Cetáceos

SUBORDEM MYSTICETI (Baleias de Barbatanas)
SUBORDEM ODONTOCETI (Cetáceos com dentes)

A ordem Cetacea abrange os mamíferos aquáticos mais especializados: baleias, golfinhos e botos.

Acredita-se que os Cetáceos evoluíram a partir de ancestrais terrestres primitivos a mais de 70 milhões de anos. Vários fósseis dos ancestrais das baleias já foram encontrados, assemelhando-se os mesmos a gigantescas "serpentes marinhas".

Morfologicamente, estes fascinantes animais da atualidade podem ser reconhecidos pelos seus corpos hidrodinâmicos, quase sempre sem pêlos, tendo seus membros anteriores transformados em nadadeiras. Não existem vestígios visíveis de membros posteriores, perdidos na trilha da evolução, embora algumas espécies possam apresentar, inseridos na massa muscular, ossos vestigiais, remanescentes de uma primitiva cintura pélvica.

A cauda dos cetáceos é achatada horizontalmente, sendo responsável pela locomoção, que ocorre através de uma enérgica ação muscular que gera um movimento vertical da parte posterior do corpo, forçando o mesmo para a frente. As nadadeiras atuam essencialmente como estabilizadores. Pode estar presente ou não, de acordo com a espécie, uma aleta dorsal.

A superfície do corpo não apresenta glândulas, nem mesmo as glândulas sebáceas que lubrificam a pele e os pêlos dos mamíferos terrestres. Mesmo as tetas das glândulas mamárias das fêmeas são retraídas, inseridas em fendas existentes em ambos os lados da fenda genital. O ouvido não apresenta qualquer estrutura externa ou mesmo orifício. As narinas de todos os cetáceos se localizam no alto da cabeça, numa posição um tanto posterior, com exceção da Cachalote (Physeter macrocephalus). É possível se distinguir externamente dois orifícios nas baleias "de barbatana" (mistacocetos) e apenas um nas baleias "com dentes" (odontocetos). As mandíbulas e os maxilares são notadamente alongados.

Os Cetáceos desenvolveram muitas adaptações fisiológicas notáveis para sobreviver no meio aquático. Por sobre a grossa pele desenvolveram uma espessa camada de gordura e tecido conjuntivo, que proporciona isolamento contra a perda de calor do corpo para a água. Em algumas espécies de pequenos cetáceos, a camada de gordura pode chegar a representar um terço do peso total do corpo. Sua utilidade é também servir como reserva de energia para enfrentar as longas migrações enfrentadas pelas baleias.

Os sistemas respiratório e circulatório são especialmente adaptados para suportar longos períodos de mergulho. O sistema vascular nos pulmões é mais desenvolvido e o número de hemáceas por milímetro cúbico de sangue é o dobro do normalmente encontrado nos mamíferos terrestres, facilitando o transporte de oxigênio e gás carbônico nos tecidos. Quando realizam mergulhos regulares, os cetáceos podem, a cada respiração, trocar até 90% do seu suprimento de ar; nos mamíferos terrestres esta troca oscila de forma correspondente entre 10 e 20% apenas. Além disso, aparentemente os cetáceos são pouco sensíveis ao gás carbônico. Quando uma baleia submerge, sua pulsação diminui até cerca da metade do ritmo normal (quando o animal está na superfície). Fenômenos de vasoconstrição automaticamente reduzem o fluxo de sangue para certas partes do corpo durante o mergulho, assegurando assim maior suprimento de oxigênio para órgãos vitais como o cérebro e o coração. Embora muitos dos pequenos cetáceos raramente mergulhe por mais de 20 segundos sem voltar à tona para respirar, as espécies maiores podem suportar longos mergulhos. Um Cachalote pode submergir por mais de uma hora e descer a profundidades de um quilômetro ou mais. Os cetáceos vêm a superfície principalmente para respirar, e por vezes, para observar o ambiente acima da linha da água. A visão é um sentido bem desenvolvido na maioria das espécies, com exceção daquelas que habitam normalmente águas turvas. O olfato é desconhecido nesta ordem de mamíferos, sendo aparentemente desconhecido.

O período de gestação dos cetáceos é sempre longo, variando conforme a espécie de 10 a 16 meses. Normalmente a fêmea pare apenas uma cria, que cresce rapidamente consumindo o leite rico em gorduras fornecido pela mãe. Em verdade, já foi demonstrado que o leite dos cetáceos possui geralmente cerca de 50% de sua composição em gordura. A importância deste elevado teor evidencia-se no fato de que a camada termoisolante existente sob a pele dos cetáceos recém-nascidos contém relativamente pouca proteção contra o frio, sendo, portanto, indispensável a ingestão de alimentos ricos em gordura.

Uma das características mais popularmente conhecidas dos cetáceos, principalmente das grandes baleias, é o “esguicho” que produzem quando vêm à tona para respirar. Na verdade, os cetáceos não esguicham água pelo orifício respiratório, a “nuvem” que se enxerga, tanto mais nítida quanto mais frio estiver o dia, é resultado da condensação do ar aquecido que os pulmões do animal expelem rapidamente, reforçada pela pulverização de pequenas quantidades de água que pode se acumular sobre o orifício e é ejetada pelo ar expelido a grande velocidade.

A Ordem Cetacea divide-se em duas subordens, Misticeti (mistacocetos ou “baleias de barbatanas”) e Odontoceti (odontocetos ou baleias com dentes). As generalidades mais importantes sobre estes grupos poderão ser encontradas adiante junto às descrições das espécies que os compõem e que ocorrem em águas brasileiras.


SUBORDEM MYSTICETI (Cetáceos sem dentes)

Os misticetos ou mistacocetos, são na sua maioria grandes baleias que não apresentam dentes. No lugar destes, possuem compridas fileiras de cerdas - as "barbatanas" - que pendem do céu da boca em posição lateral. A função destas cerdas é a retenção de alimentos.

Barbatanas da baleia Jubarte

A alimentação dos mistacocetos consiste basicamente de organismos planctônicos, especialmente pequenos crustáceos do gênero Euphasia que abundam nos mares mais frios, e algumas espécies costumam predar sobre cardumes de peixes de pequeno porte. No ato da alimentação, o animal enche a boca de água, "filtrando" o alimento ao expelir a água através das cerdas já mencionadas.

Baleia Jubarte se alimentando

Os mistacocetos são agrupados em 3 famílias: Balaenidae (baleias-verdadeiras), Balaenopteridae (rorquais) e Escherichtiidae, sendo que esta última possui uma única espécie, Escherichtius robustus, que ocorre apenas no Pacífico Norte.


Esqueleto de um mistacoceto, Eubalaena australis. Notar o agrupamento da mandíbula que abriga as franjas de cerdas ("barbatanas") e o osso pélvico vestigial.


SUBORDEM ODONTOCETI (Cetáceos com Dentes)

Os odontocetos ou cetáceos com dentes abrangem os cachalotes, as "baleias-de-bico", a orca, e todos os golfinhos e botos. Todos eles apresentam dentes, que variam em número de 2 a 200. Embora a maioria dos odontocetos seja menor que as baleias "de barbatanas", o alimento que ingerem é proporcionalmente maior: peixes de vários tamanhos e cefalópodes, podendo, no caso da orca, devorar animais de sangue quente como focas e pingüins.

Os condutos nasais externos dos odontocetos são fundidos em um único orifício respiratório. Ao contrário dos mistacocetos, o crânio dos odontocetos é notadamente assimétrico. Em algumas espécies as regiões rostral e frontal são bastante desenvolvidas; em outras, a boca é alongada para frente formando uma espécie de "bico" longo e agudo.

As diversas espécies de odontocetos variam muito de tamanho entre si, e a maior delas, a cachalote Physeter macrocephalus pode atingir mais de 20 metros de comprimento, enquanto que os menores golfinhos podem não alcançar 1,5 metros.


Esqueleto de um odontoceto, Physeter macrocephalus. Notar o crânio desproporcional.

Vale lembrar que a distinção entre boto (porpoise em inglês) e golfinho (dolphin) é dada pela morfologia das diferentes espécies: os botos possuem a cabeça mais achatada, e os golfinhos mais afilada, com um "bico" mais facilmente observável.

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