A esclerose múltipla (EM) é uma doença degenerativa na qual trechos de inflamação e cicatrização interferem com a função do cérebro, medula espinhal e/ou os nervos dos olhos. A causa da EM é desconhecida, mas a teoria mais atrativa diz que é uma reação imunológica ao sistema nervoso. Seus sintomas incluem fraqueza muscular, perda de coordenação e dificuldade com a fala e visão. Ocorre predominantemente em adultos jovens e, como a artrite, pode ter um curso muito variável. Algumas pessoas tem apenas um ataque isolado. Outras tem apenas alguns ataques durante a vida, recuperam-se destes, e não passam por nenhuma deficiência exceto durante os ataques. Outras têm ataques freqüentes dos quais não se recuperam completamente, mas que causam somente deficiência parcial. Outras ainda tem uma progressão lenta da deficiência por um período de 10 a 25 anos, o que eventualmente as deixa incapazes. Quando os ataques ocorrem, os sintomas podem surgir ou desaparecer repentinamente e podem até mesmo variar de momento a momento.
A extrema variabilidade da EM a torna uma doença perfeita para os charlatões. A única maneira de saber se um tratamento é eficaz é acompanhar muitos pacientes por anos para ver se aqueles que receberam o tratamento ficaram melhores que aqueles que não receberam. Entretanto, os charlatões não se incomodam com este tipo de teste. Simplesmente reivindicam crédito sempre que alguém que os consultou melhora. E uma vez que a maioria dos ataques são seguidos pela recuperação completa ou parcial, charlatões persuasivos podem conquistar pacientes que tenham uma grande confiança por qualquer coisa que recomendam.
O Comitê de Alegações Terapêuticas da Federação Internacional das Sociedades de Esclerose Múltipla tem analisado mais de uma centena de tratamentos alegados e publicado os resultados em um livro chamado Therapeutic Claims in Multiple Sclerosis (Alegações Terapêuticas em Esclerose Múltipla), o qual é revisto praticamente a cada ano [1]. Cada análise inclui uma descrição do método, a explicação dos mecanismos de ação pelos proponentes, uma avaliação científica, estimativa dos riscos e/ou custos, e a conclusão dos autores. Os métodos são então classificados de acordo com a plausibilidade, extensão do estudo, risco e custo.
Nenhuma cura é conhecida, mas alguns métodos são úteis em diminuir a duração dos ataques, reduzir sua severidade ou ajudar a lidar com os sintomas. Os métodos que têm um mecanismo de ação plausível mas não foram suficientemente testados são considerados "em investigação". Não estou listando os métodos úteis ou em investigação porque acredito que conselhos sobre eles deveriam ser obtidos de um neurologista qualificado que possa discuti-los minuciosamente. Informação confiável também está disponível em National Multiple Sclerosis Society.
O comitê aponta que não é conhecida nenhuma deficiência nutricional como sendo um fator na EM, e que nenhuma dieta especial ou a adição de vitaminas ou minerais mostrou alterar seu curso. Ácidos graxos poliinsaturados (AGPI) tem propriedades imunossupressoras leves, mas estudos envolvendo óleo de semente de girassol, óleo de enotera, óleo de semente de açafrão-bastardo, e óleos de peixe, tem produzido resultados conflitantes. O comitê concluiu que, com exceção de um possível benefício de óleos contendo AGPI, não há nenhuma evidência que quaisquer mudanças dietéticas afetem a EM.
Os métodos considerados implausíveis ou ineficazes estão listados abaixo. Acredito que estes métodos deveriam ser evitados:
Testados adequadamente mas ineficazes em influenciar o curso da EM
Aspirina e salicilato de sódio; colchicina (para modulação imune);
timectomia (remoção do timo); fator de transferência; proteína básica de
mielina; oxigênio hiperbárico (OHB)
Implausíveis e não testados ou testados inadequadamente
Várias drogas antiinflamatórias não esteróidais (AINEs); hormônio
de liberação de tirotropina (TRH); cannabis (maconha); Diltiazem; Nifedipina;
Verapamil; levedo intravenoso (Proper-myl); extratos pancreáticos (epropanex); veneno de
abelhas melíferas (a segurança é incerta); octacosanol; superoxido dismutase
(SOD); cloridrato de procaína; dimetil sulfoxido (DMSO); Alphasal (anteriormente
Clororazona ou vitamina X); alérgenos; Rodilemid; alfafetoproteína; Proneut;
revitalização imunobiológica; enzimas proteolíticas; injeções de cálcio ou aminoetil
fosfato de cálcio; cálcio + magnésio + vitamina D oral;
fosfato ou bicarbonato de sódio; colostro hiper-imune ("leite
imune"); Nistatina; estimulação nervosa transcutânea (TNS); tratamento
de ultra-som aplicado próximo a coluna vertebral; magnetoterapia; abordagens
odontológicas como correção da mordida, tratamento da ATM ou remoção das
restaurações com amálgama de mercúrio; histerectomia; dieta pobre em
gorduras; dieta sem alérgenos; dieta de Kousmine; dieta sem glúten; dieta com
alimentos in natura (dieta de Evers); dieta de MacDougal; dieta restrita em pectina e
frutose; dieta sem tabaco e sacarina; regimes de vitaminas; suplementos minerais;
cerebrosideos; suco de babosa (Aloe vera); e várias enzimas (Wobenzym, enzimas
digestivas, Vitafestal, Bilicomb, Panpur, Panzynorm).
Implausíveis e conhecidos como tendo risco significativo ou efeitos
colaterais
ACTH ou outros corticoesteróides administrados na canal espinhal;
cloroquina; tratamento com raio X; imunossupressão com clorambucila (Leukeran),
Lumustine, ou 5-Fluoruracila; modulação imune com hormônios do timo (Thymosin,
Thymuline/Facteur
Thymique Scrique, Timopoetina 5, TFX-Polfa, THX, T-Activin); proteína básica
de mielina; interferon gama; indutores de interferon (Tilorone, Poly-ICLC, Staphage
Lysate); Progabide (para espasticidade); extratos de coração e pâncreas (Pancorphen);
veneno de cobra (PROven, Venagen, Horvi MS9); terapia
celular; vacinas autógenas; terapia com
quelantes; "terapia metabólica"; cloridrato de promazina (Sparine);
Terapia de Le Gac (antibióticos mais banhos de banheira quentes); acupuntura; estimulação
elétrica da coluna dorsal do cordão espinhal; oxigênio hiperbárico (OHB);
simpatectomia; ganglionectomia; relaxamento cirúrgico do cordão espinhal (cervicolordose);
cirurgia da artéria vertebral; implante cirúrgico de tecido cerebral de porcos; dietas de Cambridge ou
outras dietas líquidas de muito baixa caloria; alta
dosagem de vitamina C, e vários outros regimes de altas dosagens de vitaminas
ou minerais.
Procarin: Uma Promoção Recente
Procarin é um creme de pele que é administrado através de um adesivo cutâneo (patch) que possibilita que seus ingredientes sejam absorvidos. O tratamento é baseado em uma hipótese que envolve histamina e data dos anos 40. A promotora primária é Elaine DeLack, uma enfermeira que "descobriu" e patenteou uma mistura de histamina e cafeína. Farmácias de manipulação preparam o produto, o qual é barato para fabricar mas é vendido por cerca de US$ 250 pelo suprimento de um mês. Procarin é promovido com evidência anedótica e não foi testado em estudos controlados com placebo. A National Multiple Sclerosis Society adverte que não foi comprovado seu beneficio e carece de um mecanismo de ação cientificamente plausível.
1. Sibley W and others. Therapeutic Claims in Multiple Sclerosis, 4th edition. New York: Demos Vernande, 1996.
Este artigo foi atualizado no site original em 15 de maio de 2000.