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ATUALIDADES

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A AMEAÇA DA INTERNET

"A Internet, nos Estados Unidos, desafia o monopólio das notícias pró-Israel"

(*)Por Robert Fisk


Não uso a Internet, nunca mandei um e-mail na minha vida, mas, tenho que admitir um fato político novo. A Internet está mudando a visão americana sobre o Oriente Médio. Pela primeira vez, em décadas, o monopólio das notícias pró-americanos e pró-israelenses - The New York Times, The Washington Post, The Los Angeles Tima e as grandes redes de TV americanas - está sendo desafiado por websites de dezenas de documentos, cujo relatos sobre a tragédia do Oriente Médio em nada se parecem com o ponto de vista do Departamento de Estado americano e de Israel.

E o lobby israelense nos Estados Unidos não sabe como reagir. Muitos jornais, inclusive o The Independent, têm sido bombardeado por centenas de cartas e e-mails de supostos leitores americanos raivosos - a maior parte deles são dos Estados Unidos, onde o The Independent, por exemplo, não está à venda - e muitos deles escritos em linguagem furiosa e virulenta. Vários deles foram escritos em resposta a um apelo feito por um tal "honetreporting.com", que traz uma série de declarações enganosas e, em alguns casos, falsas, sobre meus próprios artigos.

Eles são contrabalançados, no entanto, por inúmeras cartas e e-mails perguntando por que a imprensa americana não faz a cobertura completa dos acontecimentos descritos no The Independent e em outros jornais europeus.

Recentemente, encontrei em minha mala postal uma carta que desejava minha partida imediata para o inferno e a punição eterna (começa com um "Caro Sr. Fisk, seu merda) e uma outra, de um estudante americano de direito, da Universidade de Oxfordk, que se dirigiu a mim com "Sr. Mal, o pulha". O estudante, que disse ser judeu, deu o número de seu telefone, acabou se desculpando depois de eu ameaçar entregar sua carta à polícia.

Claro, sempre foi assim. A imprensa do Bahrain fez uma charge sobre mim, como um cão raivoso, por revelar detalhes do segredo árabe - tortura policial . Uma vez que cães raivosos devem ser exterminados, isto era uma ameaça e não uma piada. A imprensa egípcia me chamou de "corvo negro", por condenar as fraudulentas eleições egípcias. Um estudante árabe está escrevendo a amigos com a informação de que sou um membro do Mossad, o serviço de inteligência de Israel, ao que parece porque uma família judaica me convidou para falar na universidade local.

Mas os partidários do "honestreporting.com" - cujo conteúdo das cartas frequentemente revelam que na verdade nunca leram qualquer coisa que escrevi - são uma categoria independente. Somente no mês passado, escrevi um artigo de fundo para o The Independent, descrevendo a forma como qualquer jornalista sério, que critica a política israelense - a operação dos esquadrões da morte, por exemplo, ou a construção de assentamentos judeus ilegais em território árabe roubado - é acusado de "anti-semita". Esta acusação, a mais infame proferida contra jornalistas ocidentais, permeia as muitas cartas incitadas pelo "honestreporting.com".

Não há dúvida sobre o que induziu este dilúvio revelador. O "honestreporting.com" pede que seus partidários leiam o website do The Independent. Gostaria, de algum modo, de fechar a cobertura do The Independent no Oriente Médio, e para ser justo, o The Guardian também, e fazer com que os americanos retornassem para os relatos pueris da imprensa americana, geralmente pró-americana (e, claro,  pró-Israel). Muito da minha correspondência comum - sem contar a dos lobistas - chega dos departamentos de universidades americanas, que pedem a mim e a outros jornalistas europeus, que profira palestras nos Estados Unidos, onde nossas discussões tendem a ser muito mais uma conversa franca do que a de nossos colegas americanos.

Mas, os métodos do "honestreporting.com" são, por si só, reveladores. Em um "communiqué", ele consegue manipular uma descrição feita por mim em 1982, do rosto de uma mulher palestina, como sendo o de uma Madona, e o choro do amigo libanês (descrito pelos trajes como um palestino) na partida da OLP de Beirute. O que eles não dizem é que eles choravam porque temiam que, na ausência dos soldados palestinos, eles fossem massacrados pelos brutais aliados libaneses de Israel, o que efetivamente aconteceu alguns dias mais tarde.

Em seguida, tiram de meu artigo de 17 de abril deste ano, no qual eu observei que alguns líderes israelenses tinham sido "bestializados" pelos árabes, referindo-se ao meu relato de como os motoristas de táxi palestinos são humilhados quando se aproximam dos postos de fiscalização montados em território árabe. Mas o "honestreporting.com" - e o "honesto" é uma piada em si - não menciona que as citações são de dois diferentes artigos. A estória da "bestialização" referia-se aos líderes israelenses que por várias vezes chamaram os palestinos de "serpentes", "animais de duas pernas", "baratas em jarra de vidro" e "crocodilos". É claro que o "honestreporting.com" apagou qualquer vestígio disto no tal "communiqué".

Portanto, vida longa para a Internet. Por certo parece estar assustando os camaradas que querem impedir que os americanos ouçam nossa voz.

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Publicado no jornal inglês The Independent, em 28/05/01

Robert Fisk é um conhecido jornalista inglês, que escreve regularmente para o The Independent. Mais artigos dele podem ser encontrados em

http://www.independent.co.uk/news/World/Middle_East/2000-10/fisk021000.shtml

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