Aves Marinhas de Abrolhos
por Lucas Aguiar Carrara de Melo
e Adriana Gotschalg Maia 

      O arquipélago de Abrolhos está localizado cerca de 70 km da costa do Sul da Bahia sendo composto por cinco ilhas: Santa Bárbara, Siriba, Redonda, Sueste e Guarita. A ilha de Santa Bárbara é a maior ilha com cerca de 1,5 km de extensão e 300 m de largura. Está sob controle da Marinha e é a única das ilhas que possui habitações e moradores. A Marinha realiza estudos meteorológicos e auxilia a navegação das embarcações através do rádio-farol. O Ibama possui uma casa na ilha onde abriga guarda-parques e pesquisadores.
    O Parque Nacional Marinho de Abrolhos foi criado em 1983 e abrange o Parcel de Abrolhos e  todas as ilhas do arquipélago excetuando St. Bárbara. Sua área eqüivale a 266 milhas náuticas quadradas, cerca de 91.300 ha. O Parcel de Abrolhos é constituído por colunas recifais em forma de cogumelo, podendo atingir até 25 metros de altura. A ilha de Siriba recebe o desembarque dos turistas. As ilhas Sueste e Guarita são consideradas áreas intangíveis, onde o desembarque só é permitido para fins de pesquisa. 
    O arquipélago representa um  dos mais importantes locais de reprodução de aves marinhas no Brasil. Sua transformação em parque nacional marinho foi um grande passo para a proteção e conservação das populações destas espécies e de seus habitats.
    O Laboratório de Ornitologia do Departamento de Zoologia da Universidade Federal de Minas Gerais vem realizando, em cooperação com IBAMA de Caravelas, pesquisa com as aves marinhas residentes do arquipélago.
    Apesar da distância da costa, já foram registradas cerca de 40 espécies de aves, dentre residentes e visitantes. A maior parte da avifauna está representada por cinco espécies marinhas nidificantes: o Atobá-branco Sula dactylatra, o Atobá-marrom Sula leucogaster, a Fragata Fregata magnificens, a Grazina Phaethon aethereus e o Benedito Anous stolidus.

Sula dactylatra (Atobá-branco): espécie mais comum no arquipélago. Ave pelágica, nidifica em todas as ilhas, principalmente na St. Bárbara, Siriba e Sueste. Conhecida também por piloto-mascarado, não possui dimorfismo sexual aparente, apesar da fêmea ser um pouco maior, medindo cerca de 86 cm e podendo pesar até 2 kg. A vocalização diferencia os sexos. Se alimenta de peixes e lulas. O peixe agulha-preta Hemiramphus brasiensis constitui 63% de sua dieta. Lança-se de uma altura de 10 metros ou mais em pique vertical a grandes velocidades, mergulhando até 8 metros em perseguição aos peixes. Possui um sistema de sacos aéreos entre a musculatura que parece fornecer proteção aos grandes impactos sofridos contra superfície da água. Coloca 1 ou 2 ovos em ninho confeccionado com pouco material em áreas planas. Um censo realizado em 1994 indicou a presença de 800 indivíduos com ovos ou filhotes no arquipélago.



 Sula leucogaster (Atobá-marrom): menor que o atobá-branco, mede cerca 74 cm.  Fêmea com mancha escura na frente do olho e macho com a região azulada. Comum na costa brasileira, pesca lançado-se obliquamente de média altura em águas rasas e perto de rochedos. Nidifica em áreas acidentadas na periferia das ilhas Sueste e Redonda principalmente. Constrói no solo, ninho côncavo levemente forrado. Assim como o atobá-branco, põe 1 ou 2 ovos criando apenas um filhote. Devido a assincronia de postura dos ovos, o filhote mais velho acaba por expulsar o menor sem interferência dos pais. Esta adaptação reprodutiva parece estar relacionada com a pequena oferta de alimento. Mares atlânticos não possuem a riqueza de alimento das correntes frias do Pacífico Sul, onde a concentração de aves marinhas é superior.  Possui alta taxa de infertilidade, sendo o segundo ovo posto como segurança.


Fregata magnificens (Fragata):  com quase 1 metro de comprimento e mais de dois de envergadura, pesa apenas 1,5 kg. Ave com menor superfície de asa por unidade de peso. Macho preto com saco gular vermelho. Fêmea com cabeça anegrada e peito branco e filhote com cabeça branca. Nidificava apenas na Redonda. Um foguete lançado na passagem do ano de 96 provocou incêndio na ilha causando a morte de vários filhotes. Após o fogo, começaram a nidificar na ilha Sueste. Apenas um ovo é posto no ninho de gravetos solidificado através de fezes. O casal incuba o filhote alternadamente durante 40 dias. Alimenta-se de peixes capturados na superfície, não mergulha. Molesta as outra aves a procura de peixes regurgitados. Muitas vezes os atobás e grazinas conseguem se livrar das fragatas pousando na água.



Anous stolidus (Benedito, Viuvinha): pequeno representante da família das gaivotas, mede 38 cm. Ave de ilhas oceânicas, nidifica na ilha Guarita com pouco mais de 60 indivíduos na Santa Bárbara. Guarita é a menor das ilhas com cerca de 100 m de diâmetro. Lá existem mais de 3 mil Beneditos, maior concentração de aves em todo arquipélago. O Benedito não apresenta dimorfismo sexual. Nidifica de março a setembro e migra durante a primavera e verão. Neste  ano, casais permaneceram pela primeira vez sem migrar.  Casal coloca único ovo diretamente no solo  nu ou em ninhos confeccionados com a alga parda Sargassum.
 



Phaethon aethereus (Grazina, Rabo-de palha): mede quase 1 metro de comprimento, sendo que apenas a cauda eqüivale a mais de 40 cm. A maior colônia brasileira está localizada em Abrolhos. Nidifica em reentrâncias de penhascos e pedras. Locomove-se no solo com dificuldade, utilizando bico e asas. Cria  normalmente apenas um filhote. Quando jovem apresenta bico amarelado e cauda curta. Como o atobá-branco, arremete-se na água em velocidade, podendo chegar  a 3 metros de profundidade. Também possui camada de sacos aéreos que suavizam os impactos.
 
 
 

Consultas:
SICK, Helmut. Ornitologia Brasileira. 1997
ALVES, V. et'al. Aves do Arquipélago de Abrolhos. Ararajuba 1997
internet


fotos: Lucas Carrara
lucascarrara@hotmail.com