José Martins
Pesquisas provam a força do vínculo emocional
A Nike é um belo caso de marketing
dos anos 90. A conceituação emocional adequada mais uma vez
prova que é a força que dá vitalidade à marca.
Há vinte anos, só as pessoas mais soltas usavam tênis
em situação social; hoje, só no Brasil, vendem-se
100 milhões de sapatos para 400 milhões de tênis/ano.
Pesquisa realizada pela Young & Rubicam e publicada na Advertising
Age de 19 de setembro ilustra bem como a força de uma marca está
muito mais na vinculação emocional que cria com o público
do que em seus atributos racionais. De um lado temos as marcas de prestígio,
lembradas pelo consumidor por sua tradição; de outro, as
marcas com vitalidade (relação emocional). Estas são
as vencedoras.
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1. Coca-Cola | 1. Coca-Cola |
2. Kodak | 2. Nike |
3. Sony | 3. Adidas |
4. Mercedes-Bens | 4. Sony |
5. Pepsi-Cola | 5. Ferrari |
6. Nestlé | 6. Reebok |
7. Gillette | 7. Disney |
8. Colgate | 8. Porshe |
9. Adidas | 9. Pepsi-Cola |
10. Volkswagen | 10. Mercede-Bens |
Há um bom teste que consiste em mostrar ao indivíduo uma série de fotos. O pesquisado deve relacionar uma delas com uma empresa. Há desde fotos tranqüilas, como a de duas mulheres na faixa dos 30 anos, até esportivas, com cenas de praia no verão. A cada foto - e isso os pesquisados não sabem - corresponde um conceito. A das mulheres, por exemplo, chamada de cenas do cotidiano, simboliza o desejo de conformismo diante de um papel já definido pela sociedade: a vontade de cumprir à perfeição o papel social pré-determinado. Já a da praia sugere uma personalidade que procura manifestar sua expressão: quer participar do mundo, tem uma visão cosmopolita, procura inovações.
A Nike conquistou um lugar de destaque
porque soube capitalizar seu apelo em cima de uma força do inconsciente
coletivo que é o desejo de expressão, que se contrapõe
ao desejo de conformidade a um papel na sociedade (cenas do cotidiano).
A pesquisa definiu Nike como uma marca dinâmica, moderna, individual.
Em todo mundo a postura expressão de fortalece. Um exemplo: Evolution,
no mercado de máquinas de lavar roupa, se tivesse uma imagem cosmopolita
deixaria a Brastemp, que representa cenas do cotidiano, com a cara de um
sujeito de terno curto, mas preferiu usar o Nei Latorraca, e assim deixou
de ganhar vitalidade no mercado. Marcas que ganham vitalidade: Nike, BMW,
Harley Davidson. As marcas que desenvolvem um conteúdo emocional
consistente têm em valor de mercado muito maior em seu segmento do
que aquelas que usam a publicidade apenas para mostrar seu produto, ou
com um conteúdo emocional inadequado. Três marcas exemplificam
a força do conceito emocional bem definido:
1- a Nike, que nos últimos
anos vem expressando com perfeição o espírito cosmopolita;
2- a BMW, que em sua arrancada na
década de 80 soube expressar o espírito de sofisticação
e poder, emulando os yuppies e conseguindo a preferência dos executivos
em todo mundo, enquanto a Mercedes, com sua imagem clássica, só
mostrava o produto e caiu;
3 - a Harley Davidson, que renasceu
das cinzas resgatando o espírito do motoqueiro através do
Club Harley Davidson, com mais de 2 milhões de associados no mundo
inteiro. Nesse segmento dominado pelas máquinas japonesas a Honda,
que conquistou um mercado inóspito, assumindo a liderança
nos EUA na década de 70 com a campanha "a gente se encontra numa
Honda", mostrou que é aprendiz de feiticeiro e esqueceu a fórmula.
Marcas que perdem vitalidade: Volkswagen,
Gillette e Colgate. Não têm um conteúdo emocional envolvente
e, portanto, não têm vitalidade:
1) Volkswagen. O Fusca, que era sinônimo
de carro pequeno, resistente e econômico, um conceito forte e bem
definido em todo o mundo, o que representa hoje?
2) Gillette. A empresa tem uma obstinação
pelo aperfeiçoamento do produto, mas não gera envolvimento
com o consumidor. A falta de talento nessa área levou a Gillette
a fechar há poucos anos sua divisão de cosméticos;
3) Colgate. Suas marcas não
têm personalidade, a empresa trabalha incessantemente no desenvolvimento
de novos conceitos de produto, é ativa em lança mentos, mas
não se preocupa com o conceito emocional. Sua relação
com o consumidor, portanto, fica só na dimensão de uso.