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A maldição de Jacques de Molay.

André Ranulfo

De tudo que se fala sobre os Templários, talvez a primeira coisa que se vem a mente é a famosa cena final de Jacques de Molay. Eu mesmo lembro que foi a primeira coisa que ouvi sobre a saga do Templo.

É tão incrível e tão dramático, que chega a ser a ser cinematográfico:

Paris 18 de março de 1314

Por volta de meio-dia, ao lado da catedral de Notre Dame, quatro homens esperavam as suas sentenças. Eles eram membros da Ordem dos Pobres Cavaleiros de Cristo e do Templo do Rei Salomão. Era a Ordem monástico-militar mais poderosa de seu tempo. Eles estavam nos mais altos escalões da hierarquia da Ordem. Eram o preceptor da Aquitânia, Godfroi de Gonnevile; o preceptor da Normandia, Godfroi de Charney; o tesoureiro e visitador do Templo da França, Hugues de Pairaud e o Grão Mestre da Ordem, Jacques de Molay. Quem os conheciam, quase não os reconheciam. Estavam a pele e ossos. Estavam pálidos, olhos fundos quase sem vida. Já haviam sofrido todos os tipos de provações.

Foram presos junto com os outros irmãos da Ordem. naquela fatídica sexta-feira 13 de outubro sete anos atrás. Depois da humilhação da prisão, vieram os interrogatórios, as noites sem poder dormir, a fome, a dor nas mãos dos carrascos e o pior, o olhar negro e as perguntas afiadas do inquisidor. Todos acabaram confessando algo, mesmo que para se ver livre das sessões de torturas.

Hoje eles vieram para formalizar e receber suas penitências pelas heresias que confessaram praticar. Primeiro deveria ser lido em voz alta as confissões e confirmar que elas eram verdadeiras e que estavam ali sem coação. Primeiro foi lida a confissão de Hugues de Pairaud. As pessoas se horrorizavam só de pensar que aquele homem poderia ter praticado tamanhas heresias. Ouviam-se gritos de perdidos da multidão: "Hereges! Malditos! Queimem no inferno!". Pairaud concorda e afirma suas heresias. Sua alma estava livre, e foi sentenciado a pagar uma penitência de prisão perpétua. "Pelo menos, não vou ser queimado." deve ter pensado Pairaud. Os espectadores ficaram tristes em não ver o excitante espetáculo das chamas queimando um herege. O segundo foi Gonneville, que seguiu os passos de Pairaud e teve a mesma sentença.

A platéia já perdera o interesse no julgamento, aqueles paspalhos iam todos confessar suas heresias e apodreceriam na masmorra. Por que tanta propaganda então? Talvez apenas para chamar atenção do povo e ter um público decente, é bem típico do Rei Filipe. Foi lido sem mais delongas a confissão de Hugues de Charney, O escrivão já estava pronto, com a pena na mão para que Charney assinasse, mas ele não o fez. e disse "Eu nego que fiz tais abominações! Só confessei por que estava sendo torturado, menti para salvar a minha vida!" Um breve silêncio se fez, mas foi de súbito em afogado por um turbilhão de vozes, gritos, agitações... "Queimem-no!" ordenou um dos cardeais.

"E tu velho!" outro cardeal apontou para o ex-Grão-Meste Molay. "Ouça a sua confissão! Molay ouviu atentamente. Palavra por palavra. Por fim o cardeal disse: "Confessa a sua confissão de heresia sem receio e ciente que não está sendo coagido, e é de pura vontade? E sendo herege confesso, aceita negar a heresia e voltar para os braços da Igreja?!" Molay deu um leve passo a frente e disse: "Não".

Outro súbito de histeria tomou conta da multidão. Mas foram silenciados quando Molay começou a falar. "Falhei no meu juramento de guiar os caminhos da Ordem do Templo. Mas a força da ganância do homem suplantou os cavaleiros que empunhavam a espada de Deus. Se tenho que confessar qualquer pecado, confesso a da mentira! Peço perdão a Deus por ter sido fraco e sucumbir a dor e confessar coisas tão abomináveis! E se pequei, meu pecado foi o da mentira e o da covardia! A Ordem do templo é inocente, tão inocente como o sol que nos ilumina!"

"Queimem-no! junto com o outro, hoje mesmo, montem um patíbulo!!!" gritou um dos cardeais, e Jacques de Molay ainda consegue um segundo para contemplar a maravilhosa catedral de Notre Dame, e num lapso de pensamento, desejou que as portas do céu, fosse tão linda como aquela a catedral.

No cair da tarde, tudo estava pronto numa pequena ilha no Sena, chamada Île-de-Javiaux. O Papa Clemente V foi o primeiro a chegar. Filipe demorou bastante, teve que cancelar vários compromissos, mas nada poderia privá-lo daquele espetáculo. Era seu golpe final, a sete anos atrás armou uma arapuca tão bem planejada, e agora o cérebro da ordem do Templo irá se tornar cinzas. Do tão falado tesouro nada conseguiu, mas pelo menos, acabaram um dos seus maiores problemas.

O povo não se continha, eram gritos, palavrões, alguns atiravam lama, uma criança brincava tentando pegar uma fita que esvoaçava com o vento. Depois de toda cerimonia do protocolo de execução, Charney e Pairaud foram amarrados as estacas. Era quase impossível de reconhecer Charney, sempre fora um homem calmo de aparência pacata. Mas seus olhos arregalados exalavam terror enquanto lágrimas corriam eu seu rosto. Se debatia, contorcia como uma fera que caíra em uma armadilha. Pelo contrário, Molay estava sereno, parecia que acabara de acordar de um lindo sonho. Olhava ao horizonte, ou ficava olhando o rosto as pessoas que vieram se divertir com a sua execução.

O Rei deu o sinal, e as chamas começaram a arder. As chamas ainda estavam começando a se fazer e Charney gritava e se debatia como um louco. E Molay ficava olhando para os céus, como estivesse fazendo uma prece. Pouco à pouco as chamas começaram a chegar em seus pés. As chamas aumentavam e a morte ficava mais perto trazendo sua foice amolada. Os dois templários começaram a gritar de dor, Clemente fechou os olhos e inspirou profundo. Felipe deu um sorriso maroto com o canto da boca, Seus olhos grandes e azuis contemplavam sem piscar o seu feito. Os Templários chegaram ao fim.

De repente, uma das cordas se queimara e Molay conseguiu soltar um dos braços, ele levantou o braço, cerrou o punho, apontou para Filipe e gritou com uma voz de agonia: "Filipe! Filipe!" Nesse momento o Papa reconhecera a voz de Molay e abre os olhos assustado. "Filipe seu canalha! Eu o amaldiçoou! Te vejo daqui a um ano no tribunal dos céus! E seus filhos e seu sangue nunca mais sentarão no trono da França!" Todos ficaram em silêncio, e o Papa fez o sinal da cruz apavorado. "E tu Clemente! Sois o maior de todos os hereges! te encontrarei daqui a um ano, e tu prestará contas com o Deus que tu blasfêma!" E o que se seguiu foram gritos de dor e desespero dos dois templários, até se calarem como estátuas carbonizadas.

O Papa se benzeu inúmeras vezes, e Filipe estava atônito e visivelmente assustado. Mas um dos cavaleiros do rei bateu em suas costas e disse: "Daqui a um ano vamos fazer uma festa para comemorar esse dia." Filipe sorriu "É, vamos, temos coisas mais importantes a fazer, do que perder tempo com esses fracassados". Disse Filipe com um sorriso.

Realmente é uma linda história. Como disse anteriormente, é cinematográfico. Mas a maldição foi verdade? Clemente morreu de um mal estar, teve diarréias e em 20 de abril - 32 dias após a morte de Molay - E o Rei Filipe morreu em 29 de novembro atacado por um javali. E nos catorze anos que se seguiram, cada um dos três filhos de Filipe que se tornaram rei, morreram, sendo o fim da dinastia dos reis capetinos. A França caiu em uma dilacerada disputa, e numa linha tão clara e direta como a dos Capetos, as convulsões do reino conduziram a Guerra dos 100 anos com a Inglaterra.

Pelo menos, o rei e o papa morreram em menos de um ano. E os descendentes de Filipe nunca mais subiriam ao trono. Teria a maldição se cumprindo?

É muito difícil dizer, até por que, não se sabe se a linda cena que vimos realmente aconteceu. Pelo que se consta nenhum cronista da época relatou a maldição. Todas as testemunhas que relataram por escrito a execução de Charney e Molay não citam a maldição. Mas, a calma assombrosa de Molay é sempre citada. E os primeiros documentos que citam a maldição foram décadas posteriores ao fato. Mas se não houve maldição, o que aconteceu?

Quanto ao Papa Clemente V, alguns pesquisadores especulam de um ato de vingança dos templários fugitivos. Sabe-se que os templários mantinham laços diplomáticos com a Seita dos Assassinos e eles por suas vez eram peritos em venenos. Poderia ter sido um assassinato? E no caso de Filipe, soltar um javali num momento de lazer despreocupado seria uma morte sem levantar suspeitas. E não seria impossível, contando a influência que a Ordem do Templo tinha com inúmeras famílias nobres, arquitetar um complot para acabar de vez com a dinastia dos capetinos. E com certeza, muitas famílias nobres sonhavam em ter uma só oportunidade de subir ao trono da França. Nesse caso, criar um mito de que Jacques de Molay amaldiçoara os seus dois algozes e as futuras gerações desviariam as atenções das pessoas crédulas e supersticiosas da Idade-Média.

Ou talvez, Jacques de Molay, na hora de dor, canalizou as energias do fogo, o elemento trasmutador, o mesmo que é usado pelos alquimistas em suas constantes pesquisas em busca da pedra filosofal. E evocou os poderes dos anjos que lhe deram a oportunidade de lançar algum infortúnio contra quem quer que seja, e ele aproveitou para amaldiçoar aqueles que o levaram a tão desonrosa morte. Pelo menos, muita gente prefere acreditar nisso.

Fonte de pesquisa

Este material faz parte do livro: Cavaleiros do Templo - Os segredos dos Templários - André Ranulfo (autor desse site) que será; publicado no próximo ano.

 

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