As faixas dominantemente sedimentares localizam-se essencialmente, ao longo da margem oriental da cordilheira do Espinhaço. A faixa de maior expressão e mais conhecida, com de 64 km de comprimento e largura de 3 km, atravessando as cidades de Macaúbas e Boquira, hospeda as mineralizações stratabound e/ou estratiformes de Pb-Zn (Cd-Ag) da exaurida Mina de Chumbo da Boquira. Foi originalmente denominada de Unidade Boquira por Diniz Gonçalves (apud Cunha et al., 1993) e em seguida renomeada para Formação Boquira por Nagell (1970). Esta denominação continua sendo utilizada, na atualidade, pela maioria dos pesquisadores para a designação exclusiva dessa faixa.
Os principais componentes litológicos da Formação Boquira foram caracterizados por Rocha (1985) e Carvalho (1982), como verdadeiras formações ferríferas bandadas das fácies óxido, silicato e carbonato, com quatro subfácies principais: quartzo-magnetita, quartzo hematita, silicato-magnetita e carbonato-magnetita (Rocha, op cit.).
A Formação Boquira não possui registros comprovados de rochas vulcânicas. Foi interpretada como uma seqüência químico-sedimentar isolada, sem características de greenstone belt (Soares et al., 1990, não publicado), formada em uma bacia epicontinental de águas rasas, de circulação semi-restrita e com presença de organismos anaeróbicos (Rocha, 1985). Quanto à idade, Rocha (1990) discute a possibilidade da seqüência litológica da Formação Boquira ter sido formada no final do Arqueano ou no Proterozóico Inferior, considerando as datações do embasamento (com idades em torno de 2.6 Ga) e de granitóides intrusivos (com idades transamazônicas de 2.0 Ga.).
A mineralização de Pb-Zn (Cd-Ag) da Formação Boquira, representada fundamentalmente, pela já exaurida Mina de Chumbo da Boquira, está intimamente associada à subfácies BIF, silicato-magnetita. A mina de Boquira foi entre 1959 e 1985 a maior mina de Pb e Zn do Brasil, com um conteúdo metálico (produção + reservas) da ordem de 650 mil toneladas de Pb + Zn. O minério é concordante com o bandamento da rocha encaixante e ocorre também remobilizado, ao longo de zonas de falhas e de cisalhamento, associado a quartzo leitoso, calcita, clorita, biotita e às vezes granada (Rocha 1990). Várias hipóteses têm sido levantadas em relação à gênese do minério. Recentemente, Carvalho et al (1997), realizaram estudos isotópicos na mineralização, tendo os resultados apontado claramente para uma fonte crustal para o Pb (embasamento). Os autores propõem que um modelo SEDEX, no qual o minério teria sido transportado para o ambiente marinho através de soluções hidrotermais e se depositado juntamente com os sedimentos (sediment-hosted massive sulfide deposit).
As faixas vulcanossedimentares estão distribuídas na planície do bloco de Paramirim e na margem ocidental da Chapada Diamantina, havendo em algumas delas registros de mineralizações de ouro com cobre associado, como o pequeno depósito de Au (Cu) da Baixa Funda em Ibiajara. A mais expressiva destas faixas, situa-se na porção central do Vale do Paramirim, entre o povoado Cristais, sul de Ibipitanga, e a cidade de Caturama, com o comprimento de 45 km e largura entre 1 e 4 km. Soares et al. (1990) atribuíram a esta faixa a denominação de Faixa Paramirim e a consideram como uma associação vulcanossedimentar do tipo greenstone belt, distinta da Formação Boquira e com potencialidade para mineralizações de metais-base e ouro.
Referências Bibliográficas CARVALHO, I.G. Considerações sobre o quadro geotectônico do distrito de Boquira, estado da Bahia. In Congresso Brasileiro de Geologia. Salvador, SBG, 1982. Anais do XXXII Congresso Brasileiro de Geologia, vol. 1, pag. 234 245. CARVALHO, I.G., IYER, S.S., TASSINARI, C.C.G., MISI, A . 1997. Lead- and Sulfur-Isotope Investigations of the Boquira Sediment-Hosted Sulfide Deposit, Brazil. Intern. Geol. Review, vol. 39, p.97-106.CUNHA, J.C.C., SILVEIRA, W.P., SOARES, J.V. Projeto estudo dos domínios vulcanossedimentares das regiões do vale do Paramirim, Riacho de Santana e do Bloco do Gavião: integração de dados, relatório final. Salvador: CBPM, não publicado.
NAGELL, R.H. A formação boquira e os depósitos de minério de chumbo e zinco em Boquira. MME-DNPM, 40 Distrito, Recife, 1970.
ROCHA, G.M.F. 1985. Caracterização faciológica da formação ferrífera de Boquira, encaixante da mineralização de Pb/Zn. Tese de Mestrado. Universidade Federal da Bahia. Inédito.
ROCHA, G.M.F. 1990. Caracterização da fácies ferrífera de Boquira, encaixante da mineralização de chumbo-zinco.In: Geologia e Recursos Minerais do Estado da Bahia: textos básicos. Salvador, 1990, vol. 8.
SOARES, J.V., GARRIDO, IA.A., OLIVEIRA, N.S., FRÖES, R.J.B. Projeto Macaúbas: relatório final. Salvdor: CBPM, 1990, não publicado.