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ATUALIDADES

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CAUSAS E EFEITOS DA INTIFADA DE AL-AQSA


Em 6 de outubro, em uma palestra no CPAP (Centro de Análise Política da Palestina), Maxim Ghilan afirmou que, tendo em vista o fracasso do  primeiro ministro Ehud Barak em impor suas propostas em Camp David, ele permitiu a controversa visita de Ariel Sharon a Jerusalém oriental, a fim de provocar uma reação dos palestinos. Ghilan, diretor do International Jewish Peace Union, falou sobre a revolta resultante, assim como sobre o papel do movimento de paz israelense e do governo americano ao reagir à atual crise. Ghilan teme que as condições para uma expulsão em massa de palestinos com cidadania israelense já estejam criadas.

Segundo Ghilan, Barak foi a Camp David com a "intenção deliberada" de obrigar o presidente da OLP, Yasser Arafat, a "se curvar à sua abordagem" em relação a uma posição final sobre as questões. Arafat se recusou, e por isso Barak retomou seu plano anterior. Os "problemas irromperam" ostensivamente em razão da visita de Sharon a Haram al-Sharif, disse Ghilan, no entanto, ela não foi acidental. Pelo contrário, a visita foi um exemplo de "caratê político" entre  "Sharon e Barak para (tentar) criar uma situação na qual os palestinos ... se colocariam do lado errado." Como consequência da visita de Sharon, irrompeu o levante popular.

Este levante é um esforço "conjunto" entre palestinos com cidadania israelense e os que estão nos territórios ocupados. Embora os palestinos dentro de Israel recebam mais benefícios econômicos do que seus vizinhos da Faixa de Gaza e da Cisjordânia, sua "situação política tem sido muito, muito ruim." Nos anos 50, "todo árabe solteiro estava submetido ao toque de recolher dentro das fronteiras de Israel." Mais recentemente, a presença da mídia estrangeira em Israel tem ajudado a melhorar a posição dos palestinos israelenses. Os palestinos tornaram-se membros do Knesset e assumiram outros papéis de liderança. Em resposta a esse fortalecimento e às críticas ao sistema, as autoridades israelenses começaram a investigar os membros palestinos do Knesset, aumentaram a demolição das casas de palestinos, "batem mais e mais na população", em resumo, "criaram uma situação" na qual os jovens palestinos isaelenses se sentem compelidos a aderir à nova intifada.

Esta experiência foi semelhante na primeira intifada, que se "iniciou com os jovens (nos territórios ocupados) que não tinham nada a perder", jovens entre 9 e 14 anos que não tinham emprego, que estavam ''sob o toque de recolher a maior parte do tempo'' e que queriam enfrentar as consequências negativas de seus protestos. Por razões semelhantes, os palestinos em Israel, que estavam "quietos hà mais de 50 anos", acabaram com o silêncio durante este novo levante.

O envolvimento de palestinos israelenses nestes choques "reforçou" a noção do governo israelense de uma "troca de populações entre os territórios" e Israel.  "Esta é uma frase muito bonita, mas, o que  significa?" pergunta Ghilan. Quando se leva em conta os planos de Israel de anexar os assentamentos dos territórios ocupados, não há, com efeito, judeus israelenses para serem trocados. Na realidade, este é "um plano para tirar tantos árabes israelenses quanto possível, confiscar suas terras" e criar uma "Israel forte, fortificada, famosa, onde só os judeus possam viver."  Ghilan teme que se não houver uma intervenção americana, existe a "possibilidade" de uma nova Nakba em Israel, referindo-se à "catástrofe" de 1948, quando 800.000 palestinos fugiram ou foram expulsos de suas casas durante a formação do estado de Israel. Agora, um milhão de palestinos israelenses "são os alvos" e, se eles forem expulsos, "só teremos a nós próprios para acusar por não termos agido a tempo".

O governo dos Estados Unidos poderia impedir que uma nova Nakba ocorresse, mas é pouco provável que o faça. O país se beneficia do apoio que dá a Israel - "não se trata de ter um aliado" em Israel e sim "de um instrumento". Ghilan se refere a uma "relação simbiótica entre o complexo industrial militar americano e o empresariado militar israelense", a quem "os Estados Unidos dão, afora a ajuda oculta, pelo menos US$ 3.1 bilhões a cada ano". Deste dinheiro, asseverou Ghilan, a maior parte é usada para adquirir "aviões, armamentos militares, tecnologia americanos" e outros equipamentos, para que o dinheiro retorne aos Estados Unidos. A indústria bélica americana lucra tremendamente com isto. "Enquanto (esta relação existir), a América não abandonará Israel. " Este é um  negócio que ajuda a criar empregos, a manter o dolar estável e a controlar os países árabes.

Ghilan mostrou como Israel prosseguiria com um plano para expulsar os cidadãos palestinos. Esta estratégia seria semelhante àquela ocorrida em 1948 e 1967. Seria um massacre de cerca de 400 ou 500 palestinos - não milhares - perpetrado de "forma espetacular", e estórias terríveis seriam disseminadas para estimular o povo a fugir com medo. De igual modo, o massacre de mais de 100 palestinos em 1948, em Deir Yassin, cometido pelos judeus, foi "emblemático" e foi usado para ameaçar os palestinos. Também os líderes mais influentes foram expulsos a fim de minar a mobilização palestina.

Ghilan prevê pouca resistência israelense a essas ações. Ele afirmou que o movimento de paz sionista é "pela paz quando existe paz e pela guerra quando existe a guerra". Por isto, disse ele, os ativistas israelenses não têm se esforçado muito nas últimas semanas. Em lugar de se tornarem mais fortes quando existe uma crise - como no movimento contra a guerra do Vietnam - é o oposto o que está acontecendo. Um israelense disse a Ghilan que Israel deve matar 3.000 árabes e, talvez então, os árabes se acalmem. Infelizmente, disse Ghilan, 90% dos israelenses apoiarão a política do governo "como carneiros".  É típico de todas as sociedades, os israelenses provavelmente não se preocuparão até que muitos de seu próprio povo tenham morrido. Este modelo fica mais evidente em sociedades fechadas como a de Israel.

Voltando aos mais radicais, os pacifistas israelenses não sionistas, que sempre se preocuparam com os resultados de Oslo, Ghilan disse que ele "não tem ilusões" sobre um futuro feliz, ainda que existam umas poucas vozes nesta comunidade discutindo seus pontos de vista na Internet. Uma vez que a mídia é "pro-Israel", principalmente nos Estados Unidos, "nós (os pacifistas mais radicais) não existimos porque eles não querem que existamos".  Ele acredita que, "existe um futuro para pessoas como nós" mas muito sangue ainda será derramado antes que as pessoas digam "oh!, vocês estavam certos" e se arrependam por não nos terem escutado mais cedo.

N. 59 - 21/10/2000

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O texto acima foi baseado em anotações da palestra proferida no CPAP - Centro de Análise Política da Palestina, por Maxim Ghilan, diretor da International Jewish Peace Union e fundador e editor do Israel and Palestine Political Report.


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