Um exemplo de superação

Foto: Arquivo pessoal

Beto (no centro), com seu filho Leonel e sua esposa Luciana:
“A vida só se justifica pela luta e pela capacidade do homem
de superar os obstáculos que surgem a cada dia”.

Carlos Alberto Marques, 45 anos, é diabético desde os 5 anos. “Naquela época, praticamente não existia nenhum produto alimentício feito com adoçante. Enquanto meus irmãos, primos e amigos comiam doces, biscoitos e balas, eu me divertia com amendoim salgado, pedaço de coco e gelatina diet. Aos poucos foram aparecendo alguns produtos diferentes, como chocolate, refrigerante e balas sem açúcar. Também, os recursos para se medir o nível de glicose no organismo eram bem escassos. Não se podia medir em casa a glicose no sangue, somente na urina, com um exame feito em um tubo de ensaio aquecido em água fervente, contendo algums gotas de urina e um pouco de um reagente que mudava de cor de acordo com a taxa de glicose existente (reativo de Benedict)”, recorda.

Com dezoito anos, Beto, como é mais conhecido, perdeu a visão. Sua vida mudou totalmente, pois teve que se adaptar às novas condições, mas deu prosseguimento a todos seus projetos, como cursar a Universidade, trabalhar, namorar. Hoje ele é professor universitário na Faculdade de Educação da UFJF e é graduado em Pedagogia, Filosofia e Letras. Antes disso, já lecionou em escolas da Prefeitura de Juiz de Fora e do Estado.

Uma pessoa muito importante na vida de Beto é sua esposa, a professora universitária Luciana Marques. Além de ajudá-lo na luta diária contra o diabetes, também doou um rim para ele, numa cirurgia realizada em 1998. “Admiro o modo com que o Beto encara as adversidades da vida. Ele tem uma aceitação total do diabetes, da cegueira e do transplante renal, sempre é muito otimista. Logo que soubemos que ele precisava de um doador, eu me ofereci para sê-lo. Penso que devemos fazer tudo o que pudermos pelas pessoas que amamos. Sei que nada acontece por acaso e fico feliz por ter podido doar um rim para o Beto”, diz.

Para ele, a vontade de viver é a justificativa de não se entregar às dificuldades e continuar levando a vida sem se deixar abater. “A vida só se justifica pela luta e pela capacidade do homem de superar os obstáculos que surgem a cada dia. As pessoas que se deixam entregar as dificuldades negam a si próprias a oportunidade de exercerem o seu papel no mundo: o de serem ‘sujeitos’ da tarefa de se dar sentido à vida. Talvez o que essas pessoas esperam seja encontrar o sentido da vida, sem perceberem que este está dentro de cada um. Como diz Leonardo Boff no livro A águia e a galinha: uma metáfora da condição humana: ‘não existe caminho, e sim caminhante. Quem fica parado jamais poderá encontrar um caminho, pois este sempre estará por ser construído’ ”, afirma.