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ATUALIDADES

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Uma reflexão pessoal sobre a situação do Afeganistão

Por Milad Ali Ershaghi <milad@naftinc.com>

O que exatamente está acontecendo no Afeganistão? Pergunte a alguém que acompanha o noticiário e, muito provavelmente, ele lhe dirá a mesma coisa: que o Taleban está destruindo as estátuas budistas com mais de 1500 anos. Além do mais, ele lhe dará sua opinião, como se sentisse, ou não, que tais atos destrutivos são justificados (sejam islâmicos ou não-islâmicos) e concluirá sua análise com uma opinião pessoal sobre o Taleban. Os muçulmanos estão divididos nesta questão, alguns acreditando que o Taleban está cumprindo uma obrigação islâmica, citando precedentes históricos, como a destruição dos ídolos da Caaba pelo Profeta Mohammad, outros achando que as estátuas devem ser preservadas, citando o versículo 2:256 e dando exemplos de como o Islam tem sido  historicamente tolerante e protetor dos direitos dos povos de professarem suas crenças sem qualquer tipo de coerção. Mesmo neste último grupo, existe uma diferença de opinião quanto à permanência das estátuas no lugar onde sempre estiveram, ou se devem ser mudadas para um local longe da vista do público. Se a vontade do povo afegão é a de não querer tais "falsos deuses" dominando sua sociedade, não deveria a doutrina da soberania popular permitir que eles ajam conforme o desejo deles?

De qualquer modo, na medida em que tenho uma opinião a respeito, a proposta deste artigo não é tomar partido de um ou de outro grupo. Manterei minha opinião para mim mesmo e deixarei a decisão final para os exegetas. O objetivo deste artigo é fazer uma suposição clara de que todos os argumentos se basearam em: que os relatos que recebemos sobre a situação do Afeganistão é correto e autêntico. Muitos de nós temos sido levados a acreditar que a mídia é confiável e que se ela relata alguma coisa, devemos aceitar como sendo a realidade objetiva. Mas, quantas vezes temos visto na mídia atualmente, as questões pertencentes ao mundo muçulmano sendo apresentadas de uma forma distorcida, imprecisa e preconceituosa? Iraque, Palestina e Quênia/Tanzânia são exemplos de que a mídia não está interessada em apresentar a verdade. Pelo contrário, ela está preocupada com seus próprios interesses, porque são corporações privadas, e não entidades públicas, que compreendem o que conhecemos como "mídia". Entre outras, estão o New York Times, o Los Angeles Times, e a CNN, que são corporações que se apoiam em sua mídia impressa e ampliam o seu universo de leitores para preservar e perseguir seu programa de ação. O consentimento da massa  pressupõe resistência mínima, e é precisamente por intermédio desta avenida de consentimento produzido, que a mídia conseguiu moldar a opinião pública sobre o Afeganistão e o Taleban para o que é hoje. Os sites a seguir falam sobre os Taleban destruindo as estátuas budistas:
http://www.nytimes.com/aponline/world/AP-Afghanistan-Buddha.html
http://www.latimes.com/news/nation/20010304/t000019225.html
http://www.cnn.com/2001/WORLD/asiapcf/central/03/03/afghanistan.buddhas/index.html

mas não lemos nada sobre a decisão do Taleban de suspender o cultivo de papoulas produtoras de ópio (as papoulas forneciam uma fonte importante de receita para o Afeganistão)ou sobre o fato de que a população está morrendo de  fome por causa da seca atual que assola o país e da pressão das sanções internacionais.

Por que? Porque não devemos ouvir nada de bom sobre o Taleban. Eles são o demônio e pintados como uma ameaça para este mundo de civilização como o conhecemos. Por isso, a questão que gostaria de apresentar: se não sabemos nada sobre o que fazem de bom, podemos estar certos que sabemos o que fazem de ruim? Se a mídia tem interesse em nos manter no escuro sobre as coisas positivas que o Taleban conseguiu no Afeganistão, então podemos realmente confiar em que as coisas negativas que nos são apresentadas estão perto da verdade?

Um artigo recente no Islam Online apresenta algumas perspectivas para esta questão, e abaixo estão resumidos alguns trechos relevantes:

- Depois que um representante especial da UNESCO, Pierre Lafrance, se encontrou com o embaixador do Taleban no Paquistão, ele declarou "meus interlocutores esta manhã me disseram que a destruição não começou e nenhuma ordem de destruição foi dada (...) Não temos certeza de que uma ordem tenha sido realmente baixada. Muitas pessoas (funcionários afegãos e paquistaneses) dizem que não foi um decreto e sim uma declaração." Líderes islâmnicos no Paquistão, que mantêm laços estreitos com o Taleban apresentando uma razão provável para as ações de sexta-feira do Taleban, disseram que a decisão de destruir parte da herança cultural do mundo poderia ter sido motivada pela "frustração" com a comunidade internacional. "Nada mais é do que frustração do Taleban contra o ocidente", disse o chefe do partido Jamaat-i-Islami, Ghafoor Ahmed. "O mundo está chorando pelas estátuas, mas permance calado ante a crise humanitária daquele país."

(fonte http://www.islamonline.net/english/News/2001-03/04/article4.shtml)

Portanto, vamos presumir o melhor a respeito de nossos irmãos e irmãs muçulmanos no Afeganistão e responder ao seu pedido de socorro. Eles usaram declarações bombásticas sobre a destruição de relíquias da antiguidade para chamar a atenção internacional para as suas tristes condições. Enquanto o povo afegão se vê às voltas com a fome, o mundo mostra que está muito mais interessado na preservação das condições de blocos inanimados de pedra. Infelizmente, muitos líderes muçulmanos também se juntaram à causa internacional para proteger as estátuas, tomando a declaração do Taleban no sentido literal e não conseguiram perceber os motivos por detrás da decisão e a frustração que incitou esses gritos em primeiro lugar. E, o fato de que a ummah muçulmana aprende sobre  outros muçulmanos através de fontes não muçulmanas,  apenas mostra como estamos longe de onde deveríamos estar.

Tendo sido dito, Da próxima vez que nossos irmãos e irmãs forem pintados com aspectos negativos, vamos nos lembrar do hadice do Profeta (SAS), registrado no Sahih Muslim?

"Todo muçulmano é um irmão muçulmano. Ele não deve ofender o irmão  e nem  deixá-lo sozinho, quando os outros o tratarem injustamente (tente ajudá-lo). Aquele que atende à necessidade de um irmão, Allah atenderá a sua necessidade, aquele que remove a dor de um muçulmano, terá sua dor retirada no Dia do Juízo, e aquele que oculta a vergonha de um muçulmano, seus pecados serão ocultados por Allah no Último Dia."

Desta vez, não voltemos as costas para o povo afegão e mostremos a eles que existem irmãos e irmãs fora do país que estão ao lado deles nessa luta.

http://www.egroups.com/messages/inin

 

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