Alexandre Matias
Conhecido do resto dos brasileiros devido a um certo presidente
"impichado" e pelas brigas de famílias de coronéis (tudo bem, a praia do
Francês também vale a lembrança), o estado de Alagoas nunca se sobressaiu no mapa
cultural brasileiro. Tanto Hermeto Pascoal quanto Djavan não costumam se referir ao seu
estado de origem e nenhuma leva de artistas colocou o estado em voga.
Até agora. Uma nova safra de músicos alagoanos vem sacudindo a cena
da capital Maceió. O agito é claro eco da influência do mangue beat na cena pop
nordestina. Não musical, mas na auto-estima. A partir do brado confidente da Nação
Zumbi e do Mundo Livre S/A, toda uma geração de músicos do nordeste viu que não
precisava esperar ser "descoberto" para ser alguém no mercado. O segredo era
simples: era preciso fazer acontecer.
E é isto que esta safra de bandas vem fazendo. Nomes como Mopho, Santo
Samba, Wado, Xique Baratinho e a Volante do Tenente Rufino, Jones, Varnan e Dr. Charada
estão fazendo a cena acontecer, criando o hábito de shows, lançar discos e fitas, se
produzir, enfim, encarar o mercado fonográfico de uma forma mais profissional.
De todas elas, o Sonic Jr. é talvez seu nome mais promissor. Com dois
CDs gravados em esquema caseiro, o grupo prepara-se para o lançamento do primeiro disco
oficial, programado para o ano que vem pela gravadora carioca Nikita Records. Mas a dupla
já adiantou que o repertório é o mesmo dos dois primeiros discos, só que em versão
turbinada.
Então devemos esperar um discaço. Nos dois primeiros álbuns, o Sonic
Jr. mostra que o conceito inicial do mangue beat (música pop moderna + música regional)
é só um ponto de partida, não um fim em si. Assim, a dupla explora possibilidades
diversas, tendo como base o ritmo eletronicamente manipulado (mais funk que techno,
linguagem que passa longe do disco) e o sotaque pesado de Júnior, que conduz o groove com
gritos que remetem a cantadores do sertão, vendedores de rua, repentistas, toadores. Mas
ainda há referências de dub (as faixas U23 e U41/U42 são mergulhos fundos na essência
da alma jamaicana), samba e samba-rock (explícito na guitarra de Aldo Jones e na versão
de O Telefone Tocou Novamente, de Jorge Ben) e rock - além das várias vinhetas compostas
por samplers de músicas alheias (é possível achar até a introdução de Ebony Eyes -
de Smokey Robinson e Rick James - no meio do caldeirão de referências).
O resultado é dançante ao mesmo tempo que experimental. Outro legado
do mangue beat: é possível ser pop e ser ousado ao mesmo tempo. O Sonic Jr. não só
aprendeu a regra como leva-a adiante com moral. Resta só esperar o disco sair - ou pedir
direto para o grupo pelo correio (Rua do Sossego, 500. Farol. Maceió-AL. CEP 57057-420),
por telefone (082-973-1657 ou 082-976-2870) ou email (aldojones@uol.com.br).