Pequenas histórias ontem e hoje

Última atualização em 15/05/1998 / Volta para home page

"O Crime" é o título provisório para um vídeo interativo que está sendo desenvolvido na cadeira de Linguagem de Vídeo do curso de pós-graduação da PUCRS.

Este ensaio reflete sobre uma questão curiosa: porque a história interativa que contamos em "O Crime" é tão simples?

Acompanhe na home page relatos do processo dia a dia da produção deste projeto.

por Roberto Tietzmann

abstract: Why tell short stories when there are three-hour films and 1200-page novels? Telling short stories is a first step in developing the language skills necessary to articulate a longer narrative effort. "The Crime" is a simple visual phrase, altough a daring one.

Apesar de buscar a interatividade, o processo de criação da história de "O Crime" seguiu os trâmites normais de uma produção para vídeo. Ou seja: storyline, argumento, roteiro, decupagem. Durante seu desenvolvimento, a história foi ganhando mais volume e detalhes. Por exemplo, o storyline básico foi:

Uma pessoa está em sua casa. Outra invade o prédio e a assassina. O assassino foge.

É difícil pensar em uma história mais banal do que esta. A pequena história do assassinato e fuga já foi usada centenas de vezes em variados filmes, livros e peças de teatro. Às vezes sabemos quem é o assassino, outras vezes não. Mesmo assim: um assassinato desperta curiosidade pela trama: quem matou? por que matou? como matou?

A curiosidade mórbida é o gatilho para o andamento da história. Uma vez feito o crime, a investigação e prisão dos culpados ocupa o resto do tempo, normalmente a maior parte do filme. Ao desenvolvermos a história de forma interativa, fica claro que é preciso definir claramente quais tipos de interação se deseja possibilitar para o espectador e também que quanto mais longa for a história, mais ramos e possibilidades ela necessariamente terá. Pense em uma grande árvore com muitos ramos e apenas um único tronco, uma metáfora visual pertinente.

O tamanho somente é definido -na fase de roteiro- por onde você conseguir chegar com sua imaginação. É fácil perder o fio da meada e não conseguir entender a história como um todo, dada a infinidade de caminhos que ela pode tomar. É necessário cortar as ramificações até uma quantidade manejável. No caso d' "O Crime", cortaram-se os caminhos que se mostraram mais implausíveis após rodadas de conversa no grupo. Por exemplo:

Uma pessoa está em sua casa. Outra invade o prédio e, ao atacá-la, conversa com a vítima e decidem fingir a morte da vítima e sumir do mapa. Os falsos assassinos fogem.

Uma pessoa está em sua casa. Outra invade o prédio, mas não a encontra pois esta foi ao banheiro. O assassino espera.


Em resumo, observamos que embora contar histórias de longa duração com sons e imagens seja algo que tenha sido dominado há algum tempo, a transformação de tais histórias em peças que permitam a presença do "Dedo do Espectador" oferecem uma nova gama de problemas e perguntas muitas vezes ainda sem resposta.

A solução que encontramos bebe da tradição cinematográfica. Ao invés de ficarmos paralisados com o desafio e a variedade de possibilidades, decidiu-se contar uma história curta. Bem curta. Tentar criar algo experimental e viável ao mesmo tempo norteou o processo de criação.

Não sabemos ainda como funciona a experiência do espectador em uma narrativa interativa? Não tem problema! Em vez de tentar escrever um grande romance, vamos buscar uma frase simples. Poucas palavras. Curtas. Dizer pouca coisa. Mas dizer com sua própria voz. Os vinte anos iniciais do cinema foram assim.

Pouco se sabia sobre como contar uma história aproveitando as imagens em movimento em 1898. Cem anos depois, nossas questões são outras. Um dia tais perguntas também terão resposta. Então poderemos sonhar mais alto. Com histórias mais longas.



Desenvolvido por Roberto Tietzmann (rtietz@cesup.ufrgs.br)