Simão, o mendigo


Doente, pobre, velhinho,
O desditoso Simão,
Arrimado a seu bordão,
Andava devagarinho...

Pés e mãos em chaga aberta,
Lá ia o velho, coitado!
Enfermo, desamparado
E humilde na estrada incerta.

Cabelo todo branquinho,
Rugosa a face morena,
O pobre metia pena
A vagar pelo caminho...

De onde viera? Ora, quem
Buscava saber ao certo?
Vinha de longe ou de perto?
Ninguém sabia, ninguém.

Só lhe sabiam do nome,
E que, em miséria, sem nada,
Ele esmolava na estrada,
A fim de matar a fome.

Estendendo seu chapéu,
Pedia, cheio de dor:
- Uma esmola, meu senhor,
Por amor ao Pai do Céu!...

Mas, oh! Deus, que desalento
Neste mundo de aflição!
Ninguém ouvia Simão
Nas horas do sofrimento.

- Passai de largo! é leproso!... -
Diziam homens cruéis -
- Oh! não vos aproximeis
Deste ancião perigoso!...

- Ah! que graça! Põe-te à brisa! -
Exclamava outro passante -
Nada de esmola ao tratante,
Que este velho não precisa!...

O mendigo, nos seus ais,
Dizia: - Viva a saúde!
Trabalhei enquanto pude,
Agora, não posso mais...

Toda a gente lhe fugia,
Ninguém lhe dava uma sopa,
Nem um trapinho de roupa
Para a noite da agonia.

Muito tempo era passado,
E o desditoso velhinho
Sentia-se mais sozinho,
Mais doente, mais cansado...

Chegou, enfim, um momento
Em que o velho sofredor
Caiu de frio e de dor
Na estrada do sofrimento.

Caiu e sonhou, contente,
Embora a sede e o cansaço,
Que Jesus vinha do Espaço
Dizendo-lhe, docemente:

"- Escuta, meu bom Simão,
Não temas, querido amigo!
Sê forte! Eu estou contigo.
Chegaste à ressurreição.

Não chores. Estou aqui!...
Terminou tua aflição,
Estás em meu coração!
Pensavas que te esqueci?

Enquanto o mundo enganado
Atormentava-te ao peso
De zombaria e desprezo,
Eu sempre estive ao teu lado.

Teus prantos e tuas dores
São, hoje, a luz que te veste
No campo do amor celeste,
Repleto de eternas flores."

E Jesus, em voz mais terna,
Concluía: - "Vem, Simão,
À doce consolação
Do mundo de luz eterna!..."

E Simão, chorando e rindo,
A seguir, ditoso, o Mestre,
Esqueceu a dor terrestre,
No céu venturoso e lindo.

O caminho era de estrelas
De tão sublime matiz
Que o pobre ria, feliz,
Sem saber como entendê-las.

No outro dia, ao reconforto
Do Sol de coroa erquida,
Acharam Simão sem vida...
O mendigo estava morto.



Xavier, Francisco Cândido. Da obra: Jardim de Infância. Ditado pelo Espírito João de Deus. Rio de Janeiro, RJ: FEB.