4.1 - PARMALAT
Em fevereiro de 1996 a Parmalat atinge o topo do ranking do setor de laticínios
no país (Almeida, 1996). O grande responsável
por este feito é apontado pela empresa
como sendo José Carlos Brunoro, diretor
de esportes da Parmalat.
Chegar ao topo nas vendas de leite era objetivo da empresa desde quando
se
instalou no país em 1977. Dados de
1994 indicavam que a Parmalat, uma empresa
italiana, incorporou desde 1988 mais de trinta
outras empresas no país e seu
faturamento nesse período evoluiu de
US$34 milhões para US$750 milhões (Melo
Neto, 1995). Uma das ações estratégicas
da empresa é o lançamento de novos
produtos. Já existem chás, molhos
brancos, biscoitos e similares carregando a marca
Parmalat. Em 1995, a Parmalat brasileira já
representava cerca de 37% dos negócios
mundiais da companhia, controlando 30 unidades
industriais e 130 postos de captação
de leite, chegando a um faturamento de US$2
bilhões (Melo Neto, 1995). Segundo
Gomes (1995), no ano de 1994, o faturamento
da Parmalat chegou a US$700 milhões
e os investimentos da matriz italiana na filial
brasileira para o ano de 95 foram de US$65
milhões. Maria Tereza Gomes ainda relata
que todas as empresas adquiridas ampliaram
a linha da Parmalat para mais de 600 itens.
Todos estes produtos terão seus nomes
transformados, aos poucos, na marca Parmalat.
Portanto, apesar de ser apontado como um dos grandes responsáveis,
o
patrocínio esportivo não é
o único motivo do sucesso da marca Parmalat, a empresa
vem investindo pesado em aquisição
de empresas e em promoção dos seus produtos.
Somente no ano de 95 foram investidos US$40
milhões para colocar a marca Parmalat
na mídia (Gomes, 1995). Segundo Funari
(1996), a empresa investe cerca de 5% do
seu faturamento em divulgação.
4.1.1 - Parmalat e o Futebol
Para Melo Neto (1995) a grande inovação nas estratégias
de investimento da
Parmalat foi atrelar seu nome a clubes de
futebol para reforçar a sua imagem e
manter-se em evidência nos noticiários.
Em entrevista à autora deste trabalho, Roberto
Funari (1996), um dos diretores de marketing
da Parmalat, afirmou que a empresa
pretende fixar uma imagem jovem, moderna,
saudável e de produtos de qualidade,
junto ao seu consumidor. Luís Carlos
Brunoro (1996), também em entrevista a esta
autora, afirma que o melhor caminho para fixar
esta imagem é o patrocínio esportivo.
Segundo Funari, Diretor de Marketing da Parmalat (1996), a empresa considera
como público-alvo, famílias
urbanas da classe B, C, D. Com estes dados poderia-se
questionar se os torcedores de um time de
futebol, estão incluídos no público-alvo ideal
para uma empresa que atua no mercado de gêneros
alimentícios. Apesar disso Helcio
Emerich (1994) considera inegável que
com o patrocínio no futebol a Parmalat ganha
níveis de exposição excepcionais.
Estas evidências levam a autora deste trabalho a
constatar que a estratégia utilizada
pela Parmalat com o patrocínio do Palmeiras visa a
massificação da marca adotando-se
as características do marketing indiferenciado. O
carro chefe da Parmalat é o leite,
um produto que pessoas de várias classes, idade,
região e sexo consomem, e o futebol
no Brasil é um esporte que detêm maioria de
aprovação. Brunoro (1996), confirma
a estratégia de massificação da marca buscada
através do patrocínio esportivo.
Segundo ele, apesar do futebol ser um esporte mais
apreciado pelos homens, as donas de casa,
indiretamente, acabam tomando contato
com ele.
Para comprovar o sucesso do investimento no futebol, Brasil relata em uma
matéria para a Folha de São
Paulo (1994b) a insatisfação da Parmalat com o retorno
dos seus investimentos no basquete, vôlei
e hóquei. Segundo a declaração de José
Carlos Brunoro à Ubiratan, o futebol
traz um retorno de 300%, enquanto o restante
consegue cerca de 50%. Além do futebol,
a Parmalat também investe na Fórmula 1,
patrocinando o piloto brasileiro Pedro Paulo
Diniz.
Também como sustentação de marketing para a empresa,
a Parmalat iniciou em
1993 a Copa Parmalat de futebol, realizada
anualmente e disputada entre os clubes que
contam com o apoio financeiro da empresa (Moreira,
1994).
4.1.2 - Porque o Palmeiras
A Parmalat iniciou sua tradição em investimentos no esporte
com o clube Parma,
na Itália. No Brasil, a escolha do
time a ser contemplado se deu por uma série de
critérios que não são
abertamente divulgados. Um destes critérios é a origem dos
clubes: italiana. Segundo Melo Neto (1995),
a escolha dos clubes patrocinados está
diretamente relacionada à estratégia
de crescimento da Parmalat. O Palmeiras é um
clube de São Paulo e a estratégia
da Parmalat era expandir-se pela América Latina à
partir de São Paulo. Além do
Palmeiras, a Parmalat também estendeu seu patrocínio
para o Juventude de Caxias do Sul, São
José de Rio Preto e em outros clubes
latino-americanos - Boca Juniors (Argentina),
Penãrol (Uruguai) e Audax Italiano
(Chile).
Para Almeida (1996), Brunoro transformou o futebol em um excelente negócio
para a Parmalat. A empresa não só
ganhou expressão nacional como teve sua própria
imagem associada à competência,
por organizar a antiquada estrutura de um grande
clube de futebol. Funari (1996) afirmou que
30% da verba de promoção da empresa é
dirigida para o esporte, o restante é
aplicado em outras formas de divulgação (anexo 1).
De acordo com Funari, o crescimento das vendas
dos produtos duplicou desde que a
empresa começou a patrocinar o futebol.
Ele afirma, também, que a empresa realiza
pesquisas periódicas junto os consumidores
de todo o Brasil e, de acordo com os
últimos resultados, a Parmalat é
apontada como uma empresa de alta qualidade,
moderna e inovadora.
Segundo Melo Neto (1995), desde 1992, quando a Parmalat iniciou o patrocínio
do Palmeiras, a empresa já investiu
mais de US$11 milhões na compra de jogadores.
Somente o contrato anual, da empresa com o
clube, é de US$1,2 milhão. O
investimento na compra de jogadores gerou
um lucro para empresa, nos anos de 1993
e 1994, em torno de US$13,4 milhões
(Almeida, 1996). Só para exemplificar, o lateral
Roberto Carlos foi comprado por US$500 mil
dólares e vendido para a equipe de
Milão por US$7 milhões, uma
valorização de 1.300%. O atacante Edmundo,
comprado por US$1,8 milhão, foi vendido
por US$5 milhões. Almeida afirma que só a
ida de um jogador para o Palmeiras, com a
chancela de competência da Parmalat já é
motivo para a valorização do
passe. Os lucros da Parmalat, na compra e venda de
jogadores, chegaram a gerar certo desconforto
entre os demais dirigentes de Clube. O
diretor de futebol do São Paulo afirmou
que, desde que a multinacional se associou ao
Palmeiras, clubes e jogadores perderam a noção
de valores (Brasil, 1994a). Brunoro
revelou, em uma reportagem para o Jornal da
Tarde (Prósperi, 1996), que uma das
vertentes do negócio da Parmalat com
o futebol é mesmo o lucro. Brunoro ainda
afirma, na reportagem, que é evidente
que a Parmalat visa retorno publicitário com o
investimento no futebol, mas a empresa também
visa lucrar quando adquire um jogador.
4.2 - O PALMEIRAS
Em 26 de agosto de 1914 nasceu o Paletra Itália, que, depois da
conquista de
vários títulos, transforma-se,
em 1942, em Sociedade Esportiva Palmeiras. Apesar da
história de vitórias antes do
patrocínio da Parmalat, iniciado em 1992, o Palmeiras havia
conquistado seu último título
estadual em 1976 e vencido o último campeonato
brasileiro em 1973. Com a chegada do investimento
da multinacional, o Palmeiras foi
campeão paulista em 1993, 1994 e 1996
e campeão nacional em 1993 e 1994. Nos
torneios internacionais o clube conquistou
o torneio Euro-American Cup de 1991 e
1996, Copa Brasil/Itália de 1994 e
Torneio Lev Iashin (Rússia) de 1994 (Palmeiras
Futebol Profissional, 1996).
Com tantos títulos, a arrecadação, fruto do aumento
da venda de ingressos nos
jogos do Palmeiras, só fez subir. Além
disso, o clube recebe 15% na venda de todos os
atletas da Parmalat que atuam no Palmeiras.
Por força do contrato de parceria, a
Parmalat investe na reformulação
das divisões inferiores, através da contratação
de
profissionais para o preparo e a formação
de novos jogadores, além de fornecer
alimentação, assistência
médica e acompanhamento dos jovens atletas. As cotas de
apresentação do clube também
sofreram reajustes: "agora o Palmeiras cobra caro para
jogar" (Melo Neto, 1995, p. 161).
4.3 - A CO-GESTÃO
Este trabalho já discutiu os benefícios trazidos pelo marketing
esportivo e os
fatores que levaram a Parmalat a investir
no futebol, mais especificamente no Palmeiras.
Apesar disso, existe um diferencial entre
o investimento da Parmalat no Palmeiras e os
demais tipos de patrocínio no futebol
brasileiro. Essa diferença está no fato da Parmalat
atuar no clube como co-gestora. A co-gestão
implica na participação administrativa da
empresa no clube. A empresa passa a fazer
parte do conselho diretor e participa de
todas as decisões. Melo Neto (1996)
afirma que o sucesso da Parmalat com o
Palmeiras talvez não fosse tanto se
não houvesse a co-gestão. A co-gestão do
Palmeiras e da Parmalat obteve bons resultados
para ambas as partes devido à alguns
fatores (Melo Neto, 1996):
a) identidade de propósitos: ambas buscavam a maximização
dos seus
resultados. A Parmalat, quando afirmou a co-gestão
com o Palmeiras, abriu um novo
negócio e o Palmeiras ganhou mais dinheiro
e conquistou mais títulos;
b) identidade de estratégia: a empresa visa a conquista de mercados,
o clube
quer ser campeão. Cada vez que o Palmeiras
ganha a Parmalat amplia o seu mercado.
A Parmalat acaba se tornando o leite dos campeões
consolidando uma identidade e
posicionamento da marca;
c) afinidade entre as marcas: no caso do Palmeiras e da Parmalat são
muitas as
afinidades das marcas: cores, nomes e o conceito
de saúde tanto do esporte como dos
produtos da empresa. A afinidade da empresa
com o clube é tanta que, uma pesquisa
feita pela Parmalat constatou que, os consumidores
confundem de tal forma a
multinacional com o Palmeiras que chegam a
julgar que a empresa está no Brasil desde
quando o clube foi fundado (Helena, 1994).
Como já foi visto antes, a Parmalat está no
Brasil desde 1977 e o Palmeiras foi fundado
em 1942.
Melo Neto afirmou que essa profunda relação entre Palmeiras
e Parmalat possui
pontos positivos e negativos para a empresa.
Constantemente, o nome Palmeiras é
trocado por Parmalat seja na boca dos torcedores
ou nas matérias esportivas (anexo
5), o que prova o êxito de maximização
da marca através do patrocínio do clube.
Apesar disso, esta afinidade pode gerar desconfortos
para a empresa. Um deles, citado
por Melo Neto, foi o episódio resultante
do jogo entre Grêmio e Palmeiras na disputa
pela Copa do Brasil de 1996. O Grêmio,
apesar de ter vencido a partida, foi
desclassificado por um gol anulado pelo juiz.
O juiz estava errado e o presidente do
Grêmio chegou a declarar, informalmente,
que iria incitar os torcedores do time a
boicotar os produtos da Parmalat (Kampff,
1996). Este incidente não chegou a maiores
proporções mas já demostra
um dos perigos da co-gestão.
Para o Palmeiras, a co-gestão também tem seu lado positivo
e negativo. Desde
que a Parmalat entrou no Palmeiras, o clube
conquistou títulos, prestígio bons
espetáculos e faturamento assegurado.
Caso a empresa saia do clube, a situação
poderá se reverter. Outro risco é
o fato da empresa acabar ganhando mais do que o
clube, o que vai depender do grau de envolvimento
da empresa e do clube no negócio.
Melo Neto (1996) define o grau de envolvimento
entre empresa e clube na tabela 2:
TABELA 2 Grau de envolvimento entre empresa e Clube
A - Baixa participação do clube
e baixa participação da empresa
B - Alta participação da empresa
e baixa participação do clube
C - Alta participação da empresa
e alta participação do clube
D - baixa participação da empresa
e alta participação do clube
FONTE: Melo Neto, 1996
De acordo com Melo Neto, a co-gestão Parmalat e Palmeiras estaria
no nível
“B”, ou seja, uma alta participação
da empresa e baixa participação do clube.
Apesar destes pequenos problemas, o “casamento” entre Palmeiras e Parmalat
promete durar um bom tempo, pelo menos até
1997, quando acaba o contrato entre a
empresa e o clube. Até lá, Brunoro
garante que, a Parmalat vai continuar mantendo um
investimento constante no Palmeiras para fazer
com que o clube continue em evidência.
Segundo Brunoro (1996), o grande objetivo
da Parmalat é fazer do Palmeiras um clube
vencedor e, como conseqüência,
manter a marca Parmalat na liderança.