ATUALIDADES
BUSH DEFENDE SHARON ENQUANTO O MASSACRE DE JENIN PROVOCA CONDENAÇÃO INTERNACIONAL
Por Chis Marsden
Denúncias sobre a brutalidade israelense em Jenin ecoaram por todo o mundo, com apenas uma exceção marcante. A administração Bush não só manteve seu apoio firme e seguro ao governo de Ariel Sharon como também abandonou qualquer pretexto de que esteja buscando uma retirada militar israelense da Cisjordânia.
Falando a repórteres no Salão Oval, no encontro com o secretário de Estado Colin Powell, que retornava de Israel, Bush exaltou Sharon como um "homem de paz" e criticou o líder da Autoridade Palestina, Iasser Arafat, por não pôr um fim ao "terrorismo".
Mais importante de tudo, quando perguntado se se sentia incomodado pelo fato de haver uma presença maior do exército israelense na Cisjordânia duas semanas depois de ele ter exigido uma retirada imediata, Bush disse que "A história mostrará que eles responderam". "Sharo", acrescentou, "me deu um prazo e ele está respeitando este prazo."
A referência de Bush a um prazo acordado entre ele e Sharon é a prova da cumplicidade americana direta na continuidade dos crimes de guerra que estão sendo cometidos na Cisjordânia e Faixa de Gaza. É a confirmação da análise do verdadeiro objetivo da viagem de Powell, feita pelo World Socialist Web Site, em 6/04, "A 'iniciativa de paz' de Bush abre caminho para uma guerra mais ampla contra as massas árabes."
Naquela ocasião, insistimos que o envio de Powell ao Oriente Médio, "não representa em hipótese alguma, uma mudança na política básica dos Estados Unidos para o Oriente Médio." O objetivo primeiro foi "ganhar tempo para o regime israelense e dar-lhe cobertura política para intensificar seu ataque à Autoridade Palestina e ao povo palestino."
Agora isto é tão evidente que o porta-voz de Bush, Ari Fleischer, limitou-se a fazer uma declaração ridícula de que o presidente não pretendia mostrar aos israelenses que estava recuando da exigência de retirada imediata. Mas nada pode encobrir o fato de que os Estados Unidos deram ás Forças de Defesa Israelenses uma autorização para aterrorizar milhares de civis inocentes, apanhados como ratos nos campos de refugiados palestinos em toda a Cisjordânia.
Em Jenin ocorreram as piores atrocidades. Escavadeiras foram enviadas para derrubar casas habitadas, a fim de desimpedir o caminho para os tanques e blindados. O exército, então, continuou a atirar e destruir casas, fábricas, instalações essenciais e outros prédios indiscriminadamente, usando aviões de guerra e helicópteros.
Depois de perder 13 soldados para os atiradores palestinos, as Forças de Defesa começaram a usar armas antiaéreas para destruir as casas onde os militantes palestinos estavam abrigados. A fim de esconder suas operações militares de qualquer jornalista intrometido, o exército produziu uma cortina de fumaça para esconder as áreas de combate. Surgiu um relato de que o piloto de um helicóptero ao sobrevoar Jenin na semana passada teria se recusado a atirar nos prédios, onde se dizia conter "terroristas suspeitos", por medo de matar civis. O piloto não foi identificado e ainda não se sabe se seu ato será levado contra ele.
As estimativas mais modestas da quantidade de mortos depois da retirada de Jenin estão em centenas. Existem relatos de corpos insepultos, alguns em estado de decomposição e de vítimas do terror israelense sendo ocultas em covas coletivas. Nabil Shaath, antigo porta-voz palestino, acusou Israel de realizar entre 60 e 70 execuções sumárias e de remover os cadáveres em caminhões refrigerados." O exército israelense levou seis dias para completar seu massacre em Jenin e mais seis dias para limpar os vestígios." Mais de 500 pessoas foram mortas, disse ele.
Ao entrarem no campo, observadores de total devastação -"um panorama lunar" é como umm repórter descreveu o que viu.
O enviado da ONU ao Oriente Médio, Terje Roed-Larsen, descreveu Jenin como, "chocante e terrível, além da imaginação". Roed Larsen disse que 300 prédios foram destruídos e 2.000 pessoas estavam sem teto. "Eu presenciei dois irmãos tirando das ruínas da casa o pai e 5 outros membros da família. Eu vi uma família tirando dos escombros o filho de 12 anos. Há um cheiro de cadáveres deteriorados por todos os lugares, o cenário é completamente inacreditável... Nenhuma operação militar justifica o sofrimento que estamos vendo aqui.".
O prof. Derrick Pounder, especialista forense britânico, da Universidade de Dundee, integrante de uma equipe da Anistia Internacional com licença para entrar em Jenin, disse que a evidência aponta para um grande número de civis mortos. Com relação aos vários relatos de testemunhas oculares sobre as mortes de civis, ele disse "eu devo dizer que a prova que se nos apresenta no momento não nos leva a crer que as alegações sejam verdadeiras, mas, no entanto, existe um grande número de civis mortos sob estas ruínas bombardeadas e niveladas que estamos vendo."
Ele acrescentou que a autópsia de corpos "deram motivo a suspeitas." A autópsia realizada num palestino de 38 anos, revelou que "ou ele recebeu um tiro no pé e em seguida nas costas, ou recebeu o tiro nas costas primeiro - recebendo um ferimento fatal - e seu cadáver, por alguma razão, recebeu um tiro no pé."
David Pilditch, do Mirror, disse a respeito de Jenin, "foi como o resultado de um imenso terremoto. Alamedas inteiras repletas de ruínas, nem uma única casa foi deixada em pé, e o cheiro corrosivo e sufocante dos cadáveres apodrecidos. Mas, não foi uma catástrofe natural. Foi um sinistro cenário feito pelo homem, de absoluta destruição do campo de refugiados de Jenin, ontem, uma peça teatral grotesca do ódio e epicentro de selvageria da operação israelense.
Ele entrevistou Jumana Hassan, de 24 anos, que lhe disse que os soldados reuniram os corpos e os explodiram para apagarem as provas. Jumana disse: "havia seis homens cujos corpos estavam nas ruas. Eles foram deixados ali por dias. Eles os atiraram a uma pilha. Houve uma explosão e não sobrou nada dos corpos."
Diante de tais relatos, mesmo os mais ardentes defensores das ações israelenses na Europa foram forçados a lançarem seus protestos.
Jack Straw, secretário de Assuntos do Exterior britânico, disse que Israel deveria aceitar uma investigação de fora sobre seus atos em Jenin, possivelmente um Comitê Internacional da Cruz Vermelha. Ele acredita que "todas as evidências disponíveis" indicam que as forças israelenses em Jenin usaram "a força excessiva e desproporcional" e criticou a reserva de Israel em aceitar a investigação externa como sendo "penosa para todos os amigos de Israel".
Chris Patten, comissário de relações externas da União Européia, disse ao jornal The Guardian que "interessa a Israel comportar-se como uma democracia que acredita no império da lei. Tem que haver um movimento, e um movimento rápido, que possibilite a comunidade internacional tratar desta calamidade."
Ele também deixou claro que estava falando como amigo de Israel, a fim de estar fora de qualquer pedido legítimo para que o governo de Sharon seja responsabilizado por seus crimes de guerra. "Se Israel se recusar a todos os pedidos de assistência humanitária; se resistir a qualquer tentativa da mídia internacional para cobrir o que está acontecendo, então, inevitavelmente estará fornecendo oxigênio para todos aqueles que estarão fazendo exigências mais extremadas," advertiu Patten.
Em um debate parlamentar, o conhecido judeu trabalhista Gerald Kaufman, denunciou o primeiro-ministro Ariel Sharon como criminoso de guerra e disse que "suas ações estão manchando a Estrela de David com sangue."
Na manchete do jornal Mirror, de19 de abril, Kaufman também esclareceu que a razão de seu ataque estava ligada à sobrevivência de Israel: "A devastação de Jenin e Belém, de um modo geral, está transformando a opinião de incontáveis pessoas imparciais em severas críticas aos israelenses ... Em lugar de proteger o estado judeu, as políticas seguidas por Sharon estão solapando não só reputação internacional de Israel como também sua própria existência."
As ações das Forças de Defesa na verdade minaram duramente a posição de Israel em escala mundial e ameaçam sua sobrevivência. Mas, ao agirem assim, por extensão, provocaram uma onda crescente de hostilidade política em relação aos seus protetores americanos. A alegação da administração Bush de estar conduzindo uma "guerra contra o terrorismo" não se sustenta, na medida em que continua a agir como o principal patrocinador e apologista do regime assassino de Sharon. Os protestos irados por todo o mundo árabe e dentro da própria Europa continuarão a crescer. É isto que importa para o nervosismo crescente da elite política européia em relação às ações de Sharon e à postura francamente pró-Israel dos Estados Unidos. Kaufman, antes um secretário de estado, tornou evidentes sua preocupação, advertindo que Sharon "tornou impossível" para os Estados Unidos agir contra o Iraque: "Fazer isto agora seria unir todo o mundo muçulmano contra os Estados Unidos."
WSWS
13/04/2002