Texto publicado originalmente na revista Play número 4, junho de 2002
16 Playgroup
Estilo 80
Trevor Jackson é daqueles caras que sempre preferiu os bastidores aos
holofotes, porque sabe que é possível, fora do foco central, desfrutar do
melhor de dois mundos. E assim, à sombra, atravessou os anos 90, sempre
provocando a inteligência da dance music da década passada. Como Underdog,
remixou bambas do nível do Massive Attack, U2 e U.N.K.L.E. À frente do selo
Bite It, no começo da década, estava determinado a descobrir o hip hop
inglês e fez o grupo Brotherhood sair do anonimato para as pistas. No final
dos anos 90, começou a fazer dance music cabeçuda sob o nome de The Skull e
lançou o selo Output, pelo qual publicaria artistas similares, como Sonovac
e Four Tet. Lançou discos por gravadoras tão improváveis quanto Mo'Wax, Gee
Street, Heavenly e Warp. Quando adolescente era fissurado na ala mais séria
do rock progressivo (a linha Canterbury), mas o flerte entre dance music
underground e mainstream nos anos 80 o fez cair para o lado negro da força.
Quando percebeu que o som que fazia como produtor e remixador (denso,
sombrio e atordoado) pouco tinha a ver com o som que ele gostava de ouvir,
Jackson decidiu formar o Playgroup, homenagem à década de 80 da mesma
estirpe de Discovery, do Daft Punk. Trevor preferiu, porém, o lado cool e
pancultural daqueles dez anos à faceta jeca e farofa escolhida pela dupla
francesa. O resultado é uma ponte aérea entre a Nova York, do Paradise
Garage e do Roxy e a Londres que tentava emular a vibração urbana e positiva
de NY, ouvindo o nascimento do R&B via Prince e Michael Jackson e da house e
do techno a partir dos restos da disco, pegando carona no groove quadrado do
punk-funk pós new wave e nos breaks recém-descobertos pelos DJs de hip hop e
abusando de temperos exóticos tanto artificiais (como vocoder, bateria
eletrônica, loops) quanto naturais (baixos reggae, percussão latina). No
caldeirão de referências do Playgroup, Madonna e New Order poderiam juntos,
em 1986, ter colaborado numa faixa, sem detrimento para nenhuma das partes.
O disco, todo tocado (há apenas quatro trechos de músicas alheias em toda
sua duração), conta com participações improváveis, como a ex-Thee
Headcoatees, Kyra, o mestre reggae, Dennis Bovell, a gritalhona Kathleen
Hannah (Bikini Kill, Le Tigre), o toaster Shinehead e o ex-Orange Juice,
Edwyn Collins, entre muitos outros.
Designer e internerd (é ele quem cuida pessoalmente do próprio site,
http://www.playgroup.mu), Trevor prepara-se para tomar conta das pistas de
dança no segundo semestre, quando começa a bombar o disco de estréia. Na
manga, conta com o robô Astar nº 1, da companhia japonesa Atuko, que dança
sozinho no clipe do primeiro single, "Number One".
Alexandre Matias
               (
geocities.com/trabalhosujo)