DESEMPREGO: “ A BOMBA QUE
AMEAÇA O MUNDO ”
A SITUAÇÃO NO BRASIL (1998)
No Brasil, de acordo com o IBGE, existem aproximadamente 3 milhões de desempregados, entretanto 3 milhões é o número de desempregados que o DIEESE considera que exista apenas nas setes regiões metropolitanas onde o órgão faz suas pesquisas. Só em São Paulo, hoje existem em torno de 1.500.000 trabalhadores desempregados. Segundo o Economista Márcio Pochmann (UNICAMP), as taxas de investimentos na década de 90, em relação ao PIB, são inferiores às registradas nos anos 80.
A qualidade do emprego no país está pior, assim como as relações de trabalho. Nos anos 90, ocorreram uma ampliação das ocupações não-assalariadas e das assalariadas sem carteira de trabalho. Ao mesmo tempo, os empregos com registro em carteira diminuíram.
Para Pochmann, “ o trabalhador não-assalariado adota uma estratégia de sobrevivência e isso não pode ser desejado como futuro, pois a pessoa não tem acesso à previdência e aos direitos sociais”.
Para que o desemprego acabasse, a economia teria que crescer à taxa de 6% ao ano - mais que o triplo do que prevê o Ipea. Só assim seria possível absorver o contingente de de 1 milhão a 1,5 milhão de jovens que a cada ano ingressam no mercado de trabalho, segundo o professor Carlos Ivan Simonsen Leal.
"Nos próximos dez anos, o Brasil ainda vai ter uma taxa muito alta de pessoas entrando no mercado de trabalho. Isso significa que o país terá que gerar muitos empregos novos. Quando o PIB cresce a 3% ao ano, não gera o número de empregos novos suficientes", disse Simonsen Leal. O professor refere-se à criação líquida de emprego, isto é, empregos novos menos os empregos que deixaram de existir.
José Márcio Camargo, do Departamento de Economia da Pontifícia Universidade Católica (PUC), concorda que o corte de gastos públicos reduz o crescimento econômico, a curto prazo. Mas ressalta que o ajuste fiscal, aliado à execução das reformas da legislação trabalhista e da Previdência Social, permitirá a retomada do crescimento econômico a partir de 2000.
O Desemprego é um problema mundial, mas suas razões são agravadas por problemas nacionais, diz Márcio Pochmann. O desemprego estrutural vem piorar um quadro de distorções sociais que remontam ao final do século passado no País, época da Segunda Revolução Industrial. Entre 1890 e 1980, o Brasil foi o país que mais cresceu no mundo, sem resolver os problemas tradicionais de mercado de trabalho, afirma Pochmann.
Entre os fatores que agravam a questão estão a baixa escolaridade da mão-de-obra, a informalidade do trabalho e a precária rede de proteção social que cerca a população. Além disso, o País passou a adotar políticas públicas de proteção ao trabalhador com enorme atraso. O seguro-desemprego, por exemplo, só foi implementado em meados da década de 80. O Brasil enfrenta, simultaneamente, problemas de atraso e da modernidade.
Os países desenvolvidos resolveram o problema do emprego no século XIX com um conjunto de medidas como a reforma agrária, a reforma tributária e a reforma social. Por não termos feito a reforma agrária, em três décadas o Brasil deixou de ser uma economia agrária para se tornar uma economia urbana: cerca de 100 milhões de pessoas deslocaram-se do campo para a cidade. Para fazer o mesmo movimento, a França levou 100 anos, compara Pochmann. O resultado, como se sabe, foi esse mercado de trabalho urbano abundante de mão-de-obra, sem alternativas ocupacionais.
O Brasil também não seguiu o exemplo das nações que hoje são desenvolvidas ao deixar de fazer a reforma tributária. Convivemos com uma estrutura tributária regressiva, onde os mais pobres pagam muitos impostos. Outra diferença marcante do Brasil em relação ao Primeiro Mundo, a má distribuição de renda, exclui grande parte da população do mercado de consumo. Nos Estados Unidos, por exemplo, 3 em cada 4 pessoas possuem um automóvel. No Brasil, a proporção é de 1 em cada 11 pessoas. Essa exclusão constrange a expansão do emprego. A exclusão do mercado de consumo foi um dos fatores que não nos permitiram resolver os problemas estruturais da Segunda Revolução Industrial.
As famílias pobres, por exemplo, não utilizam os serviços pessoais, como cabeleireiros, tinturarias, e tampouco freqüentam restaurantes, três setores de atividade terciárias fortemente empregadores de mão-de-obra. O setor de serviços pessoais no Brasil não representa mais do que 5% na estrutura de emprego, ao passo que nos Estados Unidos esse percentual atinge 24%. Também não fizemos a reforma social para implantar no País o Estado do Bem-Estar Social, com garantia de Saúde, Educação, Transporte e Habitação, o que nos permitiria, além de generalizar a cidadania, resolver o problema do emprego.
Não é compromisso do capital gerar empregos. Não podemos exigir isso do setor privado, diz Pochmann. Cabe ao Estado implementar as reformas e garantir a empregabilidade, ainda que isso implique aumento dos gastos públicos. Estamos falando de um país em construção como o Brasil. Nos países mais desenvolvidos, não há mais muito o que fazer. Aqui, ao contrário, há muito o que fazer. Fonte: Revista Inovação empresarial set/98 - Accor Brasil
INDÚSTRIA BRASILEIRA
A N O | Nº DE INDÚSTRIAS | PESSOAL OCUPADO | |
1920 | 13.569 | 293.673 | |
1940 | 49.418 | 781.185 | |
1950 | 92.350 | 1.279.184 | |
1960 | 110.771 | 1.799.376 | |
1970 | 164.793 | 2.699.969 | |
1980 | 226.306 | 5.720.006 | |
1985 | 207.157 | 5.608.704 | |
1990 | 191.315 | 5.464.436 | |
1995 | 208.806 | 4.906.524 | |
1996 | 211.778 | 4.751.422 | |
FONTE: 1920-1985 -IBGE (CENSO INDUSTRIAL); 1990-1996 - MINISTÉRIO DO TRABALHO -RAIS
BRASIL - 3º
PAÍS DO MUNDO EM DESEMPREGO