As pessoas que foram assistir o filme "Teoria
da Conspiração", entrando em cartaz
recentemente, podem pensar algumas das seguintes idéias:
Não gostei.
Não entendi
Adorei
Esse cara parece alguém que conheço.
Vou avisar pro cara que ele não está sozinho no
Universo. Já pode fazer contato.
É, a coisa pode ser engraçada.
Para quem não viu o filme, vou resumir um pouco. O
personagem interpretado por Mel Gibson é um cidadão
comum ou coisa do gênero que tem como hobby ler jornais em
busca das "entrelinhas" de cada coisa e procura editar
essas entrelinhas num "fanzine" ou "pasquim"
que leva o nome de "Teoria da Conspiração".
O grande amor da vida dele é uma funcionária do
governo e por aí vai. A vida do sujeito é dirigir
o taxi dele, editar o fanzine, distribui-lo e ficar de olho no "grande
amor da vida dele". Literalmente de olho. Ou como diria
alguém, praticando a "substituição do
sexo pela contemplação passiva da folha da
alcachofra"(Luiz F.Veríssimo?). Até acontecer
uma série de coisas estranhas na vida do cara. Ele está
sendo perseguido. Ninguém acredita na história
dele, porque ele vive inventando histórias. Coisa mais ou
menos nessa linha abaixo:
"O movimento hippie foi criado em
Moscou e, se os país não orientarem cuidadosamente
a juventude, o comunismo acabará dominando o Brasil"(1)
"A mais abominável tática - dos comunistas - é
a da disseminação das drogas, que irá
destruir mais a próxima geração do que a
nossa, já que ataca nossos filhos"(2)
"O sexo é um instrumento usado
pelos psicopolíticos para perverter e alienar a
personalidade dos indivíduos, principalmente das
autoridades, para anulá-las e converte-las em escravos
servis. Daí partirem para o descrédito das famílias,
dos governos, e passam à degradação da nação,
bem como intensificam a divulgação da literatura
erótica e da promiscuidade sexual (3)
"A Rússia tem conseguido
alterar a literatura democrática dos Estados Unidos e tem
introduzido naquela nação os princípios de
Marx e os dados do materialismo dialético nos textos
estudantis de psicologia, até o ponto em que qualquer um
que estude a fundo a psicologia, se converterá em
candidato a comunista militante. Quase todas as cátedras
de psicologia dos EUA estão nas mãos dos
comunistas"(3).
"Quase todos (os jornalistas que
cobrem a Câmara dos Deputados) são
criptocomunistas, especialmente os bigodudos. Repórter
comunista eu conheço pelo jargão que usa"
(4).
"O inimigo é indefinido, usa
mimetismo, se adapta a qualquer ambiente e usa todos os meios, lícitos
e ilícitos para lograr seus objetivos. Ele se disfarça
de sacerdote ou de professor, de aluno ou de camponês, de
vigilante defensor da democracia ou de intelectual avançado,
de piedoso ou de extremado protestante; vai ao campo e às
escolas, às fábricas e às igrejas, à
cátedra e à magistratura; usará, se necessário,
o uniforme ou o traje civil; enfim, desempenhará qualquer
papel que considerar conveniente para enganar, mentir e
conquistar a boa-fé dos povos ocidentais"(5)
É um filme movimentado. O motivo
central para se acreditar, para se entender a coisa toda, é
um lance que parece realmente história de cinema e no
entanto, já foi comprovada na vida, chamada lavagem
cerebral.
O termo foi criado mais ou menos na época
da Guerra da Coréia, quando se constatou vários
casos de militares norte-americanos que colaboraram com o
inimigo, chegando mesmo ao ponto de virarem a casaca e não
quererem mais voltar para casa, quando a guerra acabou. Uma
coisa meio assustadora, quando se pensa nisso. Há quem
duvide. A coisa ficou meio no esquecimento, até que
vieram os 60 e 70. Houve o caso Patricia Hearst, que até
já virou filme, a história de uma estudante (filha
de um super-empresário da imprensa americana, o Chatô
de lá, que também foi retratado no filme "Cidadão
Kane" altamente recomendável). Essa menina estava
noiva, ia se casar, foi sequetrada por um grupo de guerrilha
urbana, chamado Exército Simbionês de Libertação.
Alguns meses depois, a "patricinha" apareceu em todos
os jornais, não mais como vítima, mas como nova
integrante do tal "exército". Como se explica
tal metamorfose, de "loira burra" a guerrilheira
urbana? Ou como seu pai disse, na época:
"Nós a tivemos durante vinte
anos. Eles a têm há apenas 60 dias. Não
acredito que possa ter mudado sua filosofia tão
rapidamente - e muito menos para sempre". .
Aqueles que assistiram o filme "Nascido
para Matar" tem uma idéia do que o processo de pegar
um indivíduo qualquer e transforma-lo numa máquina
de guerra. Não basta colocar uma arma na mão de um
sujeito. Como é que você pode pegar um sujeito
qualquer, força-lo a deixar a convivência da sua
família, ir morar num local junto com sei lá
quantos, acabar com a liberdade dele, etc, e ainda esperar que
esse cara vá arriscar a própria vida para que você
fique seguro em sua casa, seu trabalho, etc.. Pior ainda, como
esperar que ele não se revolte e mate o superior dele?
Elementar, você cria um programa de treinamento chamado
Serviço Militar. Quem participa constata que, depois de
alguns meses, até se acostuma e depois inclusive acha graça
na vida de militar. Já vi muitos terem orgulho de ter
participado, mesmo lembrando que antes não queriam coisa
alguma lá dentro. Coisa estranha, a pessoa mudar assim da
água pro vinho.. acontece.
Mas não é só o Exército
que consegue transformar a pessoa. Alguns cultos religiosos também
são acusados de tais práticas, de reduzir seus
seguidores a meros robôs, capazes inclusive de matar, como
mostra o caso de Lynete (vide mais adiante) que tentou anos atrás
matar o então presidente Gerald Ford ou o caso doa seita
Ensino da Verdade Suprema, criada pelo guru Shoko Asahara e que
causou um atentado terrorista com gás Sarin, no metrô
de Tóquio, em março de 95.
O melhor porém é pegar um
texto que explica um pouco mais, como funciona nossa cabeça,
nesses casos. Com a palavra, Timothy Leary:
(...) Entre sua detenção por
apontar uma arma contra Gerald Ford, em setembro, de 1975, e sua
condenação, em novembro deste ano , Lynette "Squeaky"
Fromme não fez nada para ajudar sua defesa e fez de tudo
para divulgar a filosofia de Charles Mason - o cabeça do
grupo que em agosto de 1969 chacinou a atriz Sharon Tate e mais
três pessoas com requintes de extrema crueldade. Lynette
se orgulhava de ter sido a primeira mulher a ser admitida na "família"
Mason, de quem recebera uma intensa lavagem cerebral. E ,
durante o julgamento, não houve palavra do juiz ou mesmo
do seu próprio advogado que a fizesse se dar conta de sua
situação legal. O que lhr interessava era tão
somente o fato de ter atraído a atenção dos
meios de divulgação para propagar a ideologia de
Mason
* * * * *
Não nada que indique nenhuma
fraqueza especial por parte de Patty, Rusty ou Squeaky. Os três
eram americanos bastante normais até que penetraram nos
ambientes do Exército Simbionês de Libertação,
do Exército americano e da família Mason,
respectivamente. E é essa a primeira lição
que temos que aprender: a lavagem cerebral, como a malária,
é uma doença que se pega por contágio.
Claro, o conceito de "lavagem
cerebral", nada tem de científico. Afinal, o cérebro
não é uma coisa suja, que possa ser lavada, mas
sim um computador bio-elétrico, com mais de trinta bilhões
de células nervosas capazes de realizar 102 783 000
interconexões, número esse superior ao total de
estrede estrelas do universo.
Tanto quanto o sistema nervoso é o
resto do nosso corpo , o cérebro é projetado e
programado pelo código genético : somos formados
por DNA para produzir mais DNA. Em outras palavras, por mais que
isso choque os teólogos e os humanistas, somos todos
robos neurogênicos, uma condição da qual não
poderemos escapar enquanto não aprendermos a dominar o
nosso sistema nervoso de forma a reprogramar nossos destinos.
Um exemplo da progrmação
cerebral foi levantado a partir de uma girafa récem-nascida
cuja mãe foi abatida por um caçador. A girafinha
-de acordo com sua programação genética -
se fixou no primeiro objeto que se movia ao seu redor, o jipe do
caçador, seguindo-o, tentando mamar nele - isto é,
identificando-o com a sua mãe.
Essa mesma fixação - ou
imprint - a um objeto externo também acontece com seres
humanos. No caso em quatro etapas.
1. O circuito de bio-sobrevivência
infantil, ou consciência, que lida com os sinais de
perigo-e-segurança.
2. O circuito da criança mais
velha, ou ego, ligado ao movimento e a emoção.
3. O circuito simbólico-verbal do
estudante, ou mente relacionado com a linguagem e o
conhecimento.
4. O circuito sócio-sexual do
adulto, ou personalidade, ligado, ou personalidade, ligado ao
comportamento.
Esses quatro circuitos são os
quatro "cérebros" cujos os conteúdos são
progressivamente apagados e reimpressos durante o processo
mecanicamente simples da lavagem cerebral.
O primeiro circuito, ou cérebro da
bio-sobrevivência, é ativado assim que se nasce.
Sua função é a de buscar alimento, ar,
calor e conforto, rejeitando o que quer que signifique perigo,
impureza, ameaça. Esse trabalho é centrado em
torno da presença da mãe - ou de qualquer coisa
que venha a substituí-la., como o caso da girafinha.
Durante toda a vida, quando o cérebro
da bio-sobrevivência detecta perigo, todas as demais
atividades mentais cessam. Esse conceito é fundamental
para a programação cerebral. Para que se crie um
novo imprint, é preciso, inicialmente, reduzir-se o
paciente a um estado infantil, isto é, vulnerável
em seu primeiro cérebro. Nesse processo, o paso incial
consiste no isolamento da vítima, de preferência
num ambiente pequeno onde não atuem as técnicas
mentais que originalmente cuidavam da sobrevivência do
recluso. Na verdade bastam poucas horas até que a
ansiedade se manifeste no detido, e só alguns dias para
que surjam as alucinações, um sinal claro de que a
vítima está pronta para receber o imprint de um
novo objeto maternal. Para um prisioneiro humano. Qualquer bípede
que lhe trouxer comida será aceito como uma nova mãe.
No caso do filme "Teoria da Conspiração",
do qual falamos no início do artigo, a coisa vai um pouco
mais além, que é onde começa a ficar
realmente inacreditável, principalmente por quem não
teve acesso ao tipo de informações que a imprensa
trouxe ao público, durante o tempo em que nosso país
se encontrava sob censura. Por outro lado, com tanta informação
disponível, não é um assunto em voga hoje,
como já foi em outras épocas. Um livro que ajuda a
entender melhor o filme (não vou contar, óbvio) é
"A Programação de Candy Jones" de Donald
Bain. Nele, a coisa é um pouco mais assustadora. A CIA
teria criado um programa de estudos com drogras alteradoras da
mente, com o intuito de verificar seu potencial para manipular
pessoas. Isso é um fato, não é ficção.
Quando um sujeito, que recebeu LSD sem ser avisado, pulou do
alto de um prédio, a coisa veio a público e em
1973, todo o material que tinha sido produzido foi destruído.
Mas veja como a coisa pode ser complexa:
todo mundo que já saiu pelos "bares da vida"
tem alguma história de bêbado pra contar. Quer um
exemplo maior, pensem na história da finada Rê
Bordosa, personagem do Angeli. Basicamente uma mulher que bebia
alguns copos de bebida e acordava no dia seguinte na banheira,
sem saber o que tinha feito. Na vida real, há pessoas sob
ação do álcool que funcionam desse jeito.
Bebem, sofrem uma metamorfose total e depois quando acordam, não
se lembram mais. Amnésia (e ressaca). Só pra se
ter uma idéia, no código penal (ou processo penal,
eu li, tá num desses dois) tá lá uma
legislação qualquer que "exime de culpa o
crime cometido sob influência do álcool". Não
sei até que ponto funciona, é bom procurar um
advogado pra checar isso, faz algum tempo que li e não
sou expert no assunto. Pelo menos o que li seria que assim como
"razão de insanidade", "embriaguês"
poderia em casos bem específicos, inocentar a pessoa.
Claro que a idéia da CIA não
era de embebedar o cara e mandar bancar o James Bond por aí.
Não. No livro que mencionei acima, a idéia era
pegar um cidadão específico, no caso foi usada
como cobaia uma radialista americana, uma Leila Cordeiro ou
Bruna Lombardi, sei lá (traduzindo aquela época
pra hoje) que era bastante suscetível a hipnotismo e que
tinha tido episódios de mudança de personalidade
na infãncia. Através do uso de drogas específicas,
uma sub-seção da CIA trabalhou com essa mulher e
.. conseguiu fazer aparecer as personalidades "adormecidas"
no fundo da cabeça dela. No final de cada sessão
de "terapia", mandavam ela se esquecer de tudo. Olha a
vantagem da coisa: já foi super explorado no cinema a
história de pessoas com múltiplas personalidades.
Agora imagina uma pessoa que alterna uma personalidade
completamente inocente do mundo, tipo loira burra, com a de uma
agente secreto treinado para desempenhar missões. Pois é,
cada sessão, dopavam a mulher de forma a aparecer aquela
personalidade que era mais agressiva, menos carinhosa, mais
desumana, bem tipo mãe de namorada quando vira "sogra".
É, isso parece coisa de história
em quadrinhos. Até hoje não tenho muita certeza se
acredito, mesmo o livro mostrando fotos e documentos sobre como
a coisa aconteceu. (Tem até uma bibliografia na rede,
como por exemplo: Martin A.Lee, Bruce Shlain ACID DREAMS -- The
Complete Social History of LSD: The CIA, the Sixties, and
Beyond) . Aí outro dia li uns papéis na rede sobre
cultos que praticam a lavagem cerebral e o fato é que a
grande maioria dos jovens que passam por uma coisa dessas, também
não acreditam que o que aconteceu com eles foi uma coisa
maléfica ou que era uma experiência pela qual eles
não queriam passar. Na verdade, existe um trabalho científico,
feito com estudantes e gente comum, lá nos EUA, foi até
publicado no Brasil, sobre essa questão de como é
fácil convencer alguém a seguir ordens inclusive
ordens que signifiquem a morte de outra pessoa, se um "motivo
correto" for apresentado.
Chamaram duas equipes de estudantes, uma,
que sabia o que estava sendo feito, era composta de gente de
arte dramática. A outra, gente escolhida mais ou menos
aleatoriamente. O cara entrava numa sala e via um interruptor
que dava choques em uma pessoa do outro lado de uma parede de
vidro espelhado, tipo óculos ray-ban. O estudante recebia
a ordem de dar choques na "vítima", de acordo
com as ordens do "professor". A idéia era ver
até ponto o estudante aceitava continuar eletrocutando a "vítima"
(que era estudante de arte dramática e não sofria
porcaria nenhuma, só fingia e implorava pra não
continuarem os choques). Se o estudante protestava, o "professor"
insistia que era necessário aumentar a dose do choque. Vários
continuaram com a experiência até "matarem"
a vítima. Poucos, bem poucos, se revoltaram e decidiram não
continuar e por assim dizer, fizeram algo próximo de
mandar o "professor" à merda.
Voltando ao Timothy Leary:
"O trabalho de lavagem cerebral é
relativamente simples, consistindo basicamente na troca de
alguns circuitos robóticos por outros. Assim que a vítima
passa a encarar o reprogramador como a criança encara
seus pais - fornecedores de segurança vital e de apoio
para o ego - qualquer nova ideologia pode ser inculcada no cérebro."
"Durante o estágio de
vulnerabilidade, qualquer pessoa pode ser convertida a qualquer
sistema de valores. Facilmente podemos ser induzidos a entoar "Hare
Krishna, Hare Krishna" como "Jesus morreu por nós",
ou a bradar "abaixo o Vaticano", aceitando plenamente
as ideologias que estão por trás desses temas. O
passo seguinte, na lavagem cerebral, consistirá em nos
convencer de que qualquer pessoa que não partilhe dos
nossos novos valores será sempre débil, estúpida
ou louca".
"Para reforçar os valores da
nova realidade recém-incorporada, é preciso que
haja uma realimentação das novas coordenadas que
nos estão sendo impostas. A grande ironia é que o
nosso conceito de realidade é tão frágil
que pode se desfazer em apenas alguns dias, caso não
tenhamos constantes mensagens que nos reafirmem quem somos e que
a nossa realidade continua existindo".
"Bem a propósito, o Exército
constrói uma "ilha" totalmente militarizada
para os seus efetivos. E ilhas similares são erigidas por
qualquer outro movimento que implique numa lavagem cerebral,
seja ele político, místico ou esotérico."
No exército, a preocupação,
ao contrário do que possa parecer num filme de Rambo, não
é ensinar a matar, nem a sobreviver na selva, muito menos
lavar as latrinas. Isso é consequência. A preocupação
básica, razão de ser do militar é defender
a pátria e os cidadãos. Para isso, ele precisa
aprender a cumprir ordens. Aí é que mora o perigo.
Tudo é feito para que o "reco" (soldado é
só depois do treinamento básico) não
precise pensar, só obedecer. Tem muito filme por aí,
alguns até folclóricos (o diretor contando a
maravilha do serviço militar no tempo dele) sobre esse
lance então nem vou comentar muito. Hoje em dia, o exército
brasileiro não representa o mesmo perigo que representava
na minha juventude, quando tinha pais que chegavam no dia do
exame médico do filho e insistiam para que ele fosse
escolhido para servir. Só quem faz medicina é que
tá obrigado a fazer sem chance de escapar com facilidade.
Mais fácil de acontecer é
cair numa seita mística. São muitas as razões
para isso. O sujeito vai estudar ou trabalhar fora, longe da
cidade dele. Não conhece ninguém. Uma seita mística
é uma forma de se enturmar, conhecer gente interessante.
De repente, é um universo diferente, onde tudo parece ser
mais fácil. Ninguém fala em morte, assalto, falta
de dinheiro. Fala-se apenas em fé e falta de fé. E
o mais incrível, são pessoas que escutam quando
você tem um problema, ajudam ou tentam te ajudar quando
você está sem grana. Claro, têm alguns princípios
que você tem que aceitar. Dormir, por exemplo, não
pode. Fechou os olhos um pouquinho, tem que escutar "até
quando, dorminhoco, vais continuar dormindo, isso está
aqui na Bíblia, vai negar a palavra de Deus, está
perdendo a fé?". Também não pode
conversar em outra coisa que não seja a palavra de Deus,
a salvação, a possibilidade de um dia ser elevado
a condição de chefe de grupo (coisa que nunca
acontece) e .. arrumar algumas contribuições para
engrandecer o trabalho de Deus aqui na Terra, trabalhando tanto
para mostrar a devoção como para preparar o espírito
para o apocalípse, onde só os dignos serão
salvos. Claro, masturbação é pecado. A própria
pessoa fica com vergonha de tocar o próprio corpo. Homens
só conversam com homens e mulheres só conversam
com mulheres. Conversei com ex-convertidos. Um pessoal legal. Um
deles me entregou um livro chamado: "Os guerreiros da
virgem" de José Antônio Pedriali. Conta toda
essa trajetória de um rapaz que achava que sua missão
na Terra era salvar o mundo do diabo. Deve ser algo irresistível,
ir atrás da salvação do mundo. Tem um outro
livro que está proibido, mas volta e meia recebo notícia
dele existindo na internet, escrito por um pastor de uma igreja
aí: "Os Bastidores do Reino". No
http://www.clark.net/pub/times9/brainwsh.html tem algumas das técnicas
usadas. O resultado pode ser devastador.(ver também
http://www.inlink.com/~dhchase/books2.htm).
Um amigo me contou, num email, muito tempo
atrás, sob o trabalho de um culto místico na
cidade dele. Primeiro, apareceram uns caras com idéias de
bate-papos religiosos e esotéricos, andando vestidos de
forma bem austera e não ficavam nem bebendo nem jogando.
Os pais de família não falam nada contra, nem tem
porquê, no início. A mudança parece até
boa, não parece que o garoto está mexendo com
drogas, parou de ouvir música alta, não pede mais
o carro emprestado. Fica só curtindo religião. Aí
o comodismo começa a se transformar em dúvida. "Será
que meu filho vai virar padre?" Só quando finalmente
toma coragem e chama o filho para a conversa, descobre que é
ouvido. E não tem problema. Acha que o culto tá
amadurecendo o cara. A mãe nem reconhece mais. Aí
chega o ponto em que o culto começa a avisar o novo
membro que a família está influenciada pelo demônio
e é necessário morar um tempo fora, mais perto da
fé que ele está abraçando, para aprender a
se defender. Afinal de contas, muitas cabeças juntas oram
pela salvação bem melhor do que uma. Lá na
sede, batalharão por um mundo livre de más influências.
Os caras que saem da cidade desse jeito, disse meu amigo, nenhum
volta. Um, porque é uma aventura sair da cidade onde se
morou a vida e toda. Outra, porque voltar é sempre mais
difícil. Lendo pela rede vi uns papers assustadores.
A pessoa demora a se acostumar com a idéia
de que dedicou tanto sentimento e louvor á toa.. Existem
alguns cultos que contam com grupos de auto-ajuda, semelhantes a
Alcóolicos Anônimos, para dar apoio moral aos que
estão dando o difícil passo de cair fora de uma
coisa que já deu o que tinha que dar. Tem que ter ajuda
senão o cara volta, porque o vazio emocional é
muito grande. Aí já não é mais de
querer ter fé, é de não saber ter vida fora
do culto. A vítima precisa passar por um processo de de
programação em que TUDO na vida tem que ser
revisto. Nem todo mundo consegue se libertar da idéia de
que o mundo não é cor-de-rosa. Vi um filme na TV
em que a família teve que contratar um cara pra
sequestrar e iniciar o processo de "abrir a cabeça
do garoto". Na vida real, o que normalmente acontece nesses
grupos de ajuda é que a família consegue convencer
o sujeito a ir em um território neutro e um ex-praticante
do culto fica horas e horas revelando os podres que o outro
ainda não consegue ver. Acredito que esse tipo de coisa
até funcione. Já vi um crente conversar horas com
um bêbado defendendo seu culto. Se pudesse conversar com
alguém que já passou por todo o processo e pulou a
cerca pra fora, talvez tenha efeito. O mais incrível é
que as pessoas não fazem propaganda disso. Medo de represálias.
O mundo moderno está ficando muito
assustador, impessoal. No Japão, onde aconteceu aquele
caso da tal seita, esses cultos novos representam uma forma de
vida alternativa. Todo ano, 1400 cultos aparecem. E 1400 cultos
também desaparecem. Gente que sai de uma seita que
oferece a salvação e vai para outra seita de salvação.
Salvação, no caso, é porque a maioria delas
prega que o mundo vai acabar e que só os "escolhidos"
daquela seita específica, serão salvos. A coisa lá
(e talvez não só lá, na Califórnia,
EUA, tem seita pregando até que o mundo foi feito por
computadores) está chegando talvez nesse ponto da
historinha abaixo:
Joe Existencial tava experimentando outras
de suas crises intelectuais:
- Puxa, eu simplesmente não sei em
que acreditar..
Aí chega o cara pra ele, cheio de
livros:
- Pô, Joe! Sem grilo. Todas essas
confusões e dúvidas ínternas estão
magicamente resolvidas graças a minha empresa "Crença
Comigo". YEEEEeeeees! Praque gastar anos e anos pastando
pelo processo de pesquisa e pensamento dos tópicos por
você mesmo. Simplesmente escolha qualquer um dos nossos
sistemas pré-racionalizados de crença e então
conforme-se a ele para o resto da vida!!
- E mais! Sem custo adicional, nós
mostramos a você como evitar deixar que novos "fatos"
entrem na sua cabeça, assegurando então que nada
atrapalhe sua recém-descoberta ilusão de segurança
mental.
Joe então pensa um pouco:
- Mas, mas, e se minhas crenças
estiverem erradas??
O carinha responde:
- Esta é a beleza da coisa, homem.
Você seria o último a saber. Mesmo, MESMO, se
estivessem erradas ...
Moral da historinha: "Ah, o cérebro
humano funciona que é uma beleeeeza".
(Historinha retirada de uma tira chamada
Twisted Image - Ace Backwords)
Lavagem Cerebral não é
apenas um conceito usado para definir tais extremas mudanças
de comportamento. O próprio processo de evolução
de uma pessoa ao longo da vida é uma lavagem cerebral.
Quando se torna adolescente, tem brincadeiras que se abandona,
porque "são coisas de criança". Quando
se vira adulto, se abandona "coisas de adolescente rebelde".
Quando se casa, se abandona "hábitos de solteiro
irresponsável". Ninguém sabe porque, mas para
você participar de um novo grupo, classe social ou mesmo
viver com gente de outro estado que não o seu tem que
adotar novos códigos de conduta que não são
os nossos. Um exemplo muito bom está ilustrado no filme "o
homem que virou suco", relatando a história de um
nordestino que foi engolido pela cidade grande, na verdade um crônica
social comentando o fato de que o sujeito que emigra para São
Paulo, tem que esvaziar a bagagem de toda uma cultura riquíssima
de comportamento e absorver outra, completamente estranha e
diferente, onde valentia e solidariedade, por exemplo, contam
menos. Recentemente saiu uma matéria na TV comentando que
tem agência de empregos que só contrata empregada
doméstica se for de Minas Gerais ou interior de São
Paulo. Nordeste, só se for de determinada religião.
As pessoas não param pra pensar
nisso, mas cada revolução é uma nova "lavagem
cerebral". Quando houve a tal revolução
sexual que não foi nada mais nada menos de se poder falar
em namorar uma mulher sem intenção de casar, isso
foi difícil para muita gente. Quando aconteceu a Aids,
foi bem mais difícil ainda. Muito adolescente não
queria acreditar que na vez dele, o sexo estava de novo,
proibido. Ou restrito. Para as mulheres, foi legal, porque antes
da revolução sexual não podiam transar a não
ser com os maridos. Por outro lado, depois o difícil era
casar. Com a Aids, elas puderam voltar a pensar em casamento e não
sustentar a coisa só com sexo. É algo a se pensar.
Atualmente a pessoa é obrigada a administrar essa "lavagem
cerebral", que é acompanhar o mundo a sua volta.
Antes que uma nova revolução ocorra, a pessoa já
tem que se preparar para uma futura adaptação e já
não estou falando mais de sexo ou de novo tipo de
computador. Só que o nome virou "reciclagem". A
pessoa precisa ter um tempo para parar e absorver todos os hábitos
novos que estão rolando. A parte mais chata é que é
difícil resistir a esse tipo de coisa. Tem gente que só
conversa realmente quando está na frente de um
computador, através do CHAT ou TALK. Há alguns
anos atrás, quem comprou videogame pros filhos ficou
condenado a não entender uma parte do universo deles. Se
você não tem um assunto em comum, não tem diálogo.
Fica difícil até fazer parte de um grupo. O pior é
que novos grupos surgem, com novas opções de diálogo.
É difícil, mas cada um precisa parar e pensar da
mesma forma que assume um personagem no universo virtual, qual
personagem no universo real ela consegue viver.
(1) General Belfort Bethlem, comandante
(na época) do 3o Exército, depois Ministro do Exército
- Jornal O Estado de São Paulo, 3.7.1977 p.35 (2) General
Mílton Tavares de Souza, Jornal do Brasil 3.10.1976 p.30
(3) Tenente-Coronel Carlos de Oliveira, Jornal do Brasil,
19.11.1975 (4) Deputado José Bonifácio, líder
do governo jornal Folha de São Paulo, 22.5.1977 (4)
General Borges Fortes na época chefe do Estado Maior do
Exército brasileiro, Jornal O Estado de São Paulo,
9.9.1973 p.18
Faça o teste de
lavagem cerebral
Escrito por Carlos Orsi Martinho
Você é uma vítima em
potencial para cultos como o Heaven's Gate, que levou seus
seguidores ao suicídio? Sua mente poderia ser controlada
através de técnicas de doutrinação e
lavagem cerebral? A revista online Omni está oferecendo
aos usuários da Internet um teste para descobrir quais
suas vulnerabilidades nesse campo. Elaborado pelo psicólogo
Keith Harary, o teste funciona mais ou menos como um daqueles
questionários de revistas femininas - e talvez tenha
exatamente o mesmo valor como peça "científica"-
mas ajuda a expor algumas das técnicas usadas por figuras
autoritárias.
O suposto uso de "lavagem cerebral"
nem sempre foi um privilégio de cultos suicidas, no
entanto. Quando surgiu, nos anos 50, o termo inglês "brainwashing"
significava destruir todas as crenças e valores de uma
pessoa, substituindo-os por outros, de interesse do "lavador".
Os americanos começaram a falar nisso porque alguns
soldados desertaram durante a Guerra da Coréia,
voltando-se para o comunismo. Claro, essa primeira definição
da "lavagem" pode enquadrar qualquer tipo de persuasão,
inclusive os mais legítimos - alguém poderia até
dizer que os missionários cristãos haviam usado "lavagem
cerebral" nos índios. Para evitar esse tipo de
embaraço, a idéia logo se desenvolveu. "Lavagem
cerebral" passou a denotar métodos mais escusos de
persuasão, com o uso de drogas e tortura.
O conceito recebeu novo impulso no final
dos anos 50, com a publicação do romance "The
Manchurian Candidate", de Richard Condon (depois um filme,
estrelado por Frank Sinatra), que contava a história de
um soldado que, "programado" pelos chineses durante a
Guerra da Coréia, desenvolveu duas personalidades: uma,
ordeira e capitalista, a outra, comunista e assassina. Essa
segunda faceta viria à tona quando os chineses quisessem
abater algum alvo político dentro dos EUA.
Na época, não havia (como não
há até hoje) qualquer evidência científica
de que uma pessoa pudesse ser manipulada dessa forma, mas mesmo
assim o livro casou muito bem com a mentalidade paranóica
da Guerra Fria - e, coincidência ou não, a CIA
estava trabalhando em algo muito parecido: o projeto MK-ULTRA,
que durou, oficialmente, de 1953 a 1973. Em 74, o MK-ULTRA foi
exposto ao público por uma investigação do
Senado norte-americano. O objetivo do projeto era "ganhar
controle sobre o comportamento humano", através do
uso de drogas (como o LSD) e outras "técnicas",
aplicadas em seres humanos - voluntários ou nem tanto.
Oficialmente, o programa não produziu qualquer resultado
prático - algumas pessoas ficaram loucas, outras muito
machucadas, mas ninguém se tornou "controlável".
Quem quiser saber mais sobre as experiências da CIA pode
dar uma olhada nos documentos oficiais disponíveis na
biblioteca da Universidade George Washington sobre o uso de
radiação nuclear em seres humanos.
Antes do final do MK-ULTRA, no entanto, o
termo "lavagem cerebral" já havia contaminado a
mitologia dos anos 60. Pais incapazes de compreender seus filhos
passaram a acusar os gurus da contracultura de "lavar"
os cérebros dos jovens. Essa onda deu origem a uma nova
profissão, a dos "desprogramadores" - pessoas
que "resgatavam" os adolescentes das más
companhias e os "reeducavam". Houve quem dissesse que
a verdadeira lavagem era feita pelos desprogramadores, e não
pelos cultistas, e o ofício teve uma vida curta (embora, às
vezes, lucrativa).
Atualmente, há quem diga que nossas
mentes estão sendo controladas por alienígenas,
pela televisão, pelo governo, pelas indústrias,
por drogas nos reservatórios de água ou por
implantes subcutâneos. Teorias desse tipo se multiplicam
via Internet, e não haveria espaço para fazer uma
lista de todos os sites que defendem uma ou outra posição
(experimente usar o termo "mind control" em seu
mecanismo de busca favorito). Claro, poucos desses teóricos
do controle da mente explicam como eles conseguiram se libertar
- afinal, se toda a água do mundo está drogada, o
que esses caras bebem? E, se nós estamos sob controle,
jamais iríamos acreditar nessa conspiração.
Os mestres não permitiriam.
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Terapia
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