ATUALIDADES
CAUSAS E EFEITOS DA INTIFADA DE AL-AQSA
Em uma palestra promovida pelo Centro de Análise da
Política sobre a Palestina, em 26 de outubro, Maxim Ghilan afirmou que, na medida em que
o primeiro-ministro israelense Ehud Barak não foi capaz de colocar suas propostas em Camp
David, ele acabou permitindo a controversa visita de Ariel Sharon a Jerusalém oriental, a
fim de provocar uma resposta palestina. Ghilan, diretor da International Jewish Peace
Union, discutiu a revolta que se seguiu, assim como o papel do movimento de paz
israelense e do governo dos Estados Unidos na reação à crise atual. Ghilan receia que
isto possa dar direito a uma expulsão em massa de palestinos com cidadania israelense.
Segundo Ghilan, Barak foi a Camp David com a "intenção deliberada" de obrigar
o presidente da OLP, Iasser Arafat, a "curvar-se a sua abordagem" em relação
às questões centrais. Arafat recusou-se e Barak voltou-se para seu plano
provocativo. Os "problemas surgiram" ostensivamente por causa da visita de
Sharon a Haram al-Sharif, disse Ghilan, no entanto isto não foi acidental. Pelo
contrário, a visita foi um exemplo do "caratê político" de "Sharon e
Barak (para tentar) criar uma situação na qual os palestinos se colocariam do lado
errado". Como resultado, a visita de Sharon fez surgir um levante popular.
Esta revolta é um esforço "conjunto" entre
palestinos com cidadania israelense e os que vivem nos Territórios Ocupados. Embora os
palestinos dentro de Israel usufruam de mais benefícios econômicos do que seus
vizinhos na Cisjordânia e em Gaza, sua "situação política tem sido muito, muito
ruim." Nos anos 50, "todo árabe estava submetido ao toque de recolher dentro
das fronteiras de Israel." Mais recentemente, a presença da mídia estrangeira em
Israel tem ajudado a melhorar a posição dos palestinos israelenses. Eles tornaram-se
membros do Knesset e aceitaram outros papéis de liderança. Em resposta a esse
fortalecimento e à exposição crítica do sistema, as autoridades israelenses começaram
a investighar os congressistas palestinos do Knesset, aumentaram a demolição das casas
palestinas, "bateram mais e mais no povo" e, em suma, "criaram uma
situação" na qual os jovens palestinos israelenses foram compelidos a se juntar à
nova intifada.
Esta experiência foi semelhante na primeira intifada, que foi "iniciada
(nos Territórios Ocupados) por aquele grupo de jovens entre 9 e 14 anos, que não tinham
nada a perder", não tinham emprego, estavam "sob o toque de recolher a
maior parte do tempo" e queriam enfrentar as consequências negativas de seus
protestos. Por motivos semelhantes, os palestinos em Israel que tinham estado
"absolutamente quietos por (mais de) 50 anos" interromperam seu silêncio por
ocasião deste novo levante.
O envolvimento dos israelenses palestinos nesses choques "reforçou" a noção do governo israelense de uma "troca de populações entre os territórios" e Israel. "É realmente uma frase bonita, mas o que significa?", pergunta-se Ghilan. Quando analisamos os planos de Israel de anexar os quarteirões de assentamentos nos Territórios Ocupados, na verdade não há judeus israelenses para trocar. De fato, este é "um plano para deslocar tantos árabes israelenses quanto possível, e apossar-se de suas terras", criando uma Israel famosa, lendária, fortificada, na qual somente os judeus possam viver." Ghilan teme que se não houver uma intervenção dos Estados Unidos, existe a "possibilidade" de uma "nova Nakba" em Israel, referindo-se à "catástrofe" de 1948, quando 800.000 palestinos fugiram ou foram expulsos de seus lares, durante a formação do estado de Israel. Agora, os um milhão de israelenses palestinos "são rotulados" e se eles forem expulsos, "somente nos restará a culpa por não termos intervindo em tempo".
O governo dos Estados Unidos poderia impedir uma nova Nakba, mas é pouco provável que o faça. Os Estados Unidos se beneficiam de seu apoio a Israel, onde mais do que um aliado, Israel é um instrumento. Ghilan estava se referindo à "relação simbiótica entre o complexo industrial militar americano e o empresariado militar israelense, onde os "Estados Unidos dão a Israel, afora a ajuda velada, pelo menos US$ 3.1 bilhões a cada ano." Deste dinheiro, contestou Ghilan, a maior parte é usada para adquirir "planos americanos, armamentos militares americanos, tecnologia americana" e outros equipamentos, a fim de que esse dinheiro retorne aos Estados Unidos. As companhias americanas que produzem programas militares lucram enormemente. "Enquanto existir (esta relação), a América não abandonará Israel." Esses acordos ajudam a criar emprego, mantêm o dólar estável e controlam os países árabes.
Ghilan falou sobre como Israel poderia continuar com um
plano de expulsão dos cidadãos palestinos. Tal estratégia seria semelhante às de 1948
e 1967. Seria um massacre de cerca de 400 ou 500 palestinos - não milhares- cometido de
uma "forma espetacular" e estórias de horror seriam disseminadas para forçar o
povo a fugir com medo. De um modo semelhante, o massacre de 1948 em Deir Yassin de mais de
100 palestinos pelo exército judeu foi "emblemático" e foi usado para
amedontrar os palestinos. Israel também expulsaria líderes eminentes, a fim de
desestabilizar a mobilização palestina.
Ghilan prevê pouca resistência israelense a essas ações. Ele afirmou que o movimento
sionista pela paz é "para a paz quando existe paz e para guerra quando existe
aguerra." É por isso que, diz ele, os ativistas israelenses pela paz não foram
muito atuantes nas últimas semanas. Ao invés de se tornarem mais fortes quando há uma
crise - como no movimento contra a guerra do Vietnam - pelo contrário, é o oposto que
está acontecendo. Um israelense lhe disse que Israel deveria matar 3.000
árabes e então, talvez, os árabes cedessem. Infelizmente, disse Ghilan, 90% dos
israelenses se voltarão para as políticas de governo "como
carneirinhos". Como é típico de todas as sociedades, os israelenses não prestarão
muita atenção até que muitos de seu próprio povo morram. Este modelo é ainda mais
evidente em sociedades fechadas como Israel.
Voltando-se para os mais radicais, os ativistas israelenses anti-sionistas que levantaram
algumas preocupações sobre Oslo, Ghilan disse que ele não tem "ilusões"
sobre um "futuro feliz", no entanto existem "algumas vozes" desta
comunidade questionando suas opiniões na Internet. Uma vez que a mídia é
"pró-Israel", principalmente nos Estados Unidos, "nós (os ativistas mais
radicais) não temos existência porque não querem que existamos". Ainda,
"existe um futuro para pessoas como nós", mas correrá muito sangue antes que
as pessoas digam "estávamos certos" e expressem arrependimento por não nos ter
ouvido mais cedo.
O texto acima foi baseado nas anotações feitas durante a palestra de Maxim Ghilan,
diretor do Internationa Jewish Peace Union e fundador e editor do Israel e Palestine
Political Report, em 26 de outubro de 2000. Suas opiniões não representam
necessariamente as do Center for Policy Analysis on Palestine ou do The Jerusalem Fund.
Podem ser utilizadas sem permissão prévia mas com o devido crédito para o Center for
Policy Analysis on Palestine.
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Number 59
31 October 2000
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