Entrevista com o Poeta ,Fundador da Associação Internacional de Haiku, Gohei Kogure para a Revista Made in Japan...
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Made in Japan - O que é haiku?
Gohei Kogure
Haiku é uma das formas de poesia japonesa.É necessariamente um poema curto,composto por três versos de 5,7,5 sílabas.Sua característica principal é referência à natureza,mas não à natureza humana.O haiku "fotografa" um evento qualquer e refere-se a ele como se estivesse acontecendo agora,no momento presente.Diferentemente do que ocorre na poesia ocidental,o haiku não abrange um fato do passado,nem uma generalização.É nesse aspecto que está a essência do haiku,de extrair significado  de uma ação corriqueira,aparentemente banal,da natureza,como uma abelha pousando numa flor,por exemplo.
Made in Japan -
Gohei Kogure
É enorme,porque só há duas formas de poesia essencialmente japonesas, o waka e o haiku. A primeira,mais antiga,surgiu por volta do ano 700 e, após algumas transformações,originou a poesia hoje conhecida como tanka. O haiku,mais moderno,desenvolveu-se durante o período Edo (1600-1867),quando a cultura e as artes do Japão viveram um de seus melhores momentos. Ela tem o mérito de levar a poesia,antes restrita à nobreza, ao povo.
Qual é a importância do haiku para a literatura japonesa?
Made in Japan -
Qual a diferença entre as duas formas de poesia, o tanka e o haiku?
Gohei Kogure
O tanka é na realidade,um tipo de waka, o único que sobreviveu ao tempo - os outros foram extintos no início do período Meiji (1867-1912). Enquanto o waka tinha uma forma mais rígida,erudita,o haiku é mais livre e acessível.Algumas palavras proibidas no waka - por serem consideradas "feias"ou "banais" - podiam ser usadas livremente no haiku.
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O haiku tem a mesma importância,como arte japonesa,que o ukiyo-e (xilogravura japonesa) ou o teatro kabuki,por exemplo?
Gohei Kogure
Sim. Eles tiveram papéis parecidos,de um certo modo.Tanto o haiku como o ukiyo-e e o kabuki serviram de opção estética para o povo,que até então,não tinha acesso a nenhum tipo de diversão.Com eles,a arte japonesa deixou de pertencer só à nobreza,para alcançar também o homem comum.
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Quais são,na sua opinião,os grandes nomes do Haiku?
Gohei Kogure
Sem dúvida nenhuma Basho e Shiki.Matsuo Basho foi o criador do haiku,o responsável por sua autonomia em relação ao renga, estilo poético muito antigo,que é na verdade,a forma originaria do haiku.Ele foi o primeiro a usar a estrutura de 5,7,5 versos e a temática da natureza,que são as duas principais características do haiku. Portanto ele foi o pioneiro. Shiki surgiu depois,já no fim do século 19,durante o período Meiji. Ele impôs uma maior liberdade formal ao haiku,soltando suas amarras à tradição e dando mais vida à poesia. O haiku que se pratica hoje, mais moderno, é o criado por Shiki.
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Qual foi o seu primeiro contato com o Haiku?
Gohei Kogure
Não me lembro quando exatamente comecei a me interessar pela arte mas faz bastante tempo. Quando vim para Tokyo,para cursar a faculdade,já gostava de haiku. Porém só mais tarde,já homem feito, passei a escrever poemas. Com o passar do tempo, o interesse ficou cada vez maior,a ponto de eu fundar uma associação de haiku. Isso faz pouco mais de dez anos. Hoje temos milhares de simpatizantes,em todo o mundo.
Made in Japan -
Porque o haiku faz tanto sucesso fora do Japão?
Gohei Kogure
Há muitas razões,que diferem de país para país.De modo geral,acho que é pelo fato de o haiku usar a palavra como forma de expressar o sentimento.
Ao se deparar com o Haiku,o estrangeiro deve ficar pensando: " Como um poema tão pequeno,que tem só 17 sílabas,guarda tanto significado ?" A grande força do haiku vem daí,de suas " sugestões ",dos versos simples,que parecem falar tão pouco,mas dizem tanto.
Made in Japan -
Porque não há rima no Haiku?
Gohei Kogure
Porque ficaria muito monótono. Na língua japonesa,quase a totalidade das palavras terminam em vogal ou letra "n" . Com esse pequeno leque de opções,não teria muita graça rimar. Além do mais,por seguir sempre uma mesma estrutura,o haiku já é dono de um ritmo natural. A rima é por isso, um ingrediente absolutamente desnecessário.
Continuação...