Campinas, Sábado 13 de Janeiro de 2001
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termometro.jpg (11688 bytes)
01.jpg (41791 bytes)À frente do mangue beat

Alexandre Matias

Conhecido do resto dos brasileiros devido a um certo presidente "impichado" e pelas brigas de famílias de coronéis (tudo bem, a praia do Francês também vale a lembrança), o estado de Alagoas nunca se sobressaiu no mapa cultural brasileiro. Tanto Hermeto Pascoal quanto Djavan não costumam se referir ao seu estado de origem e nenhuma leva de artistas colocou o estado em voga.

Até agora. Uma nova safra de músicos alagoanos vem sacudindo a cena da capital Maceió. O agito é claro eco da influência do mangue beat na cena pop nordestina. Não musical, mas na auto-estima. A partir do brado confidente da Nação Zumbi e do Mundo Livre S/A, toda uma geração de músicos do nordeste viu que não precisava esperar ser "descoberto" para ser alguém no mercado. O segredo era simples: era preciso fazer acontecer.

E é isto que esta safra de bandas vem fazendo. Nomes como Mopho, Santo Samba, Wado, Xique Baratinho e a Volante do Tenente Rufino, Jones, Varnan e Dr. Charada estão fazendo a cena acontecer, criando o hábito de shows, lançar discos e fitas, se produzir, enfim, encarar o mercado fonográfico de uma forma mais profissional.

De todas elas, o Sonic Jr. é talvez seu nome mais promissor. Com dois CDs gravados em esquema caseiro, o grupo prepara-se para o lançamento do primeiro disco oficial, programado para o ano que vem pela gravadora carioca Nikita Records. Mas a dupla já adiantou que o repertório é o mesmo dos dois primeiros discos, só que em versão turbinada.

Então devemos esperar um discaço. Nos dois primeiros álbuns, o Sonic Jr. mostra que o conceito inicial do mangue beat (música pop moderna + música regional) é só um ponto de partida, não um fim em si. Assim, a dupla explora possibilidades diversas, tendo como base o ritmo eletronicamente manipulado (mais funk que techno, linguagem que passa longe do disco) e o sotaque pesado de Júnior, que conduz o groove com gritos que remetem a cantadores do sertão, vendedores de rua, repentistas, toadores. Mas ainda há referências de dub (as faixas U23 e U41/U42 são mergulhos fundos na essência da alma jamaicana), samba e samba-rock (explícito na guitarra de Aldo Jones e na versão de O Telefone Tocou Novamente, de Jorge Ben) e rock - além das várias vinhetas compostas por samplers de músicas alheias (é possível achar até a introdução de Ebony Eyes - de Smokey Robinson e Rick James - no meio do caldeirão de referências).

O resultado é dançante ao mesmo tempo que experimental. Outro legado do mangue beat: é possível ser pop e ser ousado ao mesmo tempo. O Sonic Jr. não só aprendeu a regra como leva-a adiante com moral. Resta só esperar o disco sair - ou pedir direto para o grupo pelo correio (Rua do Sossego, 500. Farol. Maceió-AL. CEP 57057-420), por telefone (082-973-1657 ou 082-976-2870) ou email (aldojones@uol.com.br).