Esta
obra “de rara beleza e valor”, hoje exposta no Museu de Arte Sacra, no Funchal,
numa das salas dedicadas à pintura portuguesa, pertence à igreja de N.ª S.ª
da Luz, a matriz da Ponta do Sol, onde se encontrava no altar da antiga Capela
do Espírito Santo, fundada por Rodrigo Anes, o Coxo, primeiro povoador da Ponta do Sol. Esta
Capela tomou depois a designação de N.ª S.ª do Patrocínio, provavelmente na época
da aposição do quadro.
A
sua importância e valor estão registadas numa referência de “As Ilhas de
Zargo”:
“Aquele
Tríptico ocupou o lugar de retábulo desde o meado do primeiro terço do século
XVI - escreveu o P. Vieira Caetano, Pároco da Ponta do Sol [1]
(...) No tríptico de Santa Maria del Populo, durante mais de quatro centúrias,
não houve estragos de borradores de tintas, nem vandalismos de lesa arte...
(pelo que) três janelas deixando ver as paredes a que está encostado, esperam a
reposição do seu tríptico, conforme foi prometido, em saída, para uma exposição
na capital do País, em Abril de 1949. É este tríptico de rara beleza e valor.
As tábuas laterais afiguram-se-nos ser Santa Bárbara a da direita, e a da esquerda
uma mártir, Santa Catarina, achando-se identificada a tábua central pela sua
própria legenda: Santa Maria del Populo. Os três painéis medem, cada um, 1,09 X
0,33 m.
Jácome
Correia classifica estes painéis de “três preciosas tábuas duma extraordinária
pintura que bastaria o seu colorido e o aspecto que oferecem os Santos para
colocar em colisão os mais afinados juízos críticos de experimentados peritos.
O tom geral do quadro é escuro, muito harmónico, ligando-se as cores em gama
diluída tão suavemente que os detalhes sobressaem à força de desenho, parecendo
que o artista tivesse o objectivo de trabalhar a pintura, à maneira dos
impressionistas modernos, numa sinfonia colorista... Mas que naturalidade de
desenho! Quando as cores desbotadas e desvanecidas parecem obtidas em têmpera,
as figuras trazem uma expressão de personagens da Renascença em pleno florescimento.
O tríptico (da capela) de N.ª S.ª do Patrocínio pareceu-me uma estranha e rara
obra de arte com características portuguesas, talvez única no género.” O Dr.
Tomé Vieira Barreto, vigário da Ponta do Sol, escreveu em 1727 o Tombo das
capelas e mais sufrágios da Colegiada de N.ª S.ª da Luz e fala neste
manuscrito dum retábulo encomendado outrora no estrangeiro para a capela real
da corte portuguesa. Como não servisse para esta, admite a hipótese de ter
vindo para a Ponta do Sol para a capela de Santa Maria da Luz, assinado por
“Tomaz Rodrigues”, o que referimos para ilucidação dos pesquisadores dos
quadros deste templo.”
Ilhas de Zargo, Eduardo C. N. Pereira,
vol. II, 4.ª edição, 1989, pp 737-738.