Publicado no Jornal Folha de São
                Paulo em 05/11/95 
              
              A história da Igreja Universal do
                Reino de Deus reproduz o movimento de cisão que atinge
                grande parte das igrejas pentecostais. 
              
              Em 18 anos de existência, a
                Universal deu origem a, no mínimo, três novas
                denominações _expressão usada pelos evangélicos
                para designar suas correntes. 
              
              O primeiro e mais importante cisma ocorreu
                em 1980, dois anos depois da fundação da
                Universal. A divisão deu origem à Igreja
                Internacional da Graça de Deus, de R. R. Soares, cunhado
                e companheiro de Edir Macedo na criação da Igreja
                Universal. 
              
              Até hoje, a Internacional da Graça
                de Deus é a mais bem sucedida igreja entre as que saíram
                da Universal. Em meados do ano passado, tinha cerca de 250
                templos. 
              
              O segundo cisma relevante ocorreu mais de
                dez anos depois do primeiro. Em 91, o pastor Carlos Magno rompeu
                com Macedo e criou a Igreja do Espírito Santo de Deus,
                cujas atividades ficaram restritas a Recife (PE). 
              
              Acusações 
              
              Sua saída foi marcada por acusações
                contra o líder da Universal. Magno sustenta até
                hoje que Macedo usou dinheiro do tráfico internacional de
                drogas para comprar a Rede Record de televisão por R$ 45
                milhões. 
              
              As acusações renderam inquéritos
                da Polícia Federal e do Ministério Público,
                mas nada foi comprovado até agora. 
              
              A última baixa na Universal foi
                protagonizada por Renato Suhett, que chegou a ser o homem mais
                importante da Universal no Brasil. 
              
              Há cerca de dois meses, ele deixou
                a Universal para criar a sua própria igreja, com sede no
                Rio. 
              
              O sociólogo Jorge Luiz Domingues,
                pesquisador do Iser (Instituto de Estudos da Religião),
                analisou o crescimento do movimento evangélico no Rio
                entre 1982 e 92 e concluiu que, no período, foram criadas
                2.038 igrejas no Estado. 
              
              Desse total, cerca de 600 não
                estavam vinculadas a nenhuma igreja existente. O sociólogo
                identificou nesse grupo aproximadamente 400 denominações
                totalmente independentes. A maioria tinha apenas um templo.
                
              
              Isso não significa, porém,
                que todas essas denominações existam até
                hoje, já que muitas igrejas fecharam suas portas ao longo
                do período estudado. 
              
              Esses números fazem parte da tese
                de mestrado que Domingues defendeu na Universidade Federal do
                Rio de Janeiro no início de outubro: "Tempo de
                Colheita _ O Crescimento das Igrejas Evangélicas no Rio
                de Janeiro". 
              
              Domingues concluiu que a maioria das
                microigrejas é pentecostal e está presente
                principalmente nas áreas pobres da região
                metropolitana do Rio de Janeiro. 
              
              
              
              Crente vira 'militante de
                sua fé'  
              
              Publicado no Jornal Folha de São
                Paulo em 05/11/95 
              
              Todo o crente pode ser militante de sua fé.
                Esse é o princípio que norteia a atuação
                dos evangélicos e permite a multiplicação
                de pequenas igrejas em todo o país. 
              
              O fenômeno ocorre principalmente
                entre as igrejas pentecostais _aquelas que valorizam os dons do
                Espírito Santo, como a cura divina e a fala em línguas
                estranhas. 
              
              A doutrina evangélica possui uma série
                de elementos que favorecem a criação de novas
                igrejas. Ao contrário da Igreja Católica, não
                é exigida, em princípio, qualquer formação
                para o exercício da função de pastor.
                
              
              A consagração de um pastor
                também não pressupõe formalidades. O sociólogo
                Jorge Luiz Domingues, pesquisador do Iser (Instituto de Estudos
                da Religião), diz que pode ocorrer até a
                autoconsagração no cargo. 
              
              "É possível alguém
                se tornar pastor depois de ter uma revelação, que
                pode ser uma visão ou um sonho, por exemplo, afirma.
                
              
              O sociólogo Ricardo Mariano, que se
                dedica ao estudo dos pentecostais, observa que o surgimento de
                novas igrejas é absolutamente legítimo entre os
                evangélicos. 
              
              "Se houvesse ruptura na Igreja Católica,
                seria o fim do mundo. Para os pentecostais, esse é um
                processo frequente no Brasil desde a década de 50. Na
                opinião de Mariano, a idéia do sacerdócio
                universal é fundamental para a expansão do
                movimento pentecostal. 
              
              A facilidade na criação de
                igrejas permite uma segmentação que não
                existe no mundo católico. É possível haver
                um templo evangélico de um único bairro, ou
                voltado para um público específico. 
              
              Os cismas também são o
                caminho mais comum para o surgimento de novas igrejas. Na sua
                origem, estão disputa de poder e divergências
                doutrinárias. 
            Ex-líder foi indiciado em cinco
            inquéritos 
              
              Publicado no Jornal Folha de São
                Paulo em 28/12/95 
             Autor: Paulo Mota
              
              O pastor Carlos Magno de Miranda foi
                indiciado em cinco inquéritos policiais no período
                em que dirigiu a igreja em Fortaleza, entre 1987 e 1990. 
              
              Quatro inquéritos foram arquivados
                por falta de provas. Em um deles, ele foi condenado por calúnia
                e difamação. 
              
              Em 1990, Miranda e mais dois obreiros da
                Universal em Fortaleza foram indiciados como responsáveis
                pela morte da dona-de-casa Cecília Oliveira de Sousa, 57,
                ocorrida no dia 18 de setembro daquele ano, dentro de um templo
                da Universal, em Fortaleza. 
              
              Segundo a polícia, Cecília
                teria morrido porque, seguindo orientação da
                Universal, deixara de usar medicamentos para controlar sua
                diabetes e hipertensão arterial. 
              
              Adepta da Universal havia um ano e meio,
                Cecília teria abandonado o tratamento médico
                convencional, segundo a polícia, porque fora induzida por
                Miranda a participar de "correntes de cura"
                patrocinadas pela sua igreja. 
              
              No dia 20 de setembro, a polícia
                cearense abriu outro inquérito para apurar a denúncia
                de que a enfermeira Maria Luzimar da Silva, 28, teria sido,
                junto com sua filha, Ana Carolina, 7, agredida dentro do mesmo
                templo da Universal. Como líder da igreja, Miranda foi
                indiciado como responsável pela agressão. 
              
              Ainda em setembro, Miranda foi indiciado
                como responsável pela agressão sofrida por quatro
                jornalistas de Fortaleza, durante uma celebração
                da Universal, ocorrida no dia 9 daquele mês, no estádio
                Presidente Vargas, em Fortaleza. 
              
              No dia 2 de outubro, Miranda foi acusado
                de agredir a costureira Dulce Maria de Oliveira, 47, durante um
                ritual de exorcismo. 
              
              Carlos Magno foi candidato a deputado
                federal. Teve apenas 19 mil votos e não se elegeu.
                
              
              Em seus comícios, Miranda dizia que
                as denúncias faziam parte de um complô para
                destruir sua candidatura.