UM OLHAR PELA PONTA DO SOL - ONTEM,
HOJE E AMANHÃ
PRESSUPOSTOS
1- “...
nós da nossa parte ..... fazemos por
bem do dito lugar da Ponta do Sol vila...” palavras do monarca, D. Manuel I, contidas em carta régia (carta de foral) de 2 de Dezembro de
1501. A criação do Município da Ponta do Sol levou ao seu desmembramento do
município do Funchal e passou a circunscrever “ ... a área e jurisdição
desde a ribeira da Ponta do Sol e a
ponta do Tristão”. “ Crescendo em
importância e população, e sendo o centro de outras pequenas povoações que se
foram criando nos seus arredores, era
natural que constituísse uma vila...”
São estas
curiosidades históricas que nos impulsionam a “voar como gaivotas” na procura
reflexiva de uma identidade cultural, talvez insignificante para o Mundo, mas
muito enriquecedora para a nossa comunidade educativa.
2- A entrada no novo milénio é um marco
importante na História da Humanidade, mas
para os Pontassolenses, que sentem correr nas veias o calor do “Seu
Sol”, merece especial atenção - coincide com os 500 anos da criação
do Município da Ponta do Sol. Sendo assim, não pode passar despercebido a toda
a comunidade educativa. Surge uma
grande oportunidade para implementação
de um possível currículo com a componente local, que já há muito se prevê
consagrado no contexto da autonomia da Escola.
3- Da leitura
atenta da legislação existente sobre a reforma curricular do ensino básico,
sobressai um projecto pedagógico global
que contempla uma pedagogia de desenvolvimento integrado, na qual a promoção de
atitudes e valores assume papel nuclear e em que o domínio de aptidões e
capacidades sobreleva e, simultaneamente, condiciona a aquisição de
conhecimentos. A sua estrutura curricular concretiza-se num leque de áreas em que se desenham,
dentro do contexto legal, espaços de
flexibilidade onde se privilegiam as
componentes Área Escola ou “ Área de
Projecto” e Complemento Curricular e nas quais se integram as componentes curriculares locais e
regionais. Estas surgem como uma
política de organização da Escola mais enraizada na realidade social que a
rodeia. É o que consta na LBSE:
“...o sistema educativo organiza-se de forma a ....
proporcionar uma correcta adaptação às realidades, um elevado sentido de
participação das populações, uma adequada inserção no meio comunitário...”
“... os planos curriculares do ensino básico devem ser
estabelecidos à escala nacional, sem prejuízo da existência de conteúdos
flexíveis integrando componentes regionais....”
4- Depreende-se
que distinguir ensino básico de um currículo nacional e uniforme constitui, a
nosso ver, o principal passo para dar corpo à ideia de um currículo com
componentes locais. À Escola compete a
tarefa de transformar em abordagem local e regional, cada uma das componentes
dos currículos pensados a nível nacional. Daí a necessidade de ligar a escola e os seus currículos à região, à
comunidade local, ao estudo do meio envolvente.
5- É sabido também
que há espaços em todas as áreas dos currículos para uma abordagem séria e
interessante da componente local. Cabe aos professores seleccionar e adequar
esses espaços preferidos a experiências de aprendizagens que satisfazem as
motivações de alunos e professores com incidência no estudo das especificidades da comunidade, onde os alunos
aprenderão os saberes do meio, aprenderão a intervir e a modificar o próprio
meio envolvente.
6- Sendo a razão
de ser da Escola a preparação para a
vida, a inserção na escola da cultura
trazida por cada aluno, torna-se fonte privilegiada de aprendizagem. O projecto - “Um olhar pela Ponta do Sol – ontem,
hoje e amanhã”- enquadra-se e assume plenamente o princípio de articular as
actividades escolares com o meio e a vida.
Queremos, pois, contribuir para a construção
de um possível currículo para a escola.
I - CONTEÚDOS TEMÁTICOS
(Aplicação prática dos conteúdos nacionais ao meio envolvente e estudo
dos problemas da comunidade com eles relacionados)
1-Localização, limites
e evolução geográficos
2-Abordagem histórica da Ponta do Sol
2.1- A carta de foral; a criação do
Município, e a criação do Concelho; a criação das freguesias; o desmembramento
de algumas e a anexação de outras..., a Criação da Comarca...
2.2- Aquisição
/aprofundamento de conceitos “administrativos”.
3-
Processo de povoamento e colonização
3.1- Recursos e
aproveitamento económicos: agricultura, culturas introduzidas, transformação da
paisagem ...
3.2- Actividades
tradicionais: a pesca, o artesanato, os moinhos....
3.3- As pequenas
indústrias: os engenhos, a moagem, extracção de areia...
3.4- A arte de
bordar - as bordadeiras
3.5- O mar:
via de ligação com o resto da ilha;
uma porta
aberta à emigração.
3.6- Lombada dos
Esmeraldos: o grande morgadio da Ilha
4.1- A igreja de
N.ª S.ª da Luz
4.2- A Capela do
Santo Espírito
4.3- A Igreja de
Santa Maria Madalena
4.4- A Igreja da
S.ª da Piedade
4.5- A Igreja de
Santo André Avelino
4.6- O Cais- Ex-libris da Ponta do Sol
4.7- Casas
solarengas
4.8- Estrutura
arquitectónica da Vila
4.9- As capelas:
Anjos, Livramento, Piedade, Stº Amaro, Stº António, S. Sebastião, S. João
4.10- As obras de artes
existentes nos museus, originárias da Ponta do Sol
4.11- Estatuária
4.13- Os
chafarizes
5- Património cultural/ literatura oral
5.1- Lendas: S.ª
da Luz, da levada, da S.ª dos Anjos,
etc...
5.2- Contos /
bruxas e feiticeiras...
5.3- Modos de
dizer / Provérbios / Ditos
5.4- Música
popular
5.5- Poesia
popular
5.6- Romarias /
Diversões
5.7- Folclore
5.8- Medicina
popular: remédios / rezas e curas
5.9- Superstições
5.10-Tradições
culinárias
6-Património cultural/ literatura escrita
6-1- Escritores:
naturais e ou que viveram ou passaram
pela Ponta do Sol
6.2- Obras
literárias com referências à Ponta do Sol
6.3- Tradição
jornalística
7- Património ambiental e paisagístico
7.1- Locais
pitorescos e ou de lazer
7.2- Parque
natural da Ponta do Sol
7.3- Vegetação da
floresta da Laurissilva
7.2- Toponímia:
das ruas, dos vários sítios e locais...
8-
Personalidades ilustres
8.1- Biografias
9-
A Educação
10-
Problemas actuais
II- MÉTODOS DE ENSINO
E PERSPECTIVAS DE APRENDIZAGEM
*Trabalho independente;
*Projectos de trabalho;
*Técnicas de comunicação utilizadas pelos alunos:
entrevistas, inquéritos, criação de
textos, gravações, fotografias, filmagens...
3- Recolha de cultura/tradição oral
4-Exploração pedagógica de recursos com interesse
histórico/sociocultural
5- Elaboração de roteiros das saída de campo
6- Visitas de estudo/ Passeios pedestres
Tema |
Local |
Dinamizador |
Vestígios
da floresta
Laurissilva |
Rabaças - Lombada
|
Eng.º Henrique Costa Neves |
Exemplos de
Património Arquitectónico |
Vila da Ponta do Sol
|
|
A
arte barroca: Capela do Santo Espírito |
Igreja da Lombada
|
|
Locais Pitorescos e ou Reservas de recreio e
montanha |
Pico da Amendoeira
Paul da Serra/Bica da cana Quinta – Lombada Pomar de D. João Miradouro da Madalena... |
|
Obras de arte
oriundas da Ponta do Sol |
Museu de Arte
Sacra
|
|
Percursos: Veredas, Ribeira e
Levadas |
Ribeira da Ponta do Sol Levada Velha / Levada Nova |
|
Vista marítima da Ponta do Sol |
Viagem de barco ao longo da costa sul |
|
* Comemorar o 1º aniversário da elevação da Floresta Laurissilva
a Património Mundial
CICLO DE
CONFERÊNCIAS
Temas |
Conferencista |
Lombada dos
Esmeraldos: o grande morgadio da Ilha |
* Dr. João José Sousa |
O que ainda resta da
Laurissilva no Concelho |
Engenheiro Henrique Costa Neves |
Ponta do Sol e a
emigração para o Brasil ao longo dos séculos |
* Doutor Alberto Vieira |
Património
Artístico da Ponta do Sol |
Professor Doutor Rui Carita |
Vivências culturais
dos finais do século XIX princípios do séc. XX |
Dr.ª Margarida Relva |
* entidades
sugeridas, que ainda não foram
contactadas.
9- Publicação de um jornal mensal de escola
10- Publicação dos trabalhos dos alunos
11-Exposições
12-Actividades desportivas: regata de canoas a remos; pesca desportiva; torneio de futebol; ténis
de mesa...
13- Leitura recreativa dos extractos de obras que têm como
cenário a Ponta do Sol
14- Concursos / espectáculos
15- Dramatização - História ao vivo: Recriação do cortejo da
Procissão do Corpo de Deus, no século XVIII na Ponta do Sol
16- Criação de uma página
Internet/ Jornal electrónico
17- Publicação de um Roteiro Cultural e Ambiental
18- Publicação de uma colecção de calendários por freguesias
19- ......
IV- MEIOS E
MATERIAIS PEDAGÓGICOS
Recursos
territoriais a saber:
-
A cultura de origem dos alunos com ponto
de partida, para possibilitar a afirmação de todos e facilitar as aprendizagens
reais.
-
Os recursos da comunidade para valorizar e
dar significado às aprendizagens
-
Organização do Banco de Informação e
Documentação, com a colaboração dos alunos e familiares e dos professores:
livros, revistas, jornais fotografias, fotocópias, gravuras instrumentos,
objectos, gravações de testemunhos orais, etc...
-
Convites a actores da comunidade para
partilharem os seus saberes da cultura do quotidiano.
-
Autarquias
-
Casa do Povo
-
Instituições culturais / desportivas
-
Outras
-
.....
É nossa intenção,
com este leque de actividades que estas possam ser implementadas nas várias
componentes de formação:
- na situação de
aula: incluídas nos tempos planeados no
currículo de cada disciplina sob a orientação do Delegado de
grupo/disciplina; com inclusão no projecto da Área – Escola.
Acha-se adequado
que os professores que vierem a implementar este projecto e após negociação com
os alunos, dediquem pelo menos o equivalente a 4 horas mensais.
- em espaços de
complemento curricular ( clubes, ateliers, etc...)
À equipa
responsável pelo organização e concretização do projecto, constituída por 6
docentes, responsáveis por 3 grandes
áreas de intervenção, propõe-se, inicialmente, um total de 18 horas
semanais a serem geridas consoantes as áreas de intervenção: Património
histórico/artístico; Literatura oral / escrita e tradicional; Área
Lúdico/desportiva. Esta equipa integra
obrigatoriamente docentes de várias
áreas do saber 3 do edifício da sede e 3 do
anexo.
VI- PÚBLICO-ALVO
Estas actividades
estão destinadas a toda a comunidade educativa, no entanto e na qualidade de
professores, a nossa primeira atenção vai como é óbvio, para os nossos
alunos.Com efeito, torna-se possível organizar algumas das actividades
adequadas aos vários grupos sociais. Pretende-se, conjuntamente com o Animador Cultural, Clubes/ateliers, Delegados de grupo/disciplina
e os Coordenadores dos Directores de Turma, programar as actividades de
interesses dos alunos e com a Comissão de Formação Permanente de Professores programar actividades com vista à
informação e formação do corpo docente, abarcando toda a comunidade escolar e
deixando abertas à comunidade educativa.
VII- FINALIDADES /
OBJECTIVOS
Pedimos as
palavras emprestadas a Maria do Céu Roldão:
“O desejo e o
prazer de compreender, de explicar a realidade, de questionar para procurar
alternativas, de conhecer para agir conscientemente são sem dúvida factores
poderosos na formação dos indivíduos responsáveis e intervenientes”.
É no fundo o que
se pretende com este projecto.
Como objectivos específicos/locais
deverão ser os essenciais: os mínimos da
Escola, isto é, aquilo que resulte em uniformidade de critérios, como essencial para que todos os alunos
sejam capazes de atingir, tendo em conta o nível cultural da comunidade, os
recursos disponíveis e a
disponibilidade dos professores em participar nas tarefas.
A avaliação deverá
ser tida em várias vertentes:
Avaliação
formativa e continuada servindo de apoio às dificuldades das aprendizagens,
resultantes da participação e
realização das tarefas de cada aluno, assumindo carácter personalizado e humanizado.
Sugere-se a utilização de relatórios, fichas auto-correctivas, grelhas de registos para os professores, mas
sobretudo para os alunos registarem a sua participação e execução de tarefas. É
um apelo à autoavaliação.
Avaliação
periódica (ponto da situação) entre os membros organizadores e os participantes
com o registo em actas ou relatórios.
Avaliação de cada
actividade feita quer pelos participantes, quer pelo organizador, através de
relatório.
Avaliação final do
projecto através de relatório a apresentar em Conselho Pedagógico.
Cabe referir que
como projecto da escola que é, está aberto a sugestões e sujeito a alterações adequadas às realidades
que forem surgindo com vista a uma
melhor dinâmica de implementação e
concretização.
Ponta do Sol, 15 de Setembro de 2000
A equipa dinamizadora do projecto |
A equipa
proponente
|
Alexandra
Roque Ana Luísa
Gabriela
Relva
Nelson
Relva Sérgio
Toscano
Teresa
Costa
|
Alexandra Roque Bernardo Valério Fátima Gonçalves Gabriela Relva Margarida Relva Nelson Relva |
Legislação e Documentos Oficiais
DECRETO-LEI N.º
286/89 de 29 de Agosto, (Reorganização dos Planos Curriculares).
DESPACHO N.º
142/ME/90 de 1 de Setembro, (Componente Curricular)
Organização Curricular e Programas (2º Ciclo do Ensino Básico). (1991). Lisboa: D.G.E.B.S.
Organização Curricular e Programas (3º Ciclo do Ensino Básico). (1991). Lisboa: D.G.E.B.S.
Outras publicações
FÉLIX, Noémia e
ROLDÃO, Maria do Céu, (1996), Dimensões
Formativas de Disciplinas do ensino
Básico História. IIE.
ROLDÃO, Maria do
Céu, (1999), Gestão Curricular
fundamentos e práticas. Lisboa. ME.
SILVA, Fernando
Augusto da e MENEZES, Carlos Azevedo de (1984), Elucidário Madeirense.
Vol. III. Funchal. DRAC.
O Ensino da
História ( boletins nº 4/5, 6/7, 12,
13/14 e 15 ). ( 1996/97, 98, 99 e 2000). APH.
Educação para
todos. Componentes locais e Regionais dos
Currículos. (cadernos PEPT 2000). (1993). ME.
Educação para
todos. Construção Local dos Currículos. (cadernos PEPT
2000). (1993). ME.
Educação para
todos. A Gestão Local e Regional dos Currículos. (cadernos PEPT 2000). (1993). ME.