fonte:IstoÉ, 28/05/2000www.terra.com.br/istoe/ 
    
     
    
    Preces, perorações e missas em videoteipe. Esse costuma
      ser o cardápio dos programas religiosos na madrugada. O Fala que Eu
      Te Escuto, produzido pela Igreja Universal e exibido pela Rede Record
      entre meia-noite e 2 da manhã, é diferente. No ar há
      um ano e meio, o talk-show religioso resolveu apelar, nos últimos
      meses, para fórmulas consagradas na televisão, por assim
      dizer, profana. Resumindo em três palavras: violência,
      teledramaturgia e convidados especiais. No gênero e no horário
      pode ser considerado um sucesso. Chegou a ter um pico de 7 pontos no
      Ibope, durante uma aparição do animador Sérgio
      Mallandro. E virou um cult entre os que sofrem de insônia. Na
      origem, o Fala que Eu Te Escuto era apenas um programa de debates com a
      participação, por telefone, do espectador. Com o tempo, esse
      formato foi sendo incrementado. Para um debate sobre o tema "Crimes bárbaros:
      a causa é espiritual?", incluíram-se trechos do
      noticioso Cidade Alerta. Em outro, cujo assunto era "Homens e
      mulheres que trocam constantemente de parceiros: prostituição
      ou modismo?", o fofoqueiro profissional Nelson Rubens foi convidado
      para discorrer sobre o assunto. Ele terminou dizendo que artistas que
      trocam muito de namorada dão mau exemplo para os jovens. Os bispos
      da Record gostaram. Nelson virou uma espécie de consultor artístico
      informal do programa. 
    
    As "novelinhas", na verdade esquetes improvisados, começaram
      a ser exibidas há seis meses. Na semana passada, usou-se o recurso
      no programa "Traição: quem se frustra mais? A esposa ou
      a amante?" Começava com um casal na cama, formado por um homem
      de aliança e sua suposta comborça. Na cena, a amante
      reclamava que o homem a estava enrolando, descumprindo a promessa de
      largar a mulher. A produção das "novelinhas" é
      mambembe. Os atores são recrutados entre iniciantes e recebem um
      cachê de 70 reais por gravação. Não há
      texto. As falas são imaginadas na hora. 
    
    Jipe blindado - O apresentador do programa é um espetáculo
      à parte. O bispo Clodomir dos Santos Matos, de 33 anos, faz o tipo
      galã, usa brilhantina no cabelo e abusa do bordão "Eu
      estou aqui para escutar, não para falar". Ele gosta de lembrar
      que a Universal o salvou do mundo do tráfico. Adolescente, ele
      trabalhava como "avião" no subúrbio carioca de
      Rocha Miranda - a gíria se refere ao garoto que leva cocaína
      aos usuários. O bispo entrou para a Universal aos 17 anos, depois
      de ter sido preso três vezes. Morou dois anos nos Estados Unidos,
      onde aprendeu a fazer televisão, num curso pago pela igreja. Hoje,
      como a maioria dos bispos da Universal, anda pelas ruas de São
      Paulo em carro importado - um jipe Grand Cherokee que, incluindo a
      blindagem, sai por cerca de 100.000 reais. "O povo é muito
      manipulado. Ele precisa pensar", pontifica a nova estrela das
      madrugadas na TV. Ele tem razão: desconfie de quem diz que um bispo
      da Universal não gosta de dinheiro. Dá o que pensar. 
    Pensamento: "...mas também não posso provar que cogumelos não poderiam estar em 
espaçonaves intergaláticas nos espionando." Daniel Dennett
      
