Devemos crer no Big Bang ...?


english version: Shoud we believe in big bang ?
versión en castellano: Debemos creer en el big bang?

Já faz uns anos, os meios de comunicação informaram sobre um importante descobrimento relativo à teoria do ``Big Bang''. Durante um curto tempo se publicaram artigos que, com êxito desigual, tentavam esclarecer o assunto. Poucas vezes se expôs claramente o que foi descoberto. Comecemos então pelo final:

Em 1989 a NASA pôs em órbita um satélite, o COBE (Cosmic Background Explorer) com o intuito de medir irregularidades na ``radiação de fundo'' Esta radiação (também chamada ``radiação de 3 graus Kelvin'' ou ``Eco do Big Bang '') não é mais que ondas de radio que vêm de todas as direções e é conhecida desde 1965, ano em que foi detectada pela primeira vez com um receptor de microondas.

Assim como o detetive verifica a identidade de um individuo comparando suas impressões digitais, as irregularidades na radiação de fundo brindam ao astrônomo dados sobre a história primitiva do Universo; especialmente sobre a época em que começaram a formar-se as galáxias. Como estas irregularidades são muito pequenas, não havia sido possível medi-las da Terra devido à atmosfera e as interferências, por isso a NASA enviou um satélite para detectá-las do espaço.

Podemos agora nos perguntar o que tem a ver tudo isso com o Big Bang:

Depois de haver elaborado a Teoria da Relatividade Geral, Einstein se propôs a utilizá-la para tentar entender como era o Cosmos. Seus cálculos indicavam que o Universo não podia ser estável: devia estar expandindo-se ou colapsando. Como Einstein acreditava que o Universo era estável, propôs a existência de uma força oposta à da gravidade, que permitiria que o Universo fosse estacionário. Por sua vez, o físico e matemático Alexander Friedmann continuou trabalhando no caminho correto, aceitando as conseqüências da Relatividade Geral e elaborou, já em 1922, modelos que descreviam ao Universo em expansão.

A visão que tínhamos do cosmos no princípio do século XX nos localizava formando parte de um sistema achatado que continha todas as estrelas. Em 1924 o astrônomo Edwin Hubble descobriu que certos objetos astronômicos conhecidos então como ``nebulosas espirais'' eram na realidade outras galáxias (naquela época se usava o termo ``universos ilhas'') constituídas cada uma por bilhões de estrelas e que se encontravam a enormes distâncias. Durante os anos seguintes se dedicou a medir suas distâncias e velocidades e descobriu que as galáxias estavam se afastando umas das outras: em outras palavras, descobriu que o Universo estava em expansão (paradoxalmente, os trabalhos de Friedmann não foram conhecidos no ocidente até 1935).

Tendo descoberto que o Cosmos estava expandindo-se, os astrônomos se perguntaram então como começou esta expansão. A mesma física que hoje nos permite entender porque brilham as estrelas, como foi a origem do homem ou porque não há ar na Lua, indicava que o Universo deveria ter tido um começo muito quente e que parte desse calor inicial poderia detectar-se ainda agora na banda das microondas. Arno Penzias e Robert Wilson detectaram-no pela primeira vez em 1965, o que os deu o prêmio Nobel.

Então: O Cosmos começou realmente a existir com uma ``Grande Explosão'' ?

As traduções à linguagem cotidiana das teorias científicas são pouco confiáveis. Dizer ``tudo começou com uma grande explosão'' não é muito diferente de dizer ``tudo veio de um grande ovo cósmico'' ou qualquer coisa nesse estilo. Quando nos contam uma estória assim, só podemos crer que é verdadeira ou crer que é falsa (mas não sabê-lo).

Contudo, as teorias científicas não são nem verdadeiras nem falsas, mas se ajustam, bem ou não, aos fenômenos observados.

As que não se ajustam aos fatos são descartadas.

As que sim o fazem, servem até que se realize uma observação discrepante. Em tal caso, deveremos elaborar uma nova teoria que esteja de acordo com a realidade e haveremos aprendido algo novo sobre o mundo que nos rodeia.

A ciência não se baseia em complicadas equações matemáticas: estas são somente uma ferramenta. A ciência se baseia na atitude de estar dispostos a mudar nossas idéias previas quando os fatos nos demonstram que não correspondem precisamente à verdade.

Tem-se dito também que a teoria do Big Bang tem conotações teológicas. É certo que existem aqueles que têm uma visão religiosa da ciência : existem pessoas que "crêem" e pessoas que "não crêem" no Big Bang. Até a Igreja proclamou oficialmente em 1951 que a teoria do Big Bang estava de acordo com a Bíblia!

Sem embargo, desde então, tem-se aprendido coisas novas: a teoria de 1951 não é igual à atual. Em particular, não existe ``uma'' teoria do Big Bang; os dados aportados pelo COBE serviram para selecionar a que melhor se ajusta aos fatos (conhecida como ``Modelo Cosmológico Standar'') y descartar outras.

Devemos então crer no Big Bang ?

É verdade que em 1919 Edwin Hubble descobriu a radiação de fundo (o "eco do Big Bang"). Mas crer que uma determinada teoria, fábula ou mito, é a verdade definitiva é renunciar para sempre a aprender qualquer coisa sobre o Mundo que nos rodeia.


NOTA : Utilizei sempre a palavra teoria e nunca hipótese. O Big Bang NÃO É uma hipótese. As hipóteses em que se baseia são:

A mesma física é aplicável em qualquer parte do Universo.

O Universo apresenta o mesmo aspecto visto desde qualquer parte.

Até agora utilizamos com êxito a física para entender os fenômenos que ocorrem tanto na Terra como em Saturno, no Sol, nas estrelas ou nas galáxias mais distantes.

A segunda hipótese significa que a galáxia a qual pertencemos não ocupa nenhum ``lugar preferencial'' no Cosmos. É somente uma suposição, mas desde que começamos a olhar o céu, descobrimos primeiro que a Terra não está no centro do Universo, logo que o Sol está na borda de uma galáxia e que esta é somente mais uma entre centenas de bilhões. Talvez isso nos tenha ensinado a sermos um pouco mais humildes.



© Pablo G. Ostrov


Translation by Elinadja Fernandes - nadinha1@lycos.com




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