Depoimento de usuários
Edith Suli,
62 anos, mora em São Paulo - SP
Portadora de deficiência visual,
devido a retinose pigmentar
- Uso do computador: “Utilizo o computador para meus trabalhos (escanear livros e textos pra mim ou encomendados, ler, escrever assuntos pessoais...) Navego muito pouco na Internet, pois divido o equipamento com meu filho que trabalha nele também, assim não tenho muito tempo para tal. Entretanto uso muito o serviço de e-mail para conhecer pessoas, enviar e receber mensagens de amigos, principalmente. Também entro algumas vezes no bate papo através do PAPOVOX do sistema DOSVOX.”
- Programas, adaptações: “Uso mais o sistema DOSVOX. Tenho VIRTUAL VISION, porém só me utilizo dele para escanear livros.Entro no sistema DOSVOX (para windows) teclando o ENTER quando o micro faz um segundo bip (uma pequena adaptação feita por meu filho). Para entrar no VIRTUAL VISION, faço-o depois de haver entrado no WINVOX, seguindo as instruções de saída e teclando ALT V.”
- Acesso: “ Fiquei conhecendo
a existência do DOSVOX através de um amigo, então professor
de Educação Especial, na USP. No final de 1996 eu o
comprei, através de um pedido para seu representante no Rio de Janeiro.
Quanto à existência do VIRTUAL VISION fiquei sabendo
depois com outros amigos cegos que conheci pela lista DOSVOX-1. Esse programa
foi-me enviado pelo Banco Bradesco, do qual sou cliente. Sei da existência
de outros programas, mas não os tenho e nem sei utilizá-los.
Para minhas finalidades, estes bastam por enquanto”
auxiliar para leituras, estudos, comunicação
com amigos. Abriu muito meus horizontes. Não o uso para trabalhos,
a não ser esporadicamente. Até como passatempo ele tem me
servido muito. Mas um de seus benefícios melhores para mim foi a
oportunidade de conhecer muitas pessoas,primeiro virtualmente e depois
pessoalmente, aumentando muito meu círculo de amigos. Também
possibilitou-me a troca com pessoas que, como eu, são portadoras
de deficiência visual.Com certeza este foi um dos maiores benefícios
que recebi, pois agora lido muito melhor com meus limites.”
- Dificuldades (acessibilidade,
custo, opções no mercado): “Os preços dos equipamentos
ainda são elevados para a grande maioria das pessoas e portanto,
mais ainda para nós, é uma grande barreira a ser vencida.
Felizmente programas como DOSVOX e o VIRTUAL VISION são mais acessíveis
para muitos que possuem equipamentos. Como não trabalho em programação
e estou aposentada não sinto necessidade de outros programas mais
especializados, de preços impraticáveis para mim e para muitos.”
Neiva, 44 anos, mora em Novo Hamburgo-RS
“Meu nome é Neiva, tenho 44
anos e moro em Novo Hamburgo (RS). Sou
portadora de esclerose múltipla,
patologia que me trouxe a perda total
da visão, uma deficiência
motora e a perda da sensibilidade em algumas
regiões do corpo. Como a perda
da visão se deu aos 28 anos,
eu já
possuía uma vida estruturada: casada,
mãe de duas filhas e funcionária
do Banco do Brasil. Dois anos após
a perda da visão, e com perda de
movimentos e outras complicações,
fui aposentada por invalidez, de onde
vem a renda para minha manutenção.”
- Uso do computador: “Utilizo o computador, principalmente, para ler, pois, sem visão e sem tato, os meios comuns de leitura (utilizando a visão ou o método braille) tornaram-se impossíveis para mim. Mas ele -o computador- é meu aliado, também, para navegar na internet e para conhecer pessoas.”
- Programas, adaptações:
“O acesso ao computador é feito através de dois programas:
o DOSVOX e o VIRTUAL VISION. Atualmente, por estar digitando
com uma só mão, a configuração do Windows
foi alterada de modo que, quando necessário
digitar comandos que necessitem pressionar mais de uma tecla ao mesmo tempo(CTRL+ALT+D,
por exemplo), isso possa ser feito em sequência, pressionando-se
uma tecla de cada vez. O mouse pode
ser
utilizado, requer, porém, um conhecimento
de informática maior do que o
meu”
- Acesso: “Conheci o programa DOSVOX através de um amigo, também cego.Meu amigo, soube através de outro amigo, da existência do programa. Ele,havia assistido um programa de televisão que, além de fazer uma demonstração do software, indicava a UFRJ como "produtora e fornecedora". Passou-se quase um ano entre a descoberta do software e sua aquisição, pois precisava adquirir um computador, o que não foi fácil, tendo em vista o valor do equipamento. Foi através de um consórcio que adquiri meu (amado) micro, e meu primeiro programa (DOSVOX), comprei-o junto com esse amigo: ele pagou a metade e eu a outra metade. Seis meses depois, adquirimos outro programa, deixando de ser "sócios".
- Importância, interesses, vantagens:
“Como já citei, o micro é, agora, uma de
minhas únicas formas de leitura e, se pensar em independência,
única porque, com ele, posso dispensar a leitura feita por
outras pessoas. Através do micro e da internet, leio
jornais, revistas, romances, participo de listas de discussão,
entro em chats, faço e envio correspondência, seja através
de
e-mail ou em tinta, enfim, um mundo do
qual eu, como deficiente visual,
achei que não
seria mais possível participar, até
encontrar o
computador, o DOSVOX e o VIRTUAL VISION.
Utilizando o scanner, posso
colocar "dentro" do PC, praticamente,
qualquer texto para posterior
leitura. Como tive muita dificuldade
em "descobrir" essa tecnologia,
hoje em dia procuro divulgá-la
e para tanto estou sempre em contato com
uma escola de inclusão daqui do
município onde resido.”
- Dificuldades (acessibilidade, custo,falta
de opções no mercado): “Existem algumas dificuldades
quanto a aquisição dos equipamentos. A primeira é
saber de sua existência. Tais recursos são pouco
divulgados e, quando chegam até o conhecimento dos que necessitam,
esbarra-se em outro obstáculo: seu preço e recursos
financeiros. Já existem linhas de crédito para aquisição
de micros, mas e os programas que se
fazem necessários? E quando se precisa de um teclado especial? E,
como fazer para pagar a aquisição uma vez que precisa-se
de formação para se obter uma fonte de
renda, formação essa que o
equipamento ajudaria a conseguir?
Deixando de lado as dificuldades
de aquisição, creio se fazer necessário
uma maior divulgação das tecnologias assistivas
e, talvez, seja esse um dos "carmas" dos profissionais da terapia
ocupacional.”
Depoimentos de profissionais
Miryam Pelosi –Terapeuta ocupacional e psicopedagoga . Trabalha no Centro de Terapia Ocupacional do Rio de Janeiro. Faz consultorias à instituições como APAE de Niterói, FUNLAR, Hospital das Forças Aéreas, entre outras.
- População:
crianças, adolescentes e adultos com dificuldades motoras
e de comunicação
- Recursos: de baixa e alta tecnologia,
dependendo da possibilidade cognitiva, idade, condição motora,
parceiro de comunicação e condição sócio-econômica
do usuário.
- Depoimento: “ Os materiais de
baixa tecnologia são muito baratos. Para a confecção
de uma prancha de comunicação são necessários
apenas uma pasta, recorte de revista, fotografias ou símbolos e
papel contact para encapar. Construímos acionadores e comunicadores
artesanais a um custo muito barato. Os recursos de alta tecnologia são
na maioria importados. Um acionador pode variar de $20 a $ 150 dólares,
os mais sofisticados. Alguns programas de computador podem ser adquiridos
gratuitamente, como é o caso do Comunique.”
Importância: “A comunicação
alternativa viabiliza que uma criança que não consegue falar
possa expressar seus sentimentos e desejos. Proporciona uma verdadeira
participação desse indivíduo na escola e na família.
Para uma criança que não consegue escrever viabiliza a inclusão
escolar através de recursos alternativos como a máquina elétrica,
o computador ou a utilização de programas como os teclados
virtuais.
Nivânia Melo– Terapeuta ocupacional de Belo Horizonte- MG , trabalha na Escola Brincar e Technocare ( Centro de Aplicação da Tecnologia Assistiva)
- População:
alunos portadores de paralisia cerebral e outras disfunções
neuromotoras ( Escola Brincar) e jovens, adultos e idosos ( Technocare)
- Recursos: Opções
de acessibilidade, teclados especiais ( placa de acrílico),
mouses adaptados ( roller mouse, switch mouse e mouses com acionadores
de diversos tipos), Bliss, PCS em pranchas portáteis e softwares
( Comunique, Brain)
- Depoimento: “Hoje temos
mais facilidade de encontrar alguns produtos no Brasil. Algumas adaptações
são simples e baratas e existem outras de custo mais elevado, depende
muito do cliente e de suas reais necessidades. Infelizmente ainda
não são acessíveis para todos, mas já são
para um número maior de usuários.”
Importância: “ Percebo que
estes recursos possibilitam ao indivíduo passar de um ser dependente
a um ser atuante, com a possibilidade de estudar, ser incluído e
até trabalhar, Possibilitam uma coisa fundamental para o ser humano
que é a comunicação, o processo de aprendizagem e
sua inserção na comunidade escolar e social.”
Anelise Sanches – Fonoaudióloga. Trabalha com reabilitação neurológica e comunicação alternativa.
- População:
pessoas que apresentam dificuldade de comunicação oral e
escrita.
- Recursos: softwares específicos,
acionadores de vários tipos, mouses adaptados, brinquedos acionados,
pranchas eletrônicas.
- Depoimento: “ Há
alguns anos atrás, a maioria dos materiais eram apenas importados.
Hoje em dia a indústria nacional já está produzindo
alguns deles. Eu mesma confecciono vários deles. O custo está
abaixando.”
Importância: “A comunicação
é um direito de todo ser humano, por isso os profissionais que trabalham
com indivíduos com prejuízos em qualquer modo de comunicação
tem o dever/obrigação de utilizar todos os recursos possíveis
para que ela se efetive. Os recursos tecnológicos auxiliam muito,
pois vêm minimizando as dificuldades que as deficiências físicas
e sensoriais acarretam.”
Helena Panhan - Fonoaudióloga. Atua na área de Neurologia.
- População:
pacientes com distúrbios neurológicos ( AVC, TCE, PC e síndromes)
- Recursos: software Brain,
acionadores e prancha eletrônica.
- Depoimento: “Os recursos
tecnológicos são de alto custo, no entanto, o trabalho em
comunicação alternativa não depende da aquisição
destes materiais, é possível fazer pranchas de comunicação
em papel com custo baixo. A tecnologia ajuda, mas não resolve questões
terapêuticas e de linguagem.
Importância: “ O trabalho
em comunicação alternativa independe da tecnologia, trata-se
de um trabalho que oferece ao paciente sem oralidade, uma possibilidade
de fala por símbolos gráficos – visuais ou sinais manuais.
A tecnologia ocupa o espaço de um instrumento que proporciona
independência motora.”