Converti-me ao cristianismo aos 16 anos de
idade. Até então era um rapaz tímido e,
lendo a Bíblia, virei cristão. Mal sabia eu que
muitos dos meus problemas começariam aí. Li na Bíblia
que masturbação era pecado, na verdade não
li, deixei que interpretações de igrejas me
dominassem. Lutei contra mim mesmo por uns 9 meses, tentando me
livrar do que considerava tentações. Não
consegui. O interessante é que, nada achando na Bíblia,
que me proibisse isso, comecei a discordar das igrejas e passei
a praticar este ato, sem culpa. Continuei cristão, mas
passei a me tornar obcecado em converter as pessoas. Tão
obcecado que, para convertê-las, eu até pichava
muros. Só que isto tomou conta de mim de tal maneira que
ficava louco, quase um vicio. Passei a ficar intolerante, ao
ponto de destruir publicações de outras religiões,
por exemplo: eu via um cartaz de uma outra religião e a
destruia. Era como se uma força dentro de mim dissesse
para fazer. Tinha momentos que eu não queria fazer isto,
mas tive que fazer, por medo de pecar, pois cheguei a achar que
era uma obrigação minha destruir outras religiões
e livros anti-religiosos (acho que até compreendo um
pouco os inquisidores e fanáticos).
Comecei a ficar atormentado pela idéia
de pecado, o medo de pecar me aterrorizava. Estudava na
faculdade. Alguns professores pediam para os alunos tirarem
xerox de livros. Como isto feria os direitos autorais, embora eu
não tivesse dinheiro para comprar os livros, e como eu
estava obcecado pela idéia de pecado, acabei, para não
pecar, até abandonando o curso que eu fazia. Quando
percebi que o que eu estava fazendo era uma bobagem contra mim
mesmo já era tarde, pois perdi minha vaga na faculdade
por faltas. Passei a fazer outro curso superior(prestei
vestibular de novo). Comecei a questionar se o cristianismo era
realmente uma religião que valia a pena, comecei a
questionar também se Deus é justo vendo pessoas
nascerem com sindrome de Down(mongoloides), hermafroditas,a
mulher mais fraca fisicamente que o homem,, vendo os meus
problemas pessoais, as minhas obsessões, a duvidar , mas
o medo do pecado era mais forte.
Minhas duvidas acabaram quando li um livro
chamado "A reforma"de Will Durant. Neste livro o autor
conta que um escritor chamado Miguel Servet(que inclusive foi
assassinado por João Calvino, o grande reformador dos
protestantes) declarou que as profecias que supostamente
indicavam Jesus como messias, na verdade, não eram
profecias, como os cristãos acreditavam e acreditam até
hoje(e eu também acreditava), mas sim parábolas
que os profetas faziam. Sendo vagas em extremo, poderiam servir
a diversas interpretações, e serviram, para o
cristianismo. Por exemplo, aquela que afirmava que o messias
nasceria em Belém, de Isaias, na verdade era só
uma parábola(pois Belém era o local de nascimento
do Rei Davi). Li também que Jesus não nasceu em
Belém, mas em Nazaré. A história do censo,
que Otávio Augusto teria feito e que teria sido o motivo
para José e Maria irem até Belém e lá
nascesse Jesus , seria lenda.
Fiquei ao mesmo tempo triste e alegre.
Triste não por ver que o cristianismo era uma religião
errada. Fiquei com a mesma sensação que algumas
pessoas, que se envolvem com drogas tem, quando a abandonam:
sensação de ter perdido o meu tempo, sofrido a
toa. Fiquei alegre por ter me livrado das minhas obsessões
de pecado e culpa. Hoje tenho 25 anos e não sei se há
um Deus, estou na duvida, mas uma coisa tenho certeza, e digo a
todos, se o cristianismo for sua religião na Terra então
Deus cometeu o maior erro da história, pois para mim esta
religião só trouxe tristeza. Muitas pessoas podem
até ser felizes sendo cristãos, mas eu,
sinceramente, não consegui. E eu tentei.