Da mesma forma, existe um papel para os governos de remover as barreiras nacionais e assegurar uma competição justa e um papel para setores representativos da sociedade de promover consciência e boas práticas. Por último, existem papéis óbvios para os fornecedores de tecnologia, companhias e consumidores usuários ao permitir, adotar e explorar o comércio eletrônico.
Estes atores devem executar todos os papéis, conjuntamente. Alguns
atores podem ter responsabilidade por muitos papéis e, no sentido
oposto, cada papel pode ser executado por vários atores.
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remover barreiras globais |
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remover barreiras nacionais |
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providenciar tecnologias que permitam a utilização |
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adotar as tecnologias |
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Oportunidades do fornecedor e benefícios
do cliente
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O caso extremo vem dos produtos e serviços que podem ser entregues eletronicamente, quando a cadeia de fornecimento é eliminada totalmente. Isto tem implicações profundas para a indústria de entretenimento (filmes, videos, músicas, revistas, etc.), para a indústria da informação (inclui-se todas as formas de publicação), e para companhias relacionadas com o desenvolvimento e distribuição de software.
O benefício correspondente do cliente é a capacidade de obter rapidamente o produto desejado, sem estar limitado aos correntes no estoque de fornecedores locais.
Embora estas várias oportunidades e benefícios sejam bem distintas, elas são de alguma forma interrelacionadas. Por exemplo, aumento da competitividade e qualidade de serviço podem em parte ser derivados da customização em massa, enquanto que o encurtamento da cadeia de fornecimento pode contribuir para reduzir custos e abaixar os preços.
Escopo do comércio eletrônico
Comércio eletrônico abrange uma grande variedade de
tecnologias de informação, incluindo e-mail, fax, EDI e transferência
eletrônica de fundos. Qualquer uma destas tecnologias pode ser usada
para suportar comércio eletrônico, com a escolha entre elas
sendo determinada pelo contexto.
Níveis de comércio eletrônico
Existem muitos exemplos bem sucedidos de comércio eletrônico em vários segmentos industriais e em uma ampla área de atuação:
Tópicos em aberto
Enquanto comércio eletrônico está crescendo rapidamente, existem muitos itens que devem ser resolvidos para que se atinja o pleno potencial da tecnologia. Podemos considerar ainda como pontos para discussão em escala global:
Globalização
Potencialmente, redes globais podem fazer com que seja tão fácil
negociar com uma empresa do outro lado do planeta quanto com uma do outro
lado da rua. Entretanto, a mídia de comunicação sozinha
não é suficiente. Como as companhias em diferentes continentes
tomam conhecimento da existência de outras, e dos produtos que são
oferecidos ou requisitados ? Como pode uma companhia compreender as tradições
de negócios e convenções de alguns países no
lado oposto do globo, particularmente quando aquelas convenções
e tradições são geralmente culturais e não
estão escritas em nenhum lugar ? E de que forma a diversidade cultural
e ingüística de uma comunidade global pode ser melhor aceita
e respeitada ? Estas questões são apenas algumas de um tópico
mais amplo chamado globalização, o que faz com que o comércio
eletrônico global seja verdadeiramente uma realidade prática
Questões contratuais e financeiras
Suponhamos que uma companhia brasileira pesquisa um catálogo
eletrônico de Singapura e coloca um pedido de produtos que serão
entregues eletronicamente e pelos quais o pagamento será feito também
eletronicamente. Este exemplo levanta questões fundamentais que
ainda estão sem solução. Em que ponto podemos dizer
que há um contrato firmado entre as duas companhias ? Quais taxas
e tarifas alfandegárias serão aplicadas aos produtos ? Como
estas taxas serão recolhidas e controladas ? As taxas poderiam ser
evitadas simplesmente mantendo um site de "despacho" em algum lugar que
não se cobra as mesmas ? Estas questões referem-se diretamente
ao direito internacional e ainda tem muito o que ser debatido pelos governos.
Propriedade
Particularmente para bens que podem ser distribuídos eletronicamente,
e que podem ser rapidamente copiados, questões de copyright e direitos
de propriedade intelectual representam um grande problema a ser solucionado.
Privacidade e segurança
Comércio eletrônico em redes abertas requer mecanismos
confiáveis e efetivos de se manter a segurança e a privacidade.
Tais mecanismos devem proporcionar confidencialidade, autenticação
(via cartórios eletrônicos), não repúdio (assegurando
que as partes de uma transação, subseqüentemente, não
possam negar suas participações). Já que mecanismos
de privacidade e segurança dependem de certificação
de um terceiro confiável (um órgão do governo, por
exemplo), comércio eletrônico exigirá o estabelecimento
de um sistema global de certificação.
Interconectividade e interoperabilidade
Praticar o total potencial do comércio eletrônico requer
acesso universal - toda companhia e todo consumidor devem ser capazes de
ter acesso a todas as organizações que oferecem produtos
e serviços, independentemente de localização geográfica,
ou de particularidades específicas das redes as quais estas organizações
estão conectadas. Isto, por sua vez, demanda padrões universais
para interconexão e interoperação de redes. A internet
é uma boa maneira de se solucionar este problema, entretanto, ao
utilizá-la, caímos no problema da segurança e privacidade.
Utilização
Um fator que poderia limitar o crescimento do comércio eletrônico
seria a falta de conhecimento e de habilidade. Há um perigo que
muitas companhias poderiam ter deixado para trás, e que as colocam
em desvantagem, simplesmente estando atentas às oportunidades e
possibilidades emergentes. Portanto, existe uma necessidade urgente de
promover a consciência, de se publicar exemplos de boas práticas
e promover educação e treinamento.