Texto publicado originalmente na revista Play número 3, abril de 2002
Music Kills Me - Rinôçerôse
Alexandre Matias
Depois de cuspir no chão para determinar sua área com Installation Sonore
(1999), o duo francês Rinôçerôse força o uso-capião. A dupla fingiu-se
chiqué para pegar carona na cena house parisiense, tão moderna quanto
tradicionalmente francesa. Alheios ao núcleo central da eletrônica no país
(Air, Daft Punk, Dimitri, Alex Gopher e outros compadres), Jean-Phillip Freu
e Patou Carrie entraram disfarçados na festa, fazendo bico e olhando torto,
para fingir esnobismo. Mas em seu segundo disco, Music Kills Me (Sum), são
forçados a dizer a que vieram. Daí a celebração pós-disco/europop que filtra
o álbum, casado com guitarras e flautinha funk 70 onipresentes e lentes de
um sofisticado brega, ultrapassado (propositalmente e limitadamente retrô).
Cai a máscara e o grupo soa oitentista, mas exageradamente cafona e forçado.
Se alguns momentos (o soul 1983 "Lost Love", a jam faculdade-de-música
"Obséques D'Un Guitar Héro") funciona, em outros ("Le Rock Summer" seria
melhor sem guitarras, a faixa-título erra ao pisar na Califórnia, "It's Time
to Go Now!" e "Dead Flowers" são mais longas do que deveriam, o funk mellow
Jota-Quest-produzido-pelo-Mario-Caldato "Réssurection D'Une Pop Idôl", )
carrega na mostarda e se mela todo. Melhor quando fica no mesmo lugar do
primeiro disco, naquela frieza de ar-condicionado Eurythmics, com vocais de
menos. O "lado B" do CD (da faixa 7 em diante) é um belo Installation Sonore
II: "Professeur Suicide", a antipsicodélica "No, We Are Not Experienced!", o
soft funk de "Brian Jones: Last Picture", a bossa stereolábica "Dead Can
Dance" e os créditos finais de "Highway to Hell" garantem que a "evolução"
criativa da dupla gaulesa não foi muito feliz, por serem momentos manjados e
legais. Melhor ficar onde está: lounge fresco, metido a besta, mas
tranqüilo, sem encanação...
               (
geocities.com/trabalhosujo)