Estética sem photoshop

Não quero só bater na utilidade da internet. Quero fazer refletir, quero saber que as pessoas reconheçam que têm menos tempo porque têm mais informação a processar e que, portanto, devem produzir mais. E essa produção inclui a leitura de livros (clássicos e não clássicos), o costume do cinema, do teatro, da galeria de arte, a leitura de semanários e diários e que encontrem ainda tempo para trabalhar no sonho. No seu projeto de vida. Na capacidade de ver e descrever o belo, o lúdico, de sorrir e chorar com toda a história já contatada e que possa, ainda contar a sua. Isso, é claro, além de trabalhar regularmente, estudar e etc. Ou seja: o mundo e a vida tornaram-se pequenos demais, curtos demais.
É preciso abrir os olhos porque temos direito ainda às nossas fantasias, aos nossos delírios, ao nosso mundo de espelhos e nossos buracos negros.
É sob essa ótica que dispenso a internet em troca da reflexão, em troca do amor, em troca da leitura ou de qualquer outra coisa. Como explicar o prazer táctil de uma caneta tinteiro a um menino alfabetizado num PC? Como contar e mostrar Victor Hugo fora de um verbete do Google? Como mostrar que o dinheiro de mais 128 de memória pode ser muito mais bem aplicado num sebo? É preciso ter tempo para contarmos as nossas histórias, para sentarmos à escrivaninha, para que nossos filhos saibam que existem escrivaninhas, existem folhas de papel de verdade e que impressão é algo que fazemos com a mão e não com cartuchos de jato de tinta. Nem que seja para saber, para conhecer.
Mas não é esse o caminho que estamos tomando, não é essa a educação que estamos dando. Não há mais a preocupação estética fora do photoshop.
É exatamente dessa retomada que estamos tratando. Da retomada do homem com seu justo tempo e com o direito de conhecer o lado de cá dos computadores.
jan/2004