"IGNIUS
- The Book of Life"
Chapter I
Chamo-me
Íris
e sempre fui apaixonada pela aventura.
É por isso que resolvi escrever este livro: não posso deixar de
registar a maior das aventuras – aquela que jamais sonharia vir a
viver.
Para mim, tudo começou em Montserrat, nas Filipinas. Foi ali,
durante a feroz erupção daquele vulcão, que eu conheci Atlan.
Como mais tarde vim a saber ser seu hábito, ele aventurara-se em
locais muito para além dos seguros.
E na terrível luta pela sobrevivência em que ele se encontrava,
não se apercebeu que eu, da outra margem do rio de lava ardente, o
observava... tão secreta, quanto fascinada!
Mais tarde eu soube
que, sem querer, assistira àquilo a que Atlan designara como tendo sido
a sua primeira “transmorfose”....
TRANSMORPHOSYS
"Quando
interrompemos o fluxo da descrição da nossa própria
pessoa, libertamo-nos do encantamento do ego – que quer fazer-nos
acreditar que representa a única realidade. Nesse momento podemos
reconhecer a nossa verdadeira natureza de campos de energia, livre e
fluida. A partir de então, podemos assumir a tarefa de nos
reinventarmos de um modo intencional e voluntário, capaz de responder
de novas maneiras a novas situações surgidas a qualquer instante.
"
“Os
ensinamentos de Carlos Castañeda”, Victor Sanchez
E, quase sem ter dado
por isso, ali se encontrava Atlan naquela terrível situação:
agachado na margem, enfrente ao rio de lama fervente.
Estava muito calor e a
lava principiava a rodeá-lo.
Precisava urgentemente
de atravessar para a outra margem.
Ele possuía dois braços
e duas pernas – nada que
lhe fosse útil naquela situação!
Precisaria de voar
sobre a lava, para lá chegar.
O calor era insuportável.
O magma ardente
incendiava as ervas próximas.
Ele saltou para cima do
pequeno rochedo.
Mesmo a tempo, porque
agora, a lava rodeava-o.
Ameaçava engolir tudo.
E ele estava ali,
aprisionado naquele corpo.
No seu corpo.
Sem poder alcançar a
outra margem.
A pele ardia-lhe.
Anichou-se na pequena
rocha.
A lava subia.
O ar quente
queimava-lhe as narinas e os pulmões.
Se pudesse libertar-se
dali...
deixaria tudo, até o
seu próprio corpo!
Era o fim.
Porque o magma já
rasava os seus pés.
E ele estava ali, no
seu último reduto.
Se pudesse desfazer os
limites do seu corpo...
...voava dali!
Aninhou-se mais ainda,
desesperado.
Iria ser engolido...
...Iria ser engolido...
“Pois então que
fosse!...”,
pensou ele, já
subitamente Indiferente*.
E foi quando tudo
aconteceu!
Eu não sei explicar:
algo nele rasgou
limites,
estourou com a rigidez
da sua forma.
Ele tornou-se em nada,
ou em tudo.
E o que vi foi ele
diluir-se,
tornar-se uma mancha de
mata-borrão
e voar por cima da lava
ardente.
(Se é que se poderia
chamar àquilo “voar”!...)

Reflexão 1:
A Transmutação...
será possível?
“Vagas de energia quântica
traduzem-se em estruturas complexas quando se toma em consideração a
famosa equação de Einstein E=mc2. Esta fórmula mostra que a energia e
massa são equivalentes, ou que a energia pode criar a matéria. Partículas
materiais que são criadas a partir das flutuações de energia quântica,
sem qualquer introdução exterior de energia. O princípio de incerteza
de Heisenberg opera como um banco de energia. A energia pode ser
emprestada durante uma curta duração, desde o momento que seja paga
prontamente.”
“Ao ir buscar energia emprestada, um fotão pode
transformar-se temporariamente num par electrão-positrão, ou
num par protão-antiprotão. Foram feitas experiências para os apanhar
em flagrante. Uma vez mais, um fotão ‘puro’ nunca pôde ser
destilado a partir desta complexa rede de transmutações.”
Paul
Davies
“Quem não se sentir
chocado com a Teoria Quântica é porque a não compreendeu.”
Niels Bohr
Quando deparei com ele
deste lado do rio de lava, os nossos olhos cruzaram-se e senti que ele
estava tão estupefacto quanto eu com tudo aquilo. Pareceu-me que ele não
tinha a certeza de que eu o tivesse ou não observado. De qualquer modo
não havia tempo para conversar. Ofereceu-se para me conduzir a um porto
seguro, e eu aceitei.
Só muito mais tarde,
perante a minha insistência, Atlan me falou sobre o que quer que possa
ter ocorrido com ele próprio, ali, durante a violenta erupção do vulcão.
Introduziu a mão na sua pequena mochila e retirou de lá um livro
espesso.
– Esta é uma edição do “Livro dos Mortos” do Antigo
Egipto. Talvez o livro mais antigo da humanidade – explicou.
Possivelmente escrito há mais de 7.000 anos!... mas uma tradução mais
exacta do seu título seria “Livro da Saída para a Luz de o Dia”.
Quanto a mim, prefiro chamá-lo de “Livro das Transmorfoses”...
– “Transmorfoses”?
– interrompi.

– Sim, é como
designo as mutações temporárias da forma de um ser.
Este livro leva a
crer que esse era um tema da maior importância para os antigos egípcios.
Repara, por exemplo, neste capítulo...
Abriu o livro numa página seleccionada e eu li:
CONTINUAR...
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