FORMAÇÃO BOQUIRA

Texto e imagens cedidos por: Maria da Glória da Silva (Doutora em Geologia - UFBA) e o José Carlos Cunha (geólogo  - CBPM)

As faixas dominantemente sedimentares localizam-se essencialmente, ao longo da margem oriental da cordilheira do Espinhaço. A faixa de maior expressão e mais conhecida, com de 64 km de comprimento e largura de 3 km, atravessando as cidades de Macaúbas e Boquira, hospeda as mineralizações stratabound e/ou estratiformes de Pb-Zn (Cd-Ag) da exaurida Mina de Chumbo da Boquira. Foi originalmente denominada de Unidade Boquira por Diniz Gonçalves (apud Cunha et al., 1993) e em seguida renomeada para Formação Boquira por Nagell (1970). Esta denominação continua sendo utilizada, na atualidade, pela maioria dos pesquisadores para a designação exclusiva dessa faixa.

Os principais componentes litológicos da Formação Boquira foram caracterizados por Rocha (1985) e Carvalho (1982), como verdadeiras formações ferríferas bandadas das fácies óxido, silicato e carbonato, com quatro subfácies principais: quartzo-magnetita, quartzo hematita, silicato-magnetita e carbonato-magnetita (Rocha, op cit.).

A Formação Boquira não possui registros comprovados de rochas vulcânicas. Foi interpretada como uma seqüência químico-sedimentar isolada, sem características de greenstone belt (Soares et al., 1990, não publicado), formada em uma bacia epicontinental de águas rasas, de circulação semi-restrita e com presença de organismos anaeróbicos (Rocha, 1985). Quanto à idade, Rocha (1990) discute a possibilidade da seqüência litológica da Formação Boquira ter sido formada no final do Arqueano ou no Proterozóico Inferior, considerando as datações do embasamento (com idades em torno de 2.6 Ga) e de granitóides intrusivos (com idades transamazônicas de 2.0 Ga.).

A mineralização de Pb-Zn (Cd-Ag) da Formação Boquira, representada fundamentalmente, pela já exaurida Mina de Chumbo da Boquira, está intimamente associada à subfácies BIF, silicato-magnetita. A mina de Boquira foi entre 1959 e 1985 a maior mina de Pb e Zn do Brasil, com um conteúdo metálico (produção + reservas) da ordem de 650 mil toneladas de Pb + Zn. O minério é concordante com o bandamento da rocha encaixante e ocorre também remobilizado, ao longo de zonas de falhas e de cisalhamento, associado a quartzo leitoso, calcita, clorita, biotita e às vezes granada (Rocha 1990). Várias hipóteses têm sido levantadas em relação à gênese do minério. Recentemente, Carvalho et al (1997), realizaram estudos isotópicos na mineralização, tendo os resultados apontado claramente para uma fonte crustal para o Pb (embasamento). Os autores propõem que um modelo SEDEX, no qual o minério teria sido transportado para o ambiente marinho através de soluções hidrotermais e se depositado juntamente com os sedimentos (sediment-hosted massive sulfide deposit).

As faixas vulcanossedimentares estão distribuídas na planície do bloco de Paramirim e na margem ocidental da Chapada Diamantina, havendo em algumas delas registros de mineralizações de ouro com cobre associado, como o pequeno depósito de Au (Cu) da Baixa Funda em Ibiajara. A mais expressiva destas faixas, situa-se na porção central do Vale do Paramirim, entre o povoado Cristais, sul de Ibipitanga, e a cidade de Caturama, com o comprimento de 45 km e largura entre 1 e 4 km. Soares et al. (1990) atribuíram a esta faixa a denominação de Faixa Paramirim e a consideram como uma associação vulcanossedimentar do tipo greenstone belt, distinta da Formação Boquira e com potencialidade para mineralizações de metais-base e ouro.

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Referências Bibliográficas

CARVALHO, I.G. Considerações sobre o quadro geotectônico do distrito de Boquira, estado da Bahia. In Congresso Brasileiro de Geologia. Salvador, SBG, 1982. Anais do XXXII Congresso Brasileiro de Geologia, vol. 1, pag. 234 – 245.

CARVALHO, I.G., IYER, S.S., TASSINARI, C.C.G., MISI, A . 1997. Lead- and Sulfur-Isotope Investigations of the Boquira Sediment-Hosted Sulfide Deposit, Brazil. Intern. Geol. Review, vol. 39, p.97-106.

CUNHA, J.C.C., SILVEIRA, W.P., SOARES, J.V. Projeto estudo dos domínios vulcanossedimentares das regiões do vale do Paramirim, Riacho de Santana e do Bloco do Gavião: integração de dados, relatório final. Salvador: CBPM, não publicado.

NAGELL, R.H. A formação boquira e os depósitos de minério de chumbo e zinco em Boquira. MME-DNPM, 40 Distrito, Recife, 1970.

ROCHA, G.M.F. 1985. Caracterização faciológica da formação ferrífera de Boquira, encaixante da mineralização de Pb/Zn. Tese de Mestrado. Universidade Federal da Bahia. Inédito.

ROCHA, G.M.F. 1990. Caracterização da fácies ferrífera de Boquira, encaixante da mineralização de chumbo-zinco.In: Geologia e Recursos Minerais do Estado da Bahia: textos básicos. Salvador, 1990, vol. 8.

SOARES, J.V., GARRIDO, IA.A., OLIVEIRA, N.S., FRÖES, R.J.B. Projeto Macaúbas: relatório final. Salvdor: CBPM, 1990, não publicado.

Última Atualização: 09/11/00                                         Retornar