Prefácio crítico

 

A primeira vez que vi a Doentinha de Balasar, deu-me a impressâo dum anjo crucificado.

Mendes do Carmo

 

SUMÁRIO: 1- TARDE CONHECI A DOENTINHA DE BALASAR. 2.- COMO O LIVRO A PINTA. 3.- FILOSOFIA DA REPARAÇÃO MÍSTICA. 4.- TESTEMUNHAS DIGNAS DE TODO O CRÉDITO. 5.- OS FACTOS VISÍVEIS PROVAM AS VERDADES INVISÍVEIS. 6.- EFEITOS MARAVILHOSOS DOS LIVROS MÍSTICOS.

 

1-     É um livro surpreendente, até ao grau máximo, porque nele a afirmação do sobrenatural fulgura das primeiras às últimas páginas.

 

Naõ é único porque na História da Igreja Católica há mutios assim: biografias autênticas de heróis e heroínas da santidade, já nos altares, canonizados.

 

A pergunta substancial acerca deste livro e desta vida é esta: A Alexandrina merece crédito?

 

Só conheci a Doentinha de Balasar, nos últimos três meses da sua vida, a 26 de Julho de 1955. Cheguei na tarde desse dia, acompanhado de pessoas amigas e dedicadas. Entrámos no quarto da doente a cumprimentá-la, por brevíssimos minutos apenas, pois outras visitas esperavam também.

 

Saio para a sala de visitas e digo para a família da doente e companheiros de viagem:

 

“Desejo muito estar ainda com a doentinha só, e por dois ou três minutos.”

 

Saem as últimas visitas, entro eu e pergunto-lhe:

-Minha filha, sofre muito?

E ela responde:

-Ai tanto, Sr. Doutor!

-E quer dizer-me qual a sua maior cruz?

-Estou no fim da minha vida, em agonias de morte, e  não tenho o meu director, que tanto amparou a minha alma.

 

Eu perguntei-lhe:

-Ja leu a vida de Santa Margarida Maria?

-Não, não li.

 

-Então ouça o que lhe voy dizer: Quando ela teve as aparições do Sagrado Coração de Jesus e sofria terrível martírio, Jesus mandou-lhe como director o Padre La Colombière, hoje também nos altares. O santo director, depois de ter examinado bem tudo o que se passava, garantiu-lhe que era obra divina. Ela ficou tranquila e a superiora e irmãs aceitaram a decisão. Pouco depois, por ordem dos superiores, o santo director deixou Paray, deixou a França e foi para a Inglaterra, trabalhar na conversão dos protestantes. Margarida não chorou, não pediu que o conservassem, não mostrou desgosto, só uma ligeiríssima pena lhe passou pelo coração. Quando Jesus lhe apareceu a primeira vez, depois da partida, disse-lhe: -Como? Não te basto Eu, que soy o teu princípio e o teu fim? –E Margarida teve imensa pena daquela pequenina pena.

 

Despedi-me com estas palavras:

-Minha filha, paz e confiança. Adeus. Ore por mim que a lembrarei na Santa Missa.

 

Agradeceu, e parti.

 

Quando depois me perguntavam que impressão tivera da Doentinha de Balasar, respondia:

_A de um anjo crucificado.

 

A 18 de Agosto voltei novamente a Balasar. Encontrei a doentinha ainda mais doente. Hopedei-me em sua casa durante 24 horas. Foram breves, mas muito apreciadas as conversas que o estado gravíssimo da doente permitiu. Despedi-me, dizendo-lhe que desejava voltar quando ela tivesse um pouco mais de forças.

 

Desígnios misteriosos da Providência: Volto a 11 de Outubro e tenho a surpresa e a graça de assitir à sua agonia, à sua morte e ao seu enterro.

 

Deilhe a última bênção, recebi o seu último suspiro e o seu último beijo deu-o ao meu Crucifixo.

 

Esses quatro dias que lá passei descrevi-os em dois artigos que tiveram larga repercussão na imprensa, mesmo diária: As últimas horas da Doentinha de Balasar. Um enterro talvez nunca visto em Portugal.

 

E por que este preâmbulo pessoal ao prefácio que me pedem para o grande livro?

 

Para dizer que não sendo testemunha categorizada da sua santa morte, confirmação e coroa duma vida que decerto a mereceu.

 

  1. O livro presente pinta-nos a Alexandrina: uma criança inteligente, viva, brincalhona, pobrezinha, sorridente, religiosa, piedosa, amiga de Deus e da oração.

 

Pinta-nos una rapariguinha bela, cativante, heroicamente pura e virginal que, para fugir à violação iminente, salta de uma janela para o quintal –um salto de quatro metros- tendo apenas 14 anos.

 

Pinta-nos depois a rapariga doente, vítima da queda, alternando a vida ora em movimento doloroso ora algemada à cama, mas sempre meiga, sorridente, resignada, piedosa e ainda assaltada por vaixos tentadores ou aspirantes a noivos, mas todos sempre repelidos.

 

Pinta-nos a rapariga que, aos 21 anos, vítima inocente do amor à virgindade e do salto heróico, com a doença agravada, recolhe à cama, algemada no leito, para não mais se levantar durante os 30 anos que ainda viveu neste mundo.

 

Pinta-nos a rapariga mais piedosa, mais recolhida, mais orante, encantando a todos com a sua bondade, com o seu sorriso, com a sua perene suavidade, mesmo nas horas em que a fome bate à porta e entra, e surge o perigo de ficar sem tecto que a abrigue.

 

Pinta-nos a heróica grandeza moral desta alma já extraordinária no sofrimento, a pedir a Deus o amor ao sofrimento e a oferecer-se à Majestade Divina para a desagravar da massa negra e transbordante dos pecados do mundo e atrair a misericórdia para os supremos infelizes da culpa.

 

O livro pinta-nos em páginas ricas de luz e sentimento divino, a elevação da alma da Alexandrina à sublime vida mística e sobretudo à grande reparação mística, parecendo-nos que ela ombreia com Catarina de Sena e outras centenas de herínas do amor de Deus e da reparação, que já estão no Céu e nos altares.

 

Aquela hora em que Jesus diz à vítima de 20 anos de sofrimento e há 15 algemada no leito: “Dá-Me as tuas mãos, que as quero cravar comigo; dá-Me os teus pés que os quero cravar comigo; dá-Me a tua cabeça, porque a quero coroar de espinhos, como Me fizaram a Mim; consagra-Me o teu corpo; oferece-te toda a Mim”!

 

3        A vida mística essencial ultrapassa o mundo da matéria e por isso os homens da matéria são incapazes de a soletrar.

Há mais de 30 anos que sou professor da Ciência Mística, por isso as suas certezas são tão certas no meu espírito, na minha inteligência, como as maiores certezas científicas. Então, quando surge o contacto na vida con essas almas, as certezas tornam-se evidências.

 

A parte mais extraordinária do livro é a que diz respeito à assombrosa vida mística reparadora da Doentinha de Balasar.

 

A maior dificuldade está no que eu chamo os êxtases silenciosos, após os quais a Alexandrina ditava o que Jesus lhe dissera.

Eram realidades divinas ou apenas fruta da imaginação humana?

 

Os escritos, ditados pela “Doentinha de Balasar”, enchem cerca de cinco mil páginas dactilografadas. E muitas delas transbordam de um tal sabor místico que um grande professor de Mística, se não tivesse ao mesmo tempo as experiências pessoais da vida mística dos maiores santos, seria incapaz de as escrever.

 

Li centenas delas. Os grandes místicos experimentais têm uma ciência divina sublime, mas não têm a ciência infinita de Deus, por isso pode haver uma deficiência, um equívoco, uma interpretação errada ou imperfeita nas suas afirmações. Os mesmos profetas da Antiga Lei, nas suas profecias, não atingiram sempre a plenitude do pensamento divino, mas essa deficiência não destrói o valor do carisma celestial.

 

Confesso que nos seus escritos encontrei frases que, a princípio, me pareciam difíceis de conciliar com a Telogia: que Jesus lhe chamava mãe das almas, salvadora das almas, redentora... Mas, reflectindo, verifiquei que em muitos livros aprovados pela Igleja os sacerdotes, como auxiliares do Redentor Infinito, são chamados também salvadores, redentores.

 

Os fiéis chamam-nos padres, esto é, pais das almas. A ciencia que brilha em mil páginas da Alexandrina, a quase analfabeta (pois só tinha a primeira classe) não pode ser uma ciência divina, infusa. Mestres, que as leram, pensam como eu. Lembram-me as solenes e gravíssimas palavras de Jesus Infinito no Evangelho: “Graças Te dou, ó Pai, Senhor do Céu e da terra, porque escondeste estas coisas aos doutores (facilmente orgulhosos) e aos espertos, e as revelaste aos pequeninos (aos humildes)”.

 

4        O que mais fará admirar, surpreender, pasmar e talvez duvidar alguns leitores, não serão tanto as aparições divinas como essa soma espantosa de sofrimentos físicos, morais, naturais e sobrenaturais em que viveu tantos anos a “Doentinha de Balasar, em tremendíssima Reparação Mística pelos pecados do mundo.

 

Sofrer durante três anos, em toda a sua intensidade e violência, os tormentos da Paixão, desde a agonia no Horto até à morte na Cruz, ficando como morta, facto que arrancava lágrimas a homens cultíssimos, mestres doutorados, de distinção social, que nessas horas a contemplavam!

 

 

A Filosofia da Reparação!

 

Quatro palavras insondáveis explicam esse assombro de sofrimentos reparadores:

Deus, Amor, Justiça e Pecado.

Quatro palavras insondáveis.

O Seu Amor Infinito: insondável.

A sua Justiça: insondável.

 

O Pecado, terrível NÃO do filho mimoso ao Pai Infinito, escarro do filho mimoso na cara do Pai Infinito: insondável.

 

O direito! O homem é cioso dos seus direitos. Até o liberal, que nega à sociedade o direito de matar os maiores criminosos, os parricidas e outros, mata para defender o seu direito.

 

Os direitos de Deus Infinito são infinitos. Tem direito infinito à fé dos seus filhos, tem direito infinito ao amor dos seus filhos, tem direito infinito à obediência dos seus filhos. A violação dum direito é um crime. Todo o crime, pela sua própria naturaleza, exige pena, castigo proporcionado. A violação dum direito infinito é um crime infinito. Um crime infinito exige uma pena infinita.

 

Está aqui a terrível e santíssima Filosofia do Calvário: a Morte na Cruz do mesmo Deus Humanado.

 

O pecado é insondável na sua aberração, na sua injustiça, no seu castigo.

 

E a humanidade é um oceano negro de pecados.

 

Milhões em cada dia? Biliões?

 

Subiu Deus ao Inferno do Calvário para que nós, pecadores e pecadoras, não desçamos ao Calvário do Inferno. Por isso o Amor e a Justiça de Deus Infinito batem às portas dos corações amantes das Teresas, das Margaridas, das Alexandrinas, e dalguns santos também, pedindo-lhes que subam ao Calvário com Ele e com Ele se deixem crucificar, para reparação de tantos crimes e para que não se condenem eternamente os que O desprezam e crucificam.

 

Insondável Amor e insondável Justiça que aceitam os sofrimentos voluntários dos inocentes para não condenarem os culpados. Havendo a fome do pecado nos apaixonados de si mesmos, há a fome da dor expiatória nos apaixonados de Deus.

 

A Morte do Deus Humanado realizou superabundantemente a Redenção geral, isto é, deu a todos o direito à reconciliação com Deus, mas não deu imediatamente a cada um a redenção individual, a graça santificante, a santidade.

 

Para esta tem Deus outras exigências: Fé, Baptismo, Arrependimento, Amor e Expiação. E é divinamente certo ser isto. Sobretudo as grandes almas místicas da reparação podem dizer como S. Paulo:

 

“Eu aagora alegro-me nos meus martírios e completo na minha carne o que falta à Paixão de Cristo...”

 

Vem aqui bem a propósito lembrar as duas grandes leis da responsabilidade humana e da misericórdia divina: lei de solidariedade no mal e de reversibilidade no bem. Quantas vezes, os que se julgam bons, inocentes, são réus de cumplicidade no mal alheio, sobretudo os superiores; e quantos pecadores se salvam pelos sacrifícios alheios!

 

5- Insisto na pergunta substancial deste estudo:

 

A Doentinha de Balasar merece crédito?

 

Milhares de testemunhas podem depor a seu favor. Entre elas apresento as seguintes, algumas das quais eu conheço pessoalmente:

 

Dr. Mariano Pinho, director espiritual da doente durante doze anos, sacerdote culto, inteligente, consciência rectíssima, mestre em ciências sagradas.

 

O distinto autor desde livro, Padre Humberto Pasquale, salesiano, italiano, segundo director espiritual, durante anos. Das suas qualidades intelectuais ajuizará o leitor depois da última página. Ao seu estudo <a Alexandrina e a Mística> dou vinte valores. Em carta sua para o médico assistente, quando se levantou a tempestade na imprensa e fora dela, leio estas palavras: “Conte comigo....”

 

Padre Alberto Gomes, confessor ordinário da doente desde 1942 até à sua morte.

 

Dr. Manuel Augusto Dias de Azevedo, durante catorze anos médico assistente da Doentinha, testemunha máxima dos factos. Junta à competência médica um profundo espíritu cristão.

 

Dr. João Costa, médico, que durante anos visitou a doente e bem a pôde observar e estudar.

 

Dra. D. Irene Dias de Azevedo, médica, amiga íntima da Alexandrina. Algumas vezes lhe serviu de secretária. Alma gentilíssima.

 

D. Deolinda da Costa, irmã da doente, companheira e testemunha de toda a vida, piedosa, e dedicada até ao maior sacrifício.

 

D. Maria da Conceição Proença, professora primária da terra, amiga de infância, alma cristianíssima, a principal secretária e testemunha de cada dia.

 

Há documentos importantes do Padre Terças e de Mons. Pereira Vilar, reitor do Colégio Português em Roma.

 

Com um dos sacerdotes mais distintos de Portugal, pelo seu talento, pela sua cultura e posição social, no dia do enterro da Aalexandrina, passou-se este facto:

 

Eu acabava de regressar do enterro. Entro no quarto que ocupava na casa da família, e batem à porta. Entra esse sacerdote, que eu não conhecia ainda pessoalmente, e diz-me:

 

-Sr. Dr. Mendes do Carmo, venho cumprimentá-lo e dizer-lhe que temos sido uns cobardes. Eu, à terceira vez que visitei a doentinha, fiquei convencido de que era divino o que nela se passava. Mas não tínhamos a coragem de o dizer.

 

Encantou-me tão nobre atitude.

 

Não citarei o seu nome sem lhe pedir autorização.

 

Na manhã do dia do enterro, o meu modesto artigo, descrevendo a agonia e morte da Doentinha de Balasar, foi lido por milhares de pessoas, no Norte do País, levado pela imprensa diária do Porto e de Braga.

 

Há uma testemunha cuyo depoimento vale por mil: o Sr. Cardeal Patriarca de Lisboa. O leitor, no capítulo XI, encontrará a seguinte frase de Sua Eminência:

 

-“É um serafim que se consome de amor”.

 

Há outro testemunho, omni exceptione maior, para o qual chamo, de um modo especial, a atenção dos leitores. É um depomento distintamente qualificado, em factos e palavras.

 

Quem ignora a história da “Doentinha de Balasar” apreciá-lo-á, mas quem a conhece apreciá-lo-á imcomparavelmente mais.

 

No dia 13 de Outubro de 1957, passou o segundo aniversário da morte da Alexandrina Maria. Nesse mesmo dia comemorava-se, também em Balasar, o cinquentenário da bênção da igreja paroquial.

 

Foi dia soleníssimo de Visita Pastoral, feita pelo Venerando Arcebispo de Braga.

 

Tive a consolação de ouvir e, como cónego, acolitar nas funções sagradas Sua Ex.cia Rev.ma que, nesse dia, aniversário da morte da Alexandrina, benzeu pessoalmente, no meio de inumerável multidão em festa, o amplo jazigo-capela que pessoas amigas e agradecidas ofereceram à Alexandrina, já para ali trasladada.

 

Ao sol-posto, no mesmo jazigo-capela, foi celebrada a primeira Missa, à qual assistiu o Sr. Arcebispo Primaz.

 

Mas ainda ná mais.

 

Na Missa solene, semi-Pontifical, celebrada de manhã na igreja da paróquia, em quente alocução pastoral à imensa multidão, o Venerando Arcebispo de Braga, referindo-se de passagem à “Deontinha de Balasar” chamou-lhe “a jóia da vossa terra”.

 

São factos e palavras que atestam evidentemente o reconhecimento dum alto valor moral, com as suas consequências lógicas.

 

E o Pontífice Romano, Pio XII, seria também uma testemunha a favor da vida sobrenatural e mística da Alexandrina?

 

Leia o leitor o Capítulo VI deste livro.

 

Esstude-o, analise-o, medite-o, e penso que a sua conclusão será a minha.

 

Trata-se da intervenção da “Doentinha de Balasar” na Consagração do mundo ao Imaculado Coração de Maria e das cartas que por ordem de Jesus ela fez escrever a Sua Santidade. Nossa Senhora, em Fátima, falou da Consagração da Rússia, não pediu a Consagraçào do mundo.

 

6- Merece crédito a Alexandrina quando afirma que dita o que Jesus lhe diz, nas suas mil aparições, durante 22 anos?

 

O sobrenatural invisível prova-se pelo sobrenatural visível. Jesus Deus provou as suas verdades invisíveis pelos seus milagres visíveis.

 

Um médico afamado teve na sua clínica, na Foz do Douro, durante 40 dias, a Doente, guardada à vista, dia e noite, sem descanso, por testemunhas hostis... O Dr. Gomes de Araújo, no seu relatório, atesta que a doente, nesses quarenta dias e noites, observou um jejum absoluto: nada comeu, nada bebeu, tendo cessado totalmente as funcções eliminatórias correspondentes.

 

Ela e testemunhas dignas de todo o crédito, atestam que, durante treze anos, nada comeu, nada bebeu.

 

Milagre autêntico?

 

Médicos, lentes de Medicina e especialistas da nutrição dizem que sim.

 

Um médico, meu desconhecido –disseram depois que era médico distintíssimo- veio procurar-me para me dizer que, em doença gravíssima, considerada incurável pelos colegas, procurara a Alexandrina, no seu Calvário, recomendando-se às suas orações e a essas orações atribuía a sua rápida cura.

 

Fora ao seu enterro por gratidão.

 

Quantos descrentes, pecadores –e pecadoras também- saíram do quarto da Doentinha de Balasar convertidos, chorosos, agradecidos!

 

7- Há quem deteste a Mística, como há quem deteste a Música, quem deteste a Filosofia, quem deteste a Deus.

 

Eu detesto a Anti-filosofia.

 

A filosofia é o amor da sabedoria e a sabedoria é o conhecimento e o sabor das supremas Verdades, o conhecimento e o sabor das supremas Verdades, o conhecimento e o sabor da Verdade Infinita, que é Deus.

 

O erro não pode ser filosófico, é por naturaleza anaati-filosófico.

 

O erro é a sombra na inteligência, que é a faculdade da verdade.

 

O erro é a treva na inteligência, é essencialmente anti-intelectual e por isso anti-filosófico.

 

Ninguém, como os grandes místicos, se abisma nas supremas Verdades da vida. Como eles atraem fortes inteligências errantes que têm fome da verdade!

 

Bergson, um dos maiores talentos da França contemporânea, mas judeu, subiu à  Verdade Infinita, que é Deus, e à Fé católica, pelos livros e vidas dos grandes místicos.

 

O Dr. Jacques Chevalier, professor da Universidade de Grenoble e amigo íntimo de Bergson, no seu livro “Comment Bergson a trouvé Dieu”, cita estas palavras do mesmo Bergson, em resposta à sua pergunta:

 

-“De que modo encontrei a Deus, ou talvez de que modo Deus me encontrou a mim? Em mim não houve a conversão duma iluminação súbita. Caminhei pouco a pouco. Todavia, o que fez irromper a luz foi a leitura dos místicos”.

 

Na verdade, os grandes místicos católicos –S. Paulo, Santa Catarina de Sena, S. Francisco de Assis, Santa Teresa de Jesus e S. João da Cruz- conquistaram para Deus a confiança, o coração e a inteligência de Bergson.

 

Em 1921, na Alemanha, havia uma rapariga brilhante, assistente universitária do famoso Jusserl na Universidade de Gottigen.

 

Edite Stein nascera em Breslau, filha de judeus, judia pelo sangue, mas descrente até ao ateísmo.

 

Tinha 26 anos.

 

Um dia, visitando uma família amiga, viu sobre a mesa um livro totalmente desconhecido para ela. Era a vida de Santa Teresa de jesus, escrita por ela mesma. Já tinha anoitecido.

 

Sentou-se e começou a leitura.

 

Leu, leu, bateu a meia-noite e a Doutora Edite a ler. Continuou a leitura e, ao romper da aurora, chegava à última página. Lida essa última página, fechando o livro, exclamou:

 

A VERDADE ESTÁ AQUI!

 

Tinha 26 anos e era um primor de rapariga, de mulher.

 

Nessa manhã, compra um catecismo e um missal.

 

Estuda a Religião Católica, abraça-a, pede o Baptismo, faz a Primeira Comunhão. Professora universitária, foi uma apóstola, fazendo conferências marvilhosas nos grandes centros intelectuais na Alemanha.

 

Sequiosa de Deus, fez-se carmelita e foi mártir às mãos dos nazis. Deixou a terra, morrendo com fama de santa.

 

Leitor, leitora, que este livro, onde Deus brilha, deslumbra, te dê, nos dê fome de Deus.

 

Só Ele é Infinito.

 

MENDES DO CARMO