MODA por André Murraças |
1. EM VIÉS - A MODA FORA DA MODA - alguns dos meus melhores amigos usam óculos de sol na discoteca » 2. punhos curtos - breves da moda »
|
|
alguns dos meus melhores amigos usam óculos de sol na discoteca Habitam a noite aqui e ali. Levam a noção de estilo ao limite. Usam o cabelo penteado com muito gel. As roupas são quase sempre de marca. Sujeitam-se a dançar em cima das colunas do Kremlin e a pista do Lux, usando óculos escuros. Conheço algumas destas criaturas. E, movido pela curiosidade - as que não conhecia passei a conhecer. Abordei-as numa breve pergunta: porque é que usas óculos de sol na discoteca? Apresento-vos o Vítor. O Vítor é um
daqueles betos com a gola da camisa Sacoor irritantemente virada para
cima. Tem uns óculos azuis escuros e costumo encontrá-lo no Kremlin. O
Vítor tem quase dois metros de altura e está numa de desportos
radicais. Os óculos do Vítor são “um
bocadinho fatelas”, como o próprio lhes chama. Mas a sua relação
é fiel e de total admiração. Disse-me que os comprou em Londres: “Estava lá de férias. Uma noite, preparava-me para sair e faltava-me
qualquer coisa. Sentia-me despido.” Quando Vítor entrou numa loja
de conveniência e reparou num par de óculos a chamar por si: “Olhei e disse: É isto que me falta.” O Vítor usa estes óculos
porque acha que fica com mais estilo. “E
as miúdas olham mais para ti porque estás diferente dos outros gajos,
percebes?” Agora apresento-vos a Liliana. A Lila, como
lhe chamam, é uma rapariga doida pela noite. Durante o dia trabalha
numa loja de roupa e à noite veste-se a preceito para “curtir”.
Conheci a Lila numa coluna do Kremlin, quando ambos disputávamos o
lugar para dançar. Ela usava umas calças dobradas até ao tornozelo,
uns saltos altíssimos, um chapéu de cowboy, uma t-shirt Madonna-em-fase-cowgirl
e, é claro uns óculos escuros. Escuros....não seria bem o caso. Os óculos
eram escandalosamente cor de rosa. De todas as vezes que falei com a
Lila, ela não estava no seu estado normal. Gritava muito, gesticulava
ainda mais, mas consegue sempre ser tão querida que me leva a
partilhar, com agrado, o meu quase indisputável lugar em cima da
coluna. Para ela os óculos fazem parte do glamour
da noite. “Eu quero é curtir, curtir, curtir.” Ás vezes os óculos ficam-me
embaciados com o calor, mas não me importo.” Depois
há o Bruno. O Bruno andou no mesmo liceu que eu. Já na altura
aparentava ser um bocadinho excêntrico e a tendência prolongou-se até
aos dias de hoje. Sempre soube que ele era gay, desde os tempos em que
ele andava rodeado de meninas e olhava de soslaio para os rapazes no
balneário. Quando nos encontrámos mais tarde no Lux, o Bruno estava
com uns óculos escuros, tipo aviador e foi ele que meteu conversa
comigo. Só quando tirou os óculos é que o reconheci. O Bruno acha que
os óculos fazem parte do galmour
da noite. Do “espírito da
coisa”, como ele diz. Perguntei-lhe se os óculos não o
incomodam, sendo ele um irrequieto dançarino. “Fazem
com que toda a gente olhe para ti e, por isso, mesmo tornando-se um
pouco cansativo para os olhos, tens de dar o teu melhor. Toda a gente
olha para ti. Chama à atenção. E as bichas adoram.” O Vasco diz que tem tudo a ver com imagem. O
Vasco é muito dado às imagens. É publicitário. Para ele os óculos são
um cunho nocturno. Toda a gente o reconhece pelos óculos que, note-se,
existem nas gavetas do Vasco num total de vinte e quatro pares. “Ando
a ver se reparam em mim. Nunca ninguém repara. Com os óculos engato
todas as noites. Deve dar um sex-appeal qualquer.” No
final, é tudo uma questão de divertimento associado à promoção
pessoal. Divertires-te e fazer com toda a gente repare nisso. Quem fica
atrás dos óculos, tem à sua frente uma noite colorida e cheia de
estilo. E
não há mais nada na noite sem ser cor e moda, exaltadas por uns óculos
de sol?
punhos curtos - breves da moda
jermias escocês, o tio patinhas O estilista Jeremy Scott, conhecido pela sua exuberante marca, através da qual brinca frequentemente com o luxo, o glamour e o camp, fez novamente das suas. A última colecção tem como tema o dinheiro. Os vestidos das senhoras são feitos a partir de cartões de crédito, têm money e sale escritos a dourado, e há também vestidinhos curtos feitos com moedas e notas. Os cabelos das modelos são muito Dinasty e as senhoras entravam em palco conduzindo Mercedes, segurando aspiradores, desmaiando em cima de pianos e sofás. De que falamos quando falamos de Alta-Costura?
quero
um vestido balenciaga!
Tempos houve em que se faziam teses de mestrado sobre tudo e com títulos à Raymond Carver, do tipo: Queres um cigarro, hein? Mas Kerry Spring veio e alterou tudo isso. O seu trabalho final da Glasgow School of Art é, nada mais nada menos, que uma angariação de dinheiro para a própria comprar um vestido Balenciaga. O ponto alto deste seu mestrado foi a festa onde Spring vendeu dúzias de bolos – brancos e folhados como uma das colecções da referida casa, há uns tempos. Ao mesmo tempo, a promissora estilista vai fazendo extensos relatórios e analisando o mercado e públicos do mundo da moda. Certo é que o dinheiro ainda não chega. Por isso, quem quiser dar o seu donativo: Kerry Spring´s Balenciaga Found, Textiles Department, Glasgow School of Art, Newbury Tower, 167 Renfrew Street, Glasgow G3 6RQ.
balenciaga
#2
Já foi aqui demonstrado o apreço pelo papel que Nicolas Ghesquiere ao desenhar para a casa Balenciaga. A última colecção não ficou atrás e mais contribui para esta admiração. O bom gosto e a arquitectura do mestre continuam na mão deste seu pupilo. A colecção é uma mistura de moscas com a anatomia humana. Os vestidos são muito justos, rendados, cintados e presos com cintos. A cor preta e os tons de verde e castanho ajudam a um visual pseudo-pobre, sóbria e finíssima.
|
TOBIAS | EDITORIAL | SUGESTÕES | COLABORADORES | ARQUIVO | ||
CINEMA | ARTES PLÁSTICAS | MODA | TEATRO | DANÇA | MÚSICA | LIVROS | POESIA ARQUITECTURA |
to-bias.com | 20 de Abril de 2001 |
webmaster |