Texto publicado originalmente na revista Play número 4, junho de 2002

12 Weezer
Heróis da resistência

Não é que o Weezer vá se tornar novo U2, mas de todas as bandas que ainda
utilizam a guitarra para cantar sentimentos, o grupo de Rivers Cuomo é o
melhor denominador comum - e seu mais promissor exemplar. Como uma
experiência pop que deu certo sem querer, o conjunto, que lança seu quarto
álbum este ano (Maladroit, que já havia sido colocado à disposição - e de
graça - no próprio site da banda), é a banda de rock mais importante de
2002 - e pelo simples motivo de que eles obedecem àquilo que esperamos de
uma banda de rock.
Rivers Cuomo, assumido líder e cabeça do grupo, é o mentor intelectual de
uma carreira fictícia. Ele conta a história de uma banda de rock tradicional
e de encena-a como se fosse sua vida. Dos vídeos às referências musicais, da
proximidade com o fã aos chiliques pessoais de rock star, de ataques de
nerdice ao segundo disco do projeto paralelo do primeiro baixista: tudo no
Weezer é friamente calculado, como se Rob Reiner encarasse a possibilidade
de transformar o Spinal Tap em uma banda de verdade, não um documentário de
mentira. Então assistimos Weezer, a banda nerd rock que misturava Cheap
Trick com Cars como se fossem uns Pixies de laboratório ganhar a fama
durante os anos de ouro do que se chamava de "rock alternativo" (94/95)
através de videoclipes espertos; o líder entrar em depressão, voltar pra
faculdade e fazer o disco de pé-na-bunda definitivo dos indie rock nos anos
90 (Pinkerton); e reinventar-se novamente como uma banda estradeira ("on
tour forever", proclama o site oficial, www.weezer.com), pop, punk e hard
rock o suficiente para agradar a fãs de diversos gêneros.
Seu site dá a medida do tipo de banda o Weezer quer ser. Do logo classic
rock a um número absurdo de merchandising oficial (de lancheiras a peças de
roupa e adesivos, alguns com a banda em forma de desenho animado), o grupo
faz questão de sempre ter algo novo para os fãs. Essa lógica é completa com
a intensa troca de informação dos fãs com a banda - os primeiros enviam
desde midis de todas as músicas do grupo a partituras com as músicas
transcritas para guitarra, baixo e bateria, e recebem vídeos da banda em
turnê, MP3s a rodo, jogos, desktops e diários do grupo.
Tudo no Weezer é premeditado e o fato de alguém conseguir domar, sozinho,
uma corrente que inclui mercado, crítica, mídia e público, faz de Rivers
Cuomo um dos maiores nomes do pop na virada do milênio. Usando suas
guitarras para demolir as diferenças entre emo, hardcore, indie, metal e
outros esnobismos ultrapassados, Cuomo transformou seu grupo num pequeno e
ruidoso Who, grande o suficiente para figurar nos anais da história,
discreto o suficiente para seguir em seu próprio universo paralelo. Não que
ele soubesse exatamente o que iria acontecer, mas é aí que está o grande
mérito: surfando no topo da onda, ele soube traçar seu próprio caminho. Sem
fazer concessões. 
Alexandre Matias

    Source: geocities.com/trabalhosujo/txt

               ( geocities.com/trabalhosujo)