Publicado na Revista Época - Edição 258 -
28.Abril.2003
Página 1: O exorcismo é a atração
da noite
Página 2: O exorcismo é a atração
da noite - continuação
Página 3: Apetrechos do culto
Página 4: A ciência dos transes
Página 1: O exorcismo é a atração
da noite
Fontehttp://64.4.22.250/cgi-bin/linkrd?_lang=BR&lah=edd3495a3d2279d5b8d84120ba61363c&lat=1060952578&hm___action=http%3a%2f%2fepoca%2eglobo%2ecom
O exorcismo é a atração da noite
Humilhantes rituais para ganhar fiéis pela TV
baseiam-se em técnicas conhecidas para produzir um
transe.
Foto 1
CATARSE
Nas sessões de descarrego da Igreja Universal, o fiel
em transe é levado ao púlpito. O pastor puxa o
seguidor pelos cabelos e interroga o suposto espírito
diante de uma platéia extasiada.
Em pleno horário nobre da televisão, demônios
e almas de má índole estrelam uma estranha atração,
com ares de reality show. O programa Coisas da Vida, apresentado
diariamente às 20 horas pela Rede Gazeta para São
Paulo, Recife, Florianópolis e Belo Horizonte, exibe
cenas super-realistas captadas em cultos da Igreja Universal do
Reino de Deus. Elas mostram fiéis pretensamente possuídos,
submetidos a humilhantes rituais de exorcismo. O show é
entremeado por histórias de ficção,
protagonizadas por atores amadores, em que os personagens têm
a vida infernizada por pragas rogadas por sogras, ex-namoradas e
falsos amigos.
Dramas de toda sorte, martela o programa, são causados
por "encostos", almas penadas que, segundo os ditames
das religiões afro-brasileiras, têm o dom de
entravar a vida das pessoas. Provocam de tudo: de dores de cabeça
e crises de depressão a ataques de formigas na cozinha. Às
vezes, a retórica fica ainda mais macabra. Em vez de
encostos, exibe-se o que seria a manifestação do
próprio demônio.
Num desses programas, o bispo da Igreja Universal Romualdo
Panceiro interroga, no púlpito, uma fiel que se debate,
como se estivesse possuída. Com voz rouca e enrolada, ela
se identifica como um "mau espírito" a serviço
de inimigos da pobre mulher. O bispo, então, a agarra,
puxa seus cabelos, torce-lhe o braço e verga seus
joelhos. No ponto alto da cena humilhante, Panceiro pergunta
quais desgraças o anjo caído causa na vida daquela
cristã. A voz gutural (som ou fonema modificado pela
garganta) retruca:
- Deram um bode para mim matar ela. O marido dela já
ficou sem as duas pernas. Ele tem que fumar maconha até
morrer.
A câmera se aproxima.
- Eu quero deixar o filho dela morrer primeiro. É para
fazer ela sofrer - completa a voz.
O bispo assegura-se de que a platéia extasiada da
Catedral da Fé, maior templo da Universal em São
Paulo, acompanhou o depoimento. Depois, encena a expulsão
do espírito. Profere uma oração invocando o
poder de Jesus e ordena que ele deixe o corpo sofredor. A fiel
acorda do transe.
Encerrado o espetáculo, o mesmo bispo exorcista
completa a pregação. Diz que dificuldades da vida
de todo tipo são causadas por olho gordo ou feitiçaria
materializados nos "encostos". E a única coisa
a fazer é correr para um templo da Universal e
submeter-se a um ritual de exorcismo - as "sessões
de descarrego". Na sexta-feira 18, o programa se superou ao
exibir o exorcismo de um jovem em conflito com sua sexualidade.
Ao expulsar o "encosto", o bispo explicou que as
inclinações gays do rapaz eram resultado de um "feitiço"
encomendado por um homem que se apaixonara por ele. "Agora
você pode engrossar sua voz. O encosto foi embora",
disse.
Esses rituais são corriqueiros em cultos da Universal e
de outras igrejas neopentecostais - aquelas que acreditam em
manifestações sobrenaturais e em curas milagrosas.
Mas, para não assustar, os líderes neopentecostais
evitavam mostrar essas imagens na televisão. Quando
muito, aventuravam-se nos horários da madrugada. A
novidade é que, pela primeira vez, os exorcismos se
transformam em instrumento de proselitismo eletrônico.
Reprodução de TV
MACABRO
A pretexto de combater "espíritos do mal", o
programa Coisas da Vida exibe rituais de exorcismo que
reproduzem transes da umbanda e do espiritismo.
Essa ofensiva no horário nobre é uma resposta da
Igreja Universal ao crescimento de uma organização
rival, a Igreja Internacional da Graça de Deus - cujo líder,
o missionário R.R. Soares, tornou-se o homem que mais
tempo se expõe na televisão brasileira. Os cultos
televisivos de R.R. Soares são transmitidos em quatro
redes de televisão e ocupam cerca de 100 horas semanais
de programação da TV aberta. Até o início
do ano, quem estava no horário do Coisas da Vida na Rede
Gazeta era Soares - mas ele alugou o mesmo horário numa
rede de alcance maior - a Bandeirantes -, onde apresenta hoje
seu Show da Fé. Estima-se que pague R$ 2 milhões
por mês à emissora. A igreja de Edir Macedo
revidou. Comprou o horário da Rede Gazeta e passou a
competir com ele.
Os cultos das duas denominações evangélicas
são muito parecidos. Têm, aliás, a mesma
origem. No fim dos anos 70, Macedo e Soares, que são
cunhados, fundaram a Igreja Universal. Depois de uma briga,
houve um cisma e o missionário criou uma igreja
concorrente. Onipresente na televisão, Soares conquista
espaço e audiência. Se a Igreja Universal, que
comprou a Rede Record em 1991, tem 2,5 milhões de fiéis,
calcula-se que a Igreja Internacional da Graça de Deus já
reúna 500 mil deles.
R.R. Soares também promove sessões de exorcismo
em seus templos, mas se abstém de exibi-las no vídeo.
"Se eu pudesse, mostraria. Mas isso assusta o espectador",
justifica.
Entre as denominações evangélicas do país,
a Universal, a Graça de Deus e a Igreja Deus É
Amor são as que mais exploram a prática do
exorcismo nos cultos para captar fiéis. "Como a Deus
É Amor não usa o espaço da TV e a Graça
de Deus evita exibir tais cenas no vídeo, a Universal
aposta sozinha na estratégia de caçar encostos",
diz Ricardo Mariano, sociólogo da PUC do Rio Grande do
Sul e especialista em religiões neopentecostais. A audiência
auferida pelo Ibope mostra que a estratégia de R.R.
Soares atrai mais audiência. O Show da Fé, visto
por 72 mil domicílios na Grande São Paulo, alcançou
1,6 ponto no Ibope no mês passado, três vezes mais
que o Coisas da Vida, da Universal, com seus rituais explícitos
de exorcismo.
Igrejas de massa precisam dominar a televisão para
sobreviver. Programas de rádio e televisão
religiosos não atraem receita publicitária, mas não
há modo melhor de chamar fiéis para os templos - o
verdadeiro celeiro de ofertas. Oito em cada dez fiéis que
chegam a um templo de Edir Macedo foram cativados pela pregação
no vídeo. A cada minuto, o programa da Universal exibe o
telefone do SOS Espiritual, que fornece o endereço da
igreja mais próxima do espectador. 'A TV é vital
para garantir que o crente vá a um templo e lá
entregue dízimos e ofertas', diz Regina Novaes,
pesquisadora do Instituto de Estudos da Religião (Iser).
Página 2: O exorcismo é a atração
da noite - continuação
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SUPERSTIÇÃO
Oliveira participa de sessões de descarrego quase toda
semana. "A reza da Universal é mais forte",
diz.
Ainda que impressionem à primeira vista, os transes
testemunhados nos templos e nas TVs da Igreja Universal recorrem
a truques conhecidos. A começar por uma mensagem
sedutora: o pastor diz que o fiel é uma boa pessoa e todo
o mal que ele faz ou sofre é causado por um espírito
maligno. Quem vive dramas insuperáveis se entrega
facilmente à fantasia.
"As pessoas são sugestionadas pela voz autoritária
do pastor até atingirem uma espécie de estado hipnótico",
diz a psicóloga paulista Denise Ramos. A repetição
das orações em voz alta, de olhos fechados,
conhecida pela medicina como respiração holotrópica,
produz um fenômeno de superoxigenação no cérebro.
O resultado é um rebaixamento dos níveis de consciência.
Quem está no meio de um agrupamento tomado pela euforia
tende a se deixar contaminar pela emoção. Há
um mecanismo do sistema límbico do cérebro, o mais
básico da área nervosa, que induz a pessoa a se
comportar segundo as atitudes da multidão que a cerca. "É
por isso que choramos em comícios ao ouvir o Hino
Nacional", compara Denise Ramos.
A gritaria dos milhares de fiéis que participam das
sessões de descarrego contagia quem está lá
carregando conflitos psicológicos. "O povão não
tem acesso à psicanálise. As pessoas procuram
esses cultos populares para aplacar seu inferno interior",
diz o pastor Mozart Noronha, da Igreja Luterana do Brasil.
Pastores e seus auxiliares, chamados de obreiros, aprendem a
induzir o transe. "Quando a pessoa está tonta, fica
mais aberta para manifestar os demônios", diz a
obreira Aparecida Santos, ex-fiel da Igreja Universal,
atualmente na Igreja Internacional da Graça de Deus. Ela
costuma pôr a mão na cabeça dos fiéis
e fazê-la rodar.
Outro recurso que funciona é tocar músicas altas
no teclado, com acordes bem tenebrosos. "Porque o demônio
não gosta de silêncio", explica a obreira.
Aparecida aprendeu as técnicas do exorcismo na Universal,
onde passou cinco anos como auxiliar de pastores. Está
convencida de que as cenas na igreja são manifestações
reais de entidades do mal. "O diabo está lá
mesmo", afirma. Só discorda dos métodos de
sua ex-igreja. "A Universal expõe muito a
privacidade da pessoa." Nos cultos dos quais participa
hoje, Aparecida identifica quem está possesso e o
encaminha a um canto da igreja.
A Igreja Católica vê as aparições
de diabos e semelhantes nos cultos neopentecostais como fraude
grosseira. "É como se fosse um show em que os
pastores exibem o diabo subjugado como se fosse um animal na
jaula", diz o padre Cleodon de Lima, de 36 anos. "Se a
intenção fosse curar a pessoa, não
precisaria mantê-la tanto tempo diante da platéia,
sendo ridicularizada. Até o século XIX, crises
histéricas ou casos de dupla personalidade eram
interpretados por padres católicos como possessões
demoníacas. Com o avanço da ciência,
varreu-se o obscurantismo. Na década de 60, o Concílio
Vaticano II decretou que apenas alguns sacerdotes, nomeados pela
Igreja, poderiam expulsar demônios. Para regulamentar os
rituais quase clandestinos, o papa lançou em 2000 um
manual oficial de exorcismo. Fez questão de destacar que
casos suspeitos devem ser encaminhados primeiro a um psiquiatra.
O MISSIONÁRIO
Presente em quatro canais da TV aberta, R.R. Soares evita
mostrar exorcismos. Seus programas são mais leves, com
pregações e depoimentos de fiéis.
As igrejas evangélicas tradicionais se constrangem com
o espetáculo das neopentecostais. "A mesma cultura
do medo que enche os filmes de terror no cinema também
funciona para lotar as igrejas", compara o pastor luterano
Mozart. Os religiosos criticam a obsessão da Universal
pelos atos do demônio e a acusam de deixar Deus em segundo
plano. "A Bíblia diz que Jesus até expulsou
alguns demônios, mas nunca fez disso seu ministério",
afirma o pastor Israel Belo de Azevedo, reitor do Seminário
Teológico Batista. Muitos evangélicos tampouco
acreditam que a presença satânica seja corriqueira
como prega a Universal. "O diabo não fica roubando o
marido de umas pessoas ou o emprego de outras", ironiza o
pastor Ariovaldo Ramos, da Associação Evangélica
Brasileira. Boa parte dos frequentadores da Universal já
recorreu a tendas de umbanda ou centros espíritas, onde
conheceu o mundo dos transes e das incorporações.
Curiosamente, a Universal buscou inspiração nas
religiões afro-brasileiras para apimentar seus cultos.
Edir Macedo, que foi umbandista, adaptou os rituais do terreiro.
Os gestos no descarrego copiam a coreografia dos incorporados em
tendas. Os demônios que os pastores combatem e exorcizam
confundem-se com as entidades da umbanda, como Zé
Pelintra, Pomba-Gira ou Tranca-Ruas. Os objetos mágicos
oferecidos também foram retirados dos terreiros - leia
detalhes no quadro.
Arruda com sal grosso são usados para espantar
mau-olhado. Alguns pastores adotam o branco, reproduzindo a
vestimenta dos pais-de-santo. "São elementos
estranhos ao cristianismo", diz o pesquisador Leonildo
Campos, da Universidade Metodista de São Paulo. "A
Universal se aproximou tanto da umbanda que precisa mover uma
cruzada contra as religiões afro-brasileiras para se
diferenciar", afirma. Mesmo para quem freqüenta os
terreiros, a apropriação é esdrúxula.
"Em vez de afastar os demônios, a encenação
acaba atraindo-os", acredita a terapeuta holística
Joelma Rodrigues, de 33 anos, que até os 12 era fiel da
Assembléia de Deus e hoje é umbandista.
O teatro da possessão demoníaca é
eficiente também porque é divertido. O paulistano
Eduardo Oliveira, de 28 anos, tornou-se figura conhecida no
palco da Catedral da Fé, megatemplo da Igreja Universal.
Incorpora encostos e demônios quase toda semana. "Não
tenho culpa, sou mais sensível que os outros e me entrego
com mais facilidade", explica. Oliveira foi batizado na
Igreja Católica. Há pouco mais de um ano, abalado
pela perda do emprego e pelo fim de um antigo namoro, foi atraído
por um programa de TV da Igreja Universal. "Já
experimentei outras ä igrejas, mas, em matéria de
libertação, não existe melhor que a
Universal: a reza é forte e específica."
Oliveira fecha os olhos, une e aperta as mãos contra o
peito. Começa a rezar em voz alta. Um obreiro atento aos
fiéis mais exaltados se aproxima. "Eu ordeno, se
manifeste", diz o obreiro, fazendo movimentos circulares
com a cabeça do fiel. Oliveira se joga no chão e
começa a se debater. "Minha perna fica bamba, meus
braços amolecem, quando dou por mim estou no altar",
diz.
Na guerra aos encostos, os pastores da Universal pegam carona
no trabalho catequizador da própria Igreja Católica
brasileira, que durante séculos trabalhou para associar
as religiões africanas trazidas pelos escravos a práticas
abomináveis de magia negra. Agora isso está
enraizado no imaginário popular nacional, que tem uma
relação ambígua com essas tradições
africanas. Ao apelar para essa velha briga, Edir Macedo retoma a
retórica dos anos 70, quando fundou sua igreja. É
um reposicionamento do líder neopentecostal desde a
malsucedida empreitada contra os católicos, na década
de 90. Quando o bispo Sérgio Von Helde, da Universal,
chutou uma imagem de Nossa Senhora Aparecida, em 1995, as críticas
vieram dos próprios fiéis de Macedo. Afinal, 70%
deles convivem bem com o catolicismo, segundo uma pesquisa do
Iser. O mesmo estudo mostra que 90% dos pentecostais associam as
religiões afro-brasileiras ao demônio. "Vemos
um exército evangélico atacando de forma sistemática
comunidades afro-brasileiras, que nem têm como se defender",
aponta a pesquisadora Mariza Soares, da Universidade Federal
Fluminense.
EXPOSIÇÃO
Os fiéis não podem ser ridicularizados, diz o
padre Cleodon, ex-evangélico.
O apelo do demônio é forte porque atende a uma
grande camada da população que vive imersa em
superstições. O neopentecostalismo se desenvolve
nos extratos mais pobres da população. Pesquisas
revelam que um terço dos fiéis sobrevive com menos
de dois salários mínimos, 68% não passaram
do ensino fundamental e um em cada dez é analfabeto. Em
geral, acreditam em magia negra e forças ocultas. "O
povo acha que o demônio está por aí, agindo
através dos incautos", diz a antropóloga
Regina Novaes, do Iser.
Jogar a culpa por tudo que há de errado no demônio
é uma solução confortável para quem
busca alívio nos cultos. As conseqüências
podem ser perigosas. "A pessoa sai da igreja acreditando
que não tem responsabilidade moral pelos erros que comete",
diz o pastor evangélico Ariovaldo Ramos. O crente também
fica convencido de que possui uma personalidade frágil e
influenciável. "Ele está pronto para ser
manipulado por qualquer líder espiritual que se apresente
como solução. Escapa dos vícios para virar
escravo desses pregadores", acusa.
O TEATRO DA POSSESSÃO
Como os pastores empregam técnicas e truques para
induzir o fiel a entrar em transe nas sessões de
exorcismo.
TRILHA SONORA
O tecladista executa melodias leves nos momentos de alusão
a bênçãos divinas. Mas, quando o pastor
menciona as ações do demônio e de espíritos
malignos, ouve-se uma sucessão de acordes pesados, que
lembram filmes de terror.
ILUMINAÇÃO
Em alguns cultos realizados à noite, os pastores apagam
as luzes principais da igreja. Envoltos na penumbra, os fiéis
ficam mais sugestionáveis. Os pastores também
pedem às pessoas que fechem os olhos.
ROTEIRO
Para evocar os demônios, os pastores fazem orações
repetitivas. A mente humana tende a aceitar como verdadeiras as
frases proferidas sucessivamente, em tom de autoridade e num
ambiente emocional.
COREOGRAFIA
Os obreiros apertam e balançam a cabeça ou o
corpo do fiel em movimentos circulares. A tontura e a falta de
apoio no chão são fatores que induzem o transe.
FIGURAÇÃO
O burburinho das pessoas rezando e gritando rebaixa os níveis
de consciência de fiéis suscetíveis. Quem
está no meio de uma multidão é influenciado
pelas emoções dos indivíduos ao redor.
ADEREÇOS
As igrejas usam símbolos que tocam as emoções
dos fiéis. Os pastores incentivam-nos a trazer objetos de
valor emotivo como fotografias de parentes, currículos
impressos e carteira de trabalho para ser abençoados.
SONOPLASTIA
Em algumas igrejas, junto com a música, são
reproduzidas gravações de gritos e sons de
assombração. Esses ruídos estimulam o
inconsciente das pessoas em transe a considerar real aquela
manifestação
Página 3: Apetrechos do culto
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Apetrechos do culto
Objetos mágicos que embalam as "sessões de
descarrego". Para apimentar os cultos de exorcismo, os
pastores da Universal distribuem objetos com supostos poderes.
Para consegui-los, o fiel vai ao altar e promete fazer ofertas
generosas.
PEDRAS
Não é só com reza que se atacam encostos.
Os fiéis recebem pedras para jogar em Golias, um boneco
gigante que ocupa o altar da Catedral da Fé, em São
Paulo - esclarecimento: isso é uma alusão à
passagem bíblica em que o Davi derrotou o gigante Golias
com uma pedra arremessada por uma funda - funda é uma
arma de arremesso de projéteis, consistindo em um pedaço
de couro e duas cordas.
LIMPEZA
Sabonete de arruda é a promessa do pastor para livrar o
corpo de impurezas. O suvenir é distribuído no
ritual de descarrego.
ÓLEO
O frasco com azeite bento é agitado para afastar "maus-olhados".
PROTEÇÃO
O sal, que vem em pratos plásticos, é usado para
"purificar" o local de trabalho e o lar.
DÍZIMO
Fiéis pegam o envelope vazio e têm de devolvê-lo
cheio na semana seguinte. Exigem-se pelo menos R$ 30 por mês.
Página 4: A ciência dos transes
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A ciência dos transes
Como a psicanálise e a antropologia desvendaram os
mecanismos que alimentam as possessões.
Transes religiosos são registrados desde a Grécia
antiga, quando sacerdotisas diziam receber espíritos em
rituais inspirados por música e vinho. Mas essas
manifestações só começaram a ser
desvendadas pela ciência no fim do século XIX, com
o surgimento dos primeiros estudos em psicologia.
Em 1862, o neurologista francês Jean-Martin Charcot
(1825-1893) instalou-se no Hospital Salpêtrière, em
Paris, convencido de que as visões de espíritos
vivenciadas por alguns pacientes eram causadas por males do
sistema nervoso. Para tratá-los, aperfeiçoou a técnica
de induzir a pessoa ao estado de transe por meio de hipnose. Os
recursos empregados, baseados na repetição de
luzes ou sons, desmontaram a aura sobrenatural que cercava as
possessões.
Um de seus alunos, Sigmund Freud, também se interessou
pela hipnose. Mas foi o suíço Carl Jung quem se
dedicou a teorizar de onde vêm os 'maus espíritos'
que atormentam as pessoas. Segundo ele, essas figuras
aterrorizantes são imagens gravadas coletivamente na
mente humana. Batizados de arquétipos, acompanham a
humanidade há milhares de anos.
"O diabo, que os fiéis da Universal acreditam
incorporar, é uma dessas imagens e representa forças
destrutivas dentro da própria pessoa", diz a
psicanalista Aurea Roitman. "Já o chifre e o rabo são
adereços acrescentados pelo imaginário ristão."
Enquanto os fundadores da psicologia descreveram como se induz
um transe, foram os antropólogos que teorizaram sobre a
função das possessões e dos exorcismos. Os
missionários religiosos e médicos que viajaram
para a África ou investigaram territórios
dominados pelos índios nas Américas ficaram
fascinados pelas cerimônias dirigidas para que alguns
participantes recebessem os espíritos.
A partir dessas narrativas, o filósofo francês
Emile Durkheim (1858-1917), um dos fundadores da sociologia, foi
um dos primeiros a teorizar sobre a função dos
transes. Analisou em 1912 o papel do descarrego primitivo para
garantir a unidade da tribo. "Os exorcismos têm a função
de provar a existência de um agente sobrenatural capaz de
punir os delinqüentes, por mais poderosos que sejam",
explica o antropólogo Scott Atran, da Universidade de
Michigan.
Dízimo move a máquina
Publicado no Jornal Provincia da Bahia
Original em
http://www.provinciadabahia.com.br/27/iurd3.html
Fernanda Alamino e Saara Brito
Especial para a Província
"Se vocês não
contribuem, não podem reclamar do que acontece. Se você
dá o dizimo, tem o direito de exigir de Deus"
discursa o bispo Milton para a multidão atenta. O dizimo,
contribuição referente a 10% da renda do fiel, é
um tema exaustivamente explorado durante as duas horas de pregação.
Muitos trechos da bíblia são lidos e discutidos
para justificar a cobrança. Nesse momento a tarefa do
bispo é colocar a Iurd na posição de vítima
da sociedade, além de explicar que para a igreja
continuar funcionando alguém precisa pagar as contas,
faxineiros, seguranças, o estúdio. A moradia e salários
dos bispos não são mencionados nessa listagem.
Para arrecadar o dizimo são
distribuídos envelopes em forma de balaio, nos quais os
fiéis depositam suas contribuições. De mês
em mês os envelopes são recolhidos e novos são
entregues. A Iurd também distribui e recolhe envelopes
para pedidos de oração. Dentro, há um papel
em forma de folha de cheque, no qual o fiel escreve o pedido,
assina seu nome e, a depender, indica o valor de sua contribuição.
São duas folhas diferentes: branca
com letras azuis para doar R$10,00 e branca com letras cinzas
para R$ 50 ou R$100. Neste caso, existem dois espaços
indicando o valor e o fiel marca o quadradinho correspondente à
quantia da sua doação. Mais do que identificar
pessoas e pedidos de oração, essa prática
permite que as doações sejam reconhecidas
legalmente, já que mostra os valores doados, detalhando a
origem do dinheiro.
Para garantir essa fonte de renda, o bispo
está sempre lembrando aos dizimistas do seu compromisso
com a obra de Deus. Os fiéis são convencidos de
que ao começar a doar não podem mais deixar de fazê-lo,
pois "o dinheiro não pertence mais a você,
pertence a Deus, e deve ser entregue não ao mendigo na
rua, mas para a obra do Senhor", explica o bispo para a
platéia.
Existe uma ordem pré-estabelecida
para arrecadar as doações. Primeiro são
chamados à frente os dizimistas, com seus
envelopes-balaios prontos para serem entregues aos pastores e
auxiliares. Em seguida, os portadores de envelopes para R$ 50 ou
R$ 100 fazem sua doação, gesto repetido por
aqueles que trazem envelopes de R$10.
Em todos os casos o bispo dá um
presente em troca: pequenos livros evangélicos cujo número
de páginas varia com o valor doado. Em seguida o bispo
oferece à platéia o Jornal Universal, sempre
comprado previamente por alguém que, para ajudar a obra
de Deus, deixou os exemplares para serem revendidos a R$1,00
durante a reunião. Para aquele que não contribui
nem compra o jornal, o bispo aconselha: "Em vez de comer
acarajé na rua, de comprar um refrigerante, guarde o seu
um real e traga para cá". Nas dependências da
catedral existem uma lanchonete e uma loja de artigos evangélicos,
cujos lucros complementam a renda da igreja.
O dizimo é um dos pontos mais
criticados na Iurd. Seus dirigentes têm consciência
disso. Para combater as críticas, os bispos massificam
explicações sobre essas cobranças. As
justificativas vão desde a satisfação dos
próprios fieis ("Vocês gostam de ar
condicionado, não é? Foi o dinheiro do dizimo que
pagou") até a sedução pela fé ("Está
na bíblia, foi Deus quem mandou").
Tentando legitimar a prática e
invalidar as criticas, o bispo Milton chegou a falar em uma
reunião de duas repórteres que estiveram fazendo
perguntas sobre o dizimo para os obreiros e auxiliares,
indagando à platéia porque elas não tiveram
coragem de perguntar diretamente a ele. As repórteres
citadas pelo bispo tinham tentado entrevistá-lo desde a
primeira visita à Catedral, mas o bispo se recusou
afirmando não ter tempo na ocasião. Aparentemente,
ele esqueceu-se de mencionar esse detalhe aos fiéis que,
dotados de grande fé, acreditam em tudo o que os bispos
lhes dizem, sem questionar absolutamente nada.
"(...) Nenhuma outra passagem da Bíblia
é tão exaltada e divulgada na Igreja Universal
quanto o 'Trazei todos os dízimos e ofertas', de
Malaquias (3:10). Pedir ofertas não era uma tarefa fácil,
e bem-aventurado era o pastor que dominava a arte de fazer com
que as pessoas abrissem seus bolsos ou assinassem cheques a
fundo perdido. Esses pastores eram poucos. Eles eram os reis da
lábia. Pelos seus esforços, recebiam tratamento
diferenciado: ganhavam bons carros, bons salários, boas
roupas e boas moradas. Eles eram o crème de la crème
da Igreja. Ou 'notáveis', como se autodefiniam. As
mordomias eram uma recompensa pela habilidade. Basicamente, essa
habilidade consistia em passar uma hora pedindo dinheiro, em
valores decrescentes, e ainda fazer com que o saque parecesse
uma singela parte do culto. Um singelo ritual em que os fiéis
ajudam a manter o bom funcionamento da obra de Deus.
"Muitos pastores, por timidez diante
do público ou por serem contra a total falta de transparência
do roteiro do dinheiro, simplesmente não se esforçavam
para levantar ofertas. Esses pastores formavam a ala
conservadora da Igreja e sempre eram mandados embora na primeira
oportunidade. Bem-feito para eles: em vez de pedir altas ofertas
e fazer macaquices no púlpito para entreter o povo,
optavam por pregar tolices como salvação da alma
ou tópicos que a ninguém importavam, como a
segunda vinda de Cristo ou o dia do Juízo Final."
Trecho do livro Nos Bastidores do Reino: A
Vida Secreta na Igreja Universal do Reino de Deus (1995), de
Mario Justino, ex-pastor da Iurd, que atualmente mora em Nova
York.
Igreja Universal é denunciada por
discriminação religiosa
Publicado no Jornal O Estado de S. Paulo
em 16/04/2003
O bispo Sérgio Santos Corrêa
e os pastores Gilberto Muniz Pereira e Marco Aurélio
Mendonça da Trindade todos da Igreja Universal do Reino
de Deus foram denunciados à Justiça da Bahia por
discriminação religiosa pelo promotor de Justiça
e Cidadania do Ministério Público Estadual
Lidivaldo Brito.
É a primeira vez que membros da
Igreja são denunciados à Justiça por esse
motivo no Estado. Os acusados realizaram vários ataques
ao Candomblé no programa "Ponto de Luz",
exibido pela TV Itapoan (Record) de Salvador. Pelo mesmo motivo,
Brito informou que pretende se aliar a Procuradoria da República
para requerer em conjunto a apreensão do livro "Orixás,
Guias e Caboclos" de autoria do chefe supremo da IURD, Edir
Macedo.
Fonte:
http://www.estadao.com.br/agestado/noticias/2003/abr/16/115.htm
Mulher com encosto é espancada
em igreja evangélica
Publicado em 20/01/2004
Ainda está no CTI a doméstica
Marilurdes Ferreira dos Santos, que foi espancada até
entrar em coma durante um culto da Igreja Universal do Reino de
Deus no bairro de Vila Valqueire, no Rio de Janeiro. Segundo
testemunhas que não quiseram se identificar, a mulher de
37 anos foi vítima de cinco pastores que estavam
ministrando uma seção de exorcismo.
O delegado que apura o caso revelou estar
com muitas dificuldades para identificar os agressores, pois
nenhum dos fiéis que presenciaram o ato de violência
se dispuseram a colaborar com as investigações
depondo no inquérito. A polícia teme que a igreja
esteja fazendo diversas ameaças a todos que presenciaram
a violenta "seção de descarrego".
Um dos pastores responsáveis pelo
templo declarou apenas que "atitudes firmes" em seções
de exorcismo são muito comuns e que um sacerdote agindo
em nome de Jesus nunca pode se render ao demônio. "Estávamos
ali apenas para ajudar a ação de Jesus. Foi a moça
que machucou a si mesma, porque o demônio que a possuía
se recusou a sair. Era ele que deveria estar aqui depondo, foi
ele quem a feriu", registrou imparcialmente o escrivão
nos autos do inquérito.
SÃO PAULO - O autoproclamado bispo
Edir Macedo Bezerra, que controla mais de mil templos da Igreja
Universal do Reino de Deus (Iurd) e é proprietário
da Rede Record de Televisão, cujo patrimônio é
avaliado hoje em cerca de US$ 2 bilhões, segundo seu
diretor-superintendente, Demerval Gonçalves, está
sendo intimado a devolver algo em torno de US$ 3,2 milhões
ao empresário paulista Waldemar Alves Faria Júnior.
Para recuperar o dinheiro, que entregou a
Edir Macedo em 1997, para ajudá-lo a acertar suas contas
com a Receita Federal, o empresário já encaminhou
notificação extrajudicial ao líder da
Igreja Universal, por meio do 4º Ofício de Registro
de Títulos e Documentos de São Paulo.
Sorteio 0900
De acordo com a notificação,
na década de 90, o empresário Waldemar Faria Júnior
começou a freqüentar a Igreja Universal, uma seita
evangélica criada no Rio de Janeiro por Edir Macedo, que
se autoproclamou bispo e espalhou templos por todo o Brasil e
por diversos países do exterior, incluindo Estados Unidos
e Rússia.
Faria Júnior, que então era
dono de uma grande empresa de marketing, com cerca de 400
empregados, conta que acabou conhecendo o próprio Edir
Macedo e o proprietário da Rede Record, então, o
convidou a colaborar no trabalho de captação de
recursos para a Rede Record.
Nesse sentido, a empresa de Faria Júnior
(Abba Produções e Participações
Ltda.) e a Rede Record de Televisão chegaram a firmar
contrato, mediante o qual o profissional de marketing passaria a
se responsabilizar pela implantação dos sorteios
0900, para que a emissora do bispo, como as outras TVs, também
pudesse realizar concursos interativos, via telefonia.
À época, Macedo lhe disse
que a renda seria integralmente destinada a entidades filantrópicas,
mas, depois, o empresário viria a descobrir que, em
verdade, o faturamento do 0900 era quase inteiramente carreado
para a Rede Record e para os provedores interativos, sem repasse
para entidades beneficentes.
Faturamento
Em valores atualizados, só com a
operacionalização dos sorteios 0900, entre 1997 e
1998 a Rede Record recebeu cerca de R$ 120 milhões,
faturamento que serviu para sedimentar o conceito e prestígio
de Faria Júnior junto ao bispo Macedo e a seus outros
bispos-auxiliares. Assim, as portas de suas casas, dos templos e
da Record então se abriram para o fácil acesso do
empresário e de seus familiares.
O golpe
Por conta do sucesso dessa parceria
religioso-empresarial e da intimidade que passou a ter com o
diretor da Abba, em novembro de 1997, o bispo Edir Macedo
procurou o empresário, para fazer-lhe um surpreendente
pedido pessoal.
Alegando necessidade urgente de fechar
suas contas com a Receita Federal e para não sofrer
retaliações de qualquer sorte no ano que se
findava, o bispo solicitou, em nome do Senhor Jesus, que o
empresário Waldemar Faria Júnior (que à época
tinha apenas 29 anos) lhe emprestasse R$ 3,6 milhões - ou
seja, o equivalente a US$ 3,2 milhões, sob a promessa de
que tal quantia seria oportunamente devolvida.
A essa altura, Faria e seu irmão,
de quem era sócio na Abba Produções e que
também passara a freqüentar a Igreja Universal, já
estavam inteiramente subjugados aos convincentes bispos
pregadores da seita e não tiveram a menor condição
de dizer não àquele que lhe prometia a felicidade
imediata aqui na Terra.
Foi assim que, em dezembro de 1997, o
empresário não só emprestou R$ 1,8 milhão
ao carismático líder da Igreja Universal do Reino
de Deus, como conseguiu os restantes R$ 1,8 milhão com
seu irmão e também sócio na sua empresa de
telemarketing. Tudo, é claro, em nome do Senhor.
Doação
Além de não assinar nenhuma
promissória ou documento que comprovasse o empréstimo,
15 dias depois, o empresário foi novamente procurado por
Edir Macedo, que o convenceu a firmar um Instrumento Particular
de Contrato de Doação do valor disponibilizado, em
que Waldemar Faria Júnior aparece como "doador"
e o próprio Edir Macedo surge como "donatário-beneficiário".
Sem condições de dizer não
ao líder religioso que seguia e tanto venerava, Faria Júnior
não teve alternativa e assinou o documento. E, assim, o
empréstimo ao proprietário da Rede Record acabou
se transformando numa milionária doação
particular, uma espécie de superdízimo destinado
ao desfrute particular de Edir Macedo e não para as obras
religioso-assistenciais da Igreja Universal.
Desprezo
Como logo depois houve uma decisão
judicial que proibiu a veiculação dos concursos
interativos 0900, o empresário Waldemar Faria Júnior
passou a não mais ter serventia para a Rede Record. Ao
mesmo tempo, começou a ser discriminado também na
Igreja Universal, onde o líder Edir Macedo e os
bispos-auxiliares passaram a evitar seu convívio, por
causa do vultoso empréstimo.
Quando precisou de recursos para reativar
sua empresa de marketing, que entrara em decadência, Faria
procurou Macedo, mas o dono da Rede Record recusou-se a atendê-lo.
Sem alternativa, o empresário procurou a via judicial
para recuperar o dinheiro emprestado a Edir Macedo.
Empresário lesado faz um alerta
aos fiéis
Revoltado e disposto a recuperar tudo o
que deu e transferiu ao bispo Edir Macedo e à Igreja
Universal, o empresário Waldemar Faria Júnior faz
um alerta a todos os que estão sendo convidados a doar
seus bens a essa seita evangélica, que faz questão
de proclamar não ter fins lucrativos e somente remunerar
seus pastores com o mínimo necessário a que suas
famílias sobrevivam com dignidade.
"Se o trabalho de pregação
do Evangelho é vocacionado na Igreja Universal, sem
vantagem ou compensação financeira alguma para os
pastores, de que forma miraculosa pôde o bispo Edir Macedo
adquirir o controle absoluto da terceira maior rede de TV do País
e ser detentor do controle do maior número de rádios,
por meio de outros bispos e pastores, já que,
sabidamente, seu ofício religioso não é e
nunca foi remunerado?", indaga o empresário.
Faria lembra também que, se Edir
Macedo não dispunha de US$ 3,2 milhões em dezembro
de 1997 e precisou pedir essa quantia para se regularizar
perante a Receita Federal, de onde tirou os US$ 500 milhões
investidos na Rede Record e na compra de outras emissoras de rádio
e de televisão, nos últimos anos, consoante
palavras de seu próprio diretor-superintendente, Demerval
Gonçalves, publicadas na "Folha de S. Paulo",
de 20 de julho de 1999 e nunca desmentidas?.
Bispos são "laranjas" de
Macedo na Record
O governo do presidente Luiz Inácio
Lula da Silva prestou um grande serviço ao País,
durante a gestão de Miro Teixeira no Ministério
das Comunicações, ao tornar pública a relação
dos proprietários de todas as emissoras de rádio e
televisão. A lista, que sempre foi envolvida em sigilo
total, agora pode ser acessada pela internet no site do Ministério
das Comunicações, www.mc.gov.br.
Cruzando as mais de 500 páginas de
documentos disponibilizados na internet, a reportagem da TRIBUNA
DA IMPRENSA ficou sabendo, por exemplo, que a Igreja Universal
do Reino de Deus, por meio de seus bispos e pastores, é
uma das campeãs do controle do maior número de
emissoras de rádio e de TV, muito embora se saiba que
eles não têm renda mensal, pois trabalham por amor à
causa evangélica, não podem ter patrimônio
suficiente para justificar a posse dessas caríssimas estações,
evidenciando que são apenas "laranjas" de Edir
Macedo.
EXORCISMO
Membro da Igreja Universal de Cândido
Mota acusa Pastor de omissão
Publicado no Jornal Voz da Terra em
27/04/2001 Fonte:
http://www2.uol.com.br/vozdaterra/policia/po2704200101.htm
A delegacia de Cândido Mota esteve
movimentada na tarde de ontem, quando vários membros da
Igreja Universal do Reino de Deus daquela cidade, estiveram
acompanhando o depoimento do Pastor Marcelo. Ele está
sendo acusado por Dirce Ene Ribeiro Dias, 40, moradora na rua João
Flauzino Barbosa, em Cândido Mota, de ter sido negligente
e omisso na sessão de exorcismo, realizada na
sexta-feira, do dia 30/03, nas dependências da Igreja.
Conforme relato da vítima ao
delegado Luiz Antônio Ramão, que apura o caso, ela
acusa o Pastor de incitar a manifestação do demônio
e depois deixá-la à mercê do "coisa
ruim". Durante a possessão, a vítima diz ter
se debatido muito, e acabou ferindo-se na testa e no tornozelo,
o que ficou comprovado com o exame de corpo de delito. A vítima
entende que o pastor poderia ter expulsado o demônio de
seu corpo, mas não o fez, por isso machucou-se. Pretende
representar contra ele perante a justiça. REPORTAGEM
LOCAL
fé s/a
Publicado no Jornal Povincia da Bahia
Quase "por dentro" do maior
templo de doutrinação pessoal em Salvador de um
fenômeno chamado Igreja Universal do Reino de Deus
Fernanda Alamino e Saara Brito
Especial para a Província
Cadeiras estofadas, ar condicionado,
sistema de iluminação, uma pequena cascata ao
fundo e câmeras de vídeo, muitas câmeras.
Nesse cenário reúnem-se com freqüência
cerca de 5.400 pessoas buscando soluções,
agradecendo o que já conseguiram ou simplesmente para
reafirmarem suas crenças.
De repente a música aumenta, as
conversas cessam e a multidão se levanta. Indiferente a
tudo o que acontece a sua volta, um homem encontra-se ajoelhado
à frente de todos, diante de uma cruz. Ao fim de sua
pequena oração ele começa a cantar,
virando-se pela primeira vez para os fiéis, que o
acompanham na canção.
No decorrer da reunião, denominação
dada ao culto da Igreja Universal do Reino de Deus (Iurd),
pode-se perceber elementos de várias religiões: a
música animada de um culto gospel, símbolos
judaicos como o castiçal de sete braços e os "encostos"
- denominação pejorativa dada a supostas "entidades"
cultuadas nas religiões de matizes africanas, como o
Candomblé.
Depois de dirigir a reunião o "bispo",
com a ajuda de "pastores" e auxiliares, atende aos fiéis
que, em fila, aguardam ansiosamente para lhe falar, assim como
os fãs procuram seus ídolos depois de um show. Na
seqüência, o bispo entra em uma pequena sala e sobe
os andares da Catedral da Fé. O prédio edificado
pela Igreja Universal do Reino de Deus na Avenida Antonio Carlos
Magalhães (região do Iguatemi), é um
verdadeiro complexo empresarial, cujo principal garoto
propaganda é Jesus Cristo.
A nomenclatura utilizada pela Iurd para
hierarquizar sua relação com o público, a
exemplo das denominações "bispo", "catedral"
e "pastor", é uma apropriação que
os mentores dessa seita neopentencostal fizeram de outras
igrejas, sem, entretanto, obedecer a quaisquer normas rígidas
de formação sacerdotal. A reportagem vai mantê-la
no presente texto.
As atividades realizadas na catedral
ultrapassam o andar térreo. Acima do grande salão
onde acontecem os mega-eventos e reuniões, está a
base administrativa de todas as filiais da Universal situadas em
Salvador. Com acesso restrito aos funcionários, no batistério
estão localizados os setores administrativo, financeiro e
pessoal.
O setor parece ser mantido em segredo, a
julgar pela reação do funcionário ao
atender o telefonema da reportagem: "Como você ficou
sabendo desse setor?" As repórteres foram impedidas
de visitar o departamento devido a uma ordem do setor jurídico
de São Paulo, segundo o funcionário.
Chegar à Escola Bíblica
Infantil (EBI), também situada no primeiro andar, é
tarefa possível apenas para os pais das crianças.
A professora responsável pela escola não pode ser
contatada, sob a alegação de que estava sempre "em
reuniões" ou dando aulas cujo horário de término
ninguém sabia informar.
Sempre presentes estavam os seguranças,
prontos a informar: "A senhora não pode subir aí".
São 15 bases de seguranças apenas no andar térreo,
conectadas através de walk-talks, vigiando todos os
acessos aos andares superiores: escadas, elevadores, rampas etc.
Para aqueles que conseguem driblar a
segurança, o circuito fechado de TV se apresenta como uma
nova barreira. As câmeras parecem não incomodar nem
fiéis nem funcionários, pois para eles
independente das câmeras "Deus está vendo".
Quando a reportagem tentou entrevistar João Reis, um
faxineiro da Iurd, este, preocupado com o circuito eletrônico,
respondeu que não podia dar entrevista "porque eles
estão me vendo" - frase repetida em duas ocasiões
e em diferentes pontos da catedral.
Sem uniforme de segurança e
equipamentos de comunicação, os obreiros e
auxiliares vigiam os fiéis durante a reunião.
Vestidos em camisas sociais brancas ou azuis, eles acompanham o
desenvolvimento do culto encostados nas laterais do salão
ou circulando entre as fileiras de poltrona. Os lábios
acompanham a música ou oração, mas os olhos
freqüentemente se fixam sobre aqueles que não
acompanham o comportamento e as ações da maioria
dos que ali freqüentam.
Igreja tem "plano de cargos e benefícios"
Fernanda Alamino e Saara Brito
Especial para a Província
Como qualquer empresa, a Iurd prevê
promoções. Aqueles que decidem trabalhar em
atividades religiosas começam cedo, com no máximo
20 anos de idade. O primeiro cargo que ocupam é o de
obreiro, ficando responsáveis por sondar as pessoas
durante o culto, além de servir o pão e o suco de
uva na "Santa Ceia" da reunião de domingo,
passar o "óleo sagrado de Jerusalém" nos
fiéis ou ainda encaminhar as crianças para a EBI
durante as reuniões. Esse é o único cargo
ocupado também por mulheres.
Logo acima dos obreiros estão os
pastores-auxiliares. Suas atividades são semelhantes às
dos obreiros, apresentando duas diferenças básicas:
atendem aos fiéis individualmente nos espaços
entre uma reunião e outra, seja para dar conselho ou
realizar simples "descarregos", e ajudam no
recolhimento do dízimo.
A Iurd mantém uma espécie de
serviço de telemarketing (call center) e os auxiliares
também atendem ao público por telefone, como
explica Rose Barreto, 39 anos, fiel há cinco. "Estava
com problemas em casa, com meu marido, e precisava de conselho.
Quando liguei uma voz muito jovem começou a conversar
comigo. Era um auxiliar de apenas 16 anos. Eu acreditei nas
palavras dele porque se ele já era auxiliar é
porque o bispo confiava nele, Deus também".
Quando se atinge o cargo de pastor, além
dos conselhos individuais e "descarregos", a pessoa
está autorizada a tirar "encostos" e ministrar
reuniões.
O cargo de bispo representa o posto máximo.
São os bispos que realizam os principais "descarregos"
e dirigem as reuniões mais importantes, além de
apresentar os programas de rádio e TV do sistema de
comunicação de massa da Iurd, que na Bahia inclui,
por exemplo, a TV Itapoan/Record, a TV Cabrália, a rádio
Sociedade etc. As gravações para a TV é
feita em estúdio dentro da própria catedral. Os
bispos também dão aulas de doutrinação
para obreiros, auxiliares e pastores.
Quando um pastor é aclamado bispo "precisa
abandonar tudo, seu emprego, sua casa. Ele se dedica só a
igreja", explica Raimundo Silva, segurança da Iurd.
Para ter essa dedicação total, o bispo vai morar
em imóveis pertencente à igreja, mas não
sozinho, mas com mulher e filhos, se os tiver. Nos últimos
andares da Catedral da Fé há residências
construídas com este intuito. Os apartamentos são "tão
luxuosos quanto a igreja", possuem suítes "e
alguns têm até piscina", de acordo com
Raimundo Silva.
Todo esse conforto é para poucos.
Apenas cinco bispos estão alojados na catedral, entre os
quais o bispo Zacarias, coordenador de todas as unidades da
Universal em Salvador.
A elevação nos cargos é
proporcional à atuação dos personagens
dentro da igreja. "As pessoas observam quando você é
capaz de tirar um encosto, de fazer milagres", conta o
pastor auxiliar Júlio. Para um pastor ser promovido a
bispo, precisa realizar muitos "milagres". A Catedral
da Fé é a igreja mais freqüentada entre os
fieis, que falam da grande concentração de
milagres que ali ocorrem. "As pessoas vêm de todos os
lugares da cidade porque aqui é a sede, é onde
tudo acontece. Todo mundo vê o que acontece pela TV e é
aqui que começa o chamado", explica o representante
de vendas Edvan Santos, 39 anos, fiel há 15.
As atitudes dos bispos variam de acordo
com as atividades solicitadas. Durante as reuniões são
falantes e extrovertidos, quase showmen. Assumem uma postura
mais séria e recatada quando atendem individualmente as
pessoas. São escorregadios quando procurados para
entrevistas.
Bispo Milton, que chegou à catedral
da fé há um mês, evitou falar à
reportagem. Por duas semanas se esquivou e quando decidiu
responder às perguntas, encaminhadas a ele por escrito e
com prazo de quatro dias para resposta, foi inesperadamente
transferido para a filial situada no bairro Dois Leões.
Os demais bispos, pastores e auxiliares parecem ter firmado voto
de silêncio e evitaram falar à reportagem.
Dízimo move a máquina
Um dos templos da igreja bolada por Edir
Macedo em 1977: empreendimento bem-sucedido
Fernanda Alamino e Saara Brito
Especial para a Província
"Se vocês não
contribuem, não podem reclamar do que acontece. Se você
dá o dizimo, tem o direito de exigir de Deus"
discursa o bispo Milton para a multidão atenta. O dizimo,
contribuição referente a 10% da renda do fiel, é
um tema exaustivamente explorado durante as duas horas de pregação.
Muitos trechos da bíblia são lidos e discutidos
para justificar a cobrança. Nesse momento a tarefa do
bispo é colocar a Iurd na posição de vítima
da sociedade, além de explicar que para a igreja
continuar funcionando alguém precisa pagar as contas,
faxineiros, seguranças, o estúdio. A moradia e salários
dos bispos não são mencionados nessa listagem.
Para arrecadar o dizimo são
distribuídos envelopes em forma de balaio, nos quais os
fiéis depositam suas contribuições. De mês
em mês os envelopes são recolhidos e novos são
entregues. A Iurd também distribui e recolhe envelopes
para pedidos de oração. Dentro, há um papel
em forma de folha de cheque, no qual o fiel escreve o pedido,
assina seu nome e, a depender, indica o valor de sua contribuição.
São duas folhas diferentes: branca
com letras azuis para doar R$10,00 e branca com letras cinzas
para R$ 50 ou R$100. Neste caso, existem dois espaços
indicando o valor e o fiel marca o quadradinho correspondente à
quantia da sua doação. Mais do que identificar
pessoas e pedidos de oração, essa prática
permite que as doações sejam reconhecidas
legalmente, já que mostra os valores doados, detalhando a
origem do dinheiro.
Para garantir essa fonte de renda, o bispo
está sempre lembrando aos dizimistas do seu compromisso
com a obra de Deus. Os fiéis são convencidos de
que ao começar a doar não podem mais deixar de fazê-lo,
pois "o dinheiro não pertence mais a você,
pertence a Deus, e deve ser entregue não ao mendigo na
rua, mas para a obra do Senhor", explica o bispo para a
platéia.
Existe uma ordem pré-estabelecida
para arrecadar as doações. Primeiro são
chamados à frente os dizimistas, com seus
envelopes-balaios prontos para serem entregues aos pastores e
auxiliares. Em seguida, os portadores de envelopes para R$ 50 ou
R$ 100 fazem sua doação, gesto repetido por
aqueles que trazem envelopes de R$10.
Em todos os casos o bispo dá um
presente em troca: pequenos livros evangélicos cujo número
de páginas varia com o valor doado. Em seguida o bispo
oferece à platéia o Jornal Universal, sempre
comprado previamente por alguém que, para ajudar a obra
de Deus, deixou os exemplares para serem revendidos a R$1,00
durante a reunião. Para aquele que não contribui
nem compra o jornal, o bispo aconselha: "Em vez de comer
acarajé na rua, de comprar um refrigerante, guarde o seu
um real e traga para cá". Nas dependências da
catedral existem uma lanchonete e uma loja de artigos evangélicos,
cujos lucros complementam a renda da igreja.
O dizimo é um dos pontos mais
criticados na Iurd. Seus dirigentes têm consciência
disso. Para combater as críticas, os bispos massificam
explicações sobre essas cobranças. As
justificativas vão desde a satisfação dos
próprios fieis ("Vocês gostam de ar
condicionado, não é? Foi o dinheiro do dizimo que
pagou") até a sedução pela fé ("Está
na bíblia, foi Deus quem mandou").
Tentando legitimar a prática e
invalidar as criticas, o bispo Milton chegou a falar em uma
reunião de duas repórteres que estiveram fazendo
perguntas sobre o dizimo para os obreiros e auxiliares,
indagando à platéia porque elas não tiveram
coragem de perguntar diretamente a ele. As repórteres
citadas pelo bispo tinham tentado entrevistá-lo desde a
primeira visita à Catedral, mas o bispo se recusou
afirmando não ter tempo na ocasião. Aparentemente,
ele esqueceu-se de mencionar esse detalhe aos fiéis que,
dotados de grande fé, acreditam em tudo o que os bispos
lhes dizem, sem questionar absolutamente nada.
"(...) Nenhuma outra passagem da Bíblia
é tão exaltada e divulgada na Igreja Universal
quanto o 'Trazei todos os dízimos e ofertas', de
Malaquias (3:10). Pedir ofertas não era uma tarefa fácil,
e bem-aventurado era o pastor que dominava a arte de fazer com
que as pessoas abrissem seus bolsos ou assinassem cheques a
fundo perdido. Esses pastores eram poucos. Eles eram os reis da
lábia. Pelos seus esforços, recebiam tratamento
diferenciado: ganhavam bons carros, bons salários, boas
roupas e boas moradas. Eles eram o crème de la crème
da Igreja. Ou 'notáveis', como se autodefiniam. As
mordomias eram uma recompensa pela habilidade. Basicamente, essa
habilidade consistia em passar uma hora pedindo dinheiro, em
valores decrescentes, e ainda fazer com que o saque parecesse
uma singela parte do culto. Um singelo ritual em que os fiéis
ajudam a manter o bom funcionamento da obra de Deus.
"Muitos pastores, por timidez diante
do público ou por serem contra a total falta de transparência
do roteiro do dinheiro, simplesmente não se esforçavam
para levantar ofertas. Esses pastores formavam a ala
conservadora da Igreja e sempre eram mandados embora na primeira
oportunidade. Bem-feito para eles: em vez de pedir altas ofertas
e fazer macaquices no púlpito para entreter o povo,
optavam por pregar tolices como salvação da alma
ou tópicos que a ninguém importavam, como a
segunda vinda de Cristo ou o dia do Juízo Final."
Trecho do livro Nos Bastidores do Reino: A
Vida Secreta na Igreja Universal do Reino de Deus (1995), de
Mario Justino, ex-pastor da Iurd, que atualmente mora em Nova
York.
Agressões e insultos
Fanáticos da Iurd atacam Candomblé;
pastor esmurra colaboradora da Província
Sueide Oliveira
Especial para a Província
Eu vi e recomendo! A sessão de "descarrego"
é um show. Seria melhor se eu não tivesse sido
perseguida e agredida pelo "pastor" Thiago Germano.
No final da sessão de descarrego,
ao meio dia de 6 de maio, cerca de 20 pastores ficam ao redor da
tribuna dando consulta aos fiéis. Thiago é um
deles. Esse pastor carioca de 19 anos está em Salvador há
2. Foi com ele que conversei, e lhe pedi autorização
para escrever o que estava me respondendo. Depois de ter me dado
entrevista se arrependeu e confiscou-a. Ele disse temer que a
entrevista chegasse a um grande jornal, o que o levaria a perder
o "ministério".
Debatemos mas eu tive mesmo de destacar a
folha do caderno onde escrevi tudo o que ele me disse e devolver
a folha, rasgando-a em pedacinhos. Não foi o suficiente.
O pastor resolveu me seguir quando deixei a "Catedral da Fé",
dizendo que queria o caderno. Do lado de fora, enquanto eu
tentava me afastar, tocou o telefone e, para ver se ele largava
do meu pé, comentei que também estava com um
gravador (que não foi utilizado na entrevista).
O pastor me perseguiu pela rua no intuito
de tomar minha bolsa e meu celular. Na perseguição
ele gritava que eu estava com "encosto". Parei o
primeiro ônibus que vi, entrei e ele também. O
pastor me seguiu até a borboleta, quando foi barrado pelo
cobrador. Sem possibilidade de tomar nem a bolsa nem o celular,
o pastor me agrediu fisicamente com um soco nas costas e gritou:
"Deus não quer que pisem no calo dele." Ninguém
dentro do ônibus quis ir à delegacia testemunhar o
que assistiu.
Pois é, Thiago, se Deus não,
a igreja Universal anda pisando no calo de muita gente.
Jiudásia, a Mãe Gilda do
terreiro Abassá de Ogum participou do ato simbólico
a favor do impeachment de Fernando Collor ao lado de Caetano
Veloso em 1992. A foto da ialorixá e do cantor saiu numa
matéria da revista Veja. Depois de 7 anos a Igreja
Universal montou, cortando Caetano Veloso, a mesma foto da
ialorixá com uma tarja preta no rosto e publicou no
jornal Folha Universal, sobre a manchete de primeira página:
"Macumbeiros charlatões lesam o bolso e a vida de
clientes". Nem os filhos de santo nem a comunidade
entenderam, muitos afastaram-se do terreiro. Além disso,
a casa de mãe Gilda, em Itapuã, já tinha
sido invadida duas vezes por seguidores da igreja Deus é
Amor, outra neo-evangélica. Em agosto de 1999 as invasões
e em outubro a publicação da Folha Universal.
Depois disso o terreiro passou por dificuldades financeiras, mãe
Gilda ficou em depressão e teve um infarto fulminante dia
21 de janeiro de 2000.
A filha biológica e irmã de
santo de Gil-da, a ialorixá Jaciara Ribeiro - que naquela
época morava em Curitiba - moveu um processo por reparação
de danos contra a Iurd. Segundo ela, na ocasião, ao
procurar a Federação do Culto Afro-brasileiro
ouviu de seus dirigentes que enfrentar a Universal era "um
caldo muito grosso" e que nada poderia ser feito. De lá
para cá as coisas mudaram. O processo na justiça
se arrasta desde 2001. No dia 14 de maio de 2003 ocorreria a
primeira audiência no fórum Rui Barbosa.
Depois de três anos de morta, a
comunidade rende homenagens à Mãe Gilda. Um busto
representando a ialorixá será erguido no Abaeté,
por iniciativa de um projeto comunitário denominado Ilê
Erê. No dia 5 de março de 2003 o Movimento Contra a
Intolerância Religiosa (MCIR) fez uma passeata pelas ruas
de Itapuã ao Abaeté, reunindo mais de 500 pessoas
em memória da mãe de santo. São os
terreiros, que junto com parcela da sociedade baiana, se
organizam.
Jaciara se diz indignada com a Iurd: "Eles
[ da Iurd] são organizados política e
financeiramente, têm uma grande mídia na mão,
têm o poder, têm o dinheiro. Alguns terreiros de
candomblé estão fechando porque a igreja Universal
compra o terreno do lado e impede o culto."
Mas ela reconhece as reações:
"Hoje a gente percebe que o MCIR tem unificado os
terreiros. Antes a gente não era muito unido, cada um
tinha sua nação; hoje a gente percebe que é
uma vertente só, é um caminho só ser do
Candomblé, seja de Angola, seja de Ketu...
Constituição atingida
A ação judicial movida por
Jaciara Ribeiro é o primeiro processo contra intolerância
na justiça baiana. O processo teve início em 2001.
Para o advogado Maurício Azevedo de Araújo, que
acompanha o caso, "a Universal é uma igreja de
exportação, que funciona como uma empresa."
Segundo ele, Justiça brasileira já tem punido a
Iurd em alguns casos. O advogado lembra que em Praia Grande,
interior de São Paulo, dois "bispos" foram
presos ao distribuírem panfletos difamando o candomblé
durante as comemorações do dia de Iemanjá.
O MCIR reúne os terreiros de
Candomblé de Salvador, além de organizações
do movimento negro, entidades como o Centro de Estudos
Afro-Orientais da UFBA e a Fundação Palmares do
Ministério da Cultura, e personalidades que lutam pelos
direitos humanos e liberdade religiosa. Existe desde os anos 80,
mas tem atuado mais articuladamente nos últimos meses.
Segundo Alexandro Reis, do Terreiro Bate
Folhinha e coordenador da Unegro, existe por trás da ação
religiosa da Iurd "um grande projeto político de
dominação, aproveitando da miséria
brasileira para chegar ao poder". Ele relembra que as
agressões contra as religiões afros ferem a
Constituição brasileira e a Declaração
dos Direitos do Homem. Ainda assim, reconhece. tais agressões
vêm aumentando, "com a conivência do governo."
'Pare de sofrer!' é a legenda que
atrai
Fernanda Alamino e Saara Brito
Especial para a Província
As pessoas que chegam a Iurd são
seduzidas pela promessa estampada nos letreiros que identificam
a igreja. Muitas delas dizem que passavam por vários
problemas quando decidiram freqüentar a Igreja Universal.
Os problemas mais comuns são os de saúde, os
conjugais ou os de família.
"Eu estava com o corpo todo
paralisado, nenhum médico sabia dizer o que eu tinha. Uma
tia que freqüentava a Universal me trouxe para cá e
eu me curei" relata Edvan Santos.
Para evitar que os fiéis abandonem
a igreja depois de conseguir a "graça"
pretendida, os bispos asseveram que se a pessoa deixar a religião
"a vida vai andar para trás. Sua alma não te
pertence mais, pertence ao Senhor e você não pode
tirar". Esse discurso é repetido entre vários
freqüentadores que se ausentaram temporariamente e tiveram
muitos problemas. Eles atribuem essas situações
difíceis ao afastamento da religião.
Pelo que a reportagem pode apurar, o que
leva na maiorias das vezes o fiel a se afastar da Universal é
o preconceito de setores da socieade e da própria família,
que vêem com suspeita a Iurd. As mulheres são quem
mais freqüentam sem o apoio da família. É
comum bispos, pastores e auxiliares prometerem que orando com
muita fé, o marido e os filhos "sairão do mau
caminho" e também serão "arrebanhados
pelo Senhor."
Para o fiel da Universal, todo dia é
dia de reunião, mas as terças-feiras, quartas e
domingos são dias "das reuniões indispensáveis
se você realmente quer que algo aconteça na sua
vida", como indica Rose Barreto. Às terças
acontecem os cultos de "descarrego", momento no qual
os bispos prometem tirar todos os "encostos" que
estejam "amarrando" a vida do fiel. É o dia de
lotação máxima, quando maior número
de fieis vai à Catedral da Fé.
Os fiéis confiam tanto nos
representantes da Universal que nem se incomodam quando o bispo
faz queixas das crianças, pois elas desviam a atenção
das mães. Nesse momento, os obreiros são
convocados para retirar as crianças do salão e
conduzi-las à EBI, no primeiro andar. Nenhuma mãe
se manifesta contra o discurso pouco polido do bispo e acha "até
bom" que o filho fique brincando na Iurd, para se acostumar
desde cedo à vida na igreja.
Algumas mães sonham que o filho
siga a carreira religiosa na Universal, tornando-se um dos
bispos que elas tanto admiram. Rose Barreto, que tem um filho de
16 anos, George Barreto, incentiva o adolescente a ingressar
nessa carreira - já que ele tem vontade de ser pastor -
pois acha "interessante e bonito".
Universal luta pelo poder
Além de votos, igreja de Edir
Macedo acumula processos e inquéritos criminais
Claudio Leal
Da equipe de Redação
A Igreja Universal do Reino de Deus (Iurd)
deve confiar mais na justiça dos homens que na divina. O
aumento da força política dos bispos da Universal
transforma as denúncias contra a cúpula da igreja
em meros atos de "perseguição religiosa".
O bispo Carlos Rodrigues (PL-RJ),
considerado ambicioso pelos próprios membros da Iurd (na
sua passagem pela Bahia, elevou o dízimo de 10% para
30%), é hoje um dos principais líderes da base
aliada do presidente Lula da Silva, comandando uma bancada de 22
deputados federais. A chegada de José Alencar (PL-MG) à
vice-presidência ampliou a influência da igreja na máquina
estatal.
Na Bahia, a Iurd está ligada tanto
ao PL quanto ao PFL e elegeu dois bispos para a Assembléia
Legislativa em 2002 (a bancada do PL é de quatro
deputados). Além disso, o radialista Raimundo Varela, da
TV Record e Rádio Sociedade (comandadas pela Igreja
Universal), já é apontado nos meios políticos
como provável candidato à Prefeitura de Salvador.
Isso significaria uma mudança na estratégia política
da Iurd. Até agora, a orientação da cúpula
tem sido para que seus candidatos disputem somente cargos do
legislativo.
O apoio dado pelo PL a Antônio
Carlos Magalhães no processo de cassação
aumentou a especulação. ACM chegou a elogiar, na
tribuna do Senado, o senador Marcelo Crivela, sobrinho de Edir
Macedo - porque o mesmo votou a favor do arquivamento do relatório
da Conselho de Ética que propôs a cassação
do senador baiano.
Na Bahia, a Iurd e seus membros respondem
a diversos processos na justiça e inquéritos
policiais. A acusação mais grave recai sobre o
pastor Sílvio Galiza, apontado como o autor do
assassinato do garoto Lucas Terra, de 14 anos, que freqüentava
os cultos da Igreja Universal. Em abril deste ano, a 2a Câmara
Criminal do Tribunal de Justiça do Estado negou, por
unanimidade, o recurso da defesa do pastor Galiza por inexistência
de provas que impeçam o júri popular. A defesa
recorreu.
O inquérito aberto pelo delegado da
6a circunscrição policial, José Edson Araújo,
para apurar a agressão sofrida pelo colaborador da Província,
Jonathas Araujo, ainda não foi concluído. No dia 4
de abril, Jonathas foi mantido em cárcere privado pelos
seguranças da Iurd por ter tirado fotos na área
externa à "Catedral da Fé". O filme da máquina
foi apreendido após um interrogatório no subsolo
da igreja. A Polícia Militar esteve no local, mas não
encontrou os responsáveis.
"O tenente Jefferson e a sargenta
foram interrogados e disseram que nada puderam fazer porque o
ato delituoso já tinha ocorrido e o problema foi
solucionado pelos repórteres", afirma José
Edson. O delegado disse à reportagem que a ordem de serviço
de busca e apreensão seria cumprida na tarde de 6 de
abril, porém, nada aconteceu. A identificação
dos responsáveis pode ficar para as calendas gregas.
Mais processos
A Procuradoria da República na
Bahia, em segredo de justiça, também investiga a
Iurd e "seus dirigentes, na obtenção de
concessões para exploração de rádio
e televisão". O processo 306/97-33 está nas mãos
do procurador Márcio Barra Lima e a autuação
ocorreu em 18 de junho de 1997.
Os processos relacionados à intolerância
religiosa tiveram mais repercussão. Um deles é um
pedido de indenização por danos morais que corre
na 17a Vara Cível, em virtude da morte da mãe-de-santo
Gilda, do Terreiro Abassá de Ogum, que sentiu-se mal após
ter visto sua foto, acompanhada de agressões, na "Folha
Universal".
Outro crime de intolerância
religiosa foi cometido pelo programa "Ponto de Luz",
da TV Itapoan, que fez pregações contra o candomblé.
O Ministério Público pediu a suspensão do
programa, já que o conteúdo dele não foi
submetido ao Ministério da Justiça. A TV Itapoan
alega que, por ser "ao vivo", o programa não
precisa de autorização prévia.
"A portaria do Ministério da
Justiça não livra os programas ao vivo de uma
avaliação do conteúdo após a exibição",
diz o promotor do MP, Lidivaldo Brito. Neste caso, a Igreja
Universal sofreu a primeira derrota em maios de 2003. A juíza
de infância, Maria Helena, determinou a mudança do
horário do programa. Os pastores já falam em "censura".
Em entrevista à Província, o
teólogo Leonardo Boff afirmou que "o diálogo
com pessoas fundamentalistas é muito difícil
porque elas partem do pressuposto de que não têm
nada para aprender e não alimentam a vontade do diálogo".
Boff suspeita que a intolerância com o candomblé
ocorre também por motivos étnicos.
A ironia é que Edir Macedo nasceu
em família católica e freqüentou terreiros de
candomblé quando jovem.
Morte
Em Campina Grande foi encontrado o corpo
de um homem com 28 facadas, envolvido em um colchão e um
lençol e amarrado com um fio. Uma das orelhas da vítima
foi decepada. Adriano Alves Pontes, de 27 anos, segundo a polícia
teria sido assassinado com requintes de crueldade, pelo pastor
da Igreja Universal do Reino de Deus, Francisco Queiroz Feitosa,
34 anos, que está foragido. Segundo levantamento da polícia,
o pastor teria envolvimento com drogas e era homossexual.
http://www.seol.com.br/cidadealerta/hoje/articles.php?task=view&articleID=198
Amém
Publicado na Folha de São Paulo em 20/02/2004
NELSON DE SÁ
EDITOR DA ILUSTRADA
- Vamos falar com Deus. Senhor meu Deus e meu Pai, nós rogamos por nosso país, por nossos governantes, para que o Senhor venha fazer justiça.
Era o bispo Clodomir Santos, na madrugada de ontem, no programa "Fala que Eu Te Escuto", da Record.
- Meu Deus, temos visto o povo enganado. Enganado por muitos políticos. Nem todos, mas infelizmente pela maioria. Então, meu Deus, faz mudar tudo isso.
E chegou ao ponto:
- Até mesmo com relação àqueles que foram eleitos por nós, pelo povo da Tua igreja. Que o Senhor venha dar caráter a cada um deles. É o que nós pedimos e desde já Te agradecemos. Amém.
O escândalo de Waldomiro Diniz fez sua primeira baixa onde poucos vinham buscando: na Igreja Universal.
Bispo Rodrigues, tido como o segundo homem na igreja e seu elo com o poder político, não foi alvo só da oração de Clodomir, mas de meia hora de ataques no programa.
Foi lá que se divulgou a nota oficial da igreja, dizendo que ele "foi afastado de suas funções de bispo e da coordenação política da bancada".
E lá foi reproduzida a reportagem de "O Dia" mostrando, entre outras coisas, que ele empregou a mulher de Waldomiro em seu gabinete.
Para o programa, foram buscar até uma prédica de Edir Macedo há dois meses, supostamente com um aviso a Rodrigues e outros:
- Eu estou falando com os políticos nossos, da Igreja Universal do Reino de Deus. Vocês estão no meio da corrupção. A vida de vocês está na mão de vocês. Se vocês fizerem o que é errado, podem ter certeza, vocês vão dançar.
A prédica de Edir Macedo foi reproduzida também no Jornal da Record, de Boris Casoy -que não deu uma manchete para o assunto.
O Jornal Nacional de ontem carregou bem mais nas tintas. Com mais de uma manchete, para começar:
- A Igreja Universal do Reino de Deus anuncia o desligamento de um de seus bispos mais influentes.
Em seguida:
- O motivo é a revelação de um esquema envolvendo o bispo para desviar dinheiro da Loteria do Rio com a ajuda de Waldomiro.
Depois veio o longo relato de um depoimento que, dado ao Ministério Público em maio de 2003, "revelou o esquema de desvio de verbas na Loterj". Amém. [i]
http://www1.folha.uol.com.br/fsp/brasil/fc2002200422.htm
Rap do Pastor
Publicado na e-zine AS MULATAS DE JESUS CRISTO
nº 103 - Canoas - 26/07/2003
tu tá com o diabo na cabeça /
libera dez por cento que tá bom à beça /
é a corrente dos 318 /
cheguei atrasado no meu AUDI 3.8 /
tu só não prospera porque não lê o
que Cristo disse /
poderia ser presidente e ta aí de vice /
ao invés de gastar dinheiro em chimarrão e cuia /
vem pro templo e grita aleluia /
é segunda, terça, quarta, quinta, sexta, sábado
e domingo /
aparece em todos os cultos com a grana que papai do céu
tá vendo /
como posso te prometer o céu se não ganhei a
grana do dia? /
aleluia, guria /
alelúia, senhora /
vai passando a bolsa que dízimo não tem hora /
deus não dorme e Jesus não marca toca /
é satanás que tá te tirando a comida da
boca /
e não eu /
só peço humildemente dez por cento bem aqui /
afinal de contas preciso colocar gasolina na minha Grand
Cherokee /
O bispo disse tá dito /
e o inferno te ensina a lição /
passa o salário que tu ganhou limpando o chão /
eu tiro o leite do teu filho, da tua filha e tua roupa do corpo
/
afinal, eu te livrei do diabo, não seja mal-educado /
preciso prestar contas com deus na missa /
que guarda a tua vida tanto quanto minha grana na Suíça
/
não presto contas pro fisco /
só me explico com o bispo /
com a Bíblia debaixo do braço /
te convenço até a doar o baço /
já que da tua fé eu já tirei o cabaço
/
eu sou teu pastor /
nada me faltará /
tua fé é meu pátio /
onde eu brinco de rezar /
e você que fica aí /
falando mal da Universal /
dizendo que estorquimos e que sou um pastor mau /
é melhor começar a penar no teu presente /
porque o futuro a deus pertence /
Edir Macedo pra presidente /
ateu, te prepara pra o que é teu /
na real sou tão ateu quanto você /
uma questão de dialética /
o que os difere é a tua ética...