POSSESSÃO IDEOLÓGICA

"...Todos vocês estão no mesmo nível como irmãos... Não sejam chamados de "Mestre... Vocês parecem ser santos,... enquanto estão expulsando as viúvas das casas delas... Vocês vão a qualquer distancia para converter alguem, e depois fazem a mesma pessoa duas vezes mais digna do inferno do que vocês mesmos... Guias cegos!... Fingidos! ... se esquecem das coisas mais importantes – a justiça... Vocês coam um mosquito e engolem um camelo. Vocês são tão cuidadosos em limpar a parte de fora da taça, mas o interior esta imundo de exploração dos outros e de cobiça.... Limpem primeiro o interior da taça, então ela inteira ficara limpa... Vocês são como belos túmulos – cheios de ossos de homens mortos, de podridão e sujeira... vocês procuram parecer homens santos, mas por baixo desses mantos de bondade, estão corações manchados de toda espécie de fingimento..." (Mateus 23:8, 10, 14, 16, 23 – 28)

Algumas pessoas, inteiramente possuídas por suas ideologias, chegam a perder quase que completamente a capacidade de discernimento, sua visão embota, sua mente paralisa e os dogmas passam a reinar absolutos. Sob o véu de um aparente equilíbrio, o que mais temem é o momento da verdade, quando desmorona todo castelo de cartas das suas convicções filosóficas, religiosas, jurídicas. Quando desabam suas convenções sociais e políticas que se segmentaram ao longo do tempo através de gerações, que se calcificaram pela ausência do questionamento, que se cristalizaram pela aceitação passiva de tudo que lhes foi imposto pela condição social e por aqueles que se apresentam como seus representantes dentro da sociedade.

Por toda e qualquer ideologia se constituir em algo acabado, permanente, definitivo, ela torna-se extremamente frágil na medida em que passa a ser aplicada fora da esfera de domínio de seus seguidores. Quanto mais se ampliam os contextos, mais ela se mostra titubiante, inadequada, inútil e nociva pelo mau cheiro que emana quando suas portas se abrem diante das análises e das altercações, quando o martelar e vasculhar constante e paciente desnuda o obscurantismo e as contradições das ideologias, fazendo a verdade despontar aos olhos de todos como troncos antes submersos mas que pouco a pouco vem à tona, cobertos pelo lodo e pela lama do fundo do rio.

No universo fecundo da diversidade das opiniões e dos múltiplos dos pontos de vista dos mais variados interlocutores, rapidamente se percebe que proposições ideológicas não conseguem mais ser respondidas ou equacionadas no campo restrito e limitado dos empoeirados cadernos e cartilhas, levando ao desespero seus mais fanáticos e inflexíveis defensores. Não mais encontrando argumentos plausíveis diante dos fatos apresentados tão claramente diante de todos, perdem todas as estribeiras, abandonam de vez a contestação analítica e explodem em insultos pessoais contra aqueles que ousaram profanar os altares de seus templos. Sem poder fugir ou negar aquilo que é mostrado diante todos, tentam apagar o facho de luz apontado em sua direção, atirando pedras contra aquele que ousou trazer para fora e expor à luz do sol a podridão das múmias sagradas das suas ideologias.

Esse fenômeno de possessão ideológica pode ser facilmente observado em qualquer lista de discussões na rede, quando pessoas, repentina e surpreendentemente, no meio de um debate, deixam de lado o arrazoamento, passando a dirigir ferozes insultos a qualquer mortal que ouse demonstrar por A mais B que aquele "Santo dos Santos" inviolável, venerável e puro de suas ideologias, não passa de algo semelhante a um amontoado de ossos ressecados misturados à carne podre e que não serve para nada.

O ato de expor diante de todos a podriqueira das muitas múmias sagradas das ideologias funciona como algo que atinge frontalmente todas as bases e estruturas intelectuais de seus adeptos.

A mostra inquestionável do estado de deterioração daquilo que se apresentava como belo, intocável, sagrado, geralmente provoca uma reação imediata, manifesta por explosões de ódio e rancor desvairado.

O possuído ideológico, ferido intelectual e espiritualmente pela retirada do véu da mitificação, passa a vociferar respingando para todos os lados a gosma fétida liberada pelo estouro da bolsa de pus de sua própria imaturidade e insegurança. O rei fica nú.

Como um doido desvairado insulta, agride, injuria, ultraja, afronta, calunia, e atribui falsamente uma lista de desonras e difamações, imputando males sem provas contra aqueles que pacientemente desnovelam a mentira das suas ideologias.

Embora funcione como válvula de escape, toda essa explosão de ódio pode também assumir aspectos trágicos quando o ataque deixa de ser verbal ou escrito e passa para as vias de fato.

É assim que se forma a personalidade dos adeptos de partidos políticos eleitorais, governantes, ditadores da esquerda, centro e direita, os fanáticos religiosos, os homofóbicos, os carecas, e os autoritários de todos os matizes.

Para ser livre ou lutar juntamente com outros pela liberdade, o homem precisa primeiramente libertar-se das ideologias que dominam sua mente.

Saúde e Anarquia!

Alvimar Bessa

Projeto Periferia

http://www.oocities.org/projetoperiferia

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