Rituais de exorcismo, chamados de "sessões de descarrego", transformam-se em espetáculos para conquistar fiéis.
Alexandre Mansur e Luciana Vicária

Publicado na Revista Época - Edição 258 - 28.Abril.2003
Página 1: O exorcismo é a atração da noite
Página 2: O exorcismo é a atração da noite - continuação
Página 3: Apetrechos do culto
Página 4: A ciência dos transes

Página 1: O exorcismo é a atração da noite
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O exorcismo é a atração da noite

Humilhantes rituais para ganhar fiéis pela TV baseiam-se em técnicas conhecidas para produzir um transe.

Foto 1

CATARSE

Nas sessões de descarrego da Igreja Universal, o fiel em transe é levado ao púlpito. O pastor puxa o seguidor pelos cabelos e interroga o suposto espírito diante de uma platéia extasiada.

Em pleno horário nobre da televisão, demônios e almas de má índole estrelam uma estranha atração, com ares de reality show. O programa Coisas da Vida, apresentado diariamente às 20 horas pela Rede Gazeta para São Paulo, Recife, Florianópolis e Belo Horizonte, exibe cenas super-realistas captadas em cultos da Igreja Universal do Reino de Deus. Elas mostram fiéis pretensamente possuídos, submetidos a humilhantes rituais de exorcismo. O show é entremeado por histórias de ficção, protagonizadas por atores amadores, em que os personagens têm a vida infernizada por pragas rogadas por sogras, ex-namoradas e falsos amigos.

Dramas de toda sorte, martela o programa, são causados por "encostos", almas penadas que, segundo os ditames das religiões afro-brasileiras, têm o dom de entravar a vida das pessoas. Provocam de tudo: de dores de cabeça e crises de depressão a ataques de formigas na cozinha. Às vezes, a retórica fica ainda mais macabra. Em vez de encostos, exibe-se o que seria a manifestação do próprio demônio.

Num desses programas, o bispo da Igreja Universal Romualdo Panceiro interroga, no púlpito, uma fiel que se debate, como se estivesse possuída. Com voz rouca e enrolada, ela se identifica como um "mau espírito" a serviço de inimigos da pobre mulher. O bispo, então, a agarra, puxa seus cabelos, torce-lhe o braço e verga seus joelhos. No ponto alto da cena humilhante, Panceiro pergunta quais desgraças o anjo caído causa na vida daquela cristã. A voz gutural (som ou fonema modificado pela garganta) retruca:

- Deram um bode para mim matar ela. O marido dela já ficou sem as duas pernas. Ele tem que fumar maconha até morrer.

A câmera se aproxima.

- Eu quero deixar o filho dela morrer primeiro. É para fazer ela sofrer - completa a voz.

O bispo assegura-se de que a platéia extasiada da Catedral da Fé, maior templo da Universal em São Paulo, acompanhou o depoimento. Depois, encena a expulsão do espírito. Profere uma oração invocando o poder de Jesus e ordena que ele deixe o corpo sofredor. A fiel acorda do transe.

Encerrado o espetáculo, o mesmo bispo exorcista completa a pregação. Diz que dificuldades da vida de todo tipo são causadas por olho gordo ou feitiçaria materializados nos "encostos". E a única coisa a fazer é correr para um templo da Universal e submeter-se a um ritual de exorcismo - as "sessões de descarrego". Na sexta-feira 18, o programa se superou ao exibir o exorcismo de um jovem em conflito com sua sexualidade. Ao expulsar o "encosto", o bispo explicou que as inclinações gays do rapaz eram resultado de um "feitiço" encomendado por um homem que se apaixonara por ele. "Agora você pode engrossar sua voz. O encosto foi embora", disse.

Esses rituais são corriqueiros em cultos da Universal e de outras igrejas neopentecostais - aquelas que acreditam em manifestações sobrenaturais e em curas milagrosas. Mas, para não assustar, os líderes neopentecostais evitavam mostrar essas imagens na televisão. Quando muito, aventuravam-se nos horários da madrugada. A novidade é que, pela primeira vez, os exorcismos se transformam em instrumento de proselitismo eletrônico.

Reprodução de TV

MACABRO

A pretexto de combater "espíritos do mal", o programa Coisas da Vida exibe rituais de exorcismo que reproduzem transes da umbanda e do espiritismo.

Essa ofensiva no horário nobre é uma resposta da Igreja Universal ao crescimento de uma organização rival, a Igreja Internacional da Graça de Deus - cujo líder, o missionário R.R. Soares, tornou-se o homem que mais tempo se expõe na televisão brasileira. Os cultos televisivos de R.R. Soares são transmitidos em quatro redes de televisão e ocupam cerca de 100 horas semanais de programação da TV aberta. Até o início do ano, quem estava no horário do Coisas da Vida na Rede Gazeta era Soares - mas ele alugou o mesmo horário numa rede de alcance maior - a Bandeirantes -, onde apresenta hoje seu Show da Fé. Estima-se que pague R$ 2 milhões por mês à emissora. A igreja de Edir Macedo revidou. Comprou o horário da Rede Gazeta e passou a competir com ele.

Os cultos das duas denominações evangélicas são muito parecidos. Têm, aliás, a mesma origem. No fim dos anos 70, Macedo e Soares, que são cunhados, fundaram a Igreja Universal. Depois de uma briga, houve um cisma e o missionário criou uma igreja concorrente. Onipresente na televisão, Soares conquista espaço e audiência. Se a Igreja Universal, que comprou a Rede Record em 1991, tem 2,5 milhões de fiéis, calcula-se que a Igreja Internacional da Graça de Deus já reúna 500 mil deles.

R.R. Soares também promove sessões de exorcismo em seus templos, mas se abstém de exibi-las no vídeo. "Se eu pudesse, mostraria. Mas isso assusta o espectador", justifica.

Entre as denominações evangélicas do país, a Universal, a Graça de Deus e a Igreja Deus É Amor são as que mais exploram a prática do exorcismo nos cultos para captar fiéis. "Como a Deus É Amor não usa o espaço da TV e a Graça de Deus evita exibir tais cenas no vídeo, a Universal aposta sozinha na estratégia de caçar encostos", diz Ricardo Mariano, sociólogo da PUC do Rio Grande do Sul e especialista em religiões neopentecostais. A audiência auferida pelo Ibope mostra que a estratégia de R.R. Soares atrai mais audiência. O Show da Fé, visto por 72 mil domicílios na Grande São Paulo, alcançou 1,6 ponto no Ibope no mês passado, três vezes mais que o Coisas da Vida, da Universal, com seus rituais explícitos de exorcismo.

Igrejas de massa precisam dominar a televisão para sobreviver. Programas de rádio e televisão religiosos não atraem receita publicitária, mas não há modo melhor de chamar fiéis para os templos - o verdadeiro celeiro de ofertas. Oito em cada dez fiéis que chegam a um templo de Edir Macedo foram cativados pela pregação no vídeo. A cada minuto, o programa da Universal exibe o telefone do SOS Espiritual, que fornece o endereço da igreja mais próxima do espectador. 'A TV é vital para garantir que o crente vá a um templo e lá entregue dízimos e ofertas', diz Regina Novaes, pesquisadora do Instituto de Estudos da Religião (Iser).

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SUPERSTIÇÃO

Oliveira participa de sessões de descarrego quase toda semana. "A reza da Universal é mais forte", diz.

Ainda que impressionem à primeira vista, os transes testemunhados nos templos e nas TVs da Igreja Universal recorrem a truques conhecidos. A começar por uma mensagem sedutora: o pastor diz que o fiel é uma boa pessoa e todo o mal que ele faz ou sofre é causado por um espírito maligno. Quem vive dramas insuperáveis se entrega facilmente à fantasia.

"As pessoas são sugestionadas pela voz autoritária do pastor até atingirem uma espécie de estado hipnótico", diz a psicóloga paulista Denise Ramos. A repetição das orações em voz alta, de olhos fechados, conhecida pela medicina como respiração holotrópica, produz um fenômeno de superoxigenação no cérebro. O resultado é um rebaixamento dos níveis de consciência. Quem está no meio de um agrupamento tomado pela euforia tende a se deixar contaminar pela emoção. Há um mecanismo do sistema límbico do cérebro, o mais básico da área nervosa, que induz a pessoa a se comportar segundo as atitudes da multidão que a cerca. "É por isso que choramos em comícios ao ouvir o Hino Nacional", compara Denise Ramos.

A gritaria dos milhares de fiéis que participam das sessões de descarrego contagia quem está lá carregando conflitos psicológicos. "O povão não tem acesso à psicanálise. As pessoas procuram esses cultos populares para aplacar seu inferno interior", diz o pastor Mozart Noronha, da Igreja Luterana do Brasil. Pastores e seus auxiliares, chamados de obreiros, aprendem a induzir o transe. "Quando a pessoa está tonta, fica mais aberta para manifestar os demônios", diz a obreira Aparecida Santos, ex-fiel da Igreja Universal, atualmente na Igreja Internacional da Graça de Deus. Ela costuma pôr a mão na cabeça dos fiéis e fazê-la rodar.

Outro recurso que funciona é tocar músicas altas no teclado, com acordes bem tenebrosos. "Porque o demônio não gosta de silêncio", explica a obreira. Aparecida aprendeu as técnicas do exorcismo na Universal, onde passou cinco anos como auxiliar de pastores. Está convencida de que as cenas na igreja são manifestações reais de entidades do mal. "O diabo está lá mesmo", afirma. Só discorda dos métodos de sua ex-igreja. "A Universal expõe muito a privacidade da pessoa." Nos cultos dos quais participa hoje, Aparecida identifica quem está possesso e o encaminha a um canto da igreja.

A Igreja Católica vê as aparições de diabos e semelhantes nos cultos neopentecostais como fraude grosseira. "É como se fosse um show em que os pastores exibem o diabo subjugado como se fosse um animal na jaula", diz o padre Cleodon de Lima, de 36 anos. "Se a intenção fosse curar a pessoa, não precisaria mantê-la tanto tempo diante da platéia, sendo ridicularizada. Até o século XIX, crises histéricas ou casos de dupla personalidade eram interpretados por padres católicos como possessões demoníacas. Com o avanço da ciência, varreu-se o obscurantismo. Na década de 60, o Concílio Vaticano II decretou que apenas alguns sacerdotes, nomeados pela Igreja, poderiam expulsar demônios. Para regulamentar os rituais quase clandestinos, o papa lançou em 2000 um manual oficial de exorcismo. Fez questão de destacar que casos suspeitos devem ser encaminhados primeiro a um psiquiatra.

O MISSIONÁRIO

Presente em quatro canais da TV aberta, R.R. Soares evita mostrar exorcismos. Seus programas são mais leves, com pregações e depoimentos de fiéis.

As igrejas evangélicas tradicionais se constrangem com o espetáculo das neopentecostais. "A mesma cultura do medo que enche os filmes de terror no cinema também funciona para lotar as igrejas", compara o pastor luterano Mozart. Os religiosos criticam a obsessão da Universal pelos atos do demônio e a acusam de deixar Deus em segundo plano. "A Bíblia diz que Jesus até expulsou alguns demônios, mas nunca fez disso seu ministério", afirma o pastor Israel Belo de Azevedo, reitor do Seminário Teológico Batista. Muitos evangélicos tampouco acreditam que a presença satânica seja corriqueira como prega a Universal. "O diabo não fica roubando o marido de umas pessoas ou o emprego de outras", ironiza o pastor Ariovaldo Ramos, da Associação Evangélica Brasileira. Boa parte dos frequentadores da Universal já recorreu a tendas de umbanda ou centros espíritas, onde conheceu o mundo dos transes e das incorporações.

Curiosamente, a Universal buscou inspiração nas religiões afro-brasileiras para apimentar seus cultos. Edir Macedo, que foi umbandista, adaptou os rituais do terreiro. Os gestos no descarrego copiam a coreografia dos incorporados em tendas. Os demônios que os pastores combatem e exorcizam confundem-se com as entidades da umbanda, como Zé Pelintra, Pomba-Gira ou Tranca-Ruas. Os objetos mágicos oferecidos também foram retirados dos terreiros - leia detalhes no quadro.

Arruda com sal grosso são usados para espantar mau-olhado. Alguns pastores adotam o branco, reproduzindo a vestimenta dos pais-de-santo. "São elementos estranhos ao cristianismo", diz o pesquisador Leonildo Campos, da Universidade Metodista de São Paulo. "A Universal se aproximou tanto da umbanda que precisa mover uma cruzada contra as religiões afro-brasileiras para se diferenciar", afirma. Mesmo para quem freqüenta os terreiros, a apropriação é esdrúxula. "Em vez de afastar os demônios, a encenação acaba atraindo-os", acredita a terapeuta holística Joelma Rodrigues, de 33 anos, que até os 12 era fiel da Assembléia de Deus e hoje é umbandista.

O teatro da possessão demoníaca é eficiente também porque é divertido. O paulistano Eduardo Oliveira, de 28 anos, tornou-se figura conhecida no palco da Catedral da Fé, megatemplo da Igreja Universal. Incorpora encostos e demônios quase toda semana. "Não tenho culpa, sou mais sensível que os outros e me entrego com mais facilidade", explica. Oliveira foi batizado na Igreja Católica. Há pouco mais de um ano, abalado pela perda do emprego e pelo fim de um antigo namoro, foi atraído por um programa de TV da Igreja Universal. "Já experimentei outras ä igrejas, mas, em matéria de libertação, não existe melhor que a Universal: a reza é forte e específica." Oliveira fecha os olhos, une e aperta as mãos contra o peito. Começa a rezar em voz alta. Um obreiro atento aos fiéis mais exaltados se aproxima. "Eu ordeno, se manifeste", diz o obreiro, fazendo movimentos circulares com a cabeça do fiel. Oliveira se joga no chão e começa a se debater. "Minha perna fica bamba, meus braços amolecem, quando dou por mim estou no altar", diz.

Na guerra aos encostos, os pastores da Universal pegam carona no trabalho catequizador da própria Igreja Católica brasileira, que durante séculos trabalhou para associar as religiões africanas trazidas pelos escravos a práticas abomináveis de magia negra. Agora isso está enraizado no imaginário popular nacional, que tem uma relação ambígua com essas tradições africanas. Ao apelar para essa velha briga, Edir Macedo retoma a retórica dos anos 70, quando fundou sua igreja. É um reposicionamento do líder neopentecostal desde a malsucedida empreitada contra os católicos, na década de 90. Quando o bispo Sérgio Von Helde, da Universal, chutou uma imagem de Nossa Senhora Aparecida, em 1995, as críticas vieram dos próprios fiéis de Macedo. Afinal, 70% deles convivem bem com o catolicismo, segundo uma pesquisa do Iser. O mesmo estudo mostra que 90% dos pentecostais associam as religiões afro-brasileiras ao demônio. "Vemos um exército evangélico atacando de forma sistemática comunidades afro-brasileiras, que nem têm como se defender", aponta a pesquisadora Mariza Soares, da Universidade Federal Fluminense.

EXPOSIÇÃO

Os fiéis não podem ser ridicularizados, diz o padre Cleodon, ex-evangélico.

O apelo do demônio é forte porque atende a uma grande camada da população que vive imersa em superstições. O neopentecostalismo se desenvolve nos extratos mais pobres da população. Pesquisas revelam que um terço dos fiéis sobrevive com menos de dois salários mínimos, 68% não passaram do ensino fundamental e um em cada dez é analfabeto. Em geral, acreditam em magia negra e forças ocultas. "O povo acha que o demônio está por aí, agindo através dos incautos", diz a antropóloga Regina Novaes, do Iser.

Jogar a culpa por tudo que há de errado no demônio é uma solução confortável para quem busca alívio nos cultos. As conseqüências podem ser perigosas. "A pessoa sai da igreja acreditando que não tem responsabilidade moral pelos erros que comete", diz o pastor evangélico Ariovaldo Ramos. O crente também fica convencido de que possui uma personalidade frágil e influenciável. "Ele está pronto para ser manipulado por qualquer líder espiritual que se apresente como solução. Escapa dos vícios para virar escravo desses pregadores", acusa.

O TEATRO DA POSSESSÃO

Como os pastores empregam técnicas e truques para induzir o fiel a entrar em transe nas sessões de exorcismo.

TRILHA SONORA

O tecladista executa melodias leves nos momentos de alusão a bênçãos divinas. Mas, quando o pastor menciona as ações do demônio e de espíritos malignos, ouve-se uma sucessão de acordes pesados, que lembram filmes de terror.

ILUMINAÇÃO

Em alguns cultos realizados à noite, os pastores apagam as luzes principais da igreja. Envoltos na penumbra, os fiéis ficam mais sugestionáveis. Os pastores também pedem às pessoas que fechem os olhos.

ROTEIRO

Para evocar os demônios, os pastores fazem orações repetitivas. A mente humana tende a aceitar como verdadeiras as frases proferidas sucessivamente, em tom de autoridade e num ambiente emocional.

COREOGRAFIA

Os obreiros apertam e balançam a cabeça ou o corpo do fiel em movimentos circulares. A tontura e a falta de apoio no chão são fatores que induzem o transe.

FIGURAÇÃO

O burburinho das pessoas rezando e gritando rebaixa os níveis de consciência de fiéis suscetíveis. Quem está no meio de uma multidão é influenciado pelas emoções dos indivíduos ao redor.

ADEREÇOS

As igrejas usam símbolos que tocam as emoções dos fiéis. Os pastores incentivam-nos a trazer objetos de valor emotivo como fotografias de parentes, currículos impressos e carteira de trabalho para ser abençoados.

SONOPLASTIA

Em algumas igrejas, junto com a música, são reproduzidas gravações de gritos e sons de assombração. Esses ruídos estimulam o inconsciente das pessoas em transe a considerar real aquela manifestação

Página 3: Apetrechos do culto

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Apetrechos do culto

Objetos mágicos que embalam as "sessões de descarrego". Para apimentar os cultos de exorcismo, os pastores da Universal distribuem objetos com supostos poderes. Para consegui-los, o fiel vai ao altar e promete fazer ofertas generosas.

PEDRAS

Não é só com reza que se atacam encostos. Os fiéis recebem pedras para jogar em Golias, um boneco gigante que ocupa o altar da Catedral da Fé, em São Paulo - esclarecimento: isso é uma alusão à passagem bíblica em que o Davi derrotou o gigante Golias com uma pedra arremessada por uma funda - funda é uma arma de arremesso de projéteis, consistindo em um pedaço de couro e duas cordas.

LIMPEZA

Sabonete de arruda é a promessa do pastor para livrar o corpo de impurezas. O suvenir é distribuído no ritual de descarrego.

ÓLEO

O frasco com azeite bento é agitado para afastar "maus-olhados".

PROTEÇÃO

O sal, que vem em pratos plásticos, é usado para "purificar" o local de trabalho e o lar.

DÍZIMO

Fiéis pegam o envelope vazio e têm de devolvê-lo cheio na semana seguinte. Exigem-se pelo menos R$ 30 por mês.

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A ciência dos transes

Como a psicanálise e a antropologia desvendaram os mecanismos que alimentam as possessões.

Transes religiosos são registrados desde a Grécia antiga, quando sacerdotisas diziam receber espíritos em rituais inspirados por música e vinho. Mas essas manifestações só começaram a ser desvendadas pela ciência no fim do século XIX, com o surgimento dos primeiros estudos em psicologia.

Em 1862, o neurologista francês Jean-Martin Charcot (1825-1893) instalou-se no Hospital Salpêtrière, em Paris, convencido de que as visões de espíritos vivenciadas por alguns pacientes eram causadas por males do sistema nervoso. Para tratá-los, aperfeiçoou a técnica de induzir a pessoa ao estado de transe por meio de hipnose. Os recursos empregados, baseados na repetição de luzes ou sons, desmontaram a aura sobrenatural que cercava as possessões.

Um de seus alunos, Sigmund Freud, também se interessou pela hipnose. Mas foi o suíço Carl Jung quem se dedicou a teorizar de onde vêm os 'maus espíritos' que atormentam as pessoas. Segundo ele, essas figuras aterrorizantes são imagens gravadas coletivamente na mente humana. Batizados de arquétipos, acompanham a humanidade há milhares de anos.

"O diabo, que os fiéis da Universal acreditam incorporar, é uma dessas imagens e representa forças destrutivas dentro da própria pessoa", diz a psicanalista Aurea Roitman. "Já o chifre e o rabo são adereços acrescentados pelo imaginário ristão."

Enquanto os fundadores da psicologia descreveram como se induz um transe, foram os antropólogos que teorizaram sobre a função das possessões e dos exorcismos. Os missionários religiosos e médicos que viajaram para a África ou investigaram territórios dominados pelos índios nas Américas ficaram fascinados pelas cerimônias dirigidas para que alguns participantes recebessem os espíritos.

A partir dessas narrativas, o filósofo francês Emile Durkheim (1858-1917), um dos fundadores da sociologia, foi um dos primeiros a teorizar sobre a função dos transes. Analisou em 1912 o papel do descarrego primitivo para garantir a unidade da tribo. "Os exorcismos têm a função de provar a existência de um agente sobrenatural capaz de punir os delinqüentes, por mais poderosos que sejam", explica o antropólogo Scott Atran, da Universidade de Michigan.

Dízimo move a máquina

Publicado no Jornal Provincia da Bahia

Original em http://www.provinciadabahia.com.br/27/iurd3.html

Fernanda Alamino e Saara Brito

Especial para a Província

"Se vocês não contribuem, não podem reclamar do que acontece. Se você dá o dizimo, tem o direito de exigir de Deus" discursa o bispo Milton para a multidão atenta. O dizimo, contribuição referente a 10% da renda do fiel, é um tema exaustivamente explorado durante as duas horas de pregação. Muitos trechos da bíblia são lidos e discutidos para justificar a cobrança. Nesse momento a tarefa do bispo é colocar a Iurd na posição de vítima da sociedade, além de explicar que para a igreja continuar funcionando alguém precisa pagar as contas, faxineiros, seguranças, o estúdio. A moradia e salários dos bispos não são mencionados nessa listagem.

Para arrecadar o dizimo são distribuídos envelopes em forma de balaio, nos quais os fiéis depositam suas contribuições. De mês em mês os envelopes são recolhidos e novos são entregues. A Iurd também distribui e recolhe envelopes para pedidos de oração. Dentro, há um papel em forma de folha de cheque, no qual o fiel escreve o pedido, assina seu nome e, a depender, indica o valor de sua contribuição.

São duas folhas diferentes: branca com letras azuis para doar R$10,00 e branca com letras cinzas para R$ 50 ou R$100. Neste caso, existem dois espaços indicando o valor e o fiel marca o quadradinho correspondente à quantia da sua doação. Mais do que identificar pessoas e pedidos de oração, essa prática permite que as doações sejam reconhecidas legalmente, já que mostra os valores doados, detalhando a origem do dinheiro.

Para garantir essa fonte de renda, o bispo está sempre lembrando aos dizimistas do seu compromisso com a obra de Deus. Os fiéis são convencidos de que ao começar a doar não podem mais deixar de fazê-lo, pois "o dinheiro não pertence mais a você, pertence a Deus, e deve ser entregue não ao mendigo na rua, mas para a obra do Senhor", explica o bispo para a platéia.

Existe uma ordem pré-estabelecida para arrecadar as doações. Primeiro são chamados à frente os dizimistas, com seus envelopes-balaios prontos para serem entregues aos pastores e auxiliares. Em seguida, os portadores de envelopes para R$ 50 ou R$ 100 fazem sua doação, gesto repetido por aqueles que trazem envelopes de R$10.

Em todos os casos o bispo dá um presente em troca: pequenos livros evangélicos cujo número de páginas varia com o valor doado. Em seguida o bispo oferece à platéia o Jornal Universal, sempre comprado previamente por alguém que, para ajudar a obra de Deus, deixou os exemplares para serem revendidos a R$1,00 durante a reunião. Para aquele que não contribui nem compra o jornal, o bispo aconselha: "Em vez de comer acarajé na rua, de comprar um refrigerante, guarde o seu um real e traga para cá". Nas dependências da catedral existem uma lanchonete e uma loja de artigos evangélicos, cujos lucros complementam a renda da igreja.

O dizimo é um dos pontos mais criticados na Iurd. Seus dirigentes têm consciência disso. Para combater as críticas, os bispos massificam explicações sobre essas cobranças. As justificativas vão desde a satisfação dos próprios fieis ("Vocês gostam de ar condicionado, não é? Foi o dinheiro do dizimo que pagou") até a sedução pela fé ("Está na bíblia, foi Deus quem mandou").

Tentando legitimar a prática e invalidar as criticas, o bispo Milton chegou a falar em uma reunião de duas repórteres que estiveram fazendo perguntas sobre o dizimo para os obreiros e auxiliares, indagando à platéia porque elas não tiveram coragem de perguntar diretamente a ele. As repórteres citadas pelo bispo tinham tentado entrevistá-lo desde a primeira visita à Catedral, mas o bispo se recusou afirmando não ter tempo na ocasião. Aparentemente, ele esqueceu-se de mencionar esse detalhe aos fiéis que, dotados de grande fé, acreditam em tudo o que os bispos lhes dizem, sem questionar absolutamente nada.

"(...) Nenhuma outra passagem da Bíblia é tão exaltada e divulgada na Igreja Universal quanto o 'Trazei todos os dízimos e ofertas', de Malaquias (3:10). Pedir ofertas não era uma tarefa fácil, e bem-aventurado era o pastor que dominava a arte de fazer com que as pessoas abrissem seus bolsos ou assinassem cheques a fundo perdido. Esses pastores eram poucos. Eles eram os reis da lábia. Pelos seus esforços, recebiam tratamento diferenciado: ganhavam bons carros, bons salários, boas roupas e boas moradas. Eles eram o crème de la crème da Igreja. Ou 'notáveis', como se autodefiniam. As mordomias eram uma recompensa pela habilidade. Basicamente, essa habilidade consistia em passar uma hora pedindo dinheiro, em valores decrescentes, e ainda fazer com que o saque parecesse uma singela parte do culto. Um singelo ritual em que os fiéis ajudam a manter o bom funcionamento da obra de Deus.

"Muitos pastores, por timidez diante do público ou por serem contra a total falta de transparência do roteiro do dinheiro, simplesmente não se esforçavam para levantar ofertas. Esses pastores formavam a ala conservadora da Igreja e sempre eram mandados embora na primeira oportunidade. Bem-feito para eles: em vez de pedir altas ofertas e fazer macaquices no púlpito para entreter o povo, optavam por pregar tolices como salvação da alma ou tópicos que a ninguém importavam, como a segunda vinda de Cristo ou o dia do Juízo Final."

Trecho do livro Nos Bastidores do Reino: A Vida Secreta na Igreja Universal do Reino de Deus (1995), de Mario Justino, ex-pastor da Iurd, que atualmente mora em Nova York.

Igreja Universal é denunciada por discriminação religiosa

Publicado no Jornal O Estado de S. Paulo em 16/04/2003

O bispo Sérgio Santos Corrêa e os pastores Gilberto Muniz Pereira e Marco Aurélio Mendonça da Trindade todos da Igreja Universal do Reino de Deus foram denunciados à Justiça da Bahia por discriminação religiosa pelo promotor de Justiça e Cidadania do Ministério Público Estadual Lidivaldo Brito.

É a primeira vez que membros da Igreja são denunciados à Justiça por esse motivo no Estado. Os acusados realizaram vários ataques ao Candomblé no programa "Ponto de Luz", exibido pela TV Itapoan (Record) de Salvador. Pelo mesmo motivo, Brito informou que pretende se aliar a Procuradoria da República para requerer em conjunto a apreensão do livro "Orixás, Guias e Caboclos" de autoria do chefe supremo da IURD, Edir Macedo.

Fonte: http://www.estadao.com.br/agestado/noticias/2003/abr/16/115.htm

Mulher com encosto é espancada em igreja evangélica

Publicado em 20/01/2004

Ainda está no CTI a doméstica Marilurdes Ferreira dos Santos, que foi espancada até entrar em coma durante um culto da Igreja Universal do Reino de Deus no bairro de Vila Valqueire, no Rio de Janeiro. Segundo testemunhas que não quiseram se identificar, a mulher de 37 anos foi vítima de cinco pastores que estavam ministrando uma seção de exorcismo.

O delegado que apura o caso revelou estar com muitas dificuldades para identificar os agressores, pois nenhum dos fiéis que presenciaram o ato de violência se dispuseram a colaborar com as investigações depondo no inquérito. A polícia teme que a igreja esteja fazendo diversas ameaças a todos que presenciaram a violenta "seção de descarrego".

Um dos pastores responsáveis pelo templo declarou apenas que "atitudes firmes" em seções de exorcismo são muito comuns e que um sacerdote agindo em nome de Jesus nunca pode se render ao demônio. "Estávamos ali apenas para ajudar a ação de Jesus. Foi a moça que machucou a si mesma, porque o demônio que a possuía se recusou a sair. Era ele que deveria estar aqui depondo, foi ele quem a feriu", registrou imparcialmente o escrivão nos autos do inquérito.

SÃO PAULO - O autoproclamado bispo Edir Macedo Bezerra, que controla mais de mil templos da Igreja Universal do Reino de Deus (Iurd) e é proprietário da Rede Record de Televisão, cujo patrimônio é avaliado hoje em cerca de US$ 2 bilhões, segundo seu diretor-superintendente, Demerval Gonçalves, está sendo intimado a devolver algo em torno de US$ 3,2 milhões ao empresário paulista Waldemar Alves Faria Júnior.

Para recuperar o dinheiro, que entregou a Edir Macedo em 1997, para ajudá-lo a acertar suas contas com a Receita Federal, o empresário já encaminhou notificação extrajudicial ao líder da Igreja Universal, por meio do 4º Ofício de Registro de Títulos e Documentos de São Paulo.

Sorteio 0900

De acordo com a notificação, na década de 90, o empresário Waldemar Faria Júnior começou a freqüentar a Igreja Universal, uma seita evangélica criada no Rio de Janeiro por Edir Macedo, que se autoproclamou bispo e espalhou templos por todo o Brasil e por diversos países do exterior, incluindo Estados Unidos e Rússia.

Faria Júnior, que então era dono de uma grande empresa de marketing, com cerca de 400 empregados, conta que acabou conhecendo o próprio Edir Macedo e o proprietário da Rede Record, então, o convidou a colaborar no trabalho de captação de recursos para a Rede Record.

Nesse sentido, a empresa de Faria Júnior (Abba Produções e Participações Ltda.) e a Rede Record de Televisão chegaram a firmar contrato, mediante o qual o profissional de marketing passaria a se responsabilizar pela implantação dos sorteios 0900, para que a emissora do bispo, como as outras TVs, também pudesse realizar concursos interativos, via telefonia.

À época, Macedo lhe disse que a renda seria integralmente destinada a entidades filantrópicas, mas, depois, o empresário viria a descobrir que, em verdade, o faturamento do 0900 era quase inteiramente carreado para a Rede Record e para os provedores interativos, sem repasse para entidades beneficentes.

Faturamento

Em valores atualizados, só com a operacionalização dos sorteios 0900, entre 1997 e 1998 a Rede Record recebeu cerca de R$ 120 milhões, faturamento que serviu para sedimentar o conceito e prestígio de Faria Júnior junto ao bispo Macedo e a seus outros bispos-auxiliares. Assim, as portas de suas casas, dos templos e da Record então se abriram para o fácil acesso do empresário e de seus familiares.

O golpe

Por conta do sucesso dessa parceria religioso-empresarial e da intimidade que passou a ter com o diretor da Abba, em novembro de 1997, o bispo Edir Macedo procurou o empresário, para fazer-lhe um surpreendente pedido pessoal.

Alegando necessidade urgente de fechar suas contas com a Receita Federal e para não sofrer retaliações de qualquer sorte no ano que se findava, o bispo solicitou, em nome do Senhor Jesus, que o empresário Waldemar Faria Júnior (que à época tinha apenas 29 anos) lhe emprestasse R$ 3,6 milhões - ou seja, o equivalente a US$ 3,2 milhões, sob a promessa de que tal quantia seria oportunamente devolvida.

A essa altura, Faria e seu irmão, de quem era sócio na Abba Produções e que também passara a freqüentar a Igreja Universal, já estavam inteiramente subjugados aos convincentes bispos pregadores da seita e não tiveram a menor condição de dizer não àquele que lhe prometia a felicidade imediata aqui na Terra.

Foi assim que, em dezembro de 1997, o empresário não só emprestou R$ 1,8 milhão ao carismático líder da Igreja Universal do Reino de Deus, como conseguiu os restantes R$ 1,8 milhão com seu irmão e também sócio na sua empresa de telemarketing. Tudo, é claro, em nome do Senhor.

Doação

Além de não assinar nenhuma promissória ou documento que comprovasse o empréstimo, 15 dias depois, o empresário foi novamente procurado por Edir Macedo, que o convenceu a firmar um Instrumento Particular de Contrato de Doação do valor disponibilizado, em que Waldemar Faria Júnior aparece como "doador" e o próprio Edir Macedo surge como "donatário-beneficiário".

Sem condições de dizer não ao líder religioso que seguia e tanto venerava, Faria Júnior não teve alternativa e assinou o documento. E, assim, o empréstimo ao proprietário da Rede Record acabou se transformando numa milionária doação particular, uma espécie de superdízimo destinado ao desfrute particular de Edir Macedo e não para as obras religioso-assistenciais da Igreja Universal.

Desprezo

Como logo depois houve uma decisão judicial que proibiu a veiculação dos concursos interativos 0900, o empresário Waldemar Faria Júnior passou a não mais ter serventia para a Rede Record. Ao mesmo tempo, começou a ser discriminado também na Igreja Universal, onde o líder Edir Macedo e os bispos-auxiliares passaram a evitar seu convívio, por causa do vultoso empréstimo.

Quando precisou de recursos para reativar sua empresa de marketing, que entrara em decadência, Faria procurou Macedo, mas o dono da Rede Record recusou-se a atendê-lo. Sem alternativa, o empresário procurou a via judicial para recuperar o dinheiro emprestado a Edir Macedo.

Empresário lesado faz um alerta aos fiéis

Revoltado e disposto a recuperar tudo o que deu e transferiu ao bispo Edir Macedo e à Igreja Universal, o empresário Waldemar Faria Júnior faz um alerta a todos os que estão sendo convidados a doar seus bens a essa seita evangélica, que faz questão de proclamar não ter fins lucrativos e somente remunerar seus pastores com o mínimo necessário a que suas famílias sobrevivam com dignidade.

"Se o trabalho de pregação do Evangelho é vocacionado na Igreja Universal, sem vantagem ou compensação financeira alguma para os pastores, de que forma miraculosa pôde o bispo Edir Macedo adquirir o controle absoluto da terceira maior rede de TV do País e ser detentor do controle do maior número de rádios, por meio de outros bispos e pastores, já que, sabidamente, seu ofício religioso não é e nunca foi remunerado?", indaga o empresário.

Faria lembra também que, se Edir Macedo não dispunha de US$ 3,2 milhões em dezembro de 1997 e precisou pedir essa quantia para se regularizar perante a Receita Federal, de onde tirou os US$ 500 milhões investidos na Rede Record e na compra de outras emissoras de rádio e de televisão, nos últimos anos, consoante palavras de seu próprio diretor-superintendente, Demerval Gonçalves, publicadas na "Folha de S. Paulo", de 20 de julho de 1999 e nunca desmentidas?.

Bispos são "laranjas" de Macedo na Record

O governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva prestou um grande serviço ao País, durante a gestão de Miro Teixeira no Ministério das Comunicações, ao tornar pública a relação dos proprietários de todas as emissoras de rádio e televisão. A lista, que sempre foi envolvida em sigilo total, agora pode ser acessada pela internet no site do Ministério das Comunicações, www.mc.gov.br.

Cruzando as mais de 500 páginas de documentos disponibilizados na internet, a reportagem da TRIBUNA DA IMPRENSA ficou sabendo, por exemplo, que a Igreja Universal do Reino de Deus, por meio de seus bispos e pastores, é uma das campeãs do controle do maior número de emissoras de rádio e de TV, muito embora se saiba que eles não têm renda mensal, pois trabalham por amor à causa evangélica, não podem ter patrimônio suficiente para justificar a posse dessas caríssimas estações, evidenciando que são apenas "laranjas" de Edir Macedo.

EXORCISMO

Membro da Igreja Universal de Cândido Mota acusa Pastor de omissão

Publicado no Jornal Voz da Terra em 27/04/2001 Fonte: http://www2.uol.com.br/vozdaterra/policia/po2704200101.htm

A delegacia de Cândido Mota esteve movimentada na tarde de ontem, quando vários membros da Igreja Universal do Reino de Deus daquela cidade, estiveram acompanhando o depoimento do Pastor Marcelo. Ele está sendo acusado por Dirce Ene Ribeiro Dias, 40, moradora na rua João Flauzino Barbosa, em Cândido Mota, de ter sido negligente e omisso na sessão de exorcismo, realizada na sexta-feira, do dia 30/03, nas dependências da Igreja.

Conforme relato da vítima ao delegado Luiz Antônio Ramão, que apura o caso, ela acusa o Pastor de incitar a manifestação do demônio e depois deixá-la à mercê do "coisa ruim". Durante a possessão, a vítima diz ter se debatido muito, e acabou ferindo-se na testa e no tornozelo, o que ficou comprovado com o exame de corpo de delito. A vítima entende que o pastor poderia ter expulsado o demônio de seu corpo, mas não o fez, por isso machucou-se. Pretende representar contra ele perante a justiça. REPORTAGEM LOCAL

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Publicado no Jornal Povincia da Bahia

Quase "por dentro" do maior templo de doutrinação pessoal em Salvador de um fenômeno chamado Igreja Universal do Reino de Deus

Fernanda Alamino e Saara Brito

Especial para a Província

Cadeiras estofadas, ar condicionado, sistema de iluminação, uma pequena cascata ao fundo e câmeras de vídeo, muitas câmeras. Nesse cenário reúnem-se com freqüência cerca de 5.400 pessoas buscando soluções, agradecendo o que já conseguiram ou simplesmente para reafirmarem suas crenças.

De repente a música aumenta, as conversas cessam e a multidão se levanta. Indiferente a tudo o que acontece a sua volta, um homem encontra-se ajoelhado à frente de todos, diante de uma cruz. Ao fim de sua pequena oração ele começa a cantar, virando-se pela primeira vez para os fiéis, que o acompanham na canção.

No decorrer da reunião, denominação dada ao culto da Igreja Universal do Reino de Deus (Iurd), pode-se perceber elementos de várias religiões: a música animada de um culto gospel, símbolos judaicos como o castiçal de sete braços e os "encostos" - denominação pejorativa dada a supostas "entidades" cultuadas nas religiões de matizes africanas, como o Candomblé.

Depois de dirigir a reunião o "bispo", com a ajuda de "pastores" e auxiliares, atende aos fiéis que, em fila, aguardam ansiosamente para lhe falar, assim como os fãs procuram seus ídolos depois de um show. Na seqüência, o bispo entra em uma pequena sala e sobe os andares da Catedral da Fé. O prédio edificado pela Igreja Universal do Reino de Deus na Avenida Antonio Carlos Magalhães (região do Iguatemi), é um verdadeiro complexo empresarial, cujo principal garoto propaganda é Jesus Cristo.

A nomenclatura utilizada pela Iurd para hierarquizar sua relação com o público, a exemplo das denominações "bispo", "catedral" e "pastor", é uma apropriação que os mentores dessa seita neopentencostal fizeram de outras igrejas, sem, entretanto, obedecer a quaisquer normas rígidas de formação sacerdotal. A reportagem vai mantê-la no presente texto.

As atividades realizadas na catedral ultrapassam o andar térreo. Acima do grande salão onde acontecem os mega-eventos e reuniões, está a base administrativa de todas as filiais da Universal situadas em Salvador. Com acesso restrito aos funcionários, no batistério estão localizados os setores administrativo, financeiro e pessoal.

O setor parece ser mantido em segredo, a julgar pela reação do funcionário ao atender o telefonema da reportagem: "Como você ficou sabendo desse setor?" As repórteres foram impedidas de visitar o departamento devido a uma ordem do setor jurídico de São Paulo, segundo o funcionário.

Chegar à Escola Bíblica Infantil (EBI), também situada no primeiro andar, é tarefa possível apenas para os pais das crianças. A professora responsável pela escola não pode ser contatada, sob a alegação de que estava sempre "em reuniões" ou dando aulas cujo horário de término ninguém sabia informar.

Sempre presentes estavam os seguranças, prontos a informar: "A senhora não pode subir aí". São 15 bases de seguranças apenas no andar térreo, conectadas através de walk-talks, vigiando todos os acessos aos andares superiores: escadas, elevadores, rampas etc.

Para aqueles que conseguem driblar a segurança, o circuito fechado de TV se apresenta como uma nova barreira. As câmeras parecem não incomodar nem fiéis nem funcionários, pois para eles independente das câmeras "Deus está vendo". Quando a reportagem tentou entrevistar João Reis, um faxineiro da Iurd, este, preocupado com o circuito eletrônico, respondeu que não podia dar entrevista "porque eles estão me vendo" - frase repetida em duas ocasiões e em diferentes pontos da catedral.

Sem uniforme de segurança e equipamentos de comunicação, os obreiros e auxiliares vigiam os fiéis durante a reunião. Vestidos em camisas sociais brancas ou azuis, eles acompanham o desenvolvimento do culto encostados nas laterais do salão ou circulando entre as fileiras de poltrona. Os lábios acompanham a música ou oração, mas os olhos freqüentemente se fixam sobre aqueles que não acompanham o comportamento e as ações da maioria dos que ali freqüentam.

Igreja tem "plano de cargos e benefícios"

Fernanda Alamino e Saara Brito

Especial para a Província

Como qualquer empresa, a Iurd prevê promoções. Aqueles que decidem trabalhar em atividades religiosas começam cedo, com no máximo 20 anos de idade. O primeiro cargo que ocupam é o de obreiro, ficando responsáveis por sondar as pessoas durante o culto, além de servir o pão e o suco de uva na "Santa Ceia" da reunião de domingo, passar o "óleo sagrado de Jerusalém" nos fiéis ou ainda encaminhar as crianças para a EBI durante as reuniões. Esse é o único cargo ocupado também por mulheres.

Logo acima dos obreiros estão os pastores-auxiliares. Suas atividades são semelhantes às dos obreiros, apresentando duas diferenças básicas: atendem aos fiéis individualmente nos espaços entre uma reunião e outra, seja para dar conselho ou realizar simples "descarregos", e ajudam no recolhimento do dízimo.

A Iurd mantém uma espécie de serviço de telemarketing (call center) e os auxiliares também atendem ao público por telefone, como explica Rose Barreto, 39 anos, fiel há cinco. "Estava com problemas em casa, com meu marido, e precisava de conselho. Quando liguei uma voz muito jovem começou a conversar comigo. Era um auxiliar de apenas 16 anos. Eu acreditei nas palavras dele porque se ele já era auxiliar é porque o bispo confiava nele, Deus também".

Quando se atinge o cargo de pastor, além dos conselhos individuais e "descarregos", a pessoa está autorizada a tirar "encostos" e ministrar reuniões.

O cargo de bispo representa o posto máximo. São os bispos que realizam os principais "descarregos" e dirigem as reuniões mais importantes, além de apresentar os programas de rádio e TV do sistema de comunicação de massa da Iurd, que na Bahia inclui, por exemplo, a TV Itapoan/Record, a TV Cabrália, a rádio Sociedade etc. As gravações para a TV é feita em estúdio dentro da própria catedral. Os bispos também dão aulas de doutrinação para obreiros, auxiliares e pastores.

Quando um pastor é aclamado bispo "precisa abandonar tudo, seu emprego, sua casa. Ele se dedica só a igreja", explica Raimundo Silva, segurança da Iurd. Para ter essa dedicação total, o bispo vai morar em imóveis pertencente à igreja, mas não sozinho, mas com mulher e filhos, se os tiver. Nos últimos andares da Catedral da Fé há residências construídas com este intuito. Os apartamentos são "tão luxuosos quanto a igreja", possuem suítes "e alguns têm até piscina", de acordo com Raimundo Silva.

Todo esse conforto é para poucos. Apenas cinco bispos estão alojados na catedral, entre os quais o bispo Zacarias, coordenador de todas as unidades da Universal em Salvador.

A elevação nos cargos é proporcional à atuação dos personagens dentro da igreja. "As pessoas observam quando você é capaz de tirar um encosto, de fazer milagres", conta o pastor auxiliar Júlio. Para um pastor ser promovido a bispo, precisa realizar muitos "milagres". A Catedral da Fé é a igreja mais freqüentada entre os fieis, que falam da grande concentração de milagres que ali ocorrem. "As pessoas vêm de todos os lugares da cidade porque aqui é a sede, é onde tudo acontece. Todo mundo vê o que acontece pela TV e é aqui que começa o chamado", explica o representante de vendas Edvan Santos, 39 anos, fiel há 15.

As atitudes dos bispos variam de acordo com as atividades solicitadas. Durante as reuniões são falantes e extrovertidos, quase showmen. Assumem uma postura mais séria e recatada quando atendem individualmente as pessoas. São escorregadios quando procurados para entrevistas.

Bispo Milton, que chegou à catedral da fé há um mês, evitou falar à reportagem. Por duas semanas se esquivou e quando decidiu responder às perguntas, encaminhadas a ele por escrito e com prazo de quatro dias para resposta, foi inesperadamente transferido para a filial situada no bairro Dois Leões. Os demais bispos, pastores e auxiliares parecem ter firmado voto de silêncio e evitaram falar à reportagem.

Dízimo move a máquina

Um dos templos da igreja bolada por Edir Macedo em 1977: empreendimento bem-sucedido

Fernanda Alamino e Saara Brito

Especial para a Província

"Se vocês não contribuem, não podem reclamar do que acontece. Se você dá o dizimo, tem o direito de exigir de Deus" discursa o bispo Milton para a multidão atenta. O dizimo, contribuição referente a 10% da renda do fiel, é um tema exaustivamente explorado durante as duas horas de pregação. Muitos trechos da bíblia são lidos e discutidos para justificar a cobrança. Nesse momento a tarefa do bispo é colocar a Iurd na posição de vítima da sociedade, além de explicar que para a igreja continuar funcionando alguém precisa pagar as contas, faxineiros, seguranças, o estúdio. A moradia e salários dos bispos não são mencionados nessa listagem.

Para arrecadar o dizimo são distribuídos envelopes em forma de balaio, nos quais os fiéis depositam suas contribuições. De mês em mês os envelopes são recolhidos e novos são entregues. A Iurd também distribui e recolhe envelopes para pedidos de oração. Dentro, há um papel em forma de folha de cheque, no qual o fiel escreve o pedido, assina seu nome e, a depender, indica o valor de sua contribuição.

São duas folhas diferentes: branca com letras azuis para doar R$10,00 e branca com letras cinzas para R$ 50 ou R$100. Neste caso, existem dois espaços indicando o valor e o fiel marca o quadradinho correspondente à quantia da sua doação. Mais do que identificar pessoas e pedidos de oração, essa prática permite que as doações sejam reconhecidas legalmente, já que mostra os valores doados, detalhando a origem do dinheiro.

Para garantir essa fonte de renda, o bispo está sempre lembrando aos dizimistas do seu compromisso com a obra de Deus. Os fiéis são convencidos de que ao começar a doar não podem mais deixar de fazê-lo, pois "o dinheiro não pertence mais a você, pertence a Deus, e deve ser entregue não ao mendigo na rua, mas para a obra do Senhor", explica o bispo para a platéia.

Existe uma ordem pré-estabelecida para arrecadar as doações. Primeiro são chamados à frente os dizimistas, com seus envelopes-balaios prontos para serem entregues aos pastores e auxiliares. Em seguida, os portadores de envelopes para R$ 50 ou R$ 100 fazem sua doação, gesto repetido por aqueles que trazem envelopes de R$10.

Em todos os casos o bispo dá um presente em troca: pequenos livros evangélicos cujo número de páginas varia com o valor doado. Em seguida o bispo oferece à platéia o Jornal Universal, sempre comprado previamente por alguém que, para ajudar a obra de Deus, deixou os exemplares para serem revendidos a R$1,00 durante a reunião. Para aquele que não contribui nem compra o jornal, o bispo aconselha: "Em vez de comer acarajé na rua, de comprar um refrigerante, guarde o seu um real e traga para cá". Nas dependências da catedral existem uma lanchonete e uma loja de artigos evangélicos, cujos lucros complementam a renda da igreja.

O dizimo é um dos pontos mais criticados na Iurd. Seus dirigentes têm consciência disso. Para combater as críticas, os bispos massificam explicações sobre essas cobranças. As justificativas vão desde a satisfação dos próprios fieis ("Vocês gostam de ar condicionado, não é? Foi o dinheiro do dizimo que pagou") até a sedução pela fé ("Está na bíblia, foi Deus quem mandou").

Tentando legitimar a prática e invalidar as criticas, o bispo Milton chegou a falar em uma reunião de duas repórteres que estiveram fazendo perguntas sobre o dizimo para os obreiros e auxiliares, indagando à platéia porque elas não tiveram coragem de perguntar diretamente a ele. As repórteres citadas pelo bispo tinham tentado entrevistá-lo desde a primeira visita à Catedral, mas o bispo se recusou afirmando não ter tempo na ocasião. Aparentemente, ele esqueceu-se de mencionar esse detalhe aos fiéis que, dotados de grande fé, acreditam em tudo o que os bispos lhes dizem, sem questionar absolutamente nada.

"(...) Nenhuma outra passagem da Bíblia é tão exaltada e divulgada na Igreja Universal quanto o 'Trazei todos os dízimos e ofertas', de Malaquias (3:10). Pedir ofertas não era uma tarefa fácil, e bem-aventurado era o pastor que dominava a arte de fazer com que as pessoas abrissem seus bolsos ou assinassem cheques a fundo perdido. Esses pastores eram poucos. Eles eram os reis da lábia. Pelos seus esforços, recebiam tratamento diferenciado: ganhavam bons carros, bons salários, boas roupas e boas moradas. Eles eram o crème de la crème da Igreja. Ou 'notáveis', como se autodefiniam. As mordomias eram uma recompensa pela habilidade. Basicamente, essa habilidade consistia em passar uma hora pedindo dinheiro, em valores decrescentes, e ainda fazer com que o saque parecesse uma singela parte do culto. Um singelo ritual em que os fiéis ajudam a manter o bom funcionamento da obra de Deus.

"Muitos pastores, por timidez diante do público ou por serem contra a total falta de transparência do roteiro do dinheiro, simplesmente não se esforçavam para levantar ofertas. Esses pastores formavam a ala conservadora da Igreja e sempre eram mandados embora na primeira oportunidade. Bem-feito para eles: em vez de pedir altas ofertas e fazer macaquices no púlpito para entreter o povo, optavam por pregar tolices como salvação da alma ou tópicos que a ninguém importavam, como a segunda vinda de Cristo ou o dia do Juízo Final."

Trecho do livro Nos Bastidores do Reino: A Vida Secreta na Igreja Universal do Reino de Deus (1995), de Mario Justino, ex-pastor da Iurd, que atualmente mora em Nova York.

Agressões e insultos

Fanáticos da Iurd atacam Candomblé; pastor esmurra colaboradora da Província

Sueide Oliveira

Especial para a Província

Eu vi e recomendo! A sessão de "descarrego" é um show. Seria melhor se eu não tivesse sido perseguida e agredida pelo "pastor" Thiago Germano.

No final da sessão de descarrego, ao meio dia de 6 de maio, cerca de 20 pastores ficam ao redor da tribuna dando consulta aos fiéis. Thiago é um deles. Esse pastor carioca de 19 anos está em Salvador há 2. Foi com ele que conversei, e lhe pedi autorização para escrever o que estava me respondendo. Depois de ter me dado entrevista se arrependeu e confiscou-a. Ele disse temer que a entrevista chegasse a um grande jornal, o que o levaria a perder o "ministério".

Debatemos mas eu tive mesmo de destacar a folha do caderno onde escrevi tudo o que ele me disse e devolver a folha, rasgando-a em pedacinhos. Não foi o suficiente. O pastor resolveu me seguir quando deixei a "Catedral da Fé", dizendo que queria o caderno. Do lado de fora, enquanto eu tentava me afastar, tocou o telefone e, para ver se ele largava do meu pé, comentei que também estava com um gravador (que não foi utilizado na entrevista).

O pastor me perseguiu pela rua no intuito de tomar minha bolsa e meu celular. Na perseguição ele gritava que eu estava com "encosto". Parei o primeiro ônibus que vi, entrei e ele também. O pastor me seguiu até a borboleta, quando foi barrado pelo cobrador. Sem possibilidade de tomar nem a bolsa nem o celular, o pastor me agrediu fisicamente com um soco nas costas e gritou: "Deus não quer que pisem no calo dele." Ninguém dentro do ônibus quis ir à delegacia testemunhar o que assistiu.

Pois é, Thiago, se Deus não, a igreja Universal anda pisando no calo de muita gente.

Jiudásia, a Mãe Gilda do terreiro Abassá de Ogum participou do ato simbólico a favor do impeachment de Fernando Collor ao lado de Caetano Veloso em 1992. A foto da ialorixá e do cantor saiu numa matéria da revista Veja. Depois de 7 anos a Igreja Universal montou, cortando Caetano Veloso, a mesma foto da ialorixá com uma tarja preta no rosto e publicou no jornal Folha Universal, sobre a manchete de primeira página: "Macumbeiros charlatões lesam o bolso e a vida de clientes". Nem os filhos de santo nem a comunidade entenderam, muitos afastaram-se do terreiro. Além disso, a casa de mãe Gilda, em Itapuã, já tinha sido invadida duas vezes por seguidores da igreja Deus é Amor, outra neo-evangélica. Em agosto de 1999 as invasões e em outubro a publicação da Folha Universal. Depois disso o terreiro passou por dificuldades financeiras, mãe Gilda ficou em depressão e teve um infarto fulminante dia 21 de janeiro de 2000.

A filha biológica e irmã de santo de Gil-da, a ialorixá Jaciara Ribeiro - que naquela época morava em Curitiba - moveu um processo por reparação de danos contra a Iurd. Segundo ela, na ocasião, ao procurar a Federação do Culto Afro-brasileiro ouviu de seus dirigentes que enfrentar a Universal era "um caldo muito grosso" e que nada poderia ser feito. De lá para cá as coisas mudaram. O processo na justiça se arrasta desde 2001. No dia 14 de maio de 2003 ocorreria a primeira audiência no fórum Rui Barbosa.

Depois de três anos de morta, a comunidade rende homenagens à Mãe Gilda. Um busto representando a ialorixá será erguido no Abaeté, por iniciativa de um projeto comunitário denominado Ilê Erê. No dia 5 de março de 2003 o Movimento Contra a Intolerância Religiosa (MCIR) fez uma passeata pelas ruas de Itapuã ao Abaeté, reunindo mais de 500 pessoas em memória da mãe de santo. São os terreiros, que junto com parcela da sociedade baiana, se organizam.

Jaciara se diz indignada com a Iurd: "Eles [ da Iurd] são organizados política e financeiramente, têm uma grande mídia na mão, têm o poder, têm o dinheiro. Alguns terreiros de candomblé estão fechando porque a igreja Universal compra o terreno do lado e impede o culto."

Mas ela reconhece as reações: "Hoje a gente percebe que o MCIR tem unificado os terreiros. Antes a gente não era muito unido, cada um tinha sua nação; hoje a gente percebe que é uma vertente só, é um caminho só ser do Candomblé, seja de Angola, seja de Ketu...

Constituição atingida

A ação judicial movida por Jaciara Ribeiro é o primeiro processo contra intolerância na justiça baiana. O processo teve início em 2001. Para o advogado Maurício Azevedo de Araújo, que acompanha o caso, "a Universal é uma igreja de exportação, que funciona como uma empresa." Segundo ele, Justiça brasileira já tem punido a Iurd em alguns casos. O advogado lembra que em Praia Grande, interior de São Paulo, dois "bispos" foram presos ao distribuírem panfletos difamando o candomblé durante as comemorações do dia de Iemanjá.

O MCIR reúne os terreiros de Candomblé de Salvador, além de organizações do movimento negro, entidades como o Centro de Estudos Afro-Orientais da UFBA e a Fundação Palmares do Ministério da Cultura, e personalidades que lutam pelos direitos humanos e liberdade religiosa. Existe desde os anos 80, mas tem atuado mais articuladamente nos últimos meses.

Segundo Alexandro Reis, do Terreiro Bate Folhinha e coordenador da Unegro, existe por trás da ação religiosa da Iurd "um grande projeto político de dominação, aproveitando da miséria brasileira para chegar ao poder". Ele relembra que as agressões contra as religiões afros ferem a Constituição brasileira e a Declaração dos Direitos do Homem. Ainda assim, reconhece. tais agressões vêm aumentando, "com a conivência do governo."

'Pare de sofrer!' é a legenda que atrai

Fernanda Alamino e Saara Brito

Especial para a Província

As pessoas que chegam a Iurd são seduzidas pela promessa estampada nos letreiros que identificam a igreja. Muitas delas dizem que passavam por vários problemas quando decidiram freqüentar a Igreja Universal. Os problemas mais comuns são os de saúde, os conjugais ou os de família.

"Eu estava com o corpo todo paralisado, nenhum médico sabia dizer o que eu tinha. Uma tia que freqüentava a Universal me trouxe para cá e eu me curei" relata Edvan Santos.

Para evitar que os fiéis abandonem a igreja depois de conseguir a "graça" pretendida, os bispos asseveram que se a pessoa deixar a religião "a vida vai andar para trás. Sua alma não te pertence mais, pertence ao Senhor e você não pode tirar". Esse discurso é repetido entre vários freqüentadores que se ausentaram temporariamente e tiveram muitos problemas. Eles atribuem essas situações difíceis ao afastamento da religião.

Pelo que a reportagem pode apurar, o que leva na maiorias das vezes o fiel a se afastar da Universal é o preconceito de setores da socieade e da própria família, que vêem com suspeita a Iurd. As mulheres são quem mais freqüentam sem o apoio da família. É comum bispos, pastores e auxiliares prometerem que orando com muita fé, o marido e os filhos "sairão do mau caminho" e também serão "arrebanhados pelo Senhor."

Para o fiel da Universal, todo dia é dia de reunião, mas as terças-feiras, quartas e domingos são dias "das reuniões indispensáveis se você realmente quer que algo aconteça na sua vida", como indica Rose Barreto. Às terças acontecem os cultos de "descarrego", momento no qual os bispos prometem tirar todos os "encostos" que estejam "amarrando" a vida do fiel. É o dia de lotação máxima, quando maior número de fieis vai à Catedral da Fé.

Os fiéis confiam tanto nos representantes da Universal que nem se incomodam quando o bispo faz queixas das crianças, pois elas desviam a atenção das mães. Nesse momento, os obreiros são convocados para retirar as crianças do salão e conduzi-las à EBI, no primeiro andar. Nenhuma mãe se manifesta contra o discurso pouco polido do bispo e acha "até bom" que o filho fique brincando na Iurd, para se acostumar desde cedo à vida na igreja.

Algumas mães sonham que o filho siga a carreira religiosa na Universal, tornando-se um dos bispos que elas tanto admiram. Rose Barreto, que tem um filho de 16 anos, George Barreto, incentiva o adolescente a ingressar nessa carreira - já que ele tem vontade de ser pastor - pois acha "interessante e bonito".

Universal luta pelo poder

Além de votos, igreja de Edir Macedo acumula processos e inquéritos criminais

Claudio Leal

Da equipe de Redação

A Igreja Universal do Reino de Deus (Iurd) deve confiar mais na justiça dos homens que na divina. O aumento da força política dos bispos da Universal transforma as denúncias contra a cúpula da igreja em meros atos de "perseguição religiosa".

O bispo Carlos Rodrigues (PL-RJ), considerado ambicioso pelos próprios membros da Iurd (na sua passagem pela Bahia, elevou o dízimo de 10% para 30%), é hoje um dos principais líderes da base aliada do presidente Lula da Silva, comandando uma bancada de 22 deputados federais. A chegada de José Alencar (PL-MG) à vice-presidência ampliou a influência da igreja na máquina estatal.

Na Bahia, a Iurd está ligada tanto ao PL quanto ao PFL e elegeu dois bispos para a Assembléia Legislativa em 2002 (a bancada do PL é de quatro deputados). Além disso, o radialista Raimundo Varela, da TV Record e Rádio Sociedade (comandadas pela Igreja Universal), já é apontado nos meios políticos como provável candidato à Prefeitura de Salvador. Isso significaria uma mudança na estratégia política da Iurd. Até agora, a orientação da cúpula tem sido para que seus candidatos disputem somente cargos do legislativo.

O apoio dado pelo PL a Antônio Carlos Magalhães no processo de cassação aumentou a especulação. ACM chegou a elogiar, na tribuna do Senado, o senador Marcelo Crivela, sobrinho de Edir Macedo - porque o mesmo votou a favor do arquivamento do relatório da Conselho de Ética que propôs a cassação do senador baiano.

Na Bahia, a Iurd e seus membros respondem a diversos processos na justiça e inquéritos policiais. A acusação mais grave recai sobre o pastor Sílvio Galiza, apontado como o autor do assassinato do garoto Lucas Terra, de 14 anos, que freqüentava os cultos da Igreja Universal. Em abril deste ano, a 2a Câmara Criminal do Tribunal de Justiça do Estado negou, por unanimidade, o recurso da defesa do pastor Galiza por inexistência de provas que impeçam o júri popular. A defesa recorreu.

O inquérito aberto pelo delegado da 6a circunscrição policial, José Edson Araújo, para apurar a agressão sofrida pelo colaborador da Província, Jonathas Araujo, ainda não foi concluído. No dia 4 de abril, Jonathas foi mantido em cárcere privado pelos seguranças da Iurd por ter tirado fotos na área externa à "Catedral da Fé". O filme da máquina foi apreendido após um interrogatório no subsolo da igreja. A Polícia Militar esteve no local, mas não encontrou os responsáveis.

"O tenente Jefferson e a sargenta foram interrogados e disseram que nada puderam fazer porque o ato delituoso já tinha ocorrido e o problema foi solucionado pelos repórteres", afirma José Edson. O delegado disse à reportagem que a ordem de serviço de busca e apreensão seria cumprida na tarde de 6 de abril, porém, nada aconteceu. A identificação dos responsáveis pode ficar para as calendas gregas.

Mais processos

A Procuradoria da República na Bahia, em segredo de justiça, também investiga a Iurd e "seus dirigentes, na obtenção de concessões para exploração de rádio e televisão". O processo 306/97-33 está nas mãos do procurador Márcio Barra Lima e a autuação ocorreu em 18 de junho de 1997.

Os processos relacionados à intolerância religiosa tiveram mais repercussão. Um deles é um pedido de indenização por danos morais que corre na 17a Vara Cível, em virtude da morte da mãe-de-santo Gilda, do Terreiro Abassá de Ogum, que sentiu-se mal após ter visto sua foto, acompanhada de agressões, na "Folha Universal".

Outro crime de intolerância religiosa foi cometido pelo programa "Ponto de Luz", da TV Itapoan, que fez pregações contra o candomblé. O Ministério Público pediu a suspensão do programa, já que o conteúdo dele não foi submetido ao Ministério da Justiça. A TV Itapoan alega que, por ser "ao vivo", o programa não precisa de autorização prévia.

"A portaria do Ministério da Justiça não livra os programas ao vivo de uma avaliação do conteúdo após a exibição", diz o promotor do MP, Lidivaldo Brito. Neste caso, a Igreja Universal sofreu a primeira derrota em maios de 2003. A juíza de infância, Maria Helena, determinou a mudança do horário do programa. Os pastores já falam em "censura".

Em entrevista à Província, o teólogo Leonardo Boff afirmou que "o diálogo com pessoas fundamentalistas é muito difícil porque elas partem do pressuposto de que não têm nada para aprender e não alimentam a vontade do diálogo". Boff suspeita que a intolerância com o candomblé ocorre também por motivos étnicos.

A ironia é que Edir Macedo nasceu em família católica e freqüentou terreiros de candomblé quando jovem.

Morte

Em Campina Grande foi encontrado o corpo de um homem com 28 facadas, envolvido em um colchão e um lençol e amarrado com um fio. Uma das orelhas da vítima foi decepada. Adriano Alves Pontes, de 27 anos, segundo a polícia teria sido assassinado com requintes de crueldade, pelo pastor da Igreja Universal do Reino de Deus, Francisco Queiroz Feitosa, 34 anos, que está foragido. Segundo levantamento da polícia, o pastor teria envolvimento com drogas e era homossexual.

http://www.seol.com.br/cidadealerta/hoje/articles.php?task=view&articleID=198

Amém

Publicado na Folha de São Paulo em 20/02/2004

NELSON DE SÁ EDITOR DA ILUSTRADA

- Vamos falar com Deus. Senhor meu Deus e meu Pai, nós rogamos por nosso país, por nossos governantes, para que o Senhor venha fazer justiça.

Era o bispo Clodomir Santos, na madrugada de ontem, no programa "Fala que Eu Te Escuto", da Record.

- Meu Deus, temos visto o povo enganado. Enganado por muitos políticos. Nem todos, mas infelizmente pela maioria. Então, meu Deus, faz mudar tudo isso.

E chegou ao ponto:

- Até mesmo com relação àqueles que foram eleitos por nós, pelo povo da Tua igreja. Que o Senhor venha dar caráter a cada um deles. É o que nós pedimos e desde já Te agradecemos. Amém.

O escândalo de Waldomiro Diniz fez sua primeira baixa onde poucos vinham buscando: na Igreja Universal.

Bispo Rodrigues, tido como o segundo homem na igreja e seu elo com o poder político, não foi alvo só da oração de Clodomir, mas de meia hora de ataques no programa.

Foi lá que se divulgou a nota oficial da igreja, dizendo que ele "foi afastado de suas funções de bispo e da coordenação política da bancada".

E lá foi reproduzida a reportagem de "O Dia" mostrando, entre outras coisas, que ele empregou a mulher de Waldomiro em seu gabinete.

Para o programa, foram buscar até uma prédica de Edir Macedo há dois meses, supostamente com um aviso a Rodrigues e outros:

- Eu estou falando com os políticos nossos, da Igreja Universal do Reino de Deus. Vocês estão no meio da corrupção. A vida de vocês está na mão de vocês. Se vocês fizerem o que é errado, podem ter certeza, vocês vão dançar.

A prédica de Edir Macedo foi reproduzida também no Jornal da Record, de Boris Casoy -que não deu uma manchete para o assunto.

O Jornal Nacional de ontem carregou bem mais nas tintas. Com mais de uma manchete, para começar:

- A Igreja Universal do Reino de Deus anuncia o desligamento de um de seus bispos mais influentes.

Em seguida:

- O motivo é a revelação de um esquema envolvendo o bispo para desviar dinheiro da Loteria do Rio com a ajuda de Waldomiro.

Depois veio o longo relato de um depoimento que, dado ao Ministério Público em maio de 2003, "revelou o esquema de desvio de verbas na Loterj". Amém. [i]

http://www1.folha.uol.com.br/fsp/brasil/fc2002200422.htm

Rap do Pastor
Publicado na e-zine AS MULATAS DE JESUS CRISTO

nº 103 - Canoas - 26/07/2003


tu tá com o diabo na cabeça /
libera dez por cento que tá bom à beça /
é a corrente dos 318 /
cheguei atrasado no meu AUDI 3.8 /
tu só não prospera porque não lê o que Cristo disse /
poderia ser presidente e ta aí de vice /
ao invés de gastar dinheiro em chimarrão e cuia /
vem pro templo e grita aleluia /
é segunda, terça, quarta, quinta, sexta, sábado e domingo /
aparece em todos os cultos com a grana que papai do céu tá vendo /
como posso te prometer o céu se não ganhei a grana do dia? /
aleluia, guria /
alelúia, senhora /
vai passando a bolsa que dízimo não tem hora /
deus não dorme e Jesus não marca toca /
é satanás que tá te tirando a comida da boca /
e não eu /
só peço humildemente dez por cento bem aqui /
afinal de contas preciso colocar gasolina na minha Grand Cherokee /
O bispo disse tá dito /
e o inferno te ensina a lição /
passa o salário que tu ganhou limpando o chão /
eu tiro o leite do teu filho, da tua filha e tua roupa do corpo /
afinal, eu te livrei do diabo, não seja mal-educado /
preciso prestar contas com deus na missa /
que guarda a tua vida tanto quanto minha grana na Suíça /
não presto contas pro fisco /
só me explico com o bispo /
com a Bíblia debaixo do braço /
te convenço até a doar o baço /
já que da tua fé eu já tirei o cabaço /
eu sou teu pastor /
nada me faltará /
tua fé é meu pátio /
onde eu brinco de rezar /
e você que fica aí /
falando mal da Universal /
dizendo que estorquimos e que sou um pastor mau /
é melhor começar a penar no teu presente /
porque o futuro a deus pertence /
Edir Macedo pra presidente /
ateu, te prepara pra o que é teu /
na real sou tão ateu quanto você /
uma questão de dialética /
o que os difere é a tua ética...

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