Texto publicado originalmente na revista Play número 5, agosto de 2002

PLAY 5

Sábado, sete horas da manhã. Estou com Furnari (http://www.furnari.net) ,
Kékis (http://keks.bitterfairy.com/) e Hipper (http://demencia.rg3.net/) no
alto de um prédio na Zona Sul de São Paulo. No horizonte, prédios imponentes
da Vila Olímpia e a marginal do rio Pinheiros, constantemente engarrafada.
No bolso, várias fotos de George W. Bush, todas com um único propósito -
queimar. A chuva vai e volta, mas isso é bom. Afinal, o céu, nublado, dá a
luz que Furnari precisa para fazer as fotos - dispensando as placas de
isopor que usaríamos para refletir a luz do sol.

O frio do começo de agosto e a chuva fina dão um trabalho para Kékis, nossa
garota da capa. Colete, braços à mostra, ela se enrola no namorado (Hipper,
fazendo um "making of" pessoal em sua digital) para não morrer de frio. O
fogo nas fotos de Bush não deu certo - o vento e o tempo úmido não ajudaram.
A saída foi atear fogo num jornal e tentar encaixar em um editor de imagens.

Kékis, que pode ser vista se jogando do palco para o público num clipe do
Blind Pigs, não é nem modelo profissional nem voluntária do Centro de Mídia
Independente. Nem o CMI quer atear fogo em George W. Bush. Nem nós. Mas a
imagem do presidente do país mais poderoso do mundo queimando na mão de uma
menina que, por trás desta foto, encara sem medo a lente da câmera é uma
metáfora para dos tempos que estamos vivendo. Uma época em que adolescentes,
munidos de computadores e conectados à internet, podem fazer a diferença. A
revolução que clamamos na capa não acontece apenas via Indymedia, ela
acontece em todo lugar.

Basta passear por esta edição. Em uníssono, o francês Pierre Lévy, o
norte-americano Bruce Sterling e voluntários do Indymedia do México, da
Índia e do Brasil erguem a bandeira desta revolução em andamento - cada um
destes levantando aspectos diferentes sobre este silencioso e ágil levante.
Com a eletrônica, animadores brasileiros evoluem em passos largos;
programadores independentes reinventam o blog; argentinos vão à forra na
Guerra das Malvinas e a Rockstar injeta violência nos videogames de forma
natural e divertida.

Em comum, sabemos de uma só coisa. Não adianta tentar vender apenas idéias.
Dos candidatos à presidência do Brasil aos editor francês do livro 1000 Game
Heroes, David Choquet, passando pelos italianos do wu-ming; os ingleses
Plump DJs; o mexicano Miguel de Icaza e os executivos de TI da matéria 2010,
todos concordam que é preciso saber vender um produto para que ele,
finalmente, exerça seu potencial.

O sistema sabe disso há muito tempo. Hoje, em tempos digitais, todos nós
sabemos. E já estamos botando em prática.

Alexandre Matias

    Source: geocities.com/trabalhosujo/txt

               ( geocities.com/trabalhosujo)