INTRODUÇÃO
Frequentei igrejas evangélicas dos
14 aos 18 anos, durante esse período fui um fanático
religioso, mas felizmente aos 18 anos me tornei um ateu depois
de ter tido uma grande decepção com a minha religião.
Estou escrevendo este texto com o
objetivo de evitar que outros jovens cometam o mesmo erro que eu
cometi. Ninguém jamais deve desperdiçar sua vida
por um ideal religioso. Nossa vida é única e
especial e devemos aproveitar o privilégio que temos de
viver ao máximo.
Infelizmente, durante minha adolescência,
eu não vivi a vida. Dediquei quatro anos cumprindo os
dogmas pentecostais. Já me arrependi e muito por ter
cometido esse erro, porém hoje já não me
arrependo mais, pois isto foi uma experiência de vida, me
fez compreender mais o ser humano, e hoje devido a essa experiência
que vivi, posso ajudar outros jovens a se libertarem da opressão
religiosa, pois eu já trilhei o caminho das pedras e hoje
quero ensinar outros jovens a terem liberdade de pensamento.
Também quero dar esse depoimento
com o objetivo de combater o charlatanismo tão presente
nas Igrejas Evangélicas. Não acho justo que os
pastores se aproveitem da boa fé, ingenuidade e carências
humanas para ganhar dinheiro, prestígio e poder. Acredito
que estas pessoas devem ser denunciadas e os seus crimes
expostos para que as futuras gerações se vejam
livres dos vendedores de ilusões.
Os pastores, em sua louca ambição
por dinheiro, levam jovens a abandonarem os estudos,
adolescentes a abandonarem seus lares, muitos evangélicos
ficam loucos e vão parar em hospícios de tanto
buscarem o crescimento espiritual e muitos morrem por
acreditarem em cura divina e deixarem de tomar os remédios
que deveriam tomar.
Essa tragédia humana causada pela
ambição dos pastores precisa ter um fim. Todo
sofrimento precisa ter um fim e eu quero colaborar para que o
sofrimento causado pelo fanatismo religioso também tenha
o seu fim.
Não pretendo neste depoimento
dizer nem o meu nome, nem o nome das pessoas que aqui serão
mencionadas, pois não quero ofender nem magoar ninguém
em particular, quero apenas mostrar a realidade da vida nas
igrejas evangélicas.
Caso você seja evangélico,
verá que tudo o que descreverei aqui é verdadeiro,
pois tudo o que irei falar também acontece na igreja que
você frequenta, basta que você faça a comparação.
Irei narrar muitas das coisas que
vivenciei enquanto fui um evangélico, porém, aqui
eu não irei falar tanto das igrejas evangélicas
dos cultos de domingo, das escolar dominicais. Irei falar mais é
da igreja evangélica que existe nos subterrâneos,
falarei da igreja evangélica das vigílias, dos
jejuns. Um lugar onde cura divina, exorcismos e profecias são
coisas comuns e normais.
TIMIDEZ
As religiões crescem a medida que
elas são felizes em atender as necessidades humanas como:
pertencer a um grupo, sentir-se protegido, dar um sentido a vida
entre outras coisas. Particularmente no Brasil, as seitas
crescem muito porque é muito difícil ser feliz
ganhando um salário miserável e tendo que
trabalhar que nem um condenado sem perspectivas de melhora e
vivendo em condições precárias sem direito
a saúde, educação, moradia e lazer. Daí
as pessoas pobres buscam se firmar em alguma crença para
ter forças para enfrentar o dia-a-dia.
Falarei rapidamente sobre um motivo que
leva as pessoas ao fanatismo religioso: a timidez, porém
existem muitos outros motivos que podem levar uma pessoa a se
dedicar cegamente a uma crença religiosa. Dentre os quais
eu destaco: o desejo de ser uma pessoa mais disciplinada, o
desejo de esquecer algum trauma e o desejo de fugir da
realidade.
Se eu fosse falar das razões que
podem levar alguém ao fanatismo, teria que escrever um
livro. Então aqui eu falarei brevemente de uma só
razão: a timidez.
Para mim, não interessa narrar aqui
os motivos que me levaram a ser um crente, quero apenas divulgar
as coisas ruins que vi nesta religião, porém,
existe um motivo que me levou a ser um religiosos que irei
compartilhar.
Antes de entrar para a igreja eu era um
pessoa extremamente tímida. Tinha dificuldades em fazer
amigos e era muito calado. Acredito que isso tenha me levado a
uma grande necessidade de pertencer a um grupo que me aceitasse
mesmo sendo eu tão fechado.
A timidez em excesso é uma inimiga
muito forte de qualquer ser humano, pois ela nos tira a ousadia
e a coragem, sentimentos muito importantes nos dias atuais.
Grande parte das pessoas muito religiosas
são tímidas. a timidez nos fecha em nosso mundinho
particular. As crenças religiosas alimentam a formação
desse mundinho, construindo ao nosso redor uma barreira com a
qual nos isolamos dos outros e principalmente da própria
razão.
O Altruísmo é algo muito
bonito nos seres humanos. Somos capazes de ter filhos e os
criarmos com amor e dedicação. Somos capazes de
nos dedicarmos a ideais religiosos, políticos ou humanitários
e sacrificar nossa própria vida por esses ideais.
O Altruísmo faz com que tenhamos
energia para lutarmos por um mundo melhor. Se hoje vivemos em um
mundo melhor do era no passado, devemos isso as pessoas altruístas
que dedicaram sua vida por bons ideais.
Combater os males que atingem a humanidade
é muito importante, porém, antes de pensarmos em
construir um mundo melhor, temos que pensar em fazer de nós
pessoas melhores. Daí cada um deve olhar para dentro de
si e buscar ser uma pessoa mais feliz consigo mesmo e com todos
ao seu redor.
Caso você seja uma pessoa tímida,
você deve combater sua timidez, pois sendo tímido
dificilmente você poderá influenciar positivamente
o mundo em que você vive.
A timidez começa como um circulo
vicioso no inicio da adolescência. A pessoa fala pouco
porque sente medo de falar alguma bobagem, e por falar pouco a
pessoa não desenvolve sua capacidade de relacionamento
com os demais, e por não ter um bom desenvolvimento
interpessoal, a pessoa fala pouco com medo de não falar tão
bem quanto os outros.
Ocorre que nesta vida muitas vezes
aprendemos errando. Para ter uma ótima comunicação
temos que tentar, e tentar significa muitas vezes errar para
depois aprender. O tímido tem muito medo de errar, o que
bloqueia o seu aprendizado.
DEDICAÇÃO
Se você é um evangélico,
deve estar pensando que se eu me desviei da igreja e me tornei
ateu é porque eu nunca fui um verdadeiro crente. Era
assim também que eu via as pessoas que saiam da igreja,
porém mais a frente irei mostrar o tanto que eu me
dediquei a esta religião, para que você possa se
questionar se eu era ou não um verdadeiro crente.
Sendo um evangélico, você
talvez esteja me recriminando pelo fato de eu ter mudado meus
pensamentos, porém devo lhe dizer que eu tinha esse
direito, pois eu não me tornei cristão porque eu
quis, simplesmente fui obrigado a ser cristão. Irei
explicar melhor.
Quando eu nasci eu era ateu, e fui ateu até
mais ou menos os 8 anos de idade. Até então nunca
tinha ouvido falar de Deus e ignorava sua existência. Caso
nunca tivessem me falado sobre Deus eu continuaria vivendo
normalmente como ateu até hoje.
Entretanto, como sou de família católica,
meus pais me matricularam no catecismo, o qual cursei durante
dois anos. Acho que isso foi dos meus 9 aos 10 anos.
Durante este período em que era uma
criança e não tinha muito poder de decisão.
Fui doutrinado pelo catolicismo. Aprendi que Deus existia, e que
devemos acreditar nele e seguir seus mandamentos, caso contrário
iremos queimar no inferno que nem frango de padaria.
Eu me lembro que ainda criança
cheguei a duvidar diversas vezes da existência de Deus,
porém sempre que a dúvida chegava, chegava também
o medo de ser castigado ou ir para o inferno por ficar duvidando
do que a igreja dizia. Daí, infelizmente, desistia de
duvidar.
Posso dizer que ser cristão foi uma
imposição do meio em que vivia. Somente quando
adquiri mais experiência de vida é que tive condições,
através de muitos questionamentos, de me tornar ateu.
Após terminar o catecismo,
continuei frequentando a igreja católica até os 14
anos de idade, quando então tive contato com vários
adultos que eram evangélicos e me convenceram a ser também
um evangélico.
Foi muito fácil deixar de ser católico
e virar evangélico. Afinal de contas a Igreja Católica
que frenquentava era muito formal e ritualista, não
conhecia ninguém da igreja, simplesmente assistia a missa
todo domingo e ia embora para casa sem falar com ninguém
e ninguém falava comigo.
Por outro lado, na igreja evangélica
era bem diferente: todo mundo se conhecia e no final do culto as
pessoas iam cumprimentar os visitantes. Então passei a
gostar mais de frequentar a igreja evangélica do que a
católica e me batizei como protestante com 14 anos de
idade.
A partir daí passei a me dedicar
muito a igreja, cada dia que passava eu procurava me dedicar
mais do que no dia anterior. Segue abaixo a relação
de quase tudo o que eu fazia nesta época, dos 14 aos 18
anos.
- Eu passava o dia todo orando e louvando
a Deus. Desde a hora em que eu levantava de manhã cedo
até a hora de dormir, eu não parava de louvar a
Deus, andava pelas ruas orando, estudava orando, almoçava
orando. Enfim, tudo o que fazia, eu fazia orando;
- Participava de vigílias uma vez
por semana, toda sexta-feira. Essas vigílias eram reuniões
de oração e louvor que começavam às
22:00 hrs e terminavam às 06:00 hrs da manhã, ou
seja, uma vez por semana eu conseguia ficar durante oito horas
apenas orando. As vigílias de minha igreja aconteciam
toda primeira sexta-feira do mês, nas outras sextas eu
participava de vigílias em outras igrejas de diferentes
denominações;
- Quinta-feira, em minha igreja, era o
dia da semana dedicado ao jejum. Neste dia da semana eu ficava
sem comer durante 24 horas;
- Assistia a pelo menos 6 cultos por
semana, 2 no domingo (manhã e noite) e um nas segundas,
terças, sextas e sábados, sempre a noite;
- Dia de domingo durante a tarde eu
visitava uma favela para dar aulas de religião a crianças
carentes. Eu mesmo montava muitos cartazes para ensinar a
dezenas de crianças as histórias da bíblia;
- Não bebia, não dançava,
não assistia televisão, não ia ao cinema,
não lia jornais e revistas seculares ou seja, não
fazia nada de bom em minha vida;
- Aos sábados durante a manhã
e a tarde eu participava sempre de atividades diversas ligadas
a evangelização. Ia sempre acompanhado por
outros evangélicos a hospitais, presídios,
faculdades, asilos e parques, sempre para levar a palavra de
Deus para diversas pessoas e ainda distribuía muitos
panfletos;
- Lia a bíblia diariamente,
cheguei a ler toda a bíblia quatro vezes e tinha
memorizado muitos capítulos e versículos;
- Lia muitos livros evangélicos.
Na minha igreja, eu era a pessoa responsável pela “biblioteca”,
que tinha uns 300 livros, os quais li todos. Este meu trabalho
na igreja consistia apenas em emprestar um livro para alguém,
e depois que a pessoa lesse o livro, me devolvia e eu guardava
novamente o livro. Eu me lembro que as pessoas sempre viviam
me fazendo consultas sobre os livros evangélicos;
- Participava de uma organização
chamada MPC (Mocidade Para Cristo) frequentava as reuniões
dessa organização e cheguei a organizar no colégio
onde estudava reuniões de estudos bíblicos com
os evangélicos da escola. Formei então um grupo
que era ligado a MPC;
- Todos os feriados de carnaval e páscoa
entre outros, participava de retiros espirituais;
- Eu só sabia conversar a
respeito de assuntos ligados a Deus e a religião, não
sabia falar de outra coisa;
- Fiquei durante os quatro anos em que
fui evangélico sem namorar com ninguém, também
não pensava em sexo de forma alguma, caso acontecesse
de algum desejo sexual surgir em minha mente, eu imediatamente
dizia: “Satanás, você está
repreendido em nome de Jesus”, orava e o pensamento
sumia. Acredite se quiser, sendo eu um rapaz heterossexual,
consegui passar a adolescência, período em que o
desejo sexual é intenso, sem pensar em sexo. Isto fazia
com que eu fosse uma pessoa extremamente rígida e séria;
- Não admitia de forma alguma que
qualquer pensamento que eu considerasse pecaminoso como:
raiva, sexo, vaidade, ciúme entre outros, estivessem em
minha mente, casos eles surgissem eu dizia: “Satanás,
saia em nome de Jesus”, pois achava que era o Diabo quem
colocava esses pensamentos em minha cabeça;
- Ainda fazia outras pequenas atividades
e sacrifícios para a Igreja, que se eu fosse enumerar
aqui encheria várias páginas de texto.
Com essa relação que acabei
de descrever, posso dizer com convicção que eu era
um verdadeiro crente, caso eu tivesse me dedicado mais do que me
dediquei, certamente acabaria enlouquecendo e iria para um hospício,
local para onde muitos evangélicos dedicados acabam indo.
Duvido que exista no Brasil algum pastor
que tenha se dedicado mais do que eu me dediquei a cumprir os
mandamentos da bíblia. Os pastores colocam pedras pesadíssimas
para os crentes carregarem, mas, eles são incapazes de
carregar uma migalha dessas pedras, e se fazem alguma coisa pela
igreja, eles fazem isso por dinheiro.
PODRIDÃO RELIGIOSA
A igreja que frequentava era ao mesmo
tempo tradicional e pentecostal, localizava-se em um dos bairros
nobres de minha cidade. A maioria das pessoas que a frequentavam
eram da classe média, porém, havia muitos pobres,
que obviamente eram os que mais se dedicavam a religião.
Eu não frequentava apenas esta
igreja, eu ia muito em cultos de outras denominações
principalmente Assembléia de Deus e Maranata.
Eu adorava ir a igreja, era uma sensação
muito agradável que eu sentia lá dentro. Eu
chegava na igreja, cumprimentava os irmãos com a saudação:
“a paz do Senhor”, logo que eu entrava, sentia o
cheiro de flores que criava uma atmosfera bem mística. Os
cultos de domingo começavam com louvores, cantávamos
em pé e batendo palmas diversas músicas alegres,
cujas letras eram projetadas na parede, e quando estávamos
bem relaxados e tranquilos e com a mente vazia, começava
a pregação.
Toda religião tem o efeito de uma
droga. Elas nos fazem esquecer nossa realidade e entramos em
outra realidade feita de sonhos e fantasias.
É normal do ser humano querer se
drogar. As pessoas podem usar qualquer tipo de droga como o álcool,
tóxicos e religião, até que se faça
uma avaliação de custo-benefício, e
perceba-se que o custo de se usar uma droga é muito maior
do que os benefícios. Benefícios esses que
consistem apenas em momentos de êxtase e alegria.
Como exemplo de que as pessoas gostam de
se drogar, perceba como muitas crianças gostam de abrir
os braços e ficar rodando sem sair do lugar até
sentirem-se tontas ou cairem. Este é apenas um exemplo
dentre muitos das formas de se drogar que as pessoas usam.
Eu já me droguei e muito com a
religião, fui um viciado em religião, até o
dia em que descobri o alto custo desse vício.
Era muito gostoso quando eu me reunia com
os irmão (irei chamar aqui de irmãos os membros da
igreja), e nos abraçávamos em circulo e de joelhos
começávamos a orar por bastante tempo. Era um
prazer que me fazia ser uma pessoa mais “espiritual”,
porém anulava-me como ser humano e impunha em mim uma
cultura de apatia diante da vida.
O ser humano tem uma necessidade muito
forte de pertencer a um grupo. Essa necessidade está
gravada em nosso código genético, é comum a
todos os mamíferos. Se nos isolamos, ficamos muito
tristes, e não conseguimos ser felizes sozinhos.
As igrejas evangélicas suprem essa
carência humana, pois lhe oferecem um grupo para
pertencer. Grupo este que muitos fieis encaram como sendo sua própria
família, e era exatamente assim que eu via a minha
igreja.
Logo que você entra para a igreja a
primeira coisa que os lideres religiosos fazem é eliminar
o seu espírito crítico. Dizem que você
jamais deve olhar para o homem, você só deve olhar
para Deus, pois se você olha para o homem você acaba
se desviando de Deus, ou seja, você tem que desviar os
olhos de tudo de errado que existe na igreja, pois se você
ver as coisas erradas você deixa de ser crente e terá
que torrar eternamente no inferno.
Outra coisa que se aprende na igreja é
que a fé pertence a Deus e o oposto da fé que é
a dúvida pertence ao Diabo, ou seja, sempre que você
tem uma dúvida é porque Satanás está
te influenciando, e deve-se eliminar a dúvida
imediatamente para não pecar.
Como eu não olhava para o homem,
somente olhava para Deus, eu deixava de ver as coisas erradas
que aconteciam em minha igreja, porém alguns erros os
quais eu desviei os olhos para não ver, me vieram a cabeça,
logo depois que eu deixei de ser evangélico.
Em um determinado local da igreja, que era
acessível a todos, havia uma espécie de mural,
onde eram colocados envelopes para os dizimistas. Cada pessoa
que contribuía com dez por cento do seu salário
para a igreja, tinha que mensalmente ir até esse mural e
pegar um envelope com o seu nome. No primeiro domingo do mês
(o domingo do dízimo) a pessoa deveria depositar esse
envelope com dez por cento de seu salário na sacolinha de
coletas. Havia todo um ritual para a entrega do dízimo,
de forma que todos sabiam quem era dizimista e quem não
era.
O dízimo era considerado algo
sagrado e os lideras da igreja (pastores, tesoureiros, presbíteros)
tinham a necessidade de saber quem é que contribuía
e com quanto para poder favorecer mais as pessoas que mais davam
dinheiro para a igreja, vou dar um exemplo.
Havia na igreja um senhor, dono de uma
escola particular, que ganhava muito bem e era dizimista, mas só
frequentava a igreja nos domingos de manhã com sua família.
Um dia ele teve um problema no coração e teve que
ser internado em um hospital. Imediatamente o pastor da igreja
marcou uma vigília, da qual eu participei, apenas para
orar pela saúde desse irmão que acabou se
recuperando.
Na mesma época, um outro irmão,
que era jovem e pobre, porém dizimista e participante
ativo da igreja, não perdia um culto e fazia vários
trabalhos gratuitos para a igreja, contraiu câncer e
acabou morrendo vítima dessa doença. Durante o período
em que ele esteve doente ninguém da igreja pediu orações
para ele e ele também nunca recebeu nenhuma ajuda da
igreja.
Ou seja, a vida de um crente dentro da
igreja vale tanto quanto o seu dízimo.
A maioria dos evangélicos não
são fanáticos, creio que mais da metade das
pessoas frequenta a igreja apenas para se divertir, são
pessoas que sentem prazer em participarem de reuniões
religiosas. Na igreja em que frequentava, por exemplo, mais da
metade dos membros participavam de reuniões em centros
espíritas, incorporavam espíritos de mortos na
sexta-feira e no domingo incorporavam o Espírito Santo.
Quase todo o ano a igreja mudava de
pastor, tivemos um pastor que possuía um carro importado
de luxo, que era o carro mais caro existente no mercado
brasileiro na época, e esse pastor ao invés de
estacionar o carro longe, como os outros faziam, estacionava o
carro bem na porta da igreja. Quando o culto acabava, algumas
beatas ficavam apontando para o carro do pastor e comentavam
rindo dizendo que o pastor era muito rico.
Muitos evangélicos tem consciência
do enriquecimento dos pastores devido as contribuições,
mas mesmo assim continuam contribuindo, porque querem que o
divertimento proporcionado pela religião continue.
Outros se recusam a fazer qualquer tipo de
questionamento, acham que se o pastor está roubando, este
é um problema do pastor para com Deus, acham que não
tem nada a ver com isso. Isto é um grande erro, se você
é evangélico e sabe ou desconfia que o pastor de
sua igreja está roubando e você não faz
nada, então você é conivente com o roubo do
seu pastor e está contribuindo para um mundo mais podre.
Cada vez que um novo pastor assumia em
minha ex-igreja, ele dizia que foi Deus quem o enviou para uma
determinada obra a fazer lá. O que os crentes não
sabiam era que cada igreja da denominação pagava
um salário para o pastor conforme o total de dizimo
arrecadado, e que havia uma negociação salarial
antes que o pastor assumisse a igreja, e o pastor acabava
decidindo se iria ou não assumir a igreja conforme o salário
que fosse receber.
Então, de todos os custos da
igreja, parte representava o salário do pastor, outra
parte representava os gastos normais de uma igreja (água,
luz, limpeza etc.,,,) e outra parte era desviada para o bolso
dos dois presbíteros e do tesoureiro da igreja. Um deles
trabalhava em uma lojinha bem pequenina de discos de vinil
usados, que ficava numa galeria bem pobre, mas, mesmo assim
conseguia morar num apartamento bem luxuoso num dos bairro
nobres da cidade e manter dois filhos estudando na PUC (a
faculdade mais cara da cidade).
Eu tinha uma falsa impressão de
estar em um grupo onde as pessoas se amavam umas as outras. Na
realidade eu estava completamente enganado, nas igrejas evangélicas
ninguém liga para a vida de ninguém, as pessoas lá
são muito egoístas e só se preocupam com
sua salvação individual. As únicas pessoas
importantes lá dentro eram os que faziam parte da liderança
que colocavam máscaras e vendiam ilusões.
Se ocorria uma tragédia pessoal na
vida de alguém e esse alguém se afastava da
igreja, era então porque essa pessoa era fraca ou não
era um verdadeiro crente, e acabava sendo deixado de lado pelos
irmãos.
Se alguém saia da denominação
para frequentar uma outra denominação ou seita,
ninguém também ligava.
Caso alguém ousasse duvidar ou
fazer algo que fosse contra os interesses dos lideres
religiosos, esse alguém sofria algum tipo de pressão
para que deixasse a igreja.
Havia uma senhora de classe média,
recém-convertida, que se dedicava muito a igreja. Ela
trabalhava como diretora de uma unidade feminina da FEBEM (Fundação
de bem-estar do menor).
Ingenuamente, ela resolveu convidar
diversas meninas internas da FEBEM para participar de nossa
escola dominical juntamente com adolescentes de classe média.
Na primeira vez que ela trouxe essas
meninas, mais ou menos umas 15 garotas, diversos adolescentes da
igreja levaram um susto e se recusaram a permanecer dentro da
mesma sala onde estavam as meninas acusadas de pequenos delitos.
No domingo seguinte ela trouxe novamente
essas garotas e começou a causar uma divisão na
igreja. Uns achavam que as meninas deviam frequentar a escola
dominical, mas a maioria dos adolescentes e seus familiares,
crentes tradicionais, estavam furiosos e queriam que as meninas
não frequentassem a igreja.
Prevaleceu a vontade dos que davam o dízimo
mais alto, porém não podiam simplesmente proibir a
entrada dessas meninas na igreja, pois do ponto de vista cristão
isso não seria nada bonito, daí resolveram adotar
uma medida mais covarde.
Simplesmente deram um jeito de afastar a
diretora da Febem da igreja. Começaram a agredir ela
publicamente, e pelas costas inventavam muitas mentiras a seu
respeito. Os que exerciam cargos na igreja começaram a
acusa-la dentre outras coisas de frequentar centros espíritas.
Acabou que a irmã não
aguentou a pressão e saiu da igreja, e para a alegria da
burguesia, as meninas da Febem também pararam de
frequentar a igreja.
Muitos são os evangélicos
que enlouquecem e acabam sendo internados em hospícios,
de tanto se dedicarem ao crescimento espiritual.
Na igreja que frequentava, houve um caso
assim, havia uma moça pobre, que há vários
anos era crente, ela se dedicava noite e dia ao crescimento
espiritual, ela só falava de Deus e nunca perdia uma só
atividade da igreja.
De tanto se dedicar ao extremo à
igreja, ela acabou entrando em depressão, pois se alguém
castra suas próprias necessidades humanas básicas
por muito tempo, esse alguém acaba ficando deprimido.
O fato dela ir para a igreja triste e
mal-humorada fez com que os irmãos começassem a
recrimina-la e a julgar que ela estava se dedicando pouco a
Deus, daí a exortavam para que orasse mais.
Para sair da depressão ela
procurava se dedicar mais a oração, porém a
depressão sempre voltava e os irmãos da igreja
passaram a rejeita-la pelo fato dela ter passado a se comportar
de um modo diferente.
Por não haver ninguém para
ajuda-la, pois numa igreja evangélica é cada um
por si e o diabo contra todos, ela acabou enlouquecendo e ficou
internada em um hospício durante vários meses.
Nunca mais essa moça retornou a
igreja e nunca nenhum dos membros lhe ofereceu qualquer ajuda.
É muito grande a quantidade de
evangélicos que tem sérios problemas psicológicos.
Nas igrejas que eu visitava, sempre encontrava pessoas muito
perturbadas que pareciam ter saído do hospício.
Se você está achando um
absurdo o que estou falando, dê um pulo em uma grande praça
de sua cidade, e veja a quantidade de loucos que ficam berrando
em locais públicos com uma bíblia aberta na mão.
Tente conversar com eles e perceba que eles precisam de
tratamento médico imediato.
BATISMO COM O ESPÍRITO SANTO
Nas reuniões de oração
das igrejas evangélicas pentecostais, as pessoas falavam
em línguas estranhas. O que significa mais ou menos no
meio de uma oração alguém começar a
dizer coisas sem nenhum sentido do tipo: “o alcanta
silabalais , sibilicantas lecantais savanaix lambalais”
entendeu alguma coisa? Pois é, é isso que os
pentecostais chamam de falar em línguas, o religioso
entra em êxtase durante uma oração e começa
a falar palavras que não existem em nossa língua e
em língua nenhuma deste planeta, só existe na língua
dos anjos, línguas feitas exclusivamente para louvar a
Deus. Para falar em línguas a pessoa tem que receber o
batismo com o Espírito Santo, que é o batismo dado
por Deus.
Esse batismo com o Espírito Santo
também possibilita ao crente não só o poder
de falar em línguas estranhas, mas também o poder
de profetizar. Quando o crente profetiza, ele está
deixando que o seu corpo seja usado por Deus, para que Deus, ele
próprio, dirija a sua palavra profética a sua
igreja.
Logo que me tornei evangélico, com
14 anos, comecei a participar de diversas reuniões de oração.
Numa dessas reuniões uma senhora incorporou o Espírito
Santo de Deus e começou a profetizar, e em sua profecia “Deus”
me chamou pelo nome e disse que eu devia me dedicar mais a ele,
pois ele (Deus) tinha uma grande benção preparada
para mim. Na época como eu era muito novo fiquei muito
impressionado com essa profecia e passei a me dedicar muito mais
a Deus esperando que ele me mandasse sua prometida benção.
Alguns irmãos da igreja me diziam
que eu tinha que ser batizado com o Espírito Santo, pois
com o batismo dado por Deus o crente torna-se muito mais
espiritual. Então eu comecei a buscar intensamente ser
batizado com o Espírito Santo. Passei uns dois anos me
dedicando muito a isso. Sempre que eu orava, pedia a Deus que me
batizasse. Em todas as vigílias e jejuns dos quais
participava eu orava com muita fé para que Deus me
concedesse a graça de poder falar em línguas
estranhas para ser um crente mais forte.
Eu estava me tornando muito fanático
e obcecado pelo ideal de receber o tal do batismo de fogo.
Grande parte do meu fanatismo surgiu em virtude dessa busca por
este “fenômeno” miraculoso. Até que um
dia eu estava orando numa praia, ajoelhado junto com alguns irmãos
da igreja, e de repente, o meu sonho, pelo qual eu já
vinha me dedicando há muito tempo tornou-se realidade, eu
comecei a falar em línguas e esta foi a experiência
mais extraordinária que eu já vivi em minha vida.
Naquele momento, foi como se eu tivesse
deixado meu corpo, eu já não tinha mais controle
sobre o meu corpo, e minha boca começou a falar palavras
desconhecidas para mim durante muito e muito tempo, e naquele
momento eu só tinha os meus pensamentos, pois o meu corpo
era como se não me pertencesse, era como se outra pessoa
tivesse se apossado dele, e essa pessoa era Deus, e só
havia sobrado para mim os meus pensamentos e em meu pensamentos
eu louvava a Deus com a maior alegria que eu já
experimentei em minha vida.
Ser batizado com o Espirito Santo é
realmente uma experiência fantástica. A alegria que
eu sentia naquele momento compensou muito do sofrimento pelo
qual eu passava por ser um evangélico dedicado.
Logo depois que eu parei de falar em línguas,
as pessoas que estavam comigo me parabenizaram por eu ser o mais
novo batizado com fogo da igreja.
Em grande parte das reuniões de oração
das quais eu participava, eu falava em línguas. Essa era
uma sensação muito maravilhosa, que me estimulava
a frequentar igrejas cada vez mais e mais, porém para
conseguir atingir esse grau de êxtase religioso, eu tinha
que sempre estar me dedicando a orações e me
afastando das coisas consideradas mundanas pela minha religião.
Apesar disso tudo eu ainda não
estava satisfeito com a minha performance como pentecostal. Eu
queria mais, muito mais do ponto de vista espiritual. Passei então
a buscar o dom da profecia, não queria apenas falar em línguas,
eu queria também ser usado por Deus para que ele através
de mim, transmitisse sua mensagem a igreja. Da mesma forma que
eu tinha um dia conseguido atingir o objetivo de falar em línguas,
consegui também um dia profetizar, falei algumas
palavras, todas exortando os irmãos a se dedicarem mais.
Experimentando essas sensações
eu conseguia ter forças para enfrentar a hostilidade de
minha família e dos meus colegas de escola em relação
a meu fanatismo. Uma das grandes dificuldades que eu tinha para
sair do meu fanatismo era a hostilidade das pessoas que não
eram evangélicas em relação a minha crença.
Isso fazia com que eu só quisesse ter amizade com evangélicos,
pois só os evangélicos aguentam alguém que
só sabe falar de Deus.
Muitas pessoas não-evangélicas
que me conheciam não conseguiam compreender o porquê
de eu me dedicar tanto a igreja. O que acontecia lá
dentro para que eu tivesse tanta fé. Simplesmente
acontecia que eu ouvia Deus falar através dos irmãos,
eu falava em línguas de anjos e perdia o controle sobre o
meu corpo, assistia diversos exorcismos e cura divina. Então
era praticamente impossível que eu abandonasse minhas
crenças pois todas as “evidências” que eu
tinha na época me apontavam no sentido de que Deus
existia e que o Protestantismo era a religião de Deus.
É muito difícil para uma
pessoa como eu era sair da igreja, eu estava fechado em meu
mundo, onde Deus e o Diabo eram os responsáveis por tudo
o que acontecia ao meu redor. Eu era completamente imune ao
pensamento crítico, baseava minhas escolhas na emoção
e não na razão. Tudo o que eu tinha que decidir,
eu decidia perguntando o que é que Jesus faria no meu
lugar, ou então eu orava esperando uma resposta de Deus.
Eu era daqueles que acreditava com certeza total que o homem
tinha vindo do barro e a mulher da costela.
Orar e ir para a igreja, eram duas coisas
que se transformaram em um vício para mim. Se por acaso
eu faltasse a algum culto eu me sentia muito culpado por isso.
Passava o dia inteiro esperando dar a hora de ir a igreja, e
quando eu estava na igreja eu me sentia muito bem. Eu adorava
participar dos cultos era um prazer muito grande que eu sentia.
Eu vivia como um zumbi. Passava o dia
inteiro orando, e as pessoas não-evangélicas que
tinham contato comigo percebiam que eu era um fanático
religioso, porém, infelizmente ninguém nunca quis
me ajudar a largar o fanatismo religioso. As pessoas só
sabiam me hostilizar pelo que eu era. Eu também era muito
hostilizado em minha família, porém os meu pais
permitiam que eu frequentasse a igreja porque achavam que
frequentando igreja eu estaria imune ao vício das drogas,
porém eles se esqueciam que eu estava me drogando com a
religião.
Para que uma pessoa como eu era deixe de
viver no fanatismo religioso e passe a ter uma vida saudável,
existem dois caminhos: ou a pessoa é submetida a um
trabalho de valorização de sua auto-estima ou a
pessoa tem que passar por um trauma. Para que eu caísse
na real, tive que sofrer um trauma e assim mudar o meu jeito de
viver.
TRAUMA
Eu frequentava diversas igrejas além
da minha de batismo. Eu fazia isso porque achava insuficiente a
quantidade de cultos que havia em minha igreja e também
porque queria ter experiências diferentes em outras
denominações.
Certa vez fui comecei a me reunir com um
grupo que se reunia nos lares. Eles não tinham um lugar
certo para se reunir. O líder desse grupo que se
denominava apostolo de Jesus, um dia durante uma oração
recebeu uma mensagem de Deus. Deus nesta mensagem dizia que ele
tinha uma palavra a falar com a minha igreja. Ele me falou com
os olhos cheios de lágrimas que Deus lhe tinha dado uma
revelação e que precisava passar essa revelação
para a igreja que eu frequentava. Este senhor era um líder
para mim. Ele exercia uma influência muito grande sobre
mim, por isso eu aceitei que ele estava dizendo a verdade e que
Deus tinha realmente lhe dado uma revelação. Acho
que eu tinha sido hipnotizado pois quando ele falava comigo
sempre olhava fixamente para os meus olhos. Eu tinha muita fé
que tudo ia dá certo, e que sua palavra seria realmente
uma benção.
Era costume de minha igreja se reunir nos
lares toda segunda-feira. Nenhuma dessas reuniões havia
sido realizada em minha casa, então ofereci minha casa
para a próxima reunião e aproveitei e convidei o
auto-proclamado apostolo para repassar para os irmãos de
minha igreja a mensagem que ele tinha recebido de Deus.
No dia da reunião havia mais ou
menos umas vinte pessoas em minha casa. Começamos a reunião
cantando músicas. Depois eu falei um pouquinho e passei a
palavra para o meu amigo que tinha a mensagem de Deus. Ele começou
a falar, e conforme ele falava todos os que o ouviam ficaram
impressionados e maravilhados com suas palavras, pois ele era
muito carismático e falava muito bem, ao final da reunião
todos estavam muito emocionados e pensavam em seguir as orientações
dadas por ele. A reunião havia acabado porque já
era hora das pessoas irem embora, mas ninguém queria sair
todos queriam ouvir mais sobre o que ele tinha a dizer então
foi marcada uma segunda reunião para o próximo
domingo à tarde, na residência de uma senhora que
estava presente na ocasião.
Na segunda reunião estavam
presentes poucas pessoas, porém uma das pessoas que foram
nesta reunião, era uma senhora, que não estava na
primeira reunião, ela era formada em teologia, e tinha
adquirido recentemente o cargo de presbítera de minha
igreja. Este cargo só era inferior ao cargo de pastor,
porém os presbíteros de minha igreja, que eram
dois, também recebiam salários pagos pela igreja,
fora o que eles ganhavam por fora. Ela fora convidada por alguém
para participar da reunião porque alguém achou que
ele estava falando coisas diferentes da doutrina de minha
denominação, daí ela foi para verificar.
Não houve cantos no inicio da
reunião, meu amigo apostolo já começou
falando, porém, enquanto ele falava, esta presbítera
sempre o interrompia fazendo uma série de
questionamentos, e como estes questionamentos eram muitos ele
começou a se irritar e destratou ela, então ela
baixou a cabeça e começou a ficar anotando em um
caderno tudo que ele tinha dito. Logo depois ela saiu da reunião
muito enfurecida e chamou outras cinco pessoas de minha igreja
que também estavam na reunião para que saíssem,
e a reunião continuou sem a presença deles.
No final desta reunião, eu quis
sair para poder participar do culto de domingo a noite de minha
igreja, porém o meu amigo me impediu de fazer isso, ele
me disse que se eu fosse eu seria extremamente agredido na
igreja pelo fato da presbítera ter saido irritada e que
se eu fosse, eu seria tão agredido que nunca mais iria
querer ouvir falar de Deus. Eu não acreditei a principio
em nada do que ele dizia. Quis sair daquela residência
para poder assistir o culto, mas ele me impediu fisicamente de
sair daquela residência e acabou que eu não assisti
o culto de domingo a noite.
Na segunda-feira um amigo meu de minha
igreja, que era da minha idade, me telefonou dizendo que o culto
no lar daquela semana seria na casa da presbítera da
igreja, e me deu o endereço dela para que eu fosse. O meu
amigo apostolo tinha me alertado que eu não deveria mais
participar de nenhum culto de minha denominação,
mas eu resolvi não seguir seu conselho e aceitei o
convite do colega de minha igreja.
Cheguei então na casa desta presbítera.
Cumprimentei a todos e a reunião começou, cantamos
diversas músicas no inicio, depois ela passou um bom
tempo falando em línguas estranhas (tenho certeza total
que ela estava fingindo falar línguas estranhas para
impressionar a todos). Depois do seu show de dons espirituais
ela começou a falar, e começou a falar mal do meu
amigo apostolo e do que ele tinha dito na reunião de
domingo a tarde, eu não gostei do que ela estava dizendo,
pois ela estava inventando um monte de coisas ruins, então
pedi para falar, e ela disse que eu poderia falar no final da
reunião, então deixei que ela falasse para que no
fim da reunião eu pudesse falar.
Aquela era a segunda reunião que
era feita apenas para que ela falasse mau do meu amigo apostolo.
A primeira dessas reuniões, da qual participaram os
jovens da igreja e o pastor, ocorreu domingo a noite após
o culto, mas eu não pude participar dessa reunião
pois como havia dito fui impedido de ir.
Quando ela terminou seu discurso eu pedi
para falar, mas ela disse gritando e com muita raiva que eu não
podia falar, e que eu saísse da casa dela. Então
eu disse apenas que os irmãos que quisessem me ouvir me
esperassem na portaria do edifício, pois eu gostaria de
me defender.
A minha atitude foi tão passiva
assim, porque eu era uma pessoa muito calma e não tinha
nenhuma auto-estima, muito menos amor próprio. Eu não
estava preocupado comigo, eu estava preocupado com o meu amigo
que eu achava que tinha sido mau interpretado.
Todos na reuniãi eran mais velhos
do que eu, que na época tinha 18 anos, porém essas
pessoas não enxergavam que eu tinha cometido um erro na
tentativa de acertar, e que aquilo não poderia ser
considerado um erro, essas pessoas bem mais velhas do que eu,
tinha medo de um rapaz de 18 anos, que há 4 anos se
dedicava cegamente a religião, simplesmente porque os
seus lideres haviam colocado medo neles sobre o que eu tinha a
dizer. Eu tinha cometido o terrível pecado de questionar,
sem querer e sem saber, a minha religião e esse pecado não
tinha perdão, eu tinha que ser excluído da igreja.
Apesar de ser alguém tão
dedicado a igreja, isso não impediu que os irmãos
começassem a me agredir no final da reunião e eu não
sabia como me defender. Consegui que três irmãos,
os que eram mais íntimos comigo, topassem me ouvir na
portaria do edifício, mas eles me tratavam como se eu
tivesse possesso pelo demônio, e como eu estava abalado
emocionalmente, não consegui transmitir nada na ocasião,
me despedi deles e fui embora para casa.
Enquanto eu ia embora para casa, eu
sentia uma dor imensa no meu peito, a depressão começou
a bater forte, e a dor era tanta que eu já não
mais a suportava. Eu amava demais aqueles irmãos,
considerava eles como sendo minha família, e nos últimos
anos eles eram as únicas pessoas com quem eu tinha
amizade e me divertia. A dor que eu sentia era porque eu sabia
que nunca mais poderia vê-los novamente, pois os lideres
de minha igreja iriam ensinar a eles a me evitarem pois eu tinha
passado a representar o demônio. Resolvi na minha trajetória
para casa deixar para pensar em tudo que havia acontecido com
calma no dia seguinte, fui dormir então tentando esquecer
temporariamente o que ocorreu.
Acordei na manhã seguinte com a
mesma tristeza, os meus olhos olhavam para o nada, sentei em uma
poltrona e fiquei parado durante muito tempo pensando em tudo o
que tinha acontecido, e o porquê de tudo aquilo ter
acontecido. Eu não entendia nada, era como se minha vida
tivesse virado de cabeça para baixo, eu esperava que a
palavra daquele senhor fosse ser o inicio de uma grande benção
para minha igreja, mas acabou que ela foi o motivo de minha saída
da igreja.
Muitos pensamentos começaram a
passar pela minha cabeça em um curto espaço de
tempo. Comecei a me lembrar de tudo o que eu tinha feito nos últimos
anos, me lembrei de tudo de errado que eu tinha visto em minha
igreja, me lembrei dos escândalos envolvendo pastores e
lideres religiosos que eu conhecia. Eu que não olhava
para o homem comecei a enxergar toda a podridão que
existia em minha denominação. Comecei a ver a
igreja como um comércio, onde a fé era vendida
como uma mercadoria qualquer, como uma droga qualquer. Comecei a
ver os pastores como ladrões enganadores. Questionava por
que é que Deus sendo bom não acaba com a vida dos
pastores ladrões que se aproveitam de fraquezas humanas
para ganhar dinheiro. E de repente um pensamento bateu em minha
cabeça: “Deus não existe”.
A minha dúvida sobre a existência
de Deus foi aumentando naquele momento. Cada vez mais encontrava
evidências para deixar de acreditar em Deus, mas ai eu
pensei sobre os dons espirituais com os quais eu convivia e se
isso não seria uma prova da existência de Deus.
Felizmente, havia participado há
alguns meses de um curso bíblico em uma igreja batista
tradicional. Lá eles não acreditam em dons
espirituais, como é o caso do dom de falar em línguas
e nesta reunião eu havia aprendido que o falar em línguas
acontecia devido a um estado alterado da mente, onde em um êxtase
religioso a pessoa tinha delírios. Naquela ocasião
eu não acreditei em nada do que eles falaram, mas,
naquele momento de dor eu me lembrei do que tinha ouvido e
cheguei a conclusão que o falar em línguas
estranhas e profetizar não eram provas da existência
de Deus. Descobri os mecanismos de nossa mente que nos levavam a
isso.
As pessoas não-evangélicas
achavam que eu era muito maduro para minha idade. Isso porque eu
era muito rígido e sério para um rapaz de 18 anos,
daí parecia que eu tinha mais idade, mas na realidade, eu
era alguém muito imaturo, pois eu não vivia a vida
como os outros de minha idade desde que eu comecei a frequentar
a igreja. Daí eu era alguém de 18 anos que tinha a
cabeça de um rapaz de 14 anos.
Eu não me tornei ateu naquele dia,
porque comecei a achar que tudo aquilo que estava acontecendo
era uma provação a qual Deus estava me dando, para
ver o tanto que eu poderia ser fiel a ele apesar das
adversidades. Daí não deixei de acreditar em Deus
de imediato, porém, um mês depois da decepção
que eu tive eu já tinha certeza absoluta que Deus não
existia e me passei a me considerar um ateu.
Até o dia que eu me tornei ateu,
tive que passar por muito sofrimento em virtude das decepções
que eu estava tendo. Algumas pessoas da igreja ligaram para
minha casa para dizer que eu estava possuído pelo demônio
e que tinha que ir para o culto ser exorcizado.
Existia um jovem em minha igreja que era
11 anos mais velho do que eu, e que pretendia ser pastor. O irmão
dele tinha acabado de morrer de câncer, e ele estava
querendo se vingar do mundo e principalmente da igreja, pois sua
família acreditava que seu irmão seria curado com
orações, mas acabou que ele morreu. Então
esse jovem resolveu que tinha que ser pastor para se vingar dos
evangélicos roubando tudo o que pudesse deles. Ele
aproveitou que eu tinha cometido um erro para tripudiar em cima
de mim e fazer-se passar por bonzão enquanto eu era o
ruim, daí ele conseguiu convencer muitos da igreja que eu
nunca tinha sido um evangélico e que eu sempre enganei a
todos, levando uma vida mundana por fora. Como este jovem era
considerado espiritual muitos acreditaram nele. Hoje esta pessoa
tem o cargo de pastor e está rica.
Decidi então não voltar mais
a minha ex-igreja, e acabou que os irmãos não se
interessaram em me procurar ou me ajudar.
CONCLUSÃO
Quando conclui que Deus não
existia, meu primeiro pensamento foi que eu era a pessoa mais otária
do mundo, pois eu tinha dedicado os últimos anos de minha
vida a algo que simplesmente só existia dentro da imaginação
do ser humano. Depois percebi que eu não era assim tão
otário, pois havia milhares de outros que também
se dedicavam muito a Deus, mesmo sem ter nada de concreto para
justificar sua crença.
O meu segundo pensamento foi de alivio.
Estava aliviado porque não teria mais que queimar no
inferno eternamente caso eu me desviasse de Deus. Fiquei feliz
por saber que não existia um Deus tão tirano que
mandava os questionadores para o inferno enquanto os religiosos
iam para o céu.
A minha felicidade maior foi saber que a
partir de então eu poderia aproveitar minha vida
intensamente, poderia fazer tudo que eu quisesse fazer, poderia
pensar em sexo, dançar, sentir raiva, sentir tristeza,
cobiçar e fazer ou pensar em tudo de bom ou de ruim que
eu quisesse. Não precisava sentir culpa, eu era livre e não
teria que prestar contas a ninguém em um futuro
julgamento nos céus.
Apesar da dor que estava sentindo por tudo
o que tinha acontecido, eu comecei a achar bom o que aconteceu,
eu achei bem-feito para mim para eu deixar de ser bobo, achei
também que foi melhor eu ter passado por toda aquela dor
do que ter permanecido fiel a religião evangélica.
Antes vivenciar toda a dor que eu senti do que desperdiçar
mais um dia de minha vida, que é única e preciosa,
sendo um religioso praticante.
Eu tinha aprendido a questionar.
Questionar para mim tornou-se um grande prazer. Hoje questiono a
tudo e a todos, e quero conhecer toda a verdade que estiver ao
meu alcance, mas para conseguir isso sei que tenho que
questionar e questionar e só acreditar naquilo que possa
ser comprovado cientificamente.
Passei a valorizar mais o ser humano,
antes via o ser humano como um pecador que tendia a perdição,
mas depois que deixei a religião passei a ver o ser
humano como a pedra mais preciosa e que enquanto mais trabalhada
for por bons pensamentos, melhor fica.
Nossa vida é muito preciosa, e ela é
finita no tempo, por isso temos que dar o melhor proveito para a
nossa vida. Jamais devemos viver em vão ou anular nossa
vida por causa de um ideal religioso, pois somente os lideres
das igrejas e que ganham com isso, nem o religioso fiel nem o
mundo ganham nada com a dedicação religiosa, que é
pura perda de tempo.
Nunca nenhuma religião fez nada de
bom pelo nosso mundo, somente a pessoa que tem consciência
da importância de sua vida é que pode fazer algo de
bom para melhorar nosso mundo. Se você não ama a si
mesmo você jamais poderá amar todos ao seu redor.
Hoje vivo bem melhor do que quando era
evangélico. Troquei a fé pela dúvida, a emoção
pelo razão, a culpa pela liberdade e principalmente
troquei Deus pelo ser humano.