Publicado no Jornal Folha de São
                Paulo em 24/01/96
 
              
              
                 O procurador-geral
                da República, Geraldo Brindeiro, requisitou ao diretor do
                DPF (Departamento de Polícia Federal), Vicente Chelotti,
                a abertura de inquérito para apurar a suposta ligação
                entre o narcotráfico e lideranças da Igreja
                Universal do Reino de Deus.
                 O inquérito será aberto pela superintendência
                da PF no Rio, onde já se investiga a acusação
                de prática de formação de quadrilha, evasão
                de divisas e sonegação fiscal pela cúpula
                da Universal.
                 Em ofício enviado ao delegado federal Matheus Casado
                Martins, o diretor do DPF determina a abertura de inquérito
                caso a acusação de envolvimento com narcotráfico
                não esteja sendo investigada.
                 O inquérito conduzido por Martins desde dezembro não
                investiga a suposta ligação entre dirigentes da
                Universal e narcotraficantes.
                 O delegado federal concentra suas apurações na
                busca de provas para supostos crimes tributários
                cometidos por dirigentes da igreja.
                 Na argumentação enviada a Chelotti, o
                procurador-geral da República recomenda atenção
                especial ''em relação aos recursos utilizados na
                aquisição da televisão Record'' pela
                Universal.
                 Dissidente da Universal, o pastor Carlos Magno de Miranda acusa
                o bispo Edir Macedo _fundador e principal líder da
                Universal_ de ter comprado a Record com dinheiro recolhido junto
                a traficantes colombianos.
                 Segundo Miranda, Macedo foi à Colômbia para pegar
                o dinheiro supostamente cedido por traficantes internacionais de
                cocaína.
                 O advogado da Universal, Arthur Lavigne, disse ontem à
                Folha que a igreja já foi investigada sob a mesma acusação
                em inquérito aberto em São Paulo em 1991.
                 Segundo Lavigne, o inquérito (número 2-0255/91),
                aberto pela PF em São Paulo, resultou em processo (número
                910101357) na 4ª Vara Federal no Estado.
                 ''Não deu em nada nem inquérito nem processo. Não
                se chegou a conclusão alguma.''
                 Uma equipe do BC (Banco Central) trabalhará na agência
                do BCM (Banco Crédito Metropolitano) no Rio em busca de
                documentos para investigar a acusação de evasão
                de divisas pela igreja.
                 Parte dos documentos do BCM _banco controlado pela Universal_
                foram lacrados durante o cumprimento de mandado de busca e
                apreensão expedido na semana passada pela 25ª Vara
                Federal no Rio de Janeiro.
                 Os documentos não podem ser retirados da agência
                porque podem revelar o sigilo bancário de correntistas
                que não são ligados à Universal.
              
              
              
              Livro português faz acusações
              a Edir Macedo
               
              
              Publicado no Jornal Folha de São
                Paulo em 19/01/96
 
              
              Autor: JAIR RATTNER
                 Foi lançado
                ontem em Lisboa o livro ''Igreja Universal do Reino de Deus -
                Tentáculos de um Polvo Monstruoso para a Tomada do
                Poder'', com acusações contra a igreja. Escrito
                por Gustavo Rosa e José Martins, ex-funcionários
                da Universal, o livro diz que Macedo declara um salário
                de R$ 240 reais como pastor e contribui para a Previdência
                portuguesa, mesmo sem morar lá.
                 (Jair Rattner)
 
              
              
              
              
              Operação conjunta faz busca
              na Universal
               
              
              Publicado no Jornal Folha de São
                Paulo em 18/01/96
 
              
              Autor: SERGIO TORRES
                 A PF (Polícia
                Federal), a Receita Federal, o BC (Banco Central) e a
                Procuradoria da República ocuparam ontem no Rio as sedes
                de empresas ligadas à Igreja Universal do Reino de Deus,
                em busca de provas para as supostas práticas de sonegação
                fiscal e evasão de divisas por dirigentes da igreja.
                 A ocupação ocorreu um dia após ação
                semelhante em São Paulo. O atraso pode ter alertado os
                responsáveis pelas empresas no Rio, suspeitam policiais
                federais envolvidos nas buscas. A possibilidade é apurada
                pela PF.
                 A ação conjunta foi autorizada pelo juiz
                Guilherme Calmon, que expediu mandados de busca e apreensão.
                 Ao final do dia, haviam sido apreendidos documentos variados,
                disquetes, livros de contabilidade, extratos bancários,
                contas telefônicas, balancetes, contratos e fitas de vídeo.
                 Anteontem, A PF vistoriou em São Paulo as sedes da LM
                Consultoria e Participações e do BCM (Banco Crédito
                Metropolitano S/A), em que costuma ser depositado o dinheiro
                doado por fiéis.
                 A única agência do BCM no Rio, na zona norte, não
                funcionou ontem por causa da blitz conjunta.
                 O gerente da agência, que se identificou como Fernando,
                disse que o banco não pretendia se pronunciar sobre a ação
                de busca.
                 As equipes também estiveram na sede da Rede Record (zona
                norte). Emissoras de rádio que transmitem programas da
                Universal _FM 105 e Copacabana (AM)_ também foram
                vistoriadas.
                 Os envolvidos nas buscas também procuravam indícios
                de que a Universal estaria omitindo à Receita valores de
                doações de fiéis.
                 O juiz Guilherme Calmon proibiu o fornecimento de informações
                sobre o processo.
                 Inquéritos 
                 A PF encaminhou ontem à superintendência do Rio
                solicitações da Procuradoria Geral da República
                para abertura de novos inquéritos contra dirigentes da
                Universal.
                 O procurador-geral da República, Geraldo Brindeiro,
                pediu os inquéritos com base em denúncias e fitas
                de vídeo apresentadas pelo pastor Carlos Magno Miranda.
                 
                 Colaborou a Sucursal de Brasília
              
              
               
              
              VELHOS PECADOS
               
              
              Publicado no Jornal Folha de São
                Paulo em 26/07/96
 
              
              A Prefeitura de São Paulo acaba de
                liberar R$ 800 mil como forma de subvenção à
                Associação Beneficente Cristã (ABC),
                instituição filantrópica ligada à
                Igreja Universal do Reino de Deus. De sua parte, o pastor
                Ronaldo Didini, um dos dirigentes da entidade, vem fazendo
                elogios aos programas do prefeito Paulo Maluf e expressa agora
                publicamente sua preferência pelo candidato da situação,
                Celso Pitta. Este, por sua vez, procura comparecer aos atos de
                distribuição de alimentos promovidos regularmente
                pela entidade.
                 Seria pouco realista acreditar que todas as ações
                destinadas a favorecer os candidatos a cargos eletivos, durante
                o período pré-eleitoral, viessem a primar pela
                transparência e pela correção. No afã
                de conquistar o maior número possível de votos,
                frequentemente produzem-se muitos pecados, sobretudo no uso da
                chamada máquina pública.
                 A reincidência pouco sutil em determinadas transgressões,
                entretanto, parece pressupor que a grande maioria dos eleitores
                é composta por otários incorrigíveis.
                 Considerando o grande número de adeptos que a igreja do
                bispo Edir Macedo vem angariando nos últimos anos em São
                Paulo, é absolutamente inevitável constatar que a
                liberação de verbas para grupos assistenciais como
                a ABC indica um cálculo eleitoral ostensivo, custeado, além
                de tudo, por dinheiro público. Trata-se de evidente
                oportunismo político, claramente voltado à
                finalidade de obter uma maior adesão dos evangélicos
                à candidatura do PPB.
                 Independentemente dos possíveis méritos do
                trabalho assistencial da instituição, esse aspecto
                meritório não afasta o inegável objetivo
                político da doação de verbas oficiais,
                feita a apenas dois meses da eleição.
                 Que não se acredite, pois, em meras coincidências.
                Manobras como essa são definitivamente inaceitáveis.
              
              
              
              
              
              
              
              
              Lobista diz que tentou comprar direitos
              autorais para a Universal
               
              
              Publicado no Jornal Folha de São
                Paulo em 12/01/96
 
              
              Autor: MARCELO RUBENS PAIVA; XICO SÁ
                Da Reportagem Local 
                 O lobista Gláucio Schmiegelow, 31, confirmou à
                Folha ter sido o intermediário na tentativa da Igreja
                Universal do Reino de Deus de comprar os direitos autorais do
                livro ''Nos bastidores do Reino'', do ex-pastor Mário
                Justino.
                 O livro acusa a igreja de ter montado uma estrutura para tirar
                dinheiro dos seus seguidores. ''Procurei a editora para fazer o
                negócio e engavetar o livro'', disse ontem o lobista.
                 O editor Luiz Fernando Emediato, dono da editora ''Geração'',
                confirma ter sido procurado por Schmiegelow, que chegou a
                oferecer US$ 1,5 milhão.
                 O editor do livro presta depoimento hoje às 14h na PF
                (Polícia Federal), em São Paulo. No dia 16 de
                novembro passado, assim que o livro foi publicado, ele recebeu a
                visita de Schmiegelow.
                 Segundo Emediato, o lobista disse que representava um empresário
                de Brasília que queria impedir que o livro circulasse.
                Seria uma forma de retribuir uma ''graça'' alcançada
                na Universal.
                 Como o negócio não teve êxito, a direção
                da igreja então recorreu à Justiça e
                conseguiu uma medida liminar que proibiu a venda do livro,
                conforme relata o lobista.
                 No dia em que recebeu a proposta, Emediato acabou seguindo no
                carro de Schmiegelow até o Conjunto Nacional, na avenida
                Paulista, onde foi apresentado ao empresário Luiz
                Federico Raijas.
                 A proposta foi feita mais uma vez a Emediato e Raijas se
                ofereceu para cuidar do autor no Brasil _Justino mora em Nova
                York e é portador do vírus da Aids. Emediato
                chegou a ligar para o autor, que rejeitou a proposta.
                 O lobista relata que entrou na operação em
                outubro, quando foi procurado por Maria de Almeida Gontijo, que
                dirige a LM, holding dos negócios da Universal.
                 Schmiegelow se sente enganado pela LM, de quem não
                recebeu ''nenhum centavo''. Além da tentativa de barrar o
                livro, ele disse que chegou a planejar operações
                financeiras para a holding.
                 Schmiegelow não apresentou documentos sobre estas operações,
                mas afirmou que estava disposto a ajudar a PF com depoimentos.
                 ''Não conheço este senhor. Muita gente vai na LM,
                recebemos muitos telefonemas, e qualquer pessoa pode mentir, e
                dizer que trabalha para nós'' disse Maria de Almeida.
                ''Ele que apresente provas. A imprensa tem de ser mais
                prudente.''
 
              
              UNIVERSAL
               
              
              Publicado no Jornal Folha de São
                Paulo em 12/01/96
 
              
              
                 Editoria: BRASIL Página: 1-4
                 Edição: São Paulo Jan 12, 1996
                 Assuntos Principais: RECIFE /PE/; IGREJA UNIVERSAL
              
              
              UNIVERSAL - O pastor dissidente Carlos
                Magno de Miranda manteve ontem as acusações contra
                a Igreja Universal do Reino de Deus em depoimento à Polícia
                Federal, em Recife (PE). Miranda sustentou a versão de
                que pastores da igreja teriam recebido US$ 1 milhão de um
                ex-traficante de drogas na Colômbia para a compra da TV
                Record. A igreja nega as acusações. O pastor disse
                que apresentará duas novas testemunhas da suposta operação
                em Bogotá ''no momento em que julgar necessário'':
                ''Elas sabiam o motivo real da viagem''.
              
              
              
              
              
              'Bilhete' da Universal custa mais que ônibus
              comum
               
              
              Publicado no Jornal Folha de São
                Paulo em 08/01/96
 
              
              Autor: GEORGE ALONSO; LUCIO VAZ Da
                Reportagem Local e da Sucursal de Brasília 
                 Nada é de graça na Igreja Universal do Reino de
                Deus: R$ 2 foi o preço que cada fiel pagou para ir de ônibus
                fretado pela igreja às manifestações em São
                Paulo e Brasília. A passagem de ônibus custa R$
                0,65 na capital paulista. No Distrito Federal, a viagem mais
                cara custa R$ 0,95.
                 Os fiéis pagaram e ainda levaram, ao Vale do Anhangabaú
                (centro de São Paulo), a faixa ''Ninguém pode
                dizer o que fazemos com o nosso dinheiro''. Mas, no caminho,
                muitos foram alvo de ironias de pedestres.
                 ''Onde essa gente vai? Ainda se fosse para construir casas'',
                gritou um homem em um bar próximo à av. 23 de
                Maio. Uma senhora evangélica, que ouviu a provocação,
                riu. Outro pedestre, no ponto de ônibus, disparou: ''Dá
                os 10% pra mim''.
                 Quase na esquina da rua Líbero Badaró, vizinha ao
                vale, uma loja de discos aproveitou a passagem dos fiéis,
                com bandeirinhas da Universal, e tocou o sucesso carnavalesco
                ''Xô Satanás'', sátira aos evangélicos.
                 Os fiéis não reagiram nem quando, ao ''lê-leleô,
                leleô, Jesus!'', um grupo de pessoas no Viaduto do Chá
                completou ''Corinthians, Corinthians!''.
                 Nos templos, os pastores orientaram os fiéis para não
                falar de doações, do vídeo veiculado na
                Rede Globo e não aceitar possíveis ''provocações''
                de ''infiltrados'' pela Rede Globo.
                 No templo em Ceilândia (cidade-satélite de Brasília),
                nos preparativos da ida à Esplanada dos Ministérios,
                o
                 Marcelo Santos alertou 400 fiéis.
                 ''Vamos ficar atentos. A Globo pode infiltrar gente para
                tumultuar. Eles querem passar a imagem de que somos violentos. Não
                aceite provocações'', disse.
                 Ele afirmou ainda que obreiros estariam com câmeras de vídeo
                e que os fiéis deveriam apontar suspeitos para que fossem
                filmados. Pediu também que evitassem repórteres.
                 Em São Paulo, ônibus levavam faixas contra a Rede
                Globo (''TV Globo, nada a ver''). No Anhangabaú, surgiu
                outro apelo, político, em faixa: ''O povo evangélico
                confia em FHC''.
                 Em Ceilândia, faltou dinheiro, segundo Santos, para pagar
                35 ônibus fretados por R$ 2,6 mil. Ele organizou uma
                coleta.
                 ''Temos só R$ 1,4 mil. Quem puder dar R$ 1, dá.
                Quem tem prosperado, com a ajuda de Deus, pode dar R$ 50, R$
                100. Vamos colocar ali, em cima da Bíblia'', pediu. A
                maioria contribuiu com notas de R$ 1.
                 Tanto em São Paulo como em Brasília, os
                seguidores da Universal cantaram hinos religiosos no trajeto até
                os locais dos atos.
                 Anonimamente, a Folha foi aos atos em Brasília e São
                Paulo nos ônibus da Universal.
                 A expectativa da Universal de reunir 850 mil fiéis em
                todo o país não se confirmou. Em São Paulo,
                eram esperadas 300 mil pessoas. Segundo a Polícia
                Militar, foram 80 mil. Em Brasília, foram 5.000 e, no
                Rio, 15 mil, sempre de acordo com a PM.
                 (George Alonso e Lucio Vaz)
              
              
              
              
              
              Dízimo é de Deus, diz teórico
              da Universal
               
              
              Publicado no Jornal Folha de São
                Paulo em 07/01/96
 
              
              Autor: FERNANDO MOLICA Da Sucursal do Rio
                 Pastor, teólogo e diretor do jornal ''Folha Universal'',
                J. Cabral, 47, afirma que a Igreja Universal do Reino Deus não
                separa ''dualisticamente o material do espiritual'', porque o
                ser humano é ''uno e indivisível''.
                 Sobre a ênfase da igreja na coleta de dinheiro, o pastor
                sustenta que ''o dízimo não é uma cota, é
                uma idéia, uma mensagem de Deus''.
                 Responsável pelas publicações da Igreja
                Universal e diretor do Iburd (Instituto Bíblico Universal
                do Reino de Deus, que atua na formação dos
                pastores), Cabral concedeu uma entrevista por escrito à
                Folha. Leia os principais trechos:
                 
                 Folha - Como o sr. explicaria a introdução, nos
                cultos da Igreja Universal, de manifestações
                estranhas à tradição evangélica como
                as 'correntes' e o reconhecimento de poderes em óleos e
                fitinhas?
                 J. Cabral - Não nos orientamos por uma tradição
                evangélica européia ou americana. Partimos da fé,
                dos princípios e da prática religiosa do povo.
                 Folha - O recurso a essas práticas não seria
                apenas uma forma de se conseguir uma maior identificação
                com a população?
                 Cabral - A Igreja Universal do Reino de Deus é filha do
                povo; por isso, não precisa usar recursos para se
                identificar.
                 Folha - Alguns estudiosos, ao abordarem a Universal, falam em
                ''Teologia da Prosperidade''.
                 Cabral - Pregamos a prosperidade, a cura divina, a libertação
                do sofrimento, a conversão, a transformação
                de vidas, a renovação do caráter e a
                plenitude do Reino de Deus. Não podemos ser identificados
                apenas por uma abordagem da nossa pregação.
                 Folha - A Igreja Universal não tende a valorizar em
                excesso os bens materiais em detrimento dos valores espirituais?
                 Cabral - Cremos que o ser humano é uno e indivisível.
                Não separamos dualisticamente o material do espiritual.
                 Folha - Como o srs. justificam a ênfase na coleta de
                dinheiro, que muitas vezes ultrapassa a cota bíblica do dízimo?
                É justificável biblicamente anunciar que as graças
                recebidas serão proporcionais às doações?
                 Cabral - O dízimo não é uma cota, é
                uma idéia, uma mensagem de Deus nos dizendo que o que
                temos e somos é dele. Não pregamos que as graças
                recebidas são proporcionais às doações.
                Não seriam então graças.
                 (Fernando Molica)
 
              
              
              
              
              Procuradoria da Paraíba pede inquérito
              policial contra a igreja
               
              
              Publicado no Jornal Folha de São
                Paulo em 06/01/96
 
              
              
                 A Procuradoria
                Geral de Justiça da Paraíba decidiu ontem pedir à
                Secretaria de Segurança Pública do Estado a
                abertura de inquérito policial contra a Igreja Universal.
                 A Procuradoria quer que a polícia investigue acusações
                de charlatanismo, estelionato, curandeirismo e extorsão
                feitas contra a igreja pelo Sindicato dos Administradores de
                Empresas da Paraíba.
                 O procurador Marcos Navarro disse ontem que na próxima
                segunda-feira vai pessoalmente entregar ao secretário de
                Segurança, Pedro Adelson Guedes dos Santos, um ofício
                formalizando o pedido de inquérito policial.
                 A Agência Folha não conseguiu falar ontem à
                tarde com a direção da Igreja Universal na Paraíba.
                O coordenador estadual da igreja, pastor José Aparecido
                Pereira, não quis atender telefonema dado às 14h30
                (15h30 em Brasília) pela Agência Folha. Ele mandou
                avisar que estava atendendo um homem.
                 A Agência Folha voltou a telefonar às 15h05 e foi
                informada que Pereira não estava na igreja.
                 A Polícia Federal encaminhou ontem para as superintendências
                regionais de Pernambuco e São Paulo cartas precatórias
                para que sejam ouvidas testemunhas relacionadas ao inquérito
                que apura supostos crimes fiscais e financeiros cometidos por
                dirigentes da Igreja Universal.
                 Em Pernambuco será ouvido o pastor Carlos Magno de
                Miranda. Em São Paulo, a Polícia Federal irá
                ouvir a advogada Maria de Almeida Gontijo, dirigente de empresas
                ligadas à Universal.
              
              
              
              
              
              
                
              
              Publicado
                  no Jornal Folha de São Paulo em 06/01/96
              
              
              Autor:
                  FÁBIO GUIBU Da Agência Folha, em Recife
                   O pastor dissidente Carlos Magno de Miranda disse ontem à
                  Agência Folha que o deputado federal Laprovita Vieira
                  (PPB-RJ) consta como o único comprador da Rede Record
                  em contratos assinados no dia 8 de novembro de 89.
                   Os documentos estão guardados em uma pasta laranja com
                  a inscrição do departamento jurídico do
                  SBT, emissora que pertence aos antigos donos da Record.
                   A Agência Folha teve acesso aos papéis. Além
                  de quatro contratos, constam do dossiê 23 recibos de
                  parcelas do sinal de US$ 15 milhões supostamente pago
                  pelo deputado aos ex-proprietários da Rede Record, além
                  de comissões de venda.
                   Os contratos referem-se à venda da Rádio Record
                  de São Paulo, das TVs Record de Franca e de Ribeirão
                  Preto e da Colonial Administração e Imóveis
                  Ltda.
                   O grupo teria sido vendido por US$ 45 milhões. Parte
                  desse dinheiro, disse o teria sido obtido com um ex-traficante
                  de drogas colombiano. A Igreja Universal nega a denúncia,
                  que está sendo investigada pela polícia.
                   Carlos Magno disse que o bispo Edir Macedo costuma usar nomes
                  de terceiros em contratos da Universal.
                   Laprovita Vieira confirmou que assinou o contrato da TV
                  Record como único comprador. Segundo ele, essa foi uma
                  decisão da cúpula da Igreja Universal.
                   Ele disse que não é mais formalmente o dono da
                  empresa, que teria sido revendida a Macedo.
                   
                   Colaborou a Sucursal do Rio
              
              
              
               
              
              Publicado
                  no Jornal Folha de São Paulo em 03/01/96
              
              
              Autor:
                  AZIZ FILHO Da Sucursal do Rio
                   A divulgação de fitas de vídeo com cenas
                  dos pastores da Igreja Universal do Reino de Deus não
                  deverá ter efeito negativo no crescimento da igreja no
                  país.
                   Além de os fiéis estarem há muito
                  ''prevenidos contra a imprensa'', a igreja intensificou a
                  estratégia de desvincular sua imagem das figuras dos
                  pastores e do bispo Edir Macedo.
                   A análise é da socióloga Maria das Dores
                  Campos Machado, 39, cuja tese de doutorado "Adesão
                  Religiosa e seus Efeitos na Esfera Privada'' foi considerada o
                  melhor trabalho de 1995 pela Associação Nacional
                  de Pós-Graduação e Pesquisa em Ciências
                  Sociais.
                   ''Não acho que isso faça os fiéis
                  recuarem. Eles vêem isso como uma perseguição,
                  presente na história da consolidação de
                  todas as religiões'', diz a socióloga.
                   Para Maria das Dores, a idéia de perseguição
                  une os fiéis. A desvinculação da imagem
                  do bispo foi intensificada, segundo ela, quando Macedo esteve
                  na prisão, em 1992, acusado de enriquecimento ilícito.
                  ''Frequentei cultos na época e não se fazia menção
                  a isso.''
                   O episódio das fitas serviu também para
                  demonstrar a força que o bispo Edir Macedo tem no meio
                  evangélico.
                   O Bispo macedo Não é um pastor comum, disputa a
                  hegemonia está solitário na luta'', disse a socióloga,
                  que ouviu 120 pessoas em sua tese, iniciada em 1990.
                   (Aziz Filho)
              
              
              Vasectomia
                  é exigida, diz Pastor
              
              
              Publicado
                  no Jornal Folha de São Paulo em 02/01/96
              
              
              
                   Reino de Deus de
                  obrigar os seus pastores a se submeter à cirgurgia de
                  vasectomia.
                   A acusação consta de processo que corre na 11ª
                  Vara Cível da Justiça do Rio. Na ação,
                  o ex- Universal no início de 95, após trabalhar
                  na igreja durante 14 anos.
                   O objetivo da vasectomia seria, segundo Almeida, o de evitar
                  que os pastores se envolvessem em escândalos sexuais.
                  Haveria ainda a intenção de reduzir gastos com o
                  sustento das famílias dos pastores.
                   Almeida afirma que foi expulso da Universal porque não
                  estaria alcançando a meta de arrecadar R$ 60 mil por mês
                  no templo onde atuava, no Rio.
                   Em sua defesa, a Universal afirma que Almeida foi expulso
                  porque teria cometido adultério.
                   O bispo Carlos Rodrigues, de Minas Gerais, diz que convidará
                  a ex-mulher de Almeida para gravar um depoimento no programa "25º
                  Hora", da TV Record.
                   Segundo Rodrigues não há nenhuma norma da
                  igreja que obrigue todo pastor a fazer vasectomia. Ele
                  acrescenta que, na época, foi informado por Almeida que
                  a cirurgia havia sido realizada por recomendação
                  médica.
              
              
              
               
              
              Publicado
                  no Jornal Folha de São Paulo em 02/01/96
              
              
              Três
                  membros da Igreja Universal do templo de Botafogo (zona sul do
                  Rio) foram indiciados sob acusação de terem
                  agredido no dia 31 o fotógrafo André Felipe
                  Vieira, 24, da revista ''Manchete''.
                   Jonas Luis Querup, Márcio Rodrigues e Marco Antônio
                  Crespi, todos obreiros da igreja, teriam agredido o fotógrafo
                  dentro do templo e quebrado sua máquina.
                   Vieira também foi indiciado sob acusação
                  de agressão, por ter reagido quando seu equipamento foi
                  quebrado. Foi submetido a um exame de corpo de delito, que
                  registrou hematomas nos braços, barriga, e um corte no
                  lábio.
                   O tumulto começou às 20h. Vieira chegou ao
                  templo para cobrir a vigília que os fiéis fariam
                  na virada do ano. Querup tentou impedi-lo de fotografar.
                   Segundo Vieira, Rodrigues e Crespi chegaram logo depois e um
                  grupo de fiéis começou a cercá-lo e a
                  xingá-lo. Depois disso, o fotógrafo disse que
                  foi agredido e arrastado para fora da igreja.
                   O pastor do templo que se identificou apenas como Mauro
                  Vieira quem começou a provocação. ''Ele
                  quis tirar fotos na marra, mas não houve nenhuma agressão
                  de alguém da Universal. Ele é que deu um soco
                  num homem que entrava na igreja com uma criança no
                  colo.''
 
              
              
               
              
              Publicado
                  no Jornal Folha de São Paulo em 02/01/96
              
              
              Autor:
                  ANA MARIA MANDIM Da Reportagem Local 
                   ''A grande 'sacada' da Igreja Universal é aliar o
                  conservadorismo político à liberalidade do ponto
                  de vista do comportamento, inclusive sexual'', diz o geógrafo
                  Gualberto Gouvêia, 36, autor da dissertação
                  ''A Cidadania dos Despossuídos, Segregação
                  e Pentecostalismo''.
                   Formado em geografia pela Pontifícia Universidade Católica
                  (PUC), Gouvêia fez o mestrado em geografia urbana na
                  Universidade de São Paulo (USP), onde apresentou a
                  dissertação. Atualmente, leciona geografia e
                  sociologia da Faculdade Capital, na Mooca (zona leste de São
                  Paulo).
                   Gouvêia atribui o crescimento das seitas conservadoras
                  na América Latina a um movimento estimulado pelo
                  governo norte-americano para enfrentar a ''Teologia da Libertação''
                  da Igreja Católica.
                   Liberalidade 
                   Segundo Gouvêia, a Universal é a igreja
                  neopentecostal mais aberta em relação a sexo,
                  embora rejeite o homossexualismo.
                   ''A Universal não prega a promiscuidade, mas, dentro
                  do casamento, tolera todo tipo de atividade sexual, inclusive
                  a sodomia.'' 
                   ''A Universal é a igreja dos prazeres'', define Gouvêia.
                  ''Os bispos chegam a sugerir que o marido dê um banho de
                  vinho na esposa antes de beijá-la, conforme os salmos
                  de Salomão.''
                   A Universal, segundo o geógrafo, não considera
                  pecado o sexo antes do casamento, quando se é jovem, e
                  não cerceia a mulher. ''Não é preciso
                  parar de cortar o cabelo ou deixar de se maquiar. Saia curta e
                  calça comprida não são proibidas.''
                   Gouvêia afirma que o inspirador do bispo Edir Macedo
                  foi o norte-americano Jerry Falwell, pastor da igreja batista,
                  em 1980 ele mudou-se para uma mansão12 quartos e
                  deixou-se fotografar de calção vermelho ao lado
                  de uma piscina, lendo a Bíblia. Ele dizia que o
                  dinheiro é um sinal da graça de Deus e, por
                  isso, bom.
                   Expansão 
                   O crescimento das seitas na América Latina, segundo
                  Gouvêia, originou-se em um relatório feito em
                  1969 por Nelson Rockfeller, secretário de Estado do
                  presidente americano Richard Nixon.
                   ''Após viajar pelo continente, Rockfeller aconselhou
                  seu governo a estimular igrejas e seitas conservadoras a
                  buscar fiéis na América Latina'', conta Gouvêia.
                   Rockfeller achava que a Igreja Católica, com sua
                  ''subversiva'' Teologia da Libertação, não
                  era mais um ''aliado confiável''.
                   Segundo Gouvêia, para apoiar a vinda de missionários
                  evangélicos, criou-se o Instituto sobre Religião
                  e Democracia, presidido por Jane Kirkpatrick, depois
                  embaixadora dos Estados Unidos na ONU.
                   ''O Missionary Information Bureau (Escritório de
                  Informação Missionária), que funcionou em
                  São Paulo, na rua 24 de Maio, centralizava a atuação
                  de 1.992 entidades evangélicas no Brasil.''
                   No Chile, segundo Gouvêia, as seitas apoiaram o golpe
                  de Estado contra o presidente Salvador Allende. Na Guatemala,
                  o general Efraín Ríos Montt, chefe do golpe de
                  1982, era líder da Igreja do Verbo, neopentecostal. No
                  Peru, as igrejas evangélicas ajudaram a eleger Alberto
                  Fujimori.
 
              
              
               
              
              Publicado
                  no Jornal Folha de São Paulo em 01/01/96
              
              
              Autor:
                  MARCELO BERABA
                   SÃO PAULO
                  _ Vamos distinguir três aspectos na questão da
                  Igreja Universal: o criminal, o jornalístico e o
                  religioso.
                   O aspecto religioso, se tratado sem hipocrisia, é o
                  mais simples. A Constituição assegura a
                  liberdade de crença e o livre exercício dos
                  cultos religiosos.
                   Quais são os senões religiosos feitos à
                  Igreja Universal? Seria uma igreja mercantilista, que promete
                  benefícios espirituais e materiais em troca de
                  contribuições financeiras e que explora a ignorância
                  do povo.
                   Bom, e que religião vive sem contribuições?
                  E que fiel não contribui para a expansão da sua
                  religião? E que religião não explora as
                  carências e a ignorância das pessoas?
                   Os pastores da Igreja Universal seriam criminosos porque
                  fazem contrabando, sonegam impostos, mantêm caixa dois,
                  têm ligações com o narcotráfico? É
                  possível que sim. A TV Record foi comprada
                  irregularmente? Idem.
                   A apuração desses crimes está nas mãos
                  da Polícia Federal, da Receita e da Procuradoria da República,
                  que deveriam estar sendo mais ágeis.
                   Os crimes denunciados são antigos e conhecidos. Alguns
                  já vêm sendo investigados há anos. Se
                  essas instituições fossem realmente sérias,
                  os resultados das investigações deveriam estar
                  concluídos há tempo e as fitas do pastor
                  dissidente.Sendo, no entanto, até este momento, as únicas
                  (e frágeis) peças acusatórias.
                   E há, por fim, a participação histérica
                  da imprensa.
                   De tempos em tempos assistimos a fenômenos como esse: a
                  imprensa perde suas referências, esquece os
                  procedimentos mínimos de investigação,
                  ignora a necessidade de se buscarem provas, dá como
                  verdade qualquer denúncia, priva os acusados do direito
                  de expor sua própria versão, manipula informações,
                  pré-julga, sataniza as pessoas e as expõe a
                  linchamento público.
                   Se olharmos a imprensa com perspectiva histórica,
                  verificamos que vem paulatinamente melhorando. É mais
                  precisa, imparcial e objetiva. Mas tem recaídas como
                  essa que a desmoralizam.
                   O problema dessa cobertura, em que as
                  informações são frequentemente
                  substituídas por versões e em que inexiste
                  compromisso com a verdade, é que a imprensa pode sair
                  mais desgastada do que a Igreja Universal.