BREVE HISTÓRICO
O Carnaval em Manaus, como na maioria das grandes cidades brasileiras, teve seu começo, estritamente nos salões, passando paulatinamente para as ruas e daí se fazendo mesclar com o entrudo e palmilhando aqui e alí outros rítimos e outras festas.
Especificamente em Manaus, na época do "boom" da Borracha, entre 1890 e 1915, quando Manaus, era sem exagero algum, a cidade mais refinada do País a primeira a receber Luz elétrica, a Segunda a Ter bondes, a primeira a Ter uma Universidade Livre, etc...( é só se mirar no Samba da Grande Rio de 1995, que lá está dizendo tudo e a história confirma com documentos). Mas pôr quê tudo isso? Bem, faz-se necessário essa lembrança, para que o amigo internauta, saiba de antemão, de que tudo muda, e que tudo o que parece ser, às vezes, não é! A imagem de Manaus, hoje, como cidade gigantesca de 1,8 milhão de habitantes. Com mais de 200 bairros e muitos migrantes de todo o país, nada tem a ver com a Manaus de 1900, de 50 mil habitantes, e em sua maioria, ingleses, franceses, italianos, etc.. com ruas de paralalepípedos, etc.
Naquele tempo, haviam as festas nas casas dos "barões da Borracha", cheias de "almofadinhas" e "donzelas", saíndo as ruas em Corso, todos bem arrumados. Note-se que ainda hoje, o Atlético Rio Negro Clube, mantém traços no seu famosíssimo Baile à Rigor da Segunda-feira "gorda", donde só se entra no suntuoso Salão de Espelhos, com Fraque, terno, Longos, etc...Essa tradição remonta à época dos bailes dos Ingleses da Manaus da Belle-Époque.
Lembremos também dos faustosos bailes do Imortal "Ideal Clube", cenário de grandes festejos ao som de muita Polca. Nas ruas, "batalhas de confete" e o lendário PALADINOS DA GALHOFA e ÁRIA RAMOS.
Quando se esvaiu a Borracha e o Amazonas sentiu o "duro" baque da debandada dos estrangeiros (1920-1940), houve outros incentivos à cultura, ao esporte, etc.. Foi aí que subiu o futebol, os regionalismos em danças, etc..Logo depois, surgiam a Escola de Samba, LIBERDADE e a muito conhecida, ESCOLA MISTA DA PRAÇA 14 (1946). Não diríamos que Manaus, teve seu Zé Paredes, ou Zé PEREIRA como queiram. Isso foi no Rio de Janeiro. Mas a capital baré teve seus muitos blocos de sujo, e o MOCIDADE...Bem o Mocidade é o que poderia ser hoje, um Bloco de Sujo, organizado, em cima do Caminhão, que saía de uma Serraria do bairro de Educandos, etc... E que em todos os carnavais, prometia surpresas melhores na Av. Eduardo Ribeiro e conseguiam cumprir tudo, tudo... Eram jogadores de futebol. Estudantes, etc. todos filhos da classe média e alta de Manaus, salvaguardo aquí ou acolá alguém da periferia. Inclusive do MOCIDADE, ainda restam figuras que participaram dele e que estão aí com muita saúde para contar os detalhes: FLAVIANO LIMONGY é um deles, ex-goleiro do antigo Tijuca Clube, era um dos foliões desse lendário Bloco.
Em Manaus, a Av. Eduardo Ribeiro, no centro de Manaus, constituía-se como o ponto de encontro das multidões, pôr qualquer que fosse o motivo. Pois bem, organizaram-se ao longo dos tempos, desfile improvisado com algumas arquibancadas de madeira, tanto no carnaval, quanto no 7 de setembro ou 5 de setembro (DATA MAIOR DO ESTADO). O que se viu, durante muito tempo foram: batucadas, cordões, blocos de sujo, blocões, blocos de embalo,etc...e Escolas de samba...bem, as escolas, tiveram uma lacuna de 1961 (último ano da Escola Mista) até em meados dos anos 70. Manaus ficou privada de autênticas Escolas de Samba. O forte na época (mesmo sendo fora do carnaval) no mês de junho, eram os festivais folclóricos, com seus Bois, quadrilhas, cirandas, etc.. e olhe que Parintíns, não era tão falada, que mandava mesmo era: Mina de Guerra, Corre campo, etc...
No Carnaval, o talento maior recaía para as "Lavadeiras" da Aparecida, mais tarde para as batucadas: Acadêmicos do Rio Negro (do clube mesmo, que em 1983 acabou virando e escola de samba e nunca mais saiu).batucada baré (Do Imortal Maranhão, que também brincava de boi) , da Surpreendente Balaku- Blaku , que chegou em 1977 e já batia a baré e o Rio Negro, sem falar dos blocos de sujos, quem nào lembra do K-D-o Mé, que vinha sempre num jipe?
Ou dos blocos: Ipixuna, Sem Compromisso, Ciganos, todos eles viraram Escolas de samba. Sim! Vamos retroagir um pouco, mesmo sendo este um breve histórico. Mas faremos o possível para cronologar com mais exatidão os fatos.
O ponto é 1975. O palco é Av. Eduardo Ribeiro, a primeira Avenida de Manaus, de mais ou menos 1000 metros. As escolas Unidos da Selva e Moto Honda eram fortíssimas para os padrões da época. Só que em fins de 1975, surgia no Bairro da Praça 14, na Rua Jonathas Pedrosa, na Casa da saudosa "Tia Lindoca", a escola de samba VITÓRIA RÉGIA, que ainda detém a maior torcida de Manaus, nas cores Verde-Rosa. À época, seus fundadores queriam um Escola de samba de "verdade", sem desmerecer, é claro, as outras. Mas, no bairro de Educandos, que é da Zona Sudeste, às margens do Rio Negro, eis que há também, pela mesma época, a antiga escola de samba: EM CIMA DA HORA, a azul e branco, que não deixa nada a desejar `a nova escola da Praça 14. Surge também pela época, a UIRAPURÚ, do mesmo bairro de Educandos, e a UNIDOS DE SÃO JORGE, do bairro do mesmo nome Zona Oeste de Manaus. Depois estoura a UNIDOS DA RAÍZ, do bairro da Raíz. Zona Sudeste. As próximas disputas prometiam ser acirradas...
Naqueles históricos anos, a beija-Flor de Joãozinho e neguinho ganhavam os títulos do Samba carioca, com seus carros alegóricos gigantescos. Em Manaus, os carros eram muitos, pequenos, de madeira e com roldanas. Uma escola de samba saía com 60, 70 ou no máximo 80 na bateria! A escola toda de 300 a 700. E só! Tudo proporcional à época. Havia quesitos para julgamento, como LETRA , MELODIA, etc... Esse era o nosso samba, o samba que começou do nada, com muita garra e disposição de muito anônimos.
Entre 1976 e 1980 só deu Vitória-Régia, em 1981, houve uma pequena "revolução" no samba de Manaus Surge em 1980, no bairro de Aparecida, a Mocidade Independente de Aparecida, verde e branco. Escola de samba que já surge grande, com uma organização impecável. E com muitos portugueses e filhos de portugueses em sua hostes. O bairro de Aparecida, grosso modo é visto em Manaus com um bairro de "brancos" e o da Praça 14, pôr causa da grande migração maranhense do fim do século XIX, de bairro de "negros", tudo isso à fomentar uma futura e acirrada disputa, que ainda hoje se vê, a guerra entre VITÓRIA RÉGIA x APARECIDA, amainada nos últimos anos 90, pelas conquistas da REINO UNIDO, que veio diminuir a rivalidade entre os verde e branco e os verde e rosa.
Em 1981 ganhava com o enredo "SANTOS DUMONT", a Aparecida, juntamente com a EM CIMA DA HORA. Bem duas campeãs. Um dos detalhes a serem aquí expostos é que o desfile, desde 1980 tinha saído da Eduardo Ribeiro e entrou mais uns 1500 metros para Norte de Manaus, foi para a Av. João Alfredo, que logo depois virou DJALMA BATISTA, rua do futuro grande Shopping, dos futuros viadutos, etc.
Em 1982, a Vitória Régia, vinha com o Enredo sobre o Circo, que dizia no samba "Lá vem o Circo, vejam só que explendor, alegria do Palhaço, Colombina e Pierrot..." , A Em Cima da Hora, com uma Maravilha de Letra de samba sobre a París das selvas(Inclusive esse samba foi re-gravado 2 vezes na msma época de carnaval). A Aparecida mostrava um tema nacional de festas pôr esses Brasil Foi a primeira vez que urgiu a criatividade na Djalma Batista, o uso do Brilho, um tanto ainda fosco, mas o brilho! Telhas de alumínio, davam o tom nos tripés da Aparecida e uma chuva de verde. Nesse ano deu de novo Papagaio, assim era o mascote da Nova Escola. Aparecida bi-campeã. A nota maior para esse ano, foi a NOTA 5 que um jurado deu para o ótimo samba da Em Cima da Hora, o "pau comeu" no Ginásio do Renê Monteiro, no dia da apuração.
Em 1983, A SEM COMPROMISSO, já não era mais um bloco de enredo (Foi bí-campeão 81/82) de Manaus, surge com uma Escola de "gente fina" e de intelectuais, nas cores amarelo e preto. Nesse ano, a Em cima da Hora já vinha definhando. A Aparecida incontestavelmente fez um desfile Hiper-Campeã, com seu carnaval da Galáxias, luxo, luxo e brilho. A Vitória-Régia fez o seu papel de Escola do Povão, mas já não mais suportava a força da rival, que vinha muito forte. Em 84, todas as escolas que desceram, inclusive, a BARELÂNDIA ( ex - batucada baré) ganharam o carnaval. Não houve julgamento, pôr uma série de fatores. Nesse ano não desceu a Sem Compromisso, que preferiu fazer o seu carnaval na fronteira, Surgia a Nova escola: Andanças de Ciganos, ex-bloco vencedor. E foi o último desfile da Azul e branco, Em Cima da Hora, com o samba do Compositor Gouvêa.
Em 85, a Verde-Rosa homenageou um de seus fundadores, que a deixou Neném, os ensaios eram realizados ora, na Tia Lindoca, ora na Própria Praça 14. Tanto a Aparecida, quanto a Andanças de Ciganos, a azul e vermelho da cachoeirinha, vinham falando sobre os Bois de parintíns Caprichoso e Garantido. "Folias de Momo" era o enredo da Sem Compromisso, a escola preto e amarelo da Rua Comendador Clementino, próximo ao centro de Manaus. Deu Aparecida novamente, era o tetra-campeonato.
O que é peculiar em Manaus é que as Escolas de samba surgiram de idéias de gente das classes média e alta de Manaus. Nunca se pode dizer que foi a classe baixa, que nesse tempo preferia ouvir os rítmos pops e os apelidados de bregas. Até mesmo que gostava de boi, era olhado com certo desdém nas comunidades onde moravam. Somente a partir dos anos 90, é que o Boi parintinense explodiu, o de Manaus decaiu e o amazonense, desde a tenra idade, em sua larga maioria, adora boi, quase toda menina quer ser hoje, uma Cunhã Poranga (menina bonita) e os meninos querem ser dançarinos de boi (em Manaus em meados de 1997, chegou a haver 100 bandas de boi).
Bem, voltemos ao assunto: Samba e Carnaval. Samba é um rítmo, carnaval é a festa milenar, que engloba outros rítmos: Axé, Marchinha, etc...
Em 1986, em Manaus, deu A escola dos "Tucanos" a Sem Compromisso, na inspiração do poeta Aníbal Beça, e JOANA GALANTE, AXÉ DOS ORIXÁS.
Esse foi o primeiro ano que uma mulher saiu nua na avenida, pela Andanças de Ciganos, dentro da boca de uma cobra.
Em 87, Numa disputa acirrada, quando a maioria dos sambistas de roda diziam que Andanças de Ciganos ganharia o carnaval com o seu magnífico enredo sobre OS DEUSES GRECO-ROMANOS, deu Aparecida. Já eram 6 títulos. Nesse ano, estreavam no grupo de cima Guerreiros do Vinho (vermelho e branco) ex-bloco do Vinho, Estação 1ͺ do Boulevard (azul e branco) do bravo Domingos, que durou até 1991. E Reino Unido da Liberdade, ex-bloco, fundado em 1981 e que virou escola de segundo grupo em 1985 e agora desfilava com seu belo samba em 87, que foi, acreditem coincidentemente plagiado pela campeã Estácio de Sá, do Rio de janeiro , 5 anos depois em 1992 na parte : Vou pro pagode lá no morro que legal/fazer samba o ano inteiro/ e ganhar o carnaval/ - Quem sabe a melodia é só cantar e comparar com : modernismo movimento cultural/no país da tropicália/ tudo acaba em carnaval...
O ano de 1988 marcou o último ano de ensaios da Vitória Régia na Tia Lindoca, era construída a atual Quadra ao lado da Igreja de N.S ͺ de Fátima na Própria Praça 1 4. Era a Redenção do samba!!! Nesse ano, ganhava mais uma vez o carnaval, a Aparecida com seu samba que falava em certo trecho assim: "Quebrei patuás (Para a Sem Compromisso de 86), Aos deuses fiz chorar (Para a Andanças de ciganos de 87), Nem figa do Bonfim me fez parar (Para a Vitória Régia de 85)", tudo isso fazendo parte do samba, como se fosse repentistas, querendo cada um fazer jocosidade para o outro. O vice-campeào foi o surpreendente Reino Unido, a escola verde e branco que desceu homenageando Lendas amazônicas.
Em 1989 de MORRO! Essa Expressão MORRO, é pôr causa do nome do bairro em que a REINO UNIDO está assentada: Para uns mais antigos: LIBERDADE, para ao mais jovens: MORRO DA LIBERDADE. Foi com o melhor samba que Manaus já ouviu até agora: "MÃE ZULMIRA, O AMANHECER DE UMA RAÇA", que A "REINO" consegui o título, já desfilando pela manhã na Djalma Batista. O samba tem um trecho assim: "Um grito forte pelos ares ecoou/meu santo é forte/ eu brigava com chicote/despertava a passarada/ no repique do tambor/e atravessei o mar/ com lágrimas nos olhos a rolar/ . Os autores desse samba são Gílson e Almeiron. E foi gravado pôr Grilo da Ponte do Rio de Janeiro. Note-se que mais ou menos até esse anos, quem gravava os sambas de Manaus eram os cariocas, salvo um ou outro amazonense que se aventurava a ir até lá, desde que fosse patrocinado pela Escola. Pois o Governo pagava em pacote para os produtores do Rio e eles escolhiam seu próprio pessoal. O vice-campeonato ficou para o brilhante desfile da Vitória-Régia.
(bem, pôr aquí eu paro, mas prometo voltar na próxima semana, já com o desfecho desse BRVE HISTÓRICO do CARNAVAL DE MANAUS)
All copyright SALLES GATTO PROD.
MANAUS-AM (1996-2000)
É expressamente proibida qualquer cópia desse texto, que integrará um futuro livro sobre o Samba do Amazonas). Direitos reservados à SALLES GATTO PROD. MANAUS-AM