CORPO MÁFICO-ULTRAMÁFICO DE CAMPO FORMOSO
Localização | Geologia Regional | Geologia Local | Bibliografia |
MINERALIZAÇÃO: | CROMITA |
O Complexo Máfico-Ultramáfico de Campo Formoso (CCF) está situado no município de Campo Formoso, região centro-norte do estado da Bahia a 480km de Salvador.
O CCF está situado ao longo de uma faixa estreita, descontínua, com aproximadamente 40 km de extensão e largura média de 1 km, situada na borda ocidental da Serra de Jacobina. (Vide Mapa Geológico Regional)
A leste encontra-se em contato, por falhamento reverso, com os metassedimentos da Serra de Jacobina e a oeste mantém um contato irregular com o corpo granítico intrusivo de Campo Formoso.
A geologia regional caracteriza-se pela presença de quatro domínios litoestratigráficos distintos, descritos da base para o topo:
ROCHAS GNÁISSICO-MIGMATÍTICAS |
intercalações de rochas anfibolíticas e metassedimentares, pertencentes ao chamado grupo Caraíba de idade arqueana, parte do embasamento do Cráton do São Francisco |
SERRA DE JACOBINA |
Andar Superior è seqüência
metassedimentar do tipo rift contendo metaconglomerados a metapelitos, datada em 2.0 Ga
(Proterozóico Inferior) por Mugeot et al (1995); Andar Inferior è associação vulcano-sedimentar de alto grau metamórfico (definida por Mascarenhas & Silva ( 1994) como o Greenstone Belt de Mundo Novo); |
GRANITO DE CAMPO FORMOSO |
Intrusão múltipla, com várias fácies graníticas dispostas concentricamente sendo observados granitóides porfiríticos a muscovita, granitóides a duas micas e granitóides a muscovita, granada e albita. Datações Rb-Sr (Sabaté et al 1990) revelaram uma idade proterozóica inferior de 1,996 Ga |
DIQUES DE DIABÁSIO |
Frescos, que cortam tanto as rochas do Complexo de Campo Formoso (CCF) quanto as rochas da serra de Jacobina. os quais foram datados de 1.060 ~ 14 M.a. (Boukili 1984) |
SEQUÊNCIAS SEDIMENTARES CARBONÁTICAS |
Proterozóico Superior, pertencentes ao Grupo Una |
Os corpos ultramáficos, portadores das mineralizações de cromo, estão encaixados nas rochas gnáissico-migmatíticas do Grupo Caraíba. A presença de cromita detrítica em quartzitos basais da Serra de Jacobina revela o posicionamento estratigráfico superior desse conjunto em relação aos corpos ultramáficos.
À presença de xenólitos das ultramáficas cromitíferas, bem como de metassedimentos da Serra de Jacobina, dentro do granito de Campo Formoso, revela, por sua vez, o caráter intrusivo desse corpo nesses dois domínios litoestratigráficos e confirma para o Grupo Jacobina uma idade mais antiga que 1.9 Ga e mais jovem que 2.1 Ga.
O CCF consiste, predominantemente, de cumulatos peridotíticos serpentinizados, contendo camadas de cromitito de espessura variada. Localmente tem sido descrita a presença, subordinada, de rochas de natureza piroxenítica e gabróica. Os processos pós-magmáticos de alteração hidrotermal afetaram drasticamente as rochas ultramáficas transformando totalmente as paragêneses e texturas primárias (Boukili 1984). Olivinas e piroxênios foram transformados, através da alteração hidrotermal, em associações de serpentina (lizardita, crisotila e antigorita), talco, clorita (peninitas e kamererita), tremolita, carbonatos (magnesita, dolomita) e magnetita (Barbosa op. cit.; Boukili op. cit.).
Em alguns raros locais pode-se ainda observar paragêneses reliquiares da rocha original, com a presença de olivina, clinopiroxênio, ortopiroxênio e cromo-espinélio (Barbosa de Deus et al 1991).
Os depósitos de cromita estão distribuídos em três segmentos, separados por falhamentos (Hedlund et al 1974). O principal segmento, de acordo com os autores supracitados, é o de Pedrinhas , que inclui as minas de Pedrinhas, Campinhos, Coitezeiros e Cansa Cavalos.
O minério de cromo (cromíta) ocorre disseminado no serpentinito e também formando camadas de cromitito de espessura variada e de grande continuidade lateral. A integração dos dados de sondagem realizados nas áreas de Cascabulhos, Pedrinhas e Limoeiro permitiu o reconhecimento da existência de pelo menos sete diferentes níveis de cromitito (Hedlund et al 1974; Barbosa de Deus et al 1982). De acordo com esses autores, nem todos os níveis estão presentes nas diferentes minas e apenas 4 deles tem real importância econômica.
O mais importante economicamente, segundo Barbosa de Deus et al (op. cit.) é o nível quatro, o qual encontra-se bem definido nas minas de Limoeiro, Pedrinhas e Cascabulhos. Esse nível, descreve os autores. possui uma espessura média de 9 metros e é constituído, da base para o topo, por um cromitito maciço com espessura variável entre 0,8 e 2 metros (minério lump) passando para cromititos finamente estratificados (0-7 metros), cromitito maciço (0-3 metros) e, por fim, um serpentinito com cromita disseminada (textura em rede), com espessura variando entre 0,5 e 4 metros.
Outros níveis de importância econômica são: o nível cinco (7-12 metros) com cromita disseminada (reticular) no serpentinito, o nível seis com cromita disseminada na base (4-8 metros) e cromitito maciço no topo (1-1,5 metros) e o nível sete, constituído por um cromitito maciço de cerca de 1 metro de espessura (Barbosa de Deus et al 1982).
O nível sete é o mais elevado. do ponto de vista estratigráfico, que se tem conhecimento no CCF ocorrendo próximo aos quartzitos da serra de Jacobina e onde se observa a presença de rochas mais diferenciadas (piroxenitos) do complexo (Barbosa de Deus op. cit.).
Os cromititos maciços contém de 75 a 90% de grãos finos a médios de cromita, em geral subedrais e fraturados, com serpentina, talco e clorita intersticiais (Hedlund et a 1974). Grande parte dos grãos de cromita exibem zonalidade composicional com bordas de substituição para ferrocromita (Hedlund et al( op. cit.)).
Análises de química mineral realizadas em minérios maciços e disseminados do CCF (Schuartz & Novikoff 1980) revelaram que as características gerais desses minérios podem ser resumidas nos altos teores de Cr2O3 (50-59%), teores relativamente abundantes de Fe2O3 e teores baixos de MgO (5-14%), Ti0 ( 0,1-0,3%) e Al2O3 (9-15%). A razão Cr/:Fe varia de 2,2:1 a 3,3:1 (Hedlund et al (op. cit.).
Além da cromita, outros minerais opacos são observados associados às rochas serpentiníticas. O estudo metalográfico e de química mineral realizado por Boukili (1984) revelou a presença de:
![]() | magnetita, em cristais isolados ou substituindo a ferrocromita, demonstrando seu caráter secundário em relação ao minério de cromo. |
![]() | ilmenita, descrita apenas em uma amostra do terceiro nível mineralizado da mina de Pedrinhas, disseminada em uma massa de clorita verde; |
![]() | prata nativa, associada à ilmenita; |
![]() | sulfetos, de colocação claramente tardia em relação à cromita identificados principalmente sulfetos de níquel, tais como pentlandita e polydimita. |
Recentemente, trabalhos desenvolvidos pelo Prof. José Haroldo da Silva Sá (UFBA) juntamente com a Dra. Sarah-Jane Barnes (Universidade de Chicoutimi, Canadá) detectaram a presença, nesses níveis cromitíferos mais ricos em sulfetos, de elementos do grupo da platina EGP (J. H. Sá, comunicação verbal).
IDADE | ARQUEANA è devido às relações de contato com as rochas circunvizinhas. A idade proterozóica inferior do granito de Campo Formoso, indiscutivelmente Intrusivo no CCF e a presença de cromitas detríticas em quartzitos do Grupo Jacobina, garantem ao mesmo uma idade pré 2.1 Ga |
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QUÍMICA MINERAL |
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TOPISCH (1993) | Propõe para o CCF um magma parental do tipo alto MgO, resultante da fusão parcial de um manto harzburgítico empobrecido. Intrudido numa bacia do tipo rift continental |
Para maiores detalhes sobre a região consulte além das bibliografias relacionadas abaixo a publicação Embasamento Arqueno-Proterozóico Inferior do Cráton do São Francisco, no Nordeste da Bahia de Silva & Misi (1998) pois a mesma contêm todas as dicas necessárias para uma excursão pela região e uma boa visão sobre os aspectos geológicos regionais.
BARBOSA DE DEUS. P. & VIANA, J.S. (1982) Distrito cromitífero do vale do rio Jacurici. XXXII Congresso Brasileiro de Geologia. Salvador, SBG. Núcleo Bahia, Roteiro das Excursões, pags. 44-60.
BARBOSA DE DEUS. P.; BRIGO, L.;COSTA, U.;DIELLA. V.; FERRARIO, A.; GARUTI, G(1991) The Campo Formoso ultramafic complex. Bahia State, Brazil: an example of na Archaean {GE-bearing chromitites. In: EUG VI Strasbourg. Terra Abstracts, vp;. 3, Number 1.
BOUKILI, H. (1984) Pétrologie, mineralogie et géochimie des alterations des roches à chrimite de Campo Formoso, Brésil. Tese de doutorado. Universidade de Strasbourg,. França, 130p. (Inédito).
SILVA, M. da G. da & MISI, A. (1988) Embasamento Arqueno-Proterozóico Inferior do Cráton do São Francisco, no Nordeste Da Bahia Geologia e Depósitos Minerais. Série Roteiros Geológicos. Superintendência de Geologia e Recursos Minerais, 164 p.
HEDLUND, D.C.; COUTO MOREIRA, J.F; PINTO, A.C.F; SILVA, J.C.C; SOUZA, G.V.V (1974) Stratiform chromitite at Campo Formoso, bahia, Brazil. J. Research U.S. Geol. Survey. 2(5), 551-562.
IRVINE T.N. (1977) Origin of chromitite layers in the Muskox intrusion and other stratiform intrusions: a new interpretation. Geology, 5 273-277.
SCHUARTZ, S. & NOVIKOFF, A. (1980) Comparasion géochemique des chromites dAndorinha et de Campo Formoso, Bahia, Brézil. Cah. ORSTOM, sér. Géol., vol. XI n 1, 75-94.
TOPICH, W.M. (1993) Geoquímica e petrologia dos ultramafitos e mafitos da Serra de Jacobina. Bahia: komatiitos, basaltos de alto Mg e toleitos numa bacia intracontinental. In: Anais do II simposio sobre o Cráton do São Francisco. Salvador, 1993. SBG/SGM, 1993, p. 109-111.