Cap 6

 

Um movimento para a verdadeira paz no mundo

 

O mundo no Coração de Maria

 

Poucos anos volvidos ainda, sobre os factor ocorridos, não há quem não conserve experiências pessoais da importância assumida pelo movimento mariano nestes últimos tempos. Um movimento que tem feito exultar os bons, que tem chamado à vida cristã os frios, que tem sacudido e reconduzido muitos filhos pródigos, e tem exasperado as forças do inferno.

 

Este movimento, exteriorizado nas manifestações à volta da chamada “Nossa Senhora Peregrina”, tinha um fim imediato: a Consagraçao ao Coração Imaculado de Maria; mas propunha-se, sobretudo, o regresso dos homens a Deus através da oração e de uma vida cristã mais perfeita, à  imitação da SS. Virgem. Se, como movimento, tem inegavelmente os seus apóstolos, teve também o seu centro propulsor. A árvore não cresce, nem se cobre de flores, nem dá frutos, se lhe faltam as raízes.

 

Como em todas as coisas divinas, também nesta o Senhor escolheu e preparou aqueles que deveriam cooperar na realização dos seus planos divinos de salvação.

 

Só no Céu conheceremos quais e quantos forma os instrumentos desta onda de Graça, que a Misericórdia divina derramou sobre a terra, pelas mãos de Nossa Senhora.

 

Quando se fala do Coração Imaculado de Maria, o nosso pensamento corre precisamente para Fátima. Foi em Fátima, e depois na Bélgica, em 1930, mas especialmente em Fátima, que a SS. Virgem mostrou o seu Coração aso pastorinhos, em Junho de 1917, e disse que voltaria, para pedir a consagração ao Seu Imaculado Coração.

 

Que consagração?

 

Recorramos directamente às fontes:

 

 

Fátima (1)

 

Segundo o texto do segredo de Fátima, a Santíssima Virgem teria dito, a 13 de Julho de 1917, que teria voltado para solicitar a consagração da Rússia. Mas veio realmente? Assim perguntou o autor do livro citado em nota à Irmã Lúcia, a vidente ainda vive. Ela respondeu-lhe:

 

“- Sim, veio!

-Quando?

-Em 1925, no dia de Dezembro desse ano, Nossa Senhora apareceu-me com o Menino Jesus.

 

- Onde?

- No meu quarto.

 

- Que disse a Santíssima Virgem?

- “Olha, Minha filha, o Meu Coração cercado de espinhos com que os homens ingratos Me atravessam a cada instante pelas suas blasfémias e ingratidóes... Tu, ao menos, procura consolar-Me com a prática dos primeiros sábados do mês”.

 

Obsservaram à Lúcia que Nosso Senhor pedira quae nos mesmos termos a devoção ao seu Sagrado Coração.

 

-Por acaso, posso eu prescrever à Santíssima Virgem a maneira de se exprimir?

-A Santíssima Virgem pediu-lhe que espalhasse essa devoção dos primeiros sábados?

-Não, mas que a publicasse.

 

-Insistiu mais tarde junto do Senhor Bispo de Leiria para que ele realizasse o desejo da Santíssima Virgem respeitante aos primeiros sábados?

-Sim.

 

-Porquê? A Santíssima Virgem apareceu-lhe de novo?

- Não. Eu sofria por não ver satisfeito o pedido de Nossa Senhora.

 

- Não disse nada a ninguém dos primeiros sábados do mês?

- Fiz diligência por espalhar esta prática em volta de mim, sem falar entretanto da aparição de Nossa Senhora ou do segredo.

 

-A Santíssima Virgem falou também, na aparição de 1925, da consagração da Rússia ao Coração Imaculado de Maria?

- Não.

 

-Quando é que veio pedir essa consagração?

- Em 1929.

 

- Onde se efectou essa aparição?

- Em Tuy, na capela.

 

- Que pediu a Santíssima Virgem?

- Pediu a consagração da Rússia ao Coração Imaculado de Maria pelo Papa, em união com os bispos de todo o mundo.

 

- Não falou Ela da consagração do mundo?

- Não.

 

- Fez conhecer o desejo da SS. Virgem ao Bispo de Leiria?

- Sim.

 

- Desde 1925 pediu para que o Santo Padre consagrasse o mundo ou somente a Rússia?

 

- Desde 1925 pedi para que se propagasse a Comunhão Reparadora com a Confissão, a reza do Terço, e um quarto de hora de meditação nos cinco primeiros sábados de cinco meses seguidos... Em 1929... dei conta do pedido de Nossa Senhora a respeito da consagração da Rússia ao Sr. P.e Francisco Rodrigues... Dei também conhecimento dos pedidos de Nossa Senhora às minhas superioras. Na carta que, por ordem dos meus directores espirituais, escrevi ao Santo Padre, em 1940, expus o pedido exacto de Nossa Senhora e pedi a consagração do mundo, com menção especial pela Rússia. O pedido exacto de Nossa Senhora era que o Santo Padre fizesse a consagração da Rússia ao seu Imaculado Coração, ordenando que, ao mesmo tempo, e em união com Sua Santidade, a fizessem todos os bispos do mundo católico” (2).

 

Deste diálogo histórico, que se encontra na História de Fátima e a completa, deduz-se que:

 

1)

- a Virgem voltou, em 1925, como tinha prometido aos três pastorinhos, em 13 de Junho de 1917;

 

2)

- mostrou o Seu Coração cercado de espinhos, símbolo das blasfémias e das ingratidões dos homens;

 

3)

- a SS. Virgem pediu que se tornasse pública a devoção dos primeiros sábados;

 

4)

- em 1929. nossa Senhora voltou e pediu a consagração da Rússia ao Seu Coração Imaculado;

 

5)

- Nossa Senhora não pediu à Lúcia a consagração do mundo;

 

6)

- Lúcia só em 1940 expôs o texto do pedido de Nossa Senhora, cujo desejo era que o Papa fizesse a consagração da Rússia, e ela lhe acrescentou o próprio desejo da consagração do mundo.

 

 

 

Balasar

 

Na correspondência da Alexandrina ao Director espiritual, vemos que jesus, em 1 de Agosto de 1935, pede que se escreva al Papa, a solicitar.lhe a consagração do mundo al Coração Imaculado de Maria. O piedoso sacerdote, durante mais de um ano, mantém-se na mais prudente reserva, analisando os escritos da sua penitente, pedindo conselho, mas sem se pronunciar sobre a natureza daquelas comunicações.

 

Finalmente, em 11 de Setembro de 1936, decide-se, por insistência de Jesus, a escrever ao Papa por meio de Sua Em.a o Cardeal Pacelli, eleito depois Sumo Pontífice, expondo-lhe sumariamente a origem da súplica.

 

O resultado foi que a Santa Sé solicitou informações sobre o caso de Balasar ao Arcebispo de Braga.

 

Em seguida, a Nunciatura de Lisboa, ordenou, em 1937, que se examinasse o caso da doente.

 

Transcrevemos o trecho do diário em que ela, com simplicidade, conta a visita oficial do Reverendo Sacerdote, que lá foi para examinar o facto do pedido de Jesus para a consagração.

 

“Em 31 de Maio de 1937, -escreve Alexandrina- recebi a visita do Rev.mo P. Durão. Vinha mandado da Santa Sé, para examinar o caso da Consagração do mundo a Nossa Senhora. O meu desejo era viver ocultamente, sem que ninguém soubesse o que se passara. Sua Rev.a entregou à minha irmã um cartão do meu Director espiritual e disse-lhe que mo lesse. Ao ouvir as palavras do cartão, que eram assim: “Vai aí o Sr. P. Durão. Fale-lhe à vontade e responda-lhe a tudo o que ele lhe perguntar”, fiquei aflita e disse para a minha irmã: -Que hei-de eu dizer-lhe? Não sabia que era preciso estes exames para casos destes. Minha irmã animou-me e disse-me: -Dirás o que Nosso Senhor te inspirar. Fiquei surpreendida quando me fez perguntas das coisas de Nosso Senhor, mas, sem a mais pequena hesitação, comecei a responder às suas perguntas. Sua Rev.a disse que só queria que lhe dissese o principal, pois não me queria cansar, visto ser grave o meu estado. Respondi-lhe que não sabia o que era o principal. Sua Rev.a disse-me assim: “Gosto disso, gosto disso”. E foi quando me falou da Consagração do mundo a Nossa Senhora.

 

Depois de me fazer várias perguntas, com muito bom modo, disse-me: “Não me enganará?” Ao ouvir estas palavras, passou-me pela mente o engano da minha morte e pensei assim: isto é contra mim, vou já dizê-lo. Então respondi: “Enganei...” E contei-lhe o que se tinha passado na festa da SS. Trindade de 1936. Sua Rev.a não mais me disse se estaria enganada, e falou assim: “Estas coisas custam muito, não custam?” Respondi: “Custam e fico triste”.

 

Comecei a chorar. Sua Rev.a pediu-me para não o esquecer nas minhas orações e prometeu-me nunca me esquecer no Santo Sacrifício da Missa.

 

Ajoelhou-se, rezou três Ave-Marias a Nossa Senhora e algumas jaculatórias. Despediu-se de mim e retirou-se. Chorei muito e fiquei muito atribulada e triste, por se saber o que me há tanto tempo se passava ocultamente. Escrevi logo ao meu Director espiritual, contando-lhe tudo. Sua Rev.a respondeu-me imediatamente, sossegando-me, dizendo que era tudo para glória de Nosso Senhor” (Autobiografia).

 

 

O segundo exame

 

Mas o tempo passava e Jesus insistia. O Director, então, a título de informação, escreveu de novo, a 9 de Fevereiro de 1938, a Sua Em.a o Cardeal Pacelli.

 

Entretanto, no mês de Junho, pregando em Fátima os Exercícios Espirituais ao Episcopado Português, o Director obteve que todos os Bispos fizessem o mesmo pedido ao Papa Pio XI, e, do Papa, gostosamente foi ele remetido às Congregações Romanas.

 

Ao mesmo tempo, fizeram-se pedidos aos prelados espanhóis, colombianos, ingleses, solicitando súplicas ao Papa no mesmo sentido.

 

Perto do final de 1938, partia o último Pedido para o Santo Padre, o qual encarregou o Cónego Manuel Pereira Vilar, do Colégio Português em Roma, de visitar a doente de Balasar.

 

O referido Cónego, em 5 de Março de 1939, numa carta a Alexandrina, escreve de Braga:

 

“Desde que aí estive, já grandes acontecimentos se deram no mundo. O Santo Padre Pio XI morreu, mas o seu Sucesor não certamente menos agradável ao Coração Divino; ele realizará a sua obra. Eu é que ainda me encontro em Portugal, e não sei quando partirei; mas será com certeza por todo este mês”.

 

Em Abril, o mesmo, mal chegou a Roma, escreveu: “Recordo-a todas as vezes que entro na Capela, a visitar Jesus, ou sempre que pego no meu terço, no qual coloquei a recordaçãonzinha, que me ofereceu a última vez; dentre tantas, é talvez a que mais estimo. E todos os dias na Santa Missa faço um “memento” especial por si, pedindo ao Senhor todas as graças de que necessita para realizar a sua missão. Ainda não foi recebido pelo Santo Padre; mas logo que seja, expor-lhe-ei todos os desejos de Nosso Senhor. Já cheguei a ter um certo receio de ir assim directamente, mas agora estou resolvido a fazê-lo: Ele atender-me-à”.

 

A 2 de Junho de 1939, o Cónego, numa carta à Alexandrina diz: “Espera poder dar-lhe alguma boa notícia acerca da consagração do mundo ao Coração de Maria, tão insistentemente pedida por Jesus, mas infelizmente ainda nada de positivo lhe posso dizer. As coisas em Roma contam-se em comparação com a eternidade, e por isso nunca têm pressa”.

 

Em 4 de Fevereiro de 1940, comunica: “... Copiei à máquina o que me mandou (relatório da Alexandrina), e entreguei-o a Quem de direito...”.

 

O culto e piedoso sacerdote escreveu ainda duas cartas à vidente, das quais ressalta o rápido declínio da sua saúde, que o levou à morte tão novo. Nele confiava muito a Alexandrina, para obter aquilo que o Senhor lhe pedia e por que se tinha oferecido vítima.

 

 

Motivos da mensagem

 

O primeiro motivo da insistência por parte da Alexandrina para a Consagração é dado pela insistência de Jesus.

 

O segundo motivo é expresso num êxtase da noite de 24 a 25 de Abril de 1938, em que o Senhor lhe diz:

 

“Eu quero a Consagração do mundo à minha Mãe Imaculada. Mas quero que todo o mundo saiba a razão da consagração: Eu quero que se faça penitência e reparação. És tu que estás aplacando a Justiça Divina. É por isso que te faço sofrer assim. E deverás sofrir isto muitas vezes até que Ele (o Papa) consagre o mundo à minha Bendita Mãe”.

 

O terceiro motivo encontrámo-lo no mesmo êxtase: Eu via –diz a Alexandrina- uma destruição tão grande, casas que caíam e em pouco tempo pareciam como que submersas pelas águas. O Senhor disse-me: “O que tu vês é o castigo preparado para o mundo (3). Parece-te sentires-te rejeitada por Mim, e é isso que deveriam sentir os pecadores! A impressão de estares sepultada sob os condenados do inferno, são eles que o mereciam ainda mais terrivelmente”.

 

O quarto motivo lê-se mais adiante: “E se o mundo for consagrado à Mãe do Céu, Vós, ó Jesus, não o castigareis? Pergunta a Alexandrina. O Senhor responde: “Somente por Ela poderá ser salvo, e se o mundo fizer penitência e se converter. Ela é a minha Rainha, Rainha do Céu e da Terra”.

 

 

“Os meus desejos serão realizados”

 

Humanamente falando, a Alexandrina tinha feito tudo para que o mundo fosse doado a Nossa Senhora.

 

Mas em volta dela, muitos factores humanos pareciam destruir uma a uma as suas esperanças de conseguir esse intento e satisfazer a vontade celeste: o silêncio persistente de Roma depois dos exames de verificação, a morte de Pio XI, o desaparecimento inesperado do Cónego Vilar, o horizonte político internacional de cada vez mais tenebroso.

 

Náo obstante isto, ao lado destas contrariedades, Jesus continuava a assegurar à Alexandrina que os seus planos se realizariam a despeito de tudo, quase como prémio da sua confiança n’Ele, das suas orações e do seu martírio aceite com singular heroísmo.

 

Enquanto passam os anos de expectativa, o Senhor comunica-lhe as circunstâncias sempre mais precisas sobre o modo com que será feita a consagração.

 

Num documento de 10 de Setembro de 1936, a Alexandrina narra que o Senhor lhe disse entre outras coisas: “Eu vou dizer-te como será feita a consagração do mundo à Mãe dos homens e minha Mãe Santíssima que Eu amo tanto! Será em Roma pelo Santo Padre consagrado a Ela o mundo inteiro, e, depois pelos padres em todas as igrejas do mundo... Não haja receios, que os meus desejos serão cumpridos” (4).

 

Em 22 de Novembro de 1937, Jesus confia-lhe: “Eu quero que logo após a tua morte, a tua vida seja conhecida, e há-de o ser, farei que o seja. Chegará aos confins do mundo, assim como terá chegado a voz do Papa, a consagrar o mundo à minha querida Mãe. Quero que tudo se saiba para verem como Eu Me comunico às almas que Me querem amar”.

 

Em 4 de Fevereiro de 1938, diz-lhe: “Minha filha, está próxima a tua felicidade eterna, poque em breve serão realizados os meus divinos desejos. Minha filha, venho falar-te hoje para testemunhar a loucura que Eu e a Minha Imaculada Mãe temos por ti. Ela, ao ver a honra que por teu intermédio Lhe vai a ser tributada, inclina-se tão docemente sobre ti, elevando-te à mais elevada altura de esposa fiel, de esposa querida, de esposa toda e só de Jesus. Confia em Jesus que não te engana e é a tua força e o será sempre, até ao fim..”

 

Em 6 de Junho de 1938, o Senhor afirma-lhe: “Os meus divinos desejos serão realizados”. Em 2 de Dezembro de 1939, Jesus diz: “O coração da Minha Bendita Mãe está tão ferido pelas blasfémias que contra ela se proferem! Tudo o que fere o Seu SS. Coração, vem ferir o Meu, tão unidos estão os Nossos Corações! É por isso que a consagração do mundo Lhe há-de dar tanta honra e glória. Ao ele Lhe ser consagrado, hão-de ser abatidas e humilhadas aquelas línguas malditas, blasfemadoras e impuras, que se moverem para a blasfemar. Coragem, Minha filha, que dentro em pouco tudo será realizado e depois verás no Céu a glória que Lhe foi dada”.

 

 

“Não morrerás antes da consagração

 

Na certeza de que a sua vontade se cumprirá, o Senhor, para conforto da sua mensageira, acrescenta a promessa de que a deixaria sobre a terra até depois da solene consagração.

 

Em 25 de Abril de 1938, Jesus ordenava à Alexandrina que comunicasse ao seu Director para escrever ao Papa: “Dize-lhe que escreva ao Santo Padre. Eu quero a consagração do mundo à Minha Imaculada Mãe, mas quero que todo o mundo saiba a razão da consagração. Eu quero que se faça penitência e oração. Tu é que estás a aplacar a Justiça Divina; é por isso que te faço sofrer assim; e tens que sofrer mais vezes isto, até que ele o consagre”. Eram angústias de todo o genéro, sobretudo a de ver-se como condenada e já prestes a cair no inferno.

 

Já em 21 de Novembro de 1937, tinha ouvido de Jesus estas palavras: “Eu venho buscar-te breve, mas não quero vir sem que antes seja feita a consagração do mundo à Minha Mãe Santíssima. É por teu intermédio glorificada e maior também será a tua glorificação. A tua coroa será mais gloriosa, mais brilhante, mais resplandecente. Serás coroada por Ela (5).

 

 

A estas palavras, Alexandrina exclamou: “Ó meu Jesus, o Santo Padre parece que não Vos ouve: retarda tanto!”; e o Senhor: “Sossega, descansa, minha filha, Ele atende; chegará o dia da glorificação. Tudo quanto é meu, vence, por maiores que sejam as dificuldades”.

 

Em 17 de Janeiro de 1941, repete-lhe: “O teu Calvário dentro em breve terminará, mas deverão primeiro realizar-se as predições de Jesus. Coragem! Tens como auxílio o teu Director, o teu Jesus, a tua Mãe Bendita!”

 

Ainda em 24 de Janeiro de 1941, “Prometo-te neste sábado consagrado a Ela (N. Senhora) não demorar na terra muito tempo a tua existência. E prometo alcançar-te no Céu, como os teus pedidos e amor, o que agora te alcanço na terra pela tua dor. Mas por isso, minha filha, pede ao Santo Padre que se compadeça do teu martírio e que satisfaça os desejos divinos de Jesus: que é consagrar o mundo à minha Mãe Bendita”.

 

 

Roma

 

No dia 2 de Março de 1939, o mundo católico, depois do luto pela morte do grande Pontífice Pio XI, saudava reverente e jubiloso a elevação do Pastor Angélico, Pio XII, ao trono de Pedro.

 

Em Balasar exultava, embora despedaçado numa dolorosa paixão, um coração que se sentia ligado a Roma por sentimentos e interesses especialíssimos.

 

A ele se comunica o Senhor, revelando-lhe coisas escondidas no arcano dos tempos.

 

Parecia o sorriso do Céu sobre Aquele que acabava de tomar nas suas mãos o Primado da Igreja e, sobre os ombros, a sorte dum mundo em convulsão.

 

Durante um êxtase de 20 de Março de 1939, a que assiste o próprio Director, o Senhor, uma vez mais, pede que se apresse o cumprimento dos seus desejos; depois, decididamente afirma à Alexandrina: “Será este Papa que fará a consagração!”

 

Passam quase três anos. No mundo domina a agitação e a morte. A vítima de Balasar consome-se na imolação.

 

Estão interrompidas as comunicações entre os estados da Europa, filhos da mesma civilização.

 

Parece que as trevas sepultaram a terra e que à terra não desçam mais palavras do Céu. Mas o poder de Deus não está subjugado nem vencido.

 

Por meio da Alexandrina chega um raio de luz, e ela o comunica aos seus íntimos.

 

Estava-se no mês de Maria: o Senhor fala-lhe finalmente em tom de festa:

 

“Glória, glória, glória a Jesus! Honra e glória a Maria! O coraçáo do Papa, o coração de ouro (6) está resolvido a consagrar o mundo ao Coração de Maria! Que dita, que alegria para o mundo ser consagrado, pertencer mais que nunca à Mãe de Jesus. Todo o mundo pertence ao Coração Divino de Jesus; todo vai pertencer ao Coração Imaculado de Maria” (22-5-1942)

 

Parece-nos ouvir o cântico do triunfo a romper do Coração de Jesus, o qual, pelo Coração da Sua Mãe, iniciava sobre a terra uma nova marcha de vitórias espirituais.

 

Certamente que a Alexandrina contemplou em visão estes gloriosos acontecimentos, porque numa semana depois, no êxtase de sexta-feira, a Vidente soltou esta profética e expressiva oração:

 

“Ave, Maria, Mãe de Jesus! Honra, glória e triunfo para o seu Imaculado Coração! Ave, Maria, Mãe de Jesus, Mãe de todo o universo! Quem não quererá pertencer à Mãe de Jesus, à Senhora da Vitória? O mundo vai ser consagrado todo ao seu Materno Coração! Guarda, Virgem pura, guarda, Virgem Mãe, em teu Coração Santíssimo, todos os filhos teus!” (29-5-1942).

 

Faltavam precisamente cinco meses para a consagração do mundo.

 

Na véspera do solene acto, feito por Sua Santidade Pio XII em língua portuguesa e ouvido em Fátima, onde se encontravam mais de meio milhão de fiéis, Jesus fala novamente à Alexandrina com expressão de júbilo divino:

 

“O Céu, o Céu cheio de glória! O Céu cheio de triunfo!” E, a seguir, fiel à promessa feita à Alexandrina em 1937, acrescenta: “Uma coroa encantadora, mais esplêndida que o sol e que as estrelas, está preparada para a louca de Jesus. Jesus é tudo para a sua crucificada. Jesus dá-lhe tudo para receber dela tudo!” (30-10-1942).

 

 

Por amor de Jesus e de Maria

 

Esta intervenção da Alexandrina na consagração do mundo não ficou sepultada nas suas recordações. Jesus e Alexandrina, como é natural, voltarão ao assunto do “Coração Imaculado de Maria”. Não podia ser diversamente. Façamos por isso mais algumas referências a propósito.

 

Na sexta-feira seguinte à consagração, com uma alegria que parece transbordar, Jesus volta ao assunto e profetiza os triunfos do movimento mariano: “Triunfo, triunfo! Glória, glória a Jesus e a Maria! Paz à humanidade! Jesus alegra-se, Jesus consola-se. A Rainha do céu, a Rainha do mundo triunfa nele (7).

 

A Mãe de Jesus e as vítimas trazem a paz à humanidade. É a Mãe de Jesus, mais a louquinha da Eucaristia!”

 

Porém, Jesus repete ao mundo, submerso na guerra e em condições de não poder ouvir a voz do Pontífice que o chama ao caminho da salvação: “Penitência, penitência e agradecimento ao Céu! Penitência para reparar, e agradecimento para agradecer a Jesus o meio de salvar os seus filhos (o Coração de Maria a quem foi consagrado)”.

 

A Alexandrina, naquele êxtase, insiste em pedir a paz e o Senhor afirma-lhe: “Não demora, não demora, meu encanto! Mas, ai do mundo, se não se converte! Ai dele, se não ama a Jesus! Ai dele, se não deixa seus vícios! Ai dele, se não deixa seus crimes, que tanto têm rasgado o Coração Divino de Jesus!” (6-12-1942).

 

No mês de Dezembro do mesmo ano, no dia 13, estava a Alexandrina a rezar a Nossa Senhora por várias intenções, quando viu a Virgem de Fátima suspensa a grande altura. Em baixo, à sua volta, uma multidão de povo para o qual Ela olhava, fitando-a com um olhar cheio de ternura (8).

 

“O meu coração, -diz Alexandrina- parecia não caber mais no peito, tanta era a violência com que batia.

 

Senti-me atraída para Ela: pareceu-me sair fora de mim e ser transportada para outra região: não vivia já na terra.

 

Não sei o tempo que lá fiquei” (13-12-1942).

 

No último mês de Maio da sua vida, no dia 6, aparece-lhe o Coração Imaculado de Maria, Coração sobre o qual tantas vezes tinha apoiado a cabeça para ganhar forças no seu doloroso calvário; Coração que tantas vezes lhe tinha confiado as suas amarguras pelos pecados da humanidade; Coração que lhe tinha comunicado tantas doçuras do Céu.

 

A Alexandrina assim fala: “Mostrou-me o seu Coração aberto e, unido a seu, também aberto, estava o de Jesus. Depois de me acariciar, disse-me: “Minha filha, Jesus, e Eu peço com Ele, oração e reparação. São os crimes que Nos ferem assim. Coragem, no teu inigualável sofrimento. Em breve Eu virei buscar-te, levar-te comigo para o Céu. Uno o deu coração aos nossos, para viveres a nossa dor”. Jesus aproximou-se –continua a Alexandrina- fez dos três corações um só e fez-me passar a gota do seu Sangue Divino: “Recebe esta vida: é a vida divina, é vida de graça, fortaleza e amor. Comunica-a, dá-a às almas na abundância que elas a quisserem. És de Jesus e por ti elas recebem Jesus”.

 

A ela, vítima pela Consagração ao Coração Imaculado de Maria, Jesus, em 1 de Outubro de 1954, pede-lhe que incendeie o mundo no amor dos Corações de Jesus e de Maria, sem o que a consagração de nada valeria: “Como por meio de ti foi consagrado o mundo à minha Mãe Bendita, faze, ó esposa amada, que se esçalhe em todo o mundo o amor dos nossos Corações”. Mas como espalhar por toda a parte este amor? Com que meios? Enquanto viveu, ofereceu com este fim as suas dores indizíveis. E a dor dum coração que ama é extraordinariamente fecunda. Depois de breves meses passados ainda sobre a terra, a missão não estará terminada. Jesus promete-lhe, a 18 de Março de 1955, sete meses antes da sua morte: “Do Céu hás-de enriquecer a humanidade”.

 

Também nós pensamos que a Alexandrina terá muito que distribuir lá do alto.

 

 

Consagração e paz

 

Deus não salva sem o arependimento e sem as obras que aplacam e resgatam. Sob tão justa exigência do Senhor, a alma que livremente se oferece como vítima apropria-se dos pecados dos outros, pronta a descontar na alma e no corpo as tremendas consequências da culpa.

 

Foi isto que a Alexandrina fez.

 

Deus, querendo poupar a humanidade, preparava-a, havia já vários anos, para os mais heróicos sacrifícios pela salvação dos pecadores.

 

A Ela confiava a mensagem da consagração, como meio eficaz para chamar as nações a voltarem-se para Deus e afastar assim as convulsões internacionais, causadas sempre, através da história, por paixões desenfreadas.

 

Desde 1935, a Alexandrina havia-se oferecido como vítima para obter este regresso da humanidade, e a reparação dos graves pecados, provocadores da justiça do Céu.

 

Depois, à medida que os anúncios de futuros Cataclismos se tornavam mais claros e ameaçadores, ofereceu-se como vítima a Deus pela paz do mundo. Mas só a sua oferta não bastava. Naquele tempo, Jesus lamentou-se muitas vezes com a Alexandrina de não encontrar no mundo outras almas vítimas. Infelizmente a guerra começou, e ainda a consagração tardava. Foi então que a Alexandrina, num ímpeto arrojado, quis abrir brecha no Coração de Deus, e, embora não esquecendo o mundo em geral, pediu ao menos a paz para Portugal, e obteve-a.

 

Com esta afirmação não temos intenção de excluir que, nesse facto, tenham intervido orações e sacrifícios de outras almas.

 

Mas nós referiremos tão somente os documentos relativos à influência que a Alexandrina teve nos acontecimentos.

 

Consagração e paz haviam-se tornado na sua vida, durante o período de 1935 a 1944, duas palavras dum único e heróico programa.

 

Isto correspondia plenamente à vocação que desde há anos lhe abrasava o coração: chamar e levar a Deus as almas culpadas; alcançar para toda a humanidade uma onda de misericórdia divina.

 

Também Jorge Goyau, penso eu, enquadraria aqui aquele seu pensamento: “A dupla ideia de adoração e reparação, com a força que exerce sobre um certo número de almas, protege as nossas cidades, as nossas pátrias. Essa é muito melhor, e vale muito mais que uma força defensiva. É um instrumento de conquista, muitas vezes manejado –que paradoxo divino!- por pobres almas obscuras que o mundo ignora, ignorando elas mesmas o que conseguem com as suas próprias orações e imolações. Quantas graças obtêm com os seus merecimientos!”

 

 

Vítima pela consagração

 

No diário da Alexandrina, com data de 2-5-1938, encontramos estas palavras: “Dize ao teu Director que escreva ao Santo Padre e Lhe diga que o estado da alma mensageira dos meus divinos desejos é doloroso, que tenha compaixão dela”.

 

A prova que Jesus manda dar ao Papa em confirmação do seu pedido são os sofrimentos da Alexandrina os quais se tornam de cada vez mais tremendos até atingirem um cume inesperado por todos e até inexplicável.

 

A 3 de Outubro de 1938, festa de Santa Teresa do Menino Jesus, Alexandrina começou a ter semanalmente o fenómeno da Paixao de Jesus, como já foi descrito.

 

A 20 de Janeiro de 1939, no êxtase da Paixão, Jesus dizia-lhe que o mundo estava suspenso por um fio fragilíssimo. Ou o Santo Padre se movia a consagrá-lo, ou o castigo viria sobre el mundo.

 

E Jesus acrescentava que a Sua Mãe Imaculada tinha o remédio para tudo. Mas enquanto a consagração não se realizasse, crucificaria a sua Alexandrina (9).

 

Foi neste período que o Cónego Vilar, escrevendo com admiração e estima à Alexandrina, lhe prometia “trabalhar, a fim de que os santíssimos desejos de Jesus fossem realizados” isto é, que o mundo fosse consagrado a Nossa Senhora; dizia-lhe que não se admirava que “naquela hora de desvario, Jesus tivesse necessidade de vítimas para desarmar a justiça divina” (2-6-1939) e a encorajava “a realizar a sua missão” (19-4-1939), “a deixar-se burilar por aquele Artista Divino que sabe fazer obras admiráveis, e que a levará à imolação heróica, mas mais meritória. Maior será a glória do Senhor, mais completa a reparação, mais bela a recompensa” (2-6-1939).

 

A missão da vítima de Balasar, ligada à imolação a que o Artista Divino a havia destinado, está claramente expressa nas palavras que o Senhor lhe dizia na Paixão de 20-6-1941: “Une a tua dor à minha dor, o teu amor ao meu amor: só assim te será suavizado o caminho do Calvário; só assim os pecadores serão salvos, só assim vem a paz ao mundo e vai vir depressa. Depois, todo o mundo rejubilará ao ser consagrado ao Coração da tua e minha Bendita Mãe...”

 

 

Vítima pela paz do mundo

 

Aabundam também os documentos que nos apresentam a Alexandrina como vítima pela paz.

 

Já em 17 de Abril de 1938, Jesus lhe diz: “Meu lírio perfumado com aroma angelical, a tua generosidade faz com que retarde a justiça já próxima a cair sobre os pecadores, na expectativa da sua regeneração”.  A 11 de Setembro, a Alexandrina diz a Jesus: “Ó meu Jesus, quero sofrer tudo, tudo; quero ser despedaçada por Vós. Sou a vossa Vítima. Mas não castigueis o mundo. Ó meu Jesus, eu quero ser o vosso pára-raios posto sobre todo o lugar onde Vós habitais, para que se descarregue sobre mim a monstruosidade dos pecadores”.

 

Depois de uma visão das destruições bélicas e da sua espontânea oferta de sofrer tudo para poupar o mundo, Jesus aconselha-a a preparar-se para “caminhos mais dolorosos” (5-6-1938) e, chamando-lhe “minha querida heroína”, assegura-lhe: “Aceitei à letra a tua oferta e todas as tuas palavras. És vítima, tenho necessidade que tu sofras para que os pecadores não possam ofender-Me mais; e é com os teus sofrimentos que eles vêm lavar-se à fonte pura cristalina de Jesus” (22-8-1938).

 

Foi neste ponto da sua vida que se teve um sinal externo daquela misteriosa substituição, que é o sentido último da caridade cristã: isto é, sacrificando-se inocentemente pela salvação e melhoria dos outros (10).

 

Desde este momento, enquanto sofrer a Paixão de Jesus, a Alexandrina comparecerá, como Ele, diante de Deus, como representante do mundo, e a Justiça exigirá dela satisfação por todas as maldades que se cometem. Ela será um mundo que é rejeitado por Deus e será um Jesus que expia e aplaca a sua justa ira.

 

Admirável sabedoria e misericórdia divina que, com o dogma do Corpo Místico, tornou possível esta “mística substituição”!

 

 

Alguns documentos sobre a mística subtituição

 

Respinguemos de entre o muito material à nossa disposição alguns dos muitos apelos de Deus à penitência, as predições sobre a guerra provocada pelos pecados do mundo, os convites à Alexandrina para salvar as almas com os seus sofrimentos.

 

Depois da Comunhão de 13-6-1939, a Alexandrina ouviu o Senhor dizer-lhe: “Ó Justiça, ó Justiça divina! O mundo está em cima de um vulcão de fogo; o qual só falta dum momento para o outro abrir-se e incendiá-lo! Vingaça, vingança dum Deus, que já o não pode suportar mais! Infeliz, não ouves a voz que te chama? Maldita! Maldita!”

 

Na festa do Coração de Jesus (16-6-1939), o Senhor trata-a como responsável e representante da humanidade e ameaça-a, dizendo: “Em que montão de ruinas ficará o mundo! É pela gravidade da tua malícia! Converte-te! Arripia Caminho! Eu to peço no dia do meu Divino Coração!... Converte-te... Quero contas de tudo!...”

 

Escreveu depois no diário:

 

“Durante a Paixão fui muito abandonada. Só três vezes me disse algumas palavras. A primeira vez, quando o peso da justiça divina caiu sobre mim, disse-me: “Estás fazendo as minhas vezes. Também sobre mim veio tudo isto. Ganha coragem! É a obra divina a dar-te força”.

 

A segunda vez, ainda no Horto: “Também Eu via em Mim um abismo assim tão grande, tão cheio de imundícies, parecia-me estar coberto de todas as misérias, e eram minhas.

 

E o Senhor dizia-me: “Assim como Eu, tu és fiadora!”

 

Na noite de 28-6-1939 a Alexandrina tem uma visão que descreve assim: “Esta noite passei-a sempre alerta: poucos minutos tive de descanso. Não sinto consolação; mas gosto tanto de não dormir, para estar alerta, sempre alerta com o meu Jesus nos sacrários.

 

Não sei bem, mas parece-me que seria das duas às três horas da manhã: meu Deus, que horror! Não sabia o que era, mas era a destruição do mundo: tudo se arrasava: casas, árvores, telhados, ficava tudo em montões de ruínas! Caso assustador! Atulhado em tudo isto, via número sem conta, parecia-me gente remexer-se, debaixo daqueles escombros, e por cima deles medonhas serpentes (11), tão grandes, tão feias! Mas nem sequer uma pessoa vi sair daquelas ruínas. Passou-se um bocado, principiei a ver ao longe a querida Mãe do Céu. Vinha alta, não sei em quê, vestida de branco, cabeça baixa, ar triste.

 

Vinha caminhando para a frente; todas as ruínas desapareceram, ficou tudo plano. O que até aqui eram medonhas ruínas estava ahora iluminado.

 

Não me disse nada: demorou-se um pouco e desapareceu.

 

Senti paz, e a aflição, o medo que aquilo me tinha causado, desapareceu.

 

Passado algum tempo, tornou-se a repetir a destruição, as ruínas, Mas não a vista da querida Mãezinha.

 

Fiquei sem saber o que significava; mas naqueles momentos parecia-me não ser ilusão minha.

 

Pela manhã recebi o meu Jesus no meio duma grande frieza e triste como a noite escura. E Nosso Senhor falou-me, não a ralhar, mas com profunda dor: “Vou destruir o mundo, vou precipitá-lo no inferno, vou destruí-lo; não posso sofrer mais tanta malícia, tanta maldade e crime. Di-lo ao Director. Não te enganas; o que viste é a sua destruição. É o que ele é sem a minha Mãe querida e o que é com Ela. Consola-Me, desagrava-Me... Deixa-Me fazer-te sofrer”.

 

Num êxtase dolorosíssimo, depois da Comunhão, ouviu estas ameaças do Senhor: “Não me temes. Não sentes os remorsos porque o pecado calejou a tua consciência: está morta; matou-ta o pecado. Maldita! Tentas persuadir-te que não existe a eternidade. A tua vida convém-te que ela não existisse. Desgraçada! Olha como vives! Paga-Me. Dá-Me contas” (27-7-1939).

 

A 28-8-1939, a Alexandrina escreve: “Recebi há pouco Jesus! É sempre para me fazer sofrer mais, mas não posso viver sem sofrimento... sentia que Ele tremia em mim e me dizia: “Que dor! Que dor para o meu Coração Divino, ver o mundo incendiar-se nas chamas ardentes das paixões e do vício; ver os individuos, a sociedade, todos os povos numa guerra feroz. Parece que se desencadeou para a terra todo o inferno. Ai! Mundo, que não te levantas! Ai mundo que não te convertes!... E está tão próximo o teu castigo! É por isso que Eu tremo de dor, não de frio!”

 

“Eu sentia- diz a Alexandrina- que Nosso Senhor, dentro de mim, erguia os olhos e os braços ao céu, como que a implorar perdão para a pobre humanidade... e isto obrigava a condoer-me mais das tristezas de Nosso Senhor... Que dor de alma! Parecia que sentia as agonias da morte: fiquei e ainda estou em tremendas trevas”.

 

Entretanto, o mundo via desencadeada sobre os povos uma guerra que, em Balasar, havia já tempos, era anunciada e sofrida no segredo duma alma.

 

Foi precisamente em Setembro de 1939!

 

 

Notas

 

(1)

Transcrevemos do livro do Rev.o Pe. De Marchi “Era uma Senhora mais brilhante do que o Soi”, o texto, que corrigirá talvez noções menos precisas sobre a verdadeira origem da Consagração do mundo ao Imaculado Coração de Maria.

 

(2)

Pio XII, em 7 de Julho de 1955, festa dos Santos Cirilo e Metódio, com a Carta Apostólica “Sacro Vergente Anno” dirigiu-se ao povo russo anunciando-lhe que o consagrava ao Coração Imaculado de Maria, tal como em 1942 havia consagrado o mundo.

 

(3)

É uma visão clara da guerra.

 

(4)

O mesmo Sumo Pontífice PioXII, em Maio de 1948, recomendava vivamente que a “Consagração se renovasse não só em cada diocese e paróquia, mas em cada família”.

 

(5)

Falar-se-á desta promesa no Capítulo “Na luz dos carismas”, subtítulo “Jorros de luz sobre uma profecia”.

 

(6)

Note-se a propriedade deste título dado ao Papa Pio XII, o Papa da Caridade, de quem a humanidade dilacerada do nosso tempo recebeu sempre compreensão, conforto, auxílio.

 

(7)

É interessante esta referência de Jesus ao título de Rainha dado tantas vezes nos colóquios com a Alexandrina e que Pio XII sancionou com uma festa litúrgica.

 

(8)

Este particular tem algo de profético. Ninguém ignora que já há mais de 10 anos ja imagem da Virgem de Fátima está peregrinando por várias nações, acolhida por milhões de pessoas, sobre quem espalha favores excepcionais.

 

(9)

De facto, a Alexandrina sofreu a Paixão até 27 de Março de 1942.

 

(10)

Cfr. João, 15, 3: “Ninguém tem maior amor do que este de dar a própria vida pelos seus amigos”.

 

A “satisfação vicária” pela qual Cristo, nosso Redentor, expiou por nós pecadores, prolonga-se nas almas santas que, em união com Cristo Redentor, se tornam vítimas de expiação pelos pecados do mundo.

 

Cfr. Bartolomeu dos Mártires, Comp. Misticae, cap. 13; cfr. Kaplan Fahsel, Teresa Neuman; P. Arintero, La evolución mística, pag. 593; Santa Catarina de Génova, no Diálogo III, 2, diz: “É indubitável que, se os homens soubessem estimar o valor destas intercessões, toda a estima e gratidão possível para com estes servos de Deus parecer-lhes-ia pouca coisa”.

 

 

(11)

Estas serpentes, confrontando outros pontos da vista da Alexandrina, são símbolo de todos os vícios. Aparecem sobre as ruínas da guerra, porque estas representam a vitória dos vícios o seu desfecho.